domingo, 30 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Desejas saber de onde vem minha ternura por ti . Eu te amo, e eis a razão: tu te pareces com a minha juventude. 
Sully Prudhomme


Fim de Tarde


Para a Hora do Chá


A tesoura de Toledo

Com seus elementos de Europa e África, 
Seu corte, inscrição e esmalte, 
A tesoura de Toledo 
Alude às duas Espanhas. 
Duas folhas que se encaixam, 
Se abrem, se desajustam, 
Medem as garras afiadas: 
Finura e rudeza de Espanha, 
Rigor atento ao real, 
Silêncio espreitante, feroz, 
Silêncio de metal agindo, 
Aguda obstinação 
Em situar o concreto, 
Em abrir e fechar o espaço, 
Talhando simultaneamente 
Europa e África, 
Vida e morte.

Murilo Mendes

O grande João de Barro

Carmem Miranda canta a deliciosa marchinha de João de Barro (o nosso Braguinha) e Alberto Ribeiro: 

Touradas em Madrid
Eu fui as touradas em Madri
 Para tim bum, bum, bum
 Para tim bum, bum, bum
 E quase não volto mais aqui
 Para ver Peri beijar Ceci
 Para tim bum, bum, bum
 Para tim bum, bum, bum
 Eu conheci uma espanhola natural da Catalunha
 Queria que eu tocasse castanhola
 E pegasse o touro à unha
 Caramba, caracoles, sou do samba
 Não me amoles
 Pro Brasil eu vou fugir
 Que é isso é conversa mole para boi dormir
 Para tim bum, bum, bum
 Para tim bum, bum, bum

A palavra é... minha

Uma explicação que nos é devida: para atender aos protestos da multidão de brasileiros que tem acorrido às ruas, falam em aumentar impostos.

Isso é deboche ou burrice?

O correto, o decente, o inteligente não seria diminuir os gastos excessivos do Governo Federal, dos 3 poderes?

A farra de gastos do Governo brasileiro é indecente.

E a solução que vem por aí é imoral.

O povo vai para a rua reclamar e aí, com medo do povo, correm para atende-lo. Mas quem vai pagar somos nós mesmos? O que é isso? Alguém compreende? MH

Sem Título

Chi si somiglia, si piglia




Che serà, serà

Wathever will be, will be

The future' s not ours to see

Che serà, che serà...


Creio que a tradução é desnecessária. Post transcrito da Navetta*, publicado em 30.7.2009

Arca do Tesouro

Escultura:   A Valsa, por Camille Claudel

Para os mais jovens o nome Camille Claudel até poucos anos atrás não significava nada; as referências ao seu trabalho, nos estudos sobre História das Artes entre 1930 e 1980, eram muito poucas. Mas a escultora, cuja fama obscurecida era uma grande injustiça, logo alcançou patamares inimagináveis tanto nos meios acadêmicos quanto no mercado das artes.



Isso ocorreu graças a motivos sociológicos que estimularam a grande mídia e não pela arte em si. A mulher em vez da escultora, a heroína de um caso de amor com Auguste Rodin, a suposta vítima de abusos psiquiátricos, a beleza encarnada por Isabelle Adjani em um filme de grande sucesso popular, clichês que acabaram por servir involuntariamente a um bom propósito: colocar novamente em evidência a obra de Camille Claudel.

A arte apenas, como ocorre com freqüência, não foi suficiente para revelar seu talento para o público. Foi preciso o tambor do sucesso comercial. O mito, afinal, depois que os holofotes saíram em busca de outras novidades, cedeu a Camille o lugar que é dela: uma escultora de grande talento, que viveu um caso de amor intenso com um gênio [sempre criaturas difíceis...], que sofreu muito ao perder o homem Auguste Rodin, mas menos do que sofreu ao ver sua arte ultrapassada pela do escultor Rodin.

Há quem julgue muito mal sua família por sua internação em um hospital psiquiátrico. O diagnóstico foi de esquizofrenia. Registros dos médicos que trataram dela falam em crises terríveis e também em épocas de grande tranquilidade e equilíbrio, quando ela estava lidando com sua arte.

Ela sofria momentos em que se achava perseguida e acusava Rodin de querer matá-la. Nunca foi pessoa emocionalmente equilibrada, isso todos são unânimes em concordar, mas não era caso, pela luz do que se sabe hoje em dia sobre doenças mentais, de ficar isolada do mundo por 30 anos. Mas não podemos esquecer que isso aconteceu em 1913... pré-história da medicina que lida com casos tristes como o dela.

O que é fato, e causa estranheza, é ela nunca ter recebido a visita de sua mãe ou de sua irmã. Paul a visitava, mas muito raramente. E nenhum membro da família compareceu ao seu enterro. Ela faleceu em 19 de outubro de 1943, aos 79 anos.

Quem já dançou uma valsa com alguém que ama há de compreender o que deve ter significado para Camille Claudel “A Valsa” que ela esculpiu tão lindamente. Esse gênero de dança, como todos sabem, durante muito tempo foi considerado como inconveniente pois foi a primeira das danças de salão em que o casal se abraçava para dançar. No início, um abraço meio distante; com o tempo, um abraço em que a mulher se entregava ao parceiro para que ele a conduzisse pelo salão. Ou pela vida...






"A Valsa" : obra em bronze; dimensões: 43.2 x 23 x 34.3 cm

Acervo Museu Rodin, Paris

Fontes: www.musee-rodin.fr


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Da seção Obra-Prima do Dia publicada originalmente no Blog do Noblat em 27/08/2010

Carlos Brickmann

Amanhã vai ser o mesmo dia

Na primeira metade do século 19, a Inglaterra, maior potência militar da época, exigiu que o Brasil elaborasse leis que impedissem o tráfico de escravos. O Brasil fez todas as leis que os ingleses pediram e continuou a traficar escravos. As leis, sabiam todos, não eram para valer. Eram apenas para inglês ver. A expressão ficou até hoje em nossa língua, como sinônimo de enganação.

Transparência? O jornal O Globo , com base na Lei de Acesso à Informação, pediu o extrato dos gastos da servidora federal Rosemary Noronha, que se dizia amiga de Lula, denunciada pelo Ministério Público por tráfico de influência, corrupção passiva e falsidade ideológica. O Governo se negou a dar a informação. Motivo: poderia colocar em risco "a segurança do presidente e do vice-presidente da República e respectivos cônjuges e filhos". Então, tá.

Menos gastos? Cada vez que vai à TV, Dilma faz penteado e maquiagem, o que é normal. Mas penteado e maquiagem custam R$ 3.125 - número oficial. No salão de Celso Kamura, o cabeleireiro de Dilma, penteado e maquiagem saem por R$ 680. Nas primeiras vezes em que Dilma foi à TV, o custo foi de R$ 400.

Planejamento? Histórias para inglês ver não são exclusivas do Governo Federal, nem do PT. Em Goiás, governado pelo tucano Marconi Perillo, o mesmo cartaz, da mesma obra, sofreu pequena modificação: onde se lia que o custo seria de R$ 54 milhões, surgiu outro número, R$ 111 milhões. Segundo o Governo goiano, foi erro da empresa que fez a placa e colocou o custo de um só trecho. Pois é.

Cortar custos, só dos outros

O Congresso aprovou em alta velocidade projetos que, embora estivessem há anos nas gavetas, nem tinham sido discutidos. Mas a Proposta de Emenda Constitucional que reduz o número de deputado de 513 para 380 (PEC 170), que provocaria uma economia de quase R$ 13,5 milhões por mês, apresentada em 1999, esta ficou no caminho. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deu esta semana, após 14 anos, seu parecer contrário.

Mexer no deles, nem pensar.

Crime e castigo

Só Câmara? Não seja injusto. O Senado transformou delitos de servidores públicos em crimes hediondos, com aumento de pena. Ótimo - desde que alguém identifique e julgue os hediondos criminosos. O pessoal do Mensalão, acusado desse tipo de crime, levou sete anos para ser julgado. E a pena não foi aplicada.

O tempo passa

Pode ser para inglês ver, mas o brasileiro ainda vai demorar a ver o endurecimento das penas. O projeto tem ainda de ser aprovado pela Câmara e sancionado pela presidente. O parecer favorável à aprovação já tinha um ano de gaveta.

Atenção... 

Senado, Câmara, Governo Federal, Governo goiano - e, claro, Governo paulista. O governador tucano Geraldo Alckmin anunciou com pompa e muito barulho que o pedágio nas estradas estaduais não será reajustado neste ano. E, discretamente, determinou que os caminhões passem a pagar pedágio calculado sobre todos os eixos, acabando com a norma pela qual os eixos suspensos estariam fora do cálculo. Traduzindo: um caminhão pode rodar com algumas rodas fora do chão, quando estiver descarregado, economizando pneus. No caso pagava o pedágio sobre o número de eixos que efetivamente estivessem em uso. Agora pagará sobre todos - o que pode aumentar o custo de uma viagem entre 30 e 50%.

Ou seja, beneficia-se o dono do automóvel e cobra-se a diferença do caminhão cuja carga fica mais cara. O carro Mercedes paga menos, o caminhão Mercedes paga mais. E quem não tem carro nenhum paga a conta do mesmo jeito.

... perigo! 

O governador Alckmin deve achar que sua jogada de marketing é excelente, mas talvez os caminhoneiros tenham opinião diferente. Há debates na categoria sobre a paralisação das estradas estaduais paulistas, com estacionamento de caminhões na entrada dos pedágios, bloqueando totalmente o tráfego. Se acontece algo como isso, o Estado mais rico da Federação fica paralisado e o país inteiro sofre.

O risco de problemas institucionais começa a tornar-se visível.

Ninguém sabe nada

O homem-forte da Economia brasileira durante a maior parte do regime militar, o ex-ministro Delfim Netto, teve a coragem de dizer à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo que não sabia que houve tortura no país na época da ditadura. É incrível: este jornalista, editor do Jornal da Tarde, cargo de quarto escalão (acima havia o secretário de Redação, o editor-chefe e o diretor do jornal), sabia. Repórteres recém-chegados a seu primeiro emprego sabiam. O Estado de S.Paulo , jornal essencial para que um ministro se informe, publicou até editorial sobre tortura. Veja colocou a tortura na capa.

E Delfim, que era ministro, que assinou o Ato nº 5, não sabia. Sua assessoria deve ter falhado, não é mesmo?

Em Brasília, como os romanos

O papa Francisco criou uma comissão para analisar a situação do Banco do Vaticano e propor reformas. Veja que coincidência: no Brasil, antes mesmo da iniciativa do papa, muitas reformas foram decididas por uma comissão.


carlos@brickmann.com.br 
www.brickmann.com.br

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Palavrinha



A entrevista com o sociólogo espanhol Manuel Castells publicada em O Globo de ontem é imperdível!

Entre outras coisas ele diz achar  "que o movimento vai durar", que o povo não vai se cansar, "no máximo vai mudar a forma de protestar".



"Os protestos no Brasil não tinham líderes. Isso é uma qualidade ou um defeito?


Claro que é uma qualidade. Não há cabeças para serem cortadas. Assim, as redes se espalham e alcançam novos espaços na internet e nas ruas. Não se trata, apenas, de redes na internet, mas redes presenciais.

Como conseguir interlocução com as instituições sem líderes?

Eles apresentam suas demandas no espaço público, e cabe às instituições estabelecer o diálogo. Uma comissão pode até ser eleita para encontrar o presidente, mas não líderes.

Como explicar os protestos?

É um movimento contra a corrupção e a arrogância dos políticos, em defesa da dignidade e dos direitos humanos — aí incluído o transporte. Os movimentos recentes colocam a dignidade e a democracia como meta, mais do que o combate à pobreza. É um protesto democrático e moral, como a maioria dos outros recentes.


Leiam os trechos acima como aperitivo. Mas não deixem de ler a íntegra em "Manuel Castells: ‘O povo não vai se cansar de protestar’

Ruy Fabiano

O desencanto de FHC


Em recente entrevista ao Canal Livre, da TV Bandeirantes, o ex-presidente Fernando Henrique lamentou a atitude sectária de Lula e do PT, ao tentar fazer dele e do PSDB o bode expiatório das mazelas do país. “Passei a faixa presidencial ao Lula com emoção”, disse FHC, supondo que uma parceria ali se estabelecesse.




Deu-se o contrário. Já no dia seguinte à posse, José Dirceu, o “capitão do time”, brandiu pela primeira vez o bordão da “herança maldita”, que se tornaria peça de resistência da Era Lula.

Tudo o que não funcionava, tudo o que se revelava desastroso nas ações do novo governo tinha dono: a herança maldita de FHC. Paradoxalmente, Lula mantinha os fundamentos econômicos do governo anterior, incluindo nomes que haviam sido sustentáculos daquele período, como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Fernando Henrique, com a bagagem que tem – e, sobretudo, com a íntima e veterana convivência com o pensamento esquerdista -, não tinha direito a tanta ingenuidade. Nada do que leu, ouviu ou observou poderia fazê-lo supor que o PT admitisse a hipótese de alternância democrática no poder. Senão, vejamos.

Já na sequência do Plano Real, quando sua candidatura mostrou-se inevitável, FHC convidou Lula para vice, na tentativa de estabelecer uma parceria que vislumbrava de longo prazo, capaz de conduzir o país por décadas.

A simples proposta ofendeu Lula e o PT, que só a admitiam se a composição fosse inversa: Lula na cabeça e FHC de vice. Sabiam que era impossível, pois a vez era do Plano Real, que o PT havia combatido e ainda combateria por muito tempo.

Mas ali ficou claro que o projeto do PT – um projeto revolucionário, ainda em curso - não previa parceiros; no máximo, aderentes ou cúmplices.

Sem o apoio dos petistas, FHC, que não poderia governar apenas com o PSDB, aproximou-se do PMDB e do PFL, numa guinada conservadora, provocando por parte do PT – o mesmo partido que reabilitaria Fernando Collor, Renan Calheiros, José Sarney e tantos outros progressistas - acusações de submissão “à direita”, “traição ao povo” etc.

Mesmo bombardeado ao longo de seus dois mandatos, FHC, não se sabe por onde, ainda nutria a expectativa de parceria com Lula. Tanto que chegou a dizer a José Serra, candidato de seu partido em 2002, que “a vez agora é do Lula”. E, visitado pelo candidato do PT em palácio, antes da vitória, apontou-lhe num gesto a cadeira presidencial e disse: “Esta cadeira é sua”.

Ao receber a faixa presidencial, Lula retribuiu os rapapés com uma frase que jamais poria em vigência: “Fernando, aqui você terá sempre um amigo”.

No dia seguinte, o “amigo” viraria “herança maldita” e só voltaria a ser procurado quando explodiu o Mensalão. FHC, como se sabe, foi quem sustou a tentativa oposicionista de impor o impeachment a Lula.

Uma década depois, a herança maldita trocou de lado e tem novo dono: o próprio PT, alvo dos protestos das multidões nas ruas. A diferença é que, do outro lado – da oposição -, não há liderança sobre os manifestantes, que não se identificam com nenhum partido. É um protesto multifacetado, que o PT, com sua logística junto aos sindicatos e movimentos sociais, tenta cooptar.

Dilma Rousseff é o bode expiatório, tida pelos radicais como não suficientemente esquerdista. Prepara, ainda que à sua revelia, o caminho de volta de Lula, que, em sua primeira manifestação desde que as ruas foram ocupadas pelos protestos, optou por incentivá-los, como se nada tivesse com eles.

Há uma queda de braço nas ruas: de um lado, as forças organizadas de esquerda - minoritárias, mas não inexpressivas -, que deflagraram o movimento, com objetivos pontuais, de desgastar governantes de oposição; de outro, uma imensa massa, que aderiu por razões sinceras e que vão muito além do aumento das passagens de ônibus. É grande, mas desorganizada, sem meios de dar consequência prática à sua insatisfação.

Lula, em cena, aposta na sua logística e já acusa a direita – mais desarticulada e inorgânica que as massas – de responsável pelos atos de vandalismo. Sabe que não é e sabe de onde vêm. Mas recorre ao velho estratagema de Lênin para iludir a opinião pública: “Acuse-os do que você faz”. Funciona.

No mesmo Canal Livre, sem mencionar a contribuição involuntária que deu a tudo isso, FHC lamenta: “O Brasil está sem rumo”. É, parece que sim.



Ruy Fabiano é jornalista.

Transcrito do Blog do Noblat de 29/06/2013

Olá! Bom Dia!

                                     
                                                           What Is This Thing Called Love? 
                                        Bill Evans Trio