domingo, 2 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Não se ama duas vezes a mesma mulher.
Machado de Assis

Fim de Tarde


Stella by Starlight, com Bill Evans Trio

Para a Hora do Chá


Você e o seu retrato

Por que tenho saudade
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?

E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?

Talvez porque o retrato
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.

Talvez porque o retrato
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.

Talvez porque o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
(como, no fundo da água,

um coral em repouso)

Talvez pela idéia de ausência
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nós-dois

(como um ramo de hortênsia)

Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha, sempre, de frente

(amorosamente)

Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesma (ingrato).

Talvez porque, no retrato
você está imóvel,

(sem respiração...)

Talvez porque todo retrato
é uma retratação.

Cassiano Ricardo

O Sol É Para Todos (To Kill a Mockingbird) 1962


"Miss Jean Louise, stand up, your father's passing"

Baseado no romance escrito por Harper Lee, ganhadora do Prêmio Pulitzer de 1961, esse filme, por mais vezes que eu o assista, e já o fiz dezenas de vezes, sempre me emociona.

Gregory Peck interpreta o advogado Atticus Finch, um viúvo com dois filhos, o menino Jem e a menina Jean Louise, cujo apelido é "Scout"', criados por ele e pela babá negra, Calpurnia.

É o menino, já homem feito, quem narra a história que se passou numa cidade do Alabama, nos anos 30.

Atticus é um homem reto e educa seus filhos com firmes noções de ética e dignidade.

Não sendo um filme típico 'de tribunal', as cenas que se passam na corte onde ele defende um negro acusado de estuprar uma moça branca são, além de as mais importantes, magníficas, na interpretação e no texto. Como em quase todas, os diálogos são excelentes e os atores brilhantes. Sendo que Gregory Peck dá uma aula!

Mostro aqui a cena mais emblemática do filme. A mais bela. Espero que quem ainda não viu, procure ver. É um filmaço em todos os sentidos.

Arca do Tesouro

Fotografia -  O Garfo, de André Kertész (1928)

André Kertész (nascido Andor Kertész em 2 de julho de 1894, na Hungria), ficou conhecido por suas composições provocadoras e é considerado um dos pais dos ensaios fotográficos. Em vida, os ângulos pouco ortodoxos de suas fotos, que impediam descrições alongadas das imagens, foram os responsáveis pelo fato de seu nome não se tornar muito conhecido. Hoje em dia, no entanto, Kertész é considerado uma das figuras seminais do foto-jornalismo. Basta mencionar o que disse dele Henri-Cartier Bresson: “Todos nós devemos alguma coisa a Kertész”.

foto do período francês*


Nascido em Budapest, filho de um livreiro, Kertész aprendeu sozinho a usar uma câmera: arrumando o sótão de casa, encontrou um velho manual sobre como tirar fotos. Leitor compulsivo e curioso, resolveu ler e desde esse episódio, seu interesse pela fotografia só fez se consolidar. Comprou uma câmera e passou a fotografar sempre que podia. Isso foi em 1913.

Seu pai morreu muito cedo, vítima da tuberculose, deixando sua mãe viúva com 3 filhos. O tio materno, Lipót Hoffman, corretor na Bolsa de Valores de Budapeste, responsabilizou-se pela família da irmã. Foram todos viver na casa de campo de Hoffman.

*****

Atualização em junho de 2013: 

devido ao fato de eu só postar aqui a seção Obra-Prima do Dia duas vezes por semana, aos domingos e às quartas-feiras, deixando de transcrever toda a semana dedicada ao artista, como costumava fazer no Blog do Noblat, é preciso resumir um pouco sua biografia.

Ferido na I Guerra Mundial, foi dispensado do Exército. Decidiu que seria fotógrafo mas teve seus negativos destruídos durante a Revolução Húngara. Foi trabalhar com o tio, mas logo descobriu que aquele não era seu destino.

Em 1925 foi para Paris, a capital artística do mundo naqueles tempos, onde obteve sucesso de crítica e de público. E onde se casou com Elizabeth, amiga de juventude.

Com a aproximação do nazismo, a perseguição aos judeus e a ameaça da II Guerra Mundial, ele decidiu que partiriam para os EUA, onde reconstruiu sua carreira. Elizabeth faleceu 10 anos depois.

Os críticos de arte dividem sua carreira em quatro períodos*: húngaro; francês; americano; e já no fim de sua vida, período internacional.



Sexta Avenida, Nova York, 1959, foto do período americano*

Hoje em dia André Kertész é considerado por muitos como o pai do fotojornalismo. Dele disse Henri Cartier-Bresson no início dos anos 30: "Nós todos lhe devemos muito".

Kertész faleceu em sua casa de Nova York, em 28 de setembro de 1985; foi cremado e suas cinzas enterradas com as de sua mulher.

Acervo Espólio André Kertész


Fontes:

http://www.masters-of-photography.com


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Da seção Obra-Prima do Dia publicada originalmente no Blog do Noblat (31/05/2010)

O Ziguezague

A diferença entre o Brasil das palavras oficiais e o da vida real é abissal. Talvez o que nos salve da queda nas profundezas do abismo é o ziguezague, o mesmo que dona Dilma prefere quando viaja no AeroLula. (FSP, 26/05/2013).




Há poucos anos, odiavam o imperialismo americano; a Aliança para o Progresso era a aliança com o capeta; o Ponto4, um modo de converter os jovens ao sonhado American Way of Life. O Brasil, pobre menor abandonado, era a vítima preferencial dos grandes interesses internacionais.

Agora, o imperialismo é o nosso; a aliança, luzidia, é com os dirigentes africanos; é imprescindível convencer o mundo que o Brazilian Way of Life leva ao progresso e à igualdade social; e o pobre menor abandonado do momento, o continente africano, é a cópia mais perfeita que há. Povo miserável e dirigentes com contas em tamboretes internacionais criados para guardar o dinheiro que só circula entre os poderosos.

Não sei por onde andam os correspondentes estrangeiros. Sei é que o discurso oficial não bate com a realidade e que a imprensa estrangeira fala de um Brasil que não reconheço.

Se o Brasil fosse dissecado para exames veriam que não há, em seu grande organismo, nenhuma área onde as coisas funcionem a contento.

No Congresso as sessões dariam inveja ao Bussunda. Na Justiça, temos um presidente do STF convencido que a Liberdade de Imprensa é fundamental, mas que não sabe que para ser livre o jornalista não pode chafurdar: tem que ser altivo e respeitado.

Dos 39 ministérios, qual o que se pode gabar de que tudo vai bem?

Na Educação, que tem dois significados, Conhecimento e Polidez, o fracasso é medonho. Podemos saber a idade de determinados profissionais liberais por sua linguagem oral e escrita. É fácil constatar quando se formaram: há menos de 10 ou há mais de 20 anos.

Quanto à polidez, essa morreu. Foi substituída por uma franqueza que é pura violência. Nas mídias sociais, então, o que domina é a agressividade vulgar. Acham que liberdade de expressão é licenciosidade.

Na Economia a coisa vai mal. Não tenho conhecimento técnico, mas vivo e por estar viva faço feira, supermercado, farmácia e posso dizer sem medo de errar: a cada semana gasto mais comprando as mesmas coisas. Já conheço os passos dessa estrada e ao contrário da canção, sei onde vai dar...

Todo o episódio do boato que não sei se foi boato até agora serviu para algumas revelações: o Bolsa-Família é joia de vidro; a Caixa Econômica Federal é dividida em compartimentos estanques; a velocidade das notícias pode ser maior que a da luz; nosso povo está preparado para o que der e vier: não se iludam.

Dinheiro não nos falta. Perdoamos dívidas dos outros que somadas vão a mais de um bilhão. Mas não gastamos onde é preciso. Dona Dilma ainda não se apercebeu: há muitas nuvens negras entre as urnas e ela. Melhor lançar mão do ziguezague em terra também!


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Publicado originalmente no Blog do Noblat em 31/05/2013

É cada uma...

Nada mais ridículo, e apavorante, do que os caças que farão a segurança do Maracanã. Quero ver o que farão contra uma quadrilha bem armada que cisme de assaltar 'os gringos'. Vão bombardear?

Por que eles não vão guardar os Palácios? Daqui e de Brasília?

O Brasil é um país comédia pastelão.

Até que um avião desses se esborroe e tudo vire uma tragédia monumental...

Palavrinha

A Palavrinha hoje exagerou: virou Palavrinhas! 
E de Carlos Brickmann! 
Fico até com medo porque aprendi em criança que o dia do muito é a véspera do nada!

Farra geral

No tumulto do Bolsa-Família, a Caixa descobriu que 692 mil famílias têm dois cadastros e recebem dois auxílios (talvez seja por isso que, como disseram à TV, haja quem compre jeans de R$ 300 para a filha e pingue mensalmente algum na poupança).

Custo do pagamento ilegal? R$ 100 milhões por mês.

Eu, hem?

A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, responsável pelo Bolsa-Família, preferiu esquecer a confusão e manter suas férias na Disney. Bobagem: se é para conviver com ratos, João Bafodeonça, um Pateta e os Irmãos Metralha, e se divertir com nossa cara de patos, melhor seria ter ficado por aqui.

Vai e volta

A ministra Tereza Campello volta amanhã. É essencial que esteja no país para acompanhar o rigoroso inquérito sobre o que ocorreu no Bolsa-Família.

A propósito, como já informou o ótimo escritor Luiz Fernando Veríssimo, rigoroso inquérito não é a mesma coisa que inquérito rigoroso: é exatamente o contrário.

carlos@brickmann.com.br
www.brickman.com.br

Olá! Bom Dia!


Charlie Parker e Lester Young em Embraceable You