quarta-feira, 31 de julho de 2013

Palavra da Coruja


Curiosidade: instinto que leva alguns a olhar pelo buraco da fechadura, e outros a descobrir a América.
Eça de Queiroz

Memento

Boa Noite...


I Dont Want To Talk About It , com Rod Stewart

Para a Hora do Chá

He wishes for the cloths of heaven

Had I the heavens’ embroidered cloths, 
Enwrought with golden and silver light, 
The blue and the dim and the dark cloths 
Of night and light and the half light, 
I would spread the cloths under your feet: 
But I, being poor, have only my dreams; 
I have spread my dreams under your feet; 
Tread softly because you tread on my dreams.

W. B. Yeats

***

(Ele deseja os tecidos dos céus

Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.

Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos)

A palavra é de... Maria Helena RR de Sousa

Com saudade, mas com alívio

Ufa! foi o título do meu texto da semana passada. Eu imaginava, na ocasião, o alívio que sentiria com a volta do Papa para Roma, já que temia por sua segurança. Não conhecia seu extraordinário carisma, a força de sua personalidade cativante, nem a alegria e afeto que seu olhar transmite a todos que o olham de perto: impossível agredir um Homem desses...

Mas como com loucos não se brinca e sempre pode haver um louco numa multidão como a que se juntava em todos os lugares para onde Francisco ia ou por onde passaria, meu coração esteve inquieto o tempo todo.

O Papa crê em Deus e que sua hora está determinada por Ele. Mas rindo, diz: "sou um inconsciente, não tenho medo". E confessou também que é rebelde e que não obedece à equipe de segurança que o acompanha...

Rebelde? Tem jeito de ser é teimoso... Mas que pessoa simpática, afável, daquelas que sentimos que está ouvindo o que dizemos e se preocupando com o que ouve.

Sua Fé em Jesus Cristo e Sua Mãe, apesar de profunda, transborda. Por isso, é com muita pena que digo: Ufa! que bom que ele já está no Vaticano! Cansado, como ele mesmo admitiu, mas são e salvo.

Não por ele, que foi o visitante ideal.

Não deu trabalho, só trouxe alegria e carinho para uma cidade que anda precisando voltar a se sentir querida e acolhedora. O Rio sempre se orgulhou de ser a cidade que o Cristo abençoa e cuja estátua nos representava muito bem: de braços abertos para o mundo.

Mas o alívio ao ver que nada aconteceu com ele, o pregador destemido, nem com sua comitiva, compensa a tristeza ao vê-lo partir.

E, que a gente saiba, também nada de sério aconteceu com a meninada que veio dos quatro cantos do mundo. Animados pela Fé e pelas férias, coloriram a cidade. Eram milhões, e creio que, ao chegar em casa, terão muito a dizer sobre esta linda cidade e sua desorganização.

Espremida entre o mar e a montanha, o Rio é cidade complicada, não é fácil. Até hoje, sua beleza desculpou tudo. Mas chega desse êxtase: precisamos de administradores e legisladores que peguem as rédeas da cidade e revejam tudo que se refere a transportes, mobilidade urbana, e o sagrado ir e vir da cidade e seus bairros. Que exerçam seu poder com o que o Papa chamou de Humildade Social! E, sobretudo, que deem bons exemplos, para que os cariocas voltem a ser ligados à sua cidade e mais respeitadores das posturas municipais.

Copacabana foi quem mais se deu para o encontro com o Papa. A missa em 23 de julho; a cerimônia da acolhida, no dia 25; a Via Sacra, no dia 26; a vigília e a missa, nos dias 27 e 28. Que lindo cenário para realizações tão especiais. Deu lindas fotos, maravilhosas. Mas você já pensou o que é passar muitas e muitas horas sem poder sair de casa na hora que quiser ou precisar?

Bloquear as entradas de um bairro aos carros, só permitir acesso aos moradores com documentos que provassem onde moravam, não é solução... Segundo a Associação de Moradores, não há queixas, mas um pedido para que não se faça mais nada ali até o dia do Réveillon.

A solução Guaratiba, desde o primeiro dia, me pareceu uma loucura. Quem foi ao Rock in Rio em 1985, o primeiro, o daquele lamaçal insalubre, temia pela sorte do Campus Fidei. Eis um bom exemplo daquilo que o Papa falou: descartam os idosos, não ouvem o que eles dizem e, portanto, não aproveitam nossa experiência.

Temos outras praias, outros descampados para receber multidões. Espero que comecem a pensar neles para os eventos festivos que a FIFA e o COI motivarão. Que não se fiem no sucesso da JMJ. Essa foi arquitetada em outro departamento...

Naquele... o da Fé, Esperança e Amor.

Escrita para Brickmann & Associados

Arca do Tesouro

Não sei por quais motivos a foto que publico hoje neste espaço não foi capa de nossos principais jornais e revistas. Ainda faço fé nas revistas do próximo fim de semana. Em todo caso, resolvi arquivá-la aqui neste cantinho que chamo de Arca do Tesouro, posto que é uma joia que deve ser guardada para o futuro.

Retrata fielmente as principais características de nosso subcontinente. É muito representativa dos três países representados por seus atuais líderes, Evo Morales, Cristina Kirchner e Dilma Rousseff.



Foto: Stefano Rellandini/Reuters


Para contextualizar, como gostam os jornalistas, digo que foi tirada durante a Missa do Envio, que foi celebrada pelo Papa Francisco na presença de mais de 3 milhões de peregrinos e fieis, nas areias de Copacabana, Rio de Janeiro, no domingo 28 de julho de 2013.

Palavrinha

Não tenho nenhuma saudade das Cruzadas, muito menos da Inquisição, e muitíssimo menos ainda dos tempos do Benito, do Adolfo ou do Koba ou outros enviados do cramulhão que habitaram nosso mundo. Como acredito em Céu e Inferno, sei onde eles estão e que se quedem muy mal por allá, são meus votos.

Não tenho nada a ver com a vida dos outros. No que acreditam, onde nasceram, filhos de quem são, como pensam e amam e vivem.
Cada um na sua e eu na minha, esse é o meu lema.

Mas para tudo há limites. O meu espaço acaba onde começa o do outro.

Em Moscou, as inacreditáveis Femens invadiram e desrespeitaram a Igreja da Anunciação. Foram processadas, julgadas e estão presas. Não sei, nem me interessa saber, como foi esse processo. Problema dos russos.








Problema nosso foi o que nós brasileiros NÃO fizemos com os mais novos representantes da canalha humana que agiram em Copacabana em todo seu asqueroso modo de ser. Tinham que ser detidos, autuados, e responder a processo. Nossa Lei Maior diz que é proibido qualquer ultraje à Fé de quem quer que seja. 

O que essas figuras animalescas fizeram com a Cruz do Senhor e com a Imagem de Maria é, pois, um crime. Fica difícil explicar para os muito idosos e para as crianças por que fomos tão lenientes.

Seremos covardes?

Segundo li, alguns chilenos e italianos ainda reagiram, mas por não estar em seus países, imagino eu que tenham sido contidos por companheiros. Com certeza esperançosos que nossa polícia agisse.

Ainda estou à espera que alguém me diga: "você está mal informada. Essas criaturas foram detidas e estão sendo processadas pelo Estado".

Tomara que eu esteja enganada e que receba essa informação. MH

É fascinação e amor, por Carlos Brickmann

O papa Francisco conquistou o Brasil. Tem carisma, uma empatia evidente com a população. Seus hábitos simples caíram no gosto do povo (e não só dos católicos). Falou de religião enquanto as autoridades tentavam conquistar eleitores. Mas, principalmente, ganhou o país por outro fator positivo: a tolerância.

Enquanto fundamentalistas anticatólicos e ateus que se imaginam melhores que os outros partiram para a grosseria e a intolerância, profanando símbolos religiosos e promovendo lamentáveis cenas de talibanismo (os talibãs afegãos, lembremos, dinamitaram duas magníficas estátuas de Buda, com mais de mil anos de idade, porque Buda não era muçulmano), o papa tomou cafezinho com um pastor evangélico, conversou com dirigentes de várias religiões, monoteístas ou não, e admitiu que muitos católicos se afastaram da Igreja porque a Igreja não lhes dava assistência espiritual. Lembrou que todos são filhos de Deus. E, nesse denso contexto, condenou sem reservas a homofobia, o ódio aos homossexuais. "Se a pessoa é gay e procura Deus, quem sou eu para prejulgá-la?"

Marketing? Não, ele é assim mesmo. Há anos é grande amigo de um rabino, Abraham Skorka, e com ele escreveu um livro ótimo, Sobre o Céu e a Terra - sobre tolerância, convivência entre pessoas com crenças diferentes. O papa mostrou que discordar de um comportamento não significa discriminar pessoas. E disse: "Casais que moram juntos antes do casamento são um fato antropológico".

O papa Francisco venceu. O Brasil preferiu a tolerância ao rancor.




A descoberta... 

O papa, veja só, conseguiu abrir até a dura cabeça do governador fluminense Sérgio Cabral. O governador disse que, inspirado por Francisco, será agora mais humilde e aberto ao diálogo. Cabral se achava quase perfeito, embora lhe faltasse a humildade.

Agora, com toda a nova humildade, deve considerar-se perfeito.

...de Cabral

Os grupos que se manifestam incessantemente em frente ao prédio em que mora Sérgio Cabral ultrapassam os limites do que é civilizado: a família e os vizinhos do governador não são responsáveis pelo seu Governo nem devem ser vítimas de seus adversários. Que se proteste contra o governador diante da sede do Governo, poupando família e vizinhos. E não se pode esquecer que Cabral nunca foi melhor do que é hoje; mesmo assim, elegeu-se e reelegeu-se governador, em eleições diretas e limpas.

Mas alguém precisa informar o neo-humilde Cabral que reclamar só do incômodo imposto à sua família pelos manifestantes é demonstração de falta de humildade. Nem se lembrou do sofrimento dos vizinhos.

A voz de Dilma

A presidente Dilma Rousseff deu longa entrevista a respeito das maravilhas e das medidas - invariavelmente corretas - de seu Governo que pode ser resumida em poucas palavras: "Se não têm pão, comam brioches". Em outra época, quem disse a mesma coisa foi uma rainha francesa, Maria Antonieta.

Ficou famosa!

A voz das ruas

Dilma disse que entendeu a voz das ruas mas que não vai mudar nada no Governo. Os parlamentares dizem ter entendido a voz das ruas e saíram de férias sem votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que obrigatoriamente precisa ser aprovada antes das férias. E a gastança maluca não se esgotou na recepção do governador Sérgio Cabral ao papa Francisco, em que um bufê teve a audácia de cobrar (e o Governo fluminense teve a audácia de pagar) R$ 1.300,00 por pessoa, para servir café, água e biscoitos. O Congresso também saiu gastando sem freios.

Os ouvidos do Poder

Em fevereiro, tanto Renan Calheiros, ao assumir a Presidência do Senado, quanto Henrique Alves, ao assumir a Presidência da Câmara, prometeram reduzir as despesas. Resultado: o Congresso gastou R$ 140 milhões a mais que no mesmo período do ano passado, já levada em conta a inflação. Veja o balanço completo emhttp://www.contasabertas.com.br/website/noticias/arquivos/1887_PDF.pdf

Os bolsos do cidadão

E a festa continua. Dois anúncios do Senado deram na vista. Primeiro, pela publicação num pé de página, em letras pequenas; segundo, embora tratassem de licitações, por não se tocar em valor. Mas o que saiu já mostra do que se trata: mais luxos. Uma das licitações visa alugar veículos com motorista, para atender aos senadores em seus Estados, todos os dias, mesmo que o senador esteja em Brasília. São, no total, 78 carros (os senadores brasilienses ficam só com os carros que já têm, tadinhos!).

E, como senador não é papa, nada de automóvel de pobre. É carro caprichado. O outro edital é para compra de material gráfico. Divulgar as maravilhas que o senador faz em seu mandato também é transparência.

Perdendo a razão

A revolta dos médicos contra a decisão do Governo de buscar estrangeiros sem exigir que revalidem seus diplomas no Brasil (e contra a tentativa de jogar nos médicos brasileiros a culpa por problemas sanitários, de falta de infraestrutura, de falta de verba) é justíssima. Mas greve de médicos é coisa errada: quem sofre não pode pagar pela culpa do Governo.

É perder a razão numa causa justa.


carlos@brickmann.com.br 

www.brickmann.com.br


Gracinha de Papa!, por Regina Helena Paiva Ramos



Com todo respeito, mas esse Francisco - usando expressão de Hebe Camargo - é uma gracinha. Subiu a escada do avião carregando a malinha, botou cocar de índio na cabeça, mandou a gente botar mais água no feijão, deu risadas gostosíssimas, abraçou amigos com sofreguidão, mandava parar o papamóvel (como é que se escreve isso?) para beijar criancinhas e algumas vezes até desceu do carro para estar mais perto do povo.

Usou carro popular, de preço baixo. (Notaram isso, políticos e altos funcionários do Brasil?). Foi aplaudido, beijado, apertado, se encalacrou no trânsito carioca no primeiro dia, fez brasileiro gostar de argentino, aceitou solidéu novo - mal feito pra burro! - e deu o seu bem feitinho em troca, tomou chimarrão (duas vezes!) de um anônimo, acenou, abençoou, sorriu e no meio do aperto e da agenda lotada disse coisas importantes.

Pediu diálogo. Incentivou os jovens a não ter vergonha do Cristo. A se empacharem de coisas boas e não de drogas. Lembrou a importância da família. Falou contra a corrupção. E mostrou um estilo novo de Papa.

Algumas pessoas fizeram protestos idiotas aparecendo nus na rua e quebrando imagens de Nossa Senhora Aparecida e outras falaram mal dele no Facebook dizendo que o nosso Chico é demagogo, quer se fazer de bonzinho e que se espera que seja melhor que os outros papas.

Melhor em quê, caras pálidas? A doutrina da igreja católica continua a mesma, não mudou em nada. Nem vai mudar. Mudou foi o estilo: esse Papa é moderno, descontraidão, simples, alegrão. Tenho certeza que vai trazer mais simplicidade para a Igreja. Vai aproximá-la mais das gentes. Comentou sobre as incoerências existentes e vai pegar o touro a unha para acabar com elas. Poderá modificar a instituição, torná-la mais simples, menos pomposa, mais próxima dos fieis, mas não modificará a doutrina.

Essa não muda: vai continuar sendo contra o aborto, adepta da família unida, contra casamento de homos. É a doutrina. Uma coisa é a doutrina, outra coisa é o acolhimento e até o amor a quem não a cumpre. Quem não gostar de tudo isso não seja católico, mude, diversifique, vá para a Universal, para o budismo, para o bramanismo, para onde se sentir bem e confortável. Ou não vá para lugar nenhum e brigue com todas as religiões. É um direito elementar.

Agora que ele - o Papa Francisco - é uma gracinha, isso não se discute. Se eu já não fosse católica, agora mudava.

Mas olha, Papa Francisco, não vou te ver outra vez na Piazza San Pietro nem que a vaca tussa. Estive lá no começo do mês, meio dia, 40 graus, suor escorrendo, gente pra caramba - muda a hora da audiência no verão, Chico! Muda! - Muda para as 8 da noite, mais fresquinho, dia ainda claro em Roma. Ao meio dia nunca mais você me pega naquela praça! Mas apareça por aqui outras vezes. Gostamos demais da sua presença.

Você vai deixar saudades, gracinha de Papa!

Regina H. Paiva Ramos - É jornalista. Uma grande jornalista.
Transcrito do site Brickmann & Associados

Olá! Bom Dia!


O "jig" irlandês: Irish Dance Group