sábado, 6 de julho de 2013

Palavra da Coruja


O amor não é o bastante. Deve ser o alicerce, a pedra fundamental - mas não toda a estrutura. É muito maleável, muito flexível.
Bette Davis

Fim de Tarde

                                                     
                           Joe Cocker em Unchain My Heart

Para a Hora do Chá

LXIV

Tenho medo de ti e deste amor
Que à noite se transforma em seu verso e rima.
E o medo de te amar, meu triste amor,
Afasta o que aos meus olhos aproxima.

Conheço as conveniências da retina.
Muita coisa aprendi dos seus afetos:
Melhor colher os frutos na vindima
Que buscá-lo em vão pelos desertos.

Melhor solidão. Melhor ainda
Enlouquecendo os meus olhos, o escuro,
Que o súbito clarão de aurora vinda

Silenciosa dos vãos de um alto muro.
Melhor é não te ver. Antes ainda
Esquecer de que existe amor tão puro.

Hilda Hilst

A palavra é de... Geraldo Ferreira Filho

Os Médicos e o enterro do Ministro

A força da mobilização dos médicos em quase todas as capitais, mas também em muitas cidades brasileiras, mostrou claramente a insatisfação, o repúdio e a quase incompatibilidade dos profissionais com as políticas de saúde que vem sendo desenvolvidas em esferas tão variadas como cidades, estados e o governo federal.





Mas a centralização dos protestos no ministro Padilha, enterrado simbolicamente em boa parte das mobilizações, o identifica como o grande arquiteto, que em vez de políticas reais de saúde, se enreda nos labirintos de interesses partidários, ideológicos e eleitoreiros, que vem causando grande mal à gestão da saúde e podem mergulhar o que já é muito ruim na degradação total.

Na última apresentação no Senado o ministro nos deixou estupefatos, quando em audiência pública dizia ter um bilhão e meio para reformar unidades onde trabalhariam os supostos médicos importados. E para os brasileiros, ministro? Também disse que os médicos estrangeiros seriam pagos pelo governo federal. E porque não os brasileiros, ministro, já que um problema das prefeituras que não conseguem atrair profissionais são salários ridículos, que pouco superam o salário mínimo? Ah, mas há cidades que pagam até 20 mil ou mais e os médicos não querem, diz o governo. Em que condições, perguntamos nós?

A verdade é que na estratégia de saúde da família o médico já assume a função de três ou quatro, fazendo papel de clínico, pediatra, ginecologista, obstetra, e nos salários fantasiosos divulgados o médico seria também urgentista e emergencista, trabalhando sete dias por semana em regime de prontidão permanente.

Ora, tenham paciência, o médico quer trabalhar, não ser escravo do capricho de gestores. O pacote de gestão, apregoado pelo ministro, de Unidades de pronto atendimento, as Upas, Unidades de atendimento médico especializado, as Ames, financiadas pelo governo federal, tem via de regra gestão terceirizada, contrariando a constituição e abrindo portas para tráfico de influência e corrupção.

É também desse laboratório a gestação da EBSERH, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, que administrará os hospitais universitários, ferindo a autonomia das universidades, e destruindo o regime jurídico único e a carreira pública. Os sinais de inconstitucionalidade são fartos.

O Provab, programa de valorização da atenção básica é uma exploração grosseira de recém formados, que em vez de salários e direitos trabalhistas, recebem uma bolsa e um trabalho que deveria ser feito por uma equipe de médicos, mas que segundo o governo pode ser feito por supervisão à distância.

São absurdos em cima de absurdos que se completam com a teimosia obtusa do ministro Padilha em trazer médicos do exterior, para locais de difícil provimento. Surdo às sugestões de carreira médica e salário justo, além de condições de trabalho, o governo insiste no conflito com a categoria médica, da qual o ministro é oriundo e que afronta.

Para onde estamos caminhando? Para o embate sem tréguas, para a luta mortal, onde alguém sairá derrotado? Ou o bom senso prevalecerá? De nossa parte temos como estratégia de luta a conscientização crescente da sociedade que exige saúde padrão FIFA e não as enganações propostas, a sensibilização para as questões de financiamento, carreira de estado para o médico, gestão qualificada e não aparelhada da Saúde, condições reais de trabalho para a boa assistência.

A revolta dos médicos, longe de ser meramente corporativa, à semelhança das manifestações de rua, que passam longe de serem por 20 centavos de uma passagem de ônibus, se reveste do sentimento arraigado, do desejo de que as coisas melhorem, que a saúde funcione, a gestão seja eficiente, o financiamento adequado, que a corrupção seja afastada e os corruptos punidos, neste sistema em que campeiam denúncias de malversação de recursos públicos.

Os médicos nunca foram omissos, denúncias à sociedade, ao ministério público, até a Delegacias de polícia se sucederam em todo Brasil, ao longo desse processo de sucateamento e degradação da assistência à saúde. Sempre achamos que um dia a maior vítima desse sistema perverso acordaria, e não é que o povo brasileiro acordou!

E me utilizando de Nelson Rodrigues, digo o óbvio ululante, uma pátria não pode fazer com seus filhos o que anda fazendo o Brasil com os que procuram assistência no sistema único de saúde brasileiro. O ministro da Saúde tem assumido posições que confrontam o que a categoria médica, até por estar na linha de frente do atendimento, entende como modelo de uma assistência de qualidade, humanitária e eficiente.

Por isso o ministro paga um preço, por isso foi enterrado em tantas manifestações pelo Brasil afora.


Dr. Geraldo Ferreira é médico e Presidente da Federação Nacional dos Médicos (FENAM).

Do site Brickmann & Associados

Torresmo à Milanesa

       Na voz de um de seus compositores: 
  Carlinhos Vergueiro. 
   O outro vocês sabem que é...

Arca do Tesouro

                          Fabulas Fabulosas


Três Economistas Padrão
A maneira do... Planalto






Com o profundo interesse público, três economistas do governo, que chamaremos de 1, 2, 3, viajavam incógnitos pelo Brasil, a procura de dados e informações com que aperfeiçoar seus grandes planos científicos pra solução definitiva de todos os problemas econômicos do país.

Certa noite, dormiam num modesto quarto de pensão do interior de Minas, quando o 1, sentindo forte comichão na perna, começou a coçar a perna do 2. Como a comichão não passasse, o 1 esgaravatou mais fortemente a perna do 2, até que ela começou a sangrar. O 2, sentindo algo escorrendo pela perna, pensou que era o 3 sofrendo de incontinência urinária, acordou-o e, irritado, disse que fosse mijar lá fora.

O 3 levantou-se e foi à beira do quintal pra se aliviar. Mas, como por perto havia um reservatório que botava água pelo ladrão sem parar, o 3 ficou ali até o sol raiar e ele perceber o que estava acontecendo.


MORAL: O PLANO VAI DAR CERTO. PRECISA SÓ DE PEQUENAS CORREÇÕES.


Do Millôr Online - Enfim um escritor sem estilo

Maria Helena RR de Sousa

Pelo nosso contentamento

Shakespeare inicia seu pungente Ricardo III com os versos “Now is the winter of our discontent / Made glorious summer by this sun of York". Nossos jovens, poetando pelas ruas do Brasil, cantam outros versos: “Este é o inverno de nosso contentamento/ tornado glorioso pelo sol de nossa dor”.
Bem, ainda não é. Mas será. Os ouvidos oficiais podem ser moucos por algum tempo, mas não para sempre.

Faz um mês que o Brasil está em ebulição a pedir o que lhe é devido. Nos primeiros dias pensei que o susto dado em Brasília e seus satélites levaria – chegaram todos a ficar com o semblante desfeito – ao início das soluções de nossos problemas. Mas qual...
Das ruas não se ouviu pedidos por constituintes, plebiscitos ou similares. O que vemos nos mais variados cartazes são pedidos por uma vida melhor e utilização honrada dos impostos pagos.  Como um brado resumido neste cartaz:


Ilustração de Leo Silva

Reuniões houve. Latinório também. Mas tente fazer um resumo do que leu ou ouviu dito por nossas autoridades e veja no que deu: em nada.
Provas? O táxi-aéreo da FAB. A FAB do Senta a Pua! agora leva namorados e famílias de Natal ao Rio a Natal; ou convidados de Brasília a um casamento em Trancoso.

Sem querer, descobrimos que nem só os ex-desvalidos recebem um Bolsa-XXXX. Os poderosos têm o Bolsa-FAB. E talvez outras bolsas pois não nos foi explicado, nem a Imprensa perguntou, onde foi que as sete criaturas de Natal se hospedaram, onde almoçaram e jantaram, que tipo de ingresso tinham para o jogo, como chegaram e saíram do Maracanã, quem os buscou e levou ao Galeão.

O ensaio de explicação dado pelo Alves da Câmara– almoço com o prefeito do Rio justo na véspera do jogo Brasil x Espanha! – é um tapa em nossa cara. Aliás, isso merece outro cartaz: chega de reuniões e palestras com tudo pago justo nas sextas ou quintas na cidade que interessa ao parlamentar ou ao palestrante passar o fim de semana.

Devo fazer a justiça de dizer que o Alves da Câmara fez uma conta de chegar e diz que vai pagar... as passagens!

Já o Calheiros do Senado foi a um casamento na Bahia, não sabemos de quem. E lá nos interessa saber de quem? Claro que sim. Se pago o transporte e nem ao menos como um bolinho de queijo, tenho o direito de saber quem se casou e mereceu a presença dessa figura.

Que já disse que não paga. É usuário do Bolsa-FAB e pronto.

Enquanto isso, Lula, o Arredio, desaparece. Sempre soubemos que ele não é um bom amigo. Largou Dirceu no pântano e sem Dirceu ele não seria presidente nem do Corinthians. Agora, largou dona Dilma na boca do vulcão.

Dela não falo. Penso que não compreendeu nada. Desconfio que se surpreendeu com o amigo da palavra fácil e coração de pedra. E isso dói.

Resta desejar força à meninada. E que não esqueçam os dois defeitos abomináveis do Lula: é ingrato e é pusilânime.

São meus votos.


Publicado originalmente no Blog do Noblat em 5/7/2013
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Observações em 6/7/2013:
Só soube após a publicação do artigo que o Calheiros do Senado voltou atrás e vai ressarcir a União em R$32.000,00.  
Também soube na mesma ocasião que o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, fizeram igualmente uso do táxi-aéreo da FAB.
Até pouco tempo atrás valia a piada a cada enxadada uma minhoca. Agora parece que a cada enxadada um balde de minhocas. Além de dificultar o Brasil, coisa de somenos importância, dificulta os articulistas, coitados, que jamais estão atualizados em seus textos. MH