sexta-feira, 21 de junho de 2013

Palavra da Coruja


O heroi não é mais corajoso que o homem comum, ele é apenas cinco minutos mais corajoso.
Ralph Waldo Emerson 

Fim de Tarde


I've Got My Fingers Crossed: Fats Waller

Para a Hora do Chá


Arte de amar

Não faço poemas como quem chora, 
nem faço versos como quem morre. 
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira 
quando muito moço; achava que tinha 
os dias contados pela tísica 
e até se acanhava de namorar. 
Faço poemas como quem faz amor. 
É a mesma luta suave e desvairada 
enquanto a rosa orvalhada 
se vai entreabrindo devagar. 
A gente nem se dá conta, até acha bom, 
o imenso trabalho que amor dá para fazer.

Perdão, amor não se faz. 
Quando muito, se desfaz. 
Fazer amor é um dizer 
(a metáfora é falaz) 
de quem pretende vestir 
com roupa austera a beleza 
do corpo da primavera. 
O verbo exato é foder. 
A palavra fica nua 
para todo mundo ver 
o corpo amante cantando 
a glória do seu poder.

Thiago de Mello

A palavra é de... Sergio Vaz

Más Notícias do País de Dilma

 Acho que o melhor texto que li sobre os acontecimentos dos últimos dias nas ruas das cidades brasileiras foi a coluna de Antonio Prata na Folha de S. Paulo da quarta, dia 19: “Sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes”.



Foi tudo muito rápido, cresceu depressa demais, ficou sem qualquer tipo de controle. E não adiantou absolutamente nada prefeituras do país afora e os governos de dois dos principais Estados, São Paulo e Rio de Janeiro, terem voltado atrás no aumento das tarifas dos transportes coletivos: nesta quinta-feira, 20, um dia após São Paulo e Rio terem anunciado que haviam cedido, as manifestações foram ainda em maior número, com mais gente, mais descontrole e mais violência, vandalismo, depredações.

Obviamente, não dá para dizer que isso que está acontecendo é culpa de Dilma Rousseff ou dos dez anos e meio de PT no poder. Parte da responsabilidade deve ser, sim, ou certamente é – embora a rigor ninguém esteja entendendo nada, como bem disse Antonio Prata.

Os parágrafos acima estão aí apenas porque não teria qualquer sentido eu vir com minha compilação semanal de notícias e análises publicadas pelos jornais nos últimos sete dias sem ao menos citar as manifestações que tomaram conta do país.


Leia a íntegra em 50AnosdeTexto

The Capital Children's Choir


For Once In My Life, de Stevie Wonder

Arca do Tesouro

Le Serpent et La Lime

Jean de la Fontaine

On conte qu'un serpent voisin d'un Horloger
C'était pour l'Horloger un mauvais voisinage), 
Entra dans sa boutique, et cherchant à manger 
N'y rencontra pour tout potage 
Qu'une Lime d'acier qu'il se mit à ronger. 
Cette Lime lui dit, sans se mettre en colère : 
Pauvre ignorant ! et que prétends-tu faire ? 
Tu te prends à plus dur que toi. 
Petit Serpent à tête folle, 
Plutôt que d'emporter de moi 
Seulement le quart d'une obole, 
Tu te romprais toutes les dents. 
Je ne crains que celles du temps. 

Ceci s'adresse à vous, esprits du dernier ordre, 
Qui n'étant bons à rien cherchez sur tout à mordre. 
Vous vous tourmentez vainement. 
Croyez-vous que vos dents impriment leurs outrages 
Sur tant de beaux ouvrages ? 
Ils sont pour vous d'airain, d'acier, de diamant.    

Tradução em prosa: 


A Serpente e a Lima


Conta-se que uma serpente vivia vizinha de uma relojoaria. Um dia ela entrou na oficina atrás de alguma sobra, mas de comida, ali, nem cheiro. Nada encontrando para satisfazer sua fome e, com o apetite redobrado ao ver uma lima, se põe a roê-la.





A lima então lhe diz:

- Que pretendes fazer, pobre infeliz? Não vês que sou feita de aço? E que, antes de me prejudicar, você está prejudicando a si mesma? Não percebes que não terás dentes para usar, e eu continuarei intacta, pois não conseguirás tirar de meu corpo o menor pedaço? A mim nada causa contratempo. Os únicos dentes que podem me afetar são os dentes do tempo!

Assim como a cobra desta fábula, muitas pessoas acreditam que podem roer a vida de outrem, caluniando-os ou difamando-os com afirmações falsas e desonrosas a seu respeito.

Esta história se endereça a vós que só sabeis criticar, nada mais. A tudo e a todos mordeis, imprimindo a marca ultrajante de vossos dentes, mesmo sobre as obras-primas.


(ilustração de W. Aractangy -1993)

Enviado por Regina Alencar para a Navetta* em 30/05/2010

Palavrinha

Internet atinge 40% de residências no País, diz pesquisa

Rodrigo Petry, da Agência Estado

O total de residências no Brasil que contam com acesso à internet atingiu cerca de 40% no ano passado, segundo levantamento divulgado nesta quinta-feira, 20, pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), órgão ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). De acordo com a pesquisa, são 24,3 milhões de casas com acesso à internet no País. Em 2011, essa proporção era de 36%.

O estudo apontou que a fatia de residência com acesso à internet chega a 44% nas áreas urbanas. Nas zonas rurais, apenas 10% das residenciais contam com acesso à internet. Isto ocorre, sobretudo, pela falta da disponibilidade dos serviços, mostrou a pesquisa. Outros fatores citados para a falta de internet no domicílio são os custos elevados e os acessos em outros locais.

A Região Sudeste tem a maior proporção, com acesso a 48% dos domicílios em 2012, ante 45% no ano anterior. No Sul, a fatia é de 47%, frente a 41% em 2011. A menor representatividade fica com a Região Norte, de 21%. No Nordeste, a participação do acesso à internet somou 27% em 2012, ante 21% em 2011. O Centro-Oeste conta com 39% dos domicílios conectados.

Leia mais no Estadão de 20 de junho de 2013

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Obs- E depois me explique, por favor, por que as autoridades estão surpresas com a comunicação tão veloz entre os manifestantes? Lembrando que com i-pads e celulares, a meninada se comunica também enquanto se manifesta...  

Editorial de O Estado de S. Paulo (20/11/2013)

'Sem violência' e sem controle

Bem que o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, invocou os velhos tempos em que os protestos de rua tinham carros de som para guiar as ações dos participantes e lideranças claramente identificadas que as autoridades poderiam chamar para uma conversa.

Nos velhos tempos, aqui e no exterior, tampouco havia marchas organizadas pelo Partido Comunista (PC) ou por centrais sindicais sob o seu mando que não exibissem, além da clássica comissão de frente com os braços entrelaçados, um adestrado aparato de segurança pronto a reprimir, não raro a porretadas, os companheiros de viagem que, por palavras ou atos, se desgarrassem do roteiro político traçado para a ocasião pela autodeclarada vanguarda do proletariado. Os meganhas do PC também expulsavam do cortejo os militantes expurgados que, ainda assim, se achavam no direito de desfilar em meio à massa.

Os velhos tempos já se foram tarde. E a última coisa a esperar de passeatas "horizontais", sem estrutura hierárquica preestabelecida, como as que se propagam pelo País - e que outrora a ortodoxia do Partidão rotularia com desdém de "espontaneístas" -, seria uma falange capaz de impor o respeito às cláusulas pétreas do movimento: nada de partidos, nada de violência. No primeiro caso, o controle tem funcionado.

Sumiram por bem, pelo menos em São Paulo, as bandeiras das agremiações ultrarradicais, como PSTU e PCO. Ou sumiram por mal, quando, numa cena sem precedentes, um manifestante na Praça da Sé, cansado de argumentar, arrancou de seu portador - e pisoteou - a rubra bandeira engalanada com a foice e o martelo do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que ainda reverencia o camarada Stalin. A multidão encorajou o revolucionário a deixar o local.

Já o caráter pacífico dos protestos não havia como defender. Assim como tinha ocorrido na véspera, no ataque à Assembleia Legislativa do Rio, na terça-feira a exortação "sem violência" foi impotente para impedir a tentativa de invasão e a depredação da entrada da Prefeitura paulistana e a queima de um posto da PM e de uma van da Rede Record, a pouca distância dali. Os arruaceiros berravam "sem moralismo", e "sem burguesia". A ampla maioria civilizada não conseguiria, tampouco, enfrentar os grupos que se puseram a vandalizar ou a saquear as lojas de departamentos das proximidades.

A polícia, que na segunda-feira atirou em quem não devia, porque não fizera nada de errado ou nem sequer participava do protesto, dessa vez só apareceu com três horas de atraso, quando o pior já ocorrera. Se antes faltou policiar os PMs, depois sobrou desorientação - a começar do governador Geraldo Alckmin.

Pelo menos ele não deixou às pressas o Palácio dos Bandeirantes para pedir socorro a alguém presumivelmente mais apto a lidar com a incomum situação destes dias. Foi o que fez, apequenando-se perante aliados, adversários e a opinião pública, a presidente Dilma Rousseff. Ela, que tanto intimida a sua equipe com seus modos autoritários e a certeza de ser a dona da verdade, tornou a demonstrar que, na hora H, não é ninguém sem dois conselheiros. Um é o marqueteiro-residente do Planalto, João Santana. O outro, claro, é o seu progenitor político Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi Santana quem a instou finalmente a se pronunciar, após mais de uma semana em que os jovens, às dezenas de milhares, tomaram as ruas do País. Na terça-feira, antes de um bate-volta a São Paulo para perguntar ao seu mentor o que fazer agora, ela encaixou elogios à moçada numa fala sobre mineração.

Quem os escreveu é do ramo. Quem os leu, se também fosse, saberia infundir de sentimento pelo menos este enunciado: "A grandeza das manifestações comprova a energia da nossa democracia, a força da voz da rua e o civismo de nossa população". Mas, ao vivo, nada consegue derreter a frieza da presidente e a sua robótica entonação.

A campanha de 2010 colou nela o depreciativo "poste", que o próprio Lula viria a repetir para se gabar de sua eleição. (Fez o mesmo quando Fernando Haddad se elegeu em São Paulo.) O pior é que Dilma, depois de 2 anos e meio no Planalto, continua a precisar dele para ligar a luz.


Transcrito do Estadão de 20/06/2013

Olá! Bom Dia!


It's Been A Long, Long Time: Bing Crosby e o Les Paul Trio