segunda-feira, 8 de julho de 2013

Palavra da Coruja


Profissional é aquele que faz seu melhor trabalho quando está sem a menor vontade de trabalhar.
Frank Lloyd Wright

Memento

Chet Baker, sim, ele, o maior desperdício da história do jazz, interpreta a deliciosa 
There Will Never Be Another You

P&B


Gosto de fotografia. Já deu para perceber, não é? Mas paixão é por fotos e filmes em preto e branco.

Essa bela foto que foi enviada para a Navetta*, o blog que eu tive entre 2009 e 2011 e que lá publiquei, infelizmente não consigo lembrar quem a enviou. Sinto muito e peço imensas desculpas.

De qualquer forma, é uma linda foto e com ela presto uma homenagem ao fotógrafo e ao leitor (a) que foi tão simpático.

Se um dos amigos antigos se lembrar, por favor me ajude a dar os créditos. MH

Fim de Tarde



Num show em Milão, em 18 de outubro de 1978, 
Tom Jobim interpreta Desafinado

Para a Hora do Chá


Soneto a Camões

As tuas mágoas de amor, teus sentimentos 
Diante das leis que regem nossas vidas, 
Desses fados que dão e logo tiram, 
E a que estamos escravos e sujeitos. 

As tuas dores de amar sem ser amado, 
De procurar um bem que não se alcança, 
E no canto clamar desesperado 
Pelo que nunca vem quando se busca. 

Poeta de enamoradas impossíveis 
E que num negro amor desalteraste 
Essa sede de amar dura e terrível, 

As tuas mágoas de amor, tuas fundas queixas, 
Como uma fonte ficarão chorando 
Dentro da língua que tornaste eterna 

Augusto Frederico Schmidt

A palavra é de... Fernando Henrique Cardoso

Tempos Difíceis

(...) Os fatos que desencadeiam esses protestos são variáveis e não necessariamente se prendem à tradicional motivação da luta de classes. Mesmo em movimentos anteriores, como a “revolução de maio” em Paris, que se originou do protesto estudantil “por um mundo melhor”, tratava-se mais de uma reação de jovens que alcançou setores médios da sociedade, sobretudo os ligados às áreas da cultura, do entretenimento, da comunicação social e do ensino, embora tivesse apoiado depois as reivindicações sindicais.

Algo do mesmo tipo se deu na luta pelas “Diretas já”. Embora antecedida pelas greves operárias, ela também se desenvolveu a partir de setores médios e mesmo altos da sociedade, aparecendo como um movimento “de todos”. Não há, portanto, por que estranhar ou desqualificar as mobilizações atuais por serem movidas por jovens, sobretudo das classes médias e médias altas, nem muito menos de só por isso considerá-las como vindo “da direita”.

O mais plausível é que haja uma mistura de motivos, desde os ligados à má qualidade de vida nas cidades (transportes deficientes, insegurança, criminalidade), que afetam a maioria, até os processos que atingem especialmente os mais pobres, como dificuldade de acesso à Educação e à Saúde e, sobretudo, baixa qualidade de serviços públicos nos bairros onde moram e nos transportes urbanos. Na linguagem atual das ruas, é “padrão FIFA” para uns e padrão burocrático-governamental para a maioria. Portanto, desigualdade social.

E, no contexto, um grito parado no ar contra a corrupção (as preferências dos manifestantes por Joaquim Barbosa não significam outra coisa). O estopim foi o custo e a deficiência dos transportes públicos, com o complemento sempre presente da reação policial acima do razoável. Mas, se a fagulha provocou fogo foi porque havia muita palha no paiol.

Leia a íntegra em O Globo

Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente da República

A Banda


Chico Buarque e Nara Leão no
2º Festival Nacional da Canção, 1966

Arca do Tesouro

Se você achar que isso é piada, leia de novo.





O cara termina o segundo grau e não tem vontade de fazer uma faculdade.

O pai, meio mão de ferro, dá um apertão:

- Ahh, não quer estudar? Bem, perfeito. Vadio dentro de casa não pode, então vai trabalhar...

O velho, que tem muitos amigos, fala com um deles, que fala com outro até que ele consegue uma audiência com um político que foi seu colega lá na época de muito tempo atrás:

- Rodriguez!!! ! Meu velho amigo!!! Tu te lembra do meu filho? Pois é, terminou o segundo grau e anda meio à toa, não quer estudar. Será que tu não consegue nada pro rapaz não ficar em casa vagabundeando?

Aos 3 dias, Rodriguez liga:

- Zé, já tenho. Assessor na Comissão de Saúde no Congresso, R$ 9.000,00 por mês, prá começar.

- Tu tá loco!!! O guri recém terminou o colégio, não vai querer estudar mais, consegue algo mais abaixo...

Dois dias depois:

- Zé, secretário de um deputado, salário modesto, R$ 5.000,00, tá bom assim?

- Nãooooo, Rodriguez, algo com um salário menor, eu quero que o guri tenha vontade de estudar depois....Consegue outra coisa.

- Olha Zé, a única coisa que eu posso conseguir é um carguinho de ajudante de arquivo, alguma coisa de informática, mas aí o salário é uma merreca, R$ 2.800,00 por mês e nada mais...

- Rodriguez, isso não, por favor, alguma coisa de 500,00, 600,00, prá começar.

- Isso é impossível, Zé!

- Mas, por que?

- Porque esses são por concurso, precisa título superior, mestrado, curriculum, antecedentes, experiência prévia... é difícil...


Publicado originalmente na Navetta*. Enviado por fmvbrito em 30/3/2010

Palavrinha

Um menino levado e muito querido, que morreu precocemente, um dia, ao ser repreendido pela mãe por não se espelhar no irmão mais velho, sempre primeiro aluno da classe, respondeu: "Mãe, filho não é igual tijolo que sai tudo igual da olaria".

Pois é o comentário que faço ao ouvir que Graciliano Ramos, por ter um temperamento seco e calado, pouco afeito a expansões, não era romântico. Já ouvi até uma senhora dizer, após ler "São Bernardo", que ele não entendia nada de amor.

Papagaio! Será que todos temos que amar e expressar nosso amor do mesmo jeito? Tudo tijolinho?

Mas esse detalhe, romântico ou não, é mesmo só um detalhe. Que interessa à família.

Para nós, os felizardos herdeiros das palavras de Graciliano em todos os seus livros, todos, o que interessa é sentir o grande amor que ele tinha ao Brasil. Como sofria por nossa terra e seus moradores. Ler um livro dele e lá pelas tantas não chorar é, para mim, tarefa impossível.

Interessa também pensar, depois de ler os dois célebres relatórios que como prefeito de Palmeiras dos Índios ele enviou ao governador de seu estado, Alagoas: imagine um Ministério formado por 12 Gracilianos! O Brasil seria uma potência e seu povo o mais feliz da face da Terra.

Copiei um pequenino trecho de seu primeiro relatório; sugiro que leiam:

  • "ADMINISTRAÇÃO
    A administração municipal absorveu 11:457$497 – vencimentos do Prefeito, de dois secretários (um efetivo, outro aposentado), de dois fiscais, de um servente; impressão de recibos, publicações, assinatura de jornais, livros, objetos necessários à secretaria, telegramas.

    Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos, forçados pelos inspetores, que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha – um telegrama; porque se deitou uma pedra na rua – um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela – um telegrama. Dispêndio inútil. Toda a gente sabe que isto por aqui vai bem, que o deputado morreu, que nós choramos e que em 1559 D. Pero Sardinha foi comido pelos caetés.


    Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
    Graciliano Ramos"

Dá para acreditar que 85 anos depois Alagoas nos tenha dado um presidente do Senado que se acha no direito de usar a Força Aérea Brasileira como se sua fosse?

Não sei dizer se faz bem ou mal ler os relatórios que o prefeito GR enviou. Mas na esperança que atraiam bons fluidos, aí vão:

Revista de História:

Relatório da Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios, 1929

Relatório da Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios, 1930


Com fé que ajudem, MH

Falso "antirromântico", por Dênis de Moraes

Prosa Online, O Globo
A chamada “história oficial” costuma acusar Graciliano Ramos de “antirromântico”, apontando o seu temperamento seco e introvertido como a antítese do ser apaixonado. Essa aleivosia cai por terra quando se desvelam os fatos reais. Antirromântico um homem que ia a batalhas de confetes no carnaval e blocos de sujos com Maria Augusta? Antirromântico um homem que levava maçãs frescas para agradar Heloísa com a fruta favorita?

                                     Heloísa e Graciliano, 1944 - Foto: site oficial Graciliano Ramos


Graciliano amou intensamente as duas mulheres de sua vida. Quando perdeu Maria Augusta, em 1920, vítima de complicações no parto do quarto filho do casal, guardou luto durante um ano. Aparecia vestido de preto na loja de tecidos e se fechava em caminhadas solitárias nas noites de Palmeira dos Índios, Alagoas. Não poucas vezes chorou de saudade ao lembrar-se do namoro avançado para os padrões conservadores da época. Na ponta dos pés, arriscava beijar a namorada debruçada na janela de casa.

Em 1928, o amor cruzou-lhe novamente o destino. A paixão avassaladora por Heloísa, de 18 anos, tirou o chão de Graciliano, aos 36 anos e prefeito eleito de Palmeira. Amor à primeira vista? Apenas para ele, que passou por cima da condição de ateu para vê-la na missa dominical, depois de conhecê-la numa quermesse. Desesperado com a distância involuntária entre os dois (Heloísa morava em Maceió), recorreu a uma coleção de cartas apaixonadas para conquistá-la. A cada correspondência, era traído pela vocação literária; as palavras incumbiam-se de desaprisionar e expandir o sentimento: “Estou a atormentar-te, meu amor. Perdoa. Se não fosses como és, eu não gostaria de ti. És uma extraordinária quantidade de mulheres.”

Finalmente, na festa do réveillon de 1928, Heloisa concordou em “namorar de perto”. Naquela mesma noite, Graciliano lhe propôs casamento. Ela ponderou que era um pouco cedo; gostava dele mas não o amava ainda. “Não faz mal”, respondeu o prefeito. “O amor que tenho por você é tanto que dá para nós dois.” Casaram-se em menos de dois meses.

Heloísa salvou-lhe a vida em fins de 1936, apelando ao escritor José Lins do Rego e ao editor José Olympio para que intercedessem junto ao gabinete de Getúlio Vargas, único modo de o marido escapar dos infortúnios no presídio da Ilha Grande, onde fora encarcerado sem processo e sem culpa formada. Heloísa foi solidária nos momentos mais tortuosos da existência de Graciliano (os dez meses e dez dias de cárcere, as dificuldades financeiras, a crise de alcoolismo, a doença fatal).

Os 25 anos de amor só foram interrompidos com a passagem de Graciliano, em 1953. Na última vez em que se falaram no hospital, Heloísa perguntou-lhe: “Ateu tem medo de morrer?” Emocionado, o “antirromântico” Graciliano confessou: “Não tenho medo. Mas é que ainda tenho tanto amor para dar...”


Transcrito do blog Prosa, portal O Globo, de 7/7/2013

Fera ferida, por Mary Zaidan

Desde que a inflação começou a mostrar dentes cada vez mais afiados e o incômodo grito de descontentes tomou as ruas, tornou-se praticamente impossível manter os disfarces que encobriam o autoritarismo e a soberba da presidente Dilma Rousseff.  Se mesmo em tempos de popularidade recorde, de Brasil grande, de massas manobradas, já era difícil aturar a fera, agora aliados e o próprio PT já não escondem o desalento nem a ira. Nessa ordem, ou vice-versa. Até o padrinho Lula sumiu.




Lançada à sua própria sorte e sem vislumbrar qualquer chama tênue capaz de clarear o fim do túnel, Dilma tem se superado na brabeza. Na quinta-feira, ao sentir seu poder de mando ameaçado, sua fúria foi tamanha que ela obrigou o vice Michel Temer e o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo a desdizerem o dito óbvio, feito horas antes, sobre a inviabilidade de se realizar às pressas um plebiscito e uma reforma política válida para as eleições de 2014.

A emenda se mostrou pior que o soneto. Assim como o remendo para consertar a equivocada Constituinte exclusiva que a presidente lançara, o pito só fez desafinar ainda mais uma orquestra que ela jamais conseguiu reger; que a engoliu, mas nunca gostou da sua batuta.

Quando fecha os olhos, Dilma deve sonhar com um batalhão de Guidos Mantegas a lhe sussurrar cantigas de roda enquanto o funk pega firme lá fora.

Mantega, o ministro da Fazenda do País imaginário, que no seu faz-de-conta insiste em dizer que o Brasil vai crescer 3%, a inflação não escapará da meta e as contas públicas estão equilibradas. Que, mesmo vendo o IPCA bater em 6,7%, comemora, como criança que ganhou um doce, a inflação quase zero dos alimentos. Que anuncia a suspensão parcial da desoneração para a linha branca poucos dias depois de a presidente dar crédito para os beneficiários do Minha casa, minha vida na compra de geladeira, fogão e máquina de lavar. Que não tem pudor em dizer que impostos podem subir.

Como se vê, não é só por teimosia que Dilma quer Mantega. Ele a afaga.

Também não se pode dizer que é teimosia da presidente a insistência no plebiscito. Bem ou mal, o tema lhe é bastante útil – senão o único – para tergiversar, para tentar escapar do centro do furacão.

Seguindo o scritp da marquetagem, Dilma diz ter ouvido a voz das ruas, que crê na “inteligência do povo brasileiro”; que “não é daqueles que não acredita que o povo é incapaz de entender [o plebiscito] porque as perguntas são complicadas”.

Se algum faro tivesse, saberia que as ruas continuam lhe dizendo o inverso. Complicadas, Dilma, não são as perguntas, mas as respostas que o governo insiste em dar.

Mary Zaidan é jornalista.

Transcrito do Blog do Noblat de 7/7/2013

Olá! Bom Dia!


Vai me dizer que não dá vontade de começar o dia sambando?
Tem mais samba, com a Banda Seu Chico