sábado, 15 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Minha definição de uma sociedade livre é uma sociedade onde é seguro ser impopular.
Adlai E. Stevenson Jr.

Fim de Tarde


These Foolish Things Remind Me Of You, com a orquestra de Benny Goodman

Para a Hora do Chá


              Quase

Um pouco mais de sol   - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa
Se ao menos eu permanecesse aquém.

Assombro ou paz?  Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido.

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão
Mas na minh'alma tudo se derrama
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou.
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou.

Momentos de alma que desbaratei
Templos aonde nunca pus um altar
Rios que perdi sem os levar ao mar
Ânsias que foram mas que não fixei.

Se me vagueio, encontro só indícios
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios.

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí.
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi.

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


    Mário de Sá Carneiro

A palavra é de... Luiz Garcia

Almoço oficial

Todo os servidores públicos têm direito a um salário, que seja satisfatório em relação ao trabalho que realizam, assim como como capaz de mantê-los, e às suas famílias, em pelo menos condições de sobrevivência e algum conforto. Obviamente, quanto mais importante para o País e a sociedade, maior a grana.

Prosseguindo no óbvio, cabe ao Estado determinar os níveis de remuneração de cada funcionário. Evidentemente, raros acham que recebem o bastante. É compreensível. E às vezes, por razões que não são difíceis de entender, o cidadão comum acha que a turma lá de cima anda mamando em tetas gordas demais.

Um exemplo disso é o que se acaba de descobrir em relação aos ministros de quatro tribunais superiores: eles receberam, do nosso bolso, um total de R$ 3,64 milhões, correspondentes a nove anos de refeições. O nome técnico dessa bolada é “auxílio-alimentação retroativo”.

O dinheiro foi fornecido por quatro tribunais superiores : o Militar, o de Justiça e o do Trabalho revelaram as quantias: o Tribunal de Contas da União relutou, mas acabou prometendo submeter a questão à Lei de Acesso à Informação. Seria mesmo muito estranho que os juízes que fiscalizam o uso dos recursos públicos mantivessem em segredo o seu próprio uso desse dinheiro.

A única desculpa do TCU é o fato de que, antes, eles liberaram pagamentos retroativos a quase cinco mil juízes federais e do Trabalho, pouco depois de fazerem o mesmo em relação aos tribunais superiores.

Pode-se admitir que essa farra do almoço judiciário seja legal. Mas o caso vem sendo questionado no Conselho Nacional de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. Se esse auxílio-alimentação retroativo (nome oficial da benesse) for aprovado, talvez seja difícil impedir que se espalhe pelo primeiro time do governo federal.



Será uma farra e tanto — que você vai pagar.


Luiz Garcia, O Globo 
Transcrito do Blog do Noblat (14.6.2013)

Alguém aqui se lembra d' A Careta?



Artigo de Fundo

     Ahi vae a nossa Careta

    Lançando a publicidade este semanario, é preciso confessar, e contrariamente o fazemos, que a Careta é feita para o Publico, o grande e respeitavel Publico com P. grande!

      Se tomamos essa liberdade foi porque sabiamos perfeitamente que elle não morre de caretas.

      Longe vae o tempo em que isso acontecia.

      Todavia, a nossa esperança é justamente que o publico morra pela Careta, afim de que ella viva.

      E feita cynicamente, essa confissão egoistica (nós estamos no seculo XX) digamos logo que o nosso programma cifra-se unicamente em fazer caretas.

      Careta como toda gente sabe, e se não sabe, devia saber, é assim uma espécie de cara pequena, conforme a abalisada opinião do Candido de Figueiredo, e se não for, é a mesma cousa.

      Ora por ahi existe muita gente de quem se diz ter duas e mais caras; não é demais, por consequencia, que nós tenhamos uma porção de caretas que iremos mostrando todos os sabbados, á razão de uma tuta e meia (tuta em latim corresponde a 200 réis, segundo o Dr. João Ribeiro).

      As nossas caretas são sérias como as sessões do Instituto Histórico e a sua perfeição e semelhança garantidas.

      Mas nunca fiando... Quem vê caretas, não vê corações.

      Faremos tudo para que ás nossas, não correspondam caretas de máo humor; preferimos francamente, sorrisos, mesmo daquelles que mais parecem caretas.

      Se ao vêr a Careta, gentil senhorita, apreciadora enthusiasta das secções galantes do jornalismo smart, franzir graciosamente as graciosas sobrancelhas, na boquita rubra estalando um desprezador muxoxo, nós já temos meia vingança: o muxoxo é meia careta, pelo menos.

      Se porém algum representante desse sexo que se diz barbado e vive a depilar-se agora, seguindo as novas correntes estheticas do pan-americanismo (!?), enfurecer-se ao mirar a Careta, não haverá duvida tambem: deitamo-lhe convictamente um palmo de lingua de fóra.

      Com um programma tão vasto, tão seductor, tão (como diremos?) careteristico, esperamos da sympathia do publico o franco acolhimento que lhe não merecem tantas caretas por ahi, bem conhecidas.

      A Careta é honesta e não é feia; é uma careta de lei. 

Rio de Janeiro, 6 de junho de 1908

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Quem tiver curiosidade, e quiser saber mais sobre a revista, clique em seu título que entrará no site Memória Viva. Essa revista, que era muito lida e marcou gerações, foi lançada em 1908 e durou até 1960:   A Careta 

Arca do Tesouro

Da série que a Navetta* apresentava e que pretende restabelecer um dia, quando tiver mais leitores... Este blog ainda não tem um mês. Tenho que dar tempo ao tempo...

Onde foi tirada essa foto? Você sabe?


Foto enviada por jml, um amigo da Navetta* e que é um excelente fotógrafo amador.

Não estamos em pleno concurso, mas não vou dizer o nome da cidade... e nem dar a data em que foi publicada, por motivos óbvios...

Atualização: Bia Eagle Mind, que não recebeu esse apelido sem merecer... acertou: a cidade é Paulista, e fica em Pernambuco.

Palavrinha

O DNA como sempre não me decepciona... Das descobertas do século 20 o DNA é das mais impressionantes, para mim. De vez em quando tenho provas de sua força em nossa estrutura física e mental que me deixam embasbacada. Jovens que não conheceram seus avós e que, de repente, falam de um jeito,  ou têm uma atitude que é cópia de um antepassado. É mesmo impressionante.
E agora lá vem o DNA e mostra mais uma vez sua força: Miguel Arraes teve 10 filhos.
Seu neto Eduardo vai para o quinto filho.
Bom sinal para quem torce por ele.
Como eu.



O casal Renata e Eduardo Campos em foto de Gleyson Ramos (5.fev.2013/Folhapress)

Diga Conosco: Lu-lo-dil-ma

Leio no Painel da Folha de S. Paulo de 13/06/2013:
“Receita: Aconselhada a tomar uma “injeção de Lula”, a presidente cancelou a viagem que faria ao Rio hoje para se encontrar com o ex-presidente em evento do PT no Paraná. Dilma remarcou para amanhã a ida à capital fluminense, onde vai anunciar investimentos na Rocinha”.
Imediatamente lembrei-me de um luminoso que encantava quando eu era bem jovem:  quatro rostos femininos, um de cada vez, iam formando com os lábios as sílabas Lu-Go-Li-Na. As lâmpadas acendiam e apagavam e a propaganda servia ao seu propósito: prendia a atenção.




Fui pesquisar no site da Anvisa se era um medicamento injetável. Não era. Mas a semelhança com os nomes e o anúncio completo, com um Diga Conosco que me escapara, justificam plenamente porque em minha memória acendeu o Lugolina ao ler que dona Dilma foi aconselhada a tomar uma “injeção de Lula”.
Na nota do Painel não diz quem a aconselhou mas como na nota anterior falam de uma reunião dela com João Santana e ministros, “para avaliar as recentes pesquisas de popularidade”, deduzo que a receita tenha vindo desses senhores.
Com os quais concordo. Cara feia é fome e como a presidente não passa fome, creio que posso deduzir que anda mal humorada. O que é natural. Ela não caiu nas pesquisas por motivos outros que não fossem a inflação e o aumento do dólar, que assusta e incomoda a todos os brasileiros, dos bolsistas aos que têm a bolsa estourando de tão cheia.
Dona Dilma tem um vezo ao falar que em dilmês fica até mais forte: “o meu governo”, “no meu governo”. O “meu” dela é altamente revelador. Parece um amigo, bem casado, mas que é incapaz de dizer “a nossa casa”, “os nossos filhos”, “o nosso jardim”. Tudo para ele é “meu”. Ele também é petista. Vai ver no treinamento petista ensinam a nunca usar o possessivo no plural...
Enfim, seja meu ou nosso governo, o país é definitivamente nosso e a preocupação com o que está ocorrendo aflige a todos nós, com exceção dos alienados e aloprados, que para esses o mundo é sempre cor de rosa.
As cenas de violência em São Paulo e no Rio, os assaltos e crimes cada vez mais numerosos, a calma com que a polícia se refere ao roubo “saidinha do banco”, os preços subindo e o ministro da Fazenda querendo nos fazer crer que não estão subindo, as pessoas cada vez mais descrentes... isso lembra tanto o passado quanto o anúncio do Lugolina.
As soluções para cativar o eleitorado, francamente, são daquelas que se não aleijam, matam. O financiamento Minha Casa Melhor, alguém já parou para pensar no que as indústrias farão com os preços máximos determinados pelo governo?
O que desabará primeiro, o sofá de R$375,00 ou o guarda-roupa de R$380,00, após a primeira infiltração?  Ou a casa?

por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Publicado originalmente no Blog do Noblat em 14/06/2013

Olá! Bom Dia!


Blues My Naughty Sweetie Gives To Me, 
com o fabuloso Sidney Bechet