domingo, 26 de maio de 2013

Palavra da Coruja


Quanto mais velho fico, mais desconfio do velho ditado 'a idade traz sabedoria'...
H.L.Mencken

Fim de Tarde



A orquestra da Radio Filarmônica de Amsterdam, sob a regência de Japp van Zweden, apresenta a solista Sarah Chong no concerto para violino e orquestra de Jean Sibelius (1865/1957)

Para a hora do chá


Balada da irremediável tristeza

Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...

A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável... 


Abgar Renault

Um americano em Paris


Paris e a música de George e Ira Gershwin numa sensacional homenagem de Gene Kelly ao amor que a capital da França tem às artes. Ele interpreta um jovem pintor americano em Paris. O filme é de 1951.

O roteiro é de Alan Jay Lerner e a direção é de Vincente Minelli que, devido a problemas pessoais, entregou muitas vezes a direção a Kelly.

Há vários pintores impressionistas homenageados no filme. Os cenários nessas ocasiões são de Irene Sharaff: a Praça da Concórdia (Dufy); o Mercado das Flores (Manet) ; uma rua parisiense (Utrillo); a Praça da Ópera  (Van Gogh); mas, especialmente, Toulouse Lautrec na extraordinária coreografia de Gene Kelly para o Moulin Rouge, onde vemos vários personagens de Lautrec, inclusive o próprio, e a La Goulue sentada numa cadeira ao pé do palco. 

É um pequeno trecho de um grande filme. Infelizmente, não é o filme todo...

Espero que curtam.

Da Arca do Tesouro

Pintura: Édouard Manet e o retrato de Émile Zola (1868)



O pintor: O verdadeiro talento de Édouard Manet só desabrocha quando ele rompe com os estudos acadêmicos e parte em viagem pela Europa para copiar os grandes mestres. Em 1861, um retrato de seus pais abre as portas de um salão menor. Mas logo em seguida o escândalo e um rótulo: com “Almoço na Relva” e “Olympia”, ele se torna um “pintor não frequentável”. Amigo dos impressionistas, sofre a influência do grupo mas preserva seu próprio estilo. Berthe Morisot, que será sua cunhada, é sua aluna e mestra, os dois se influenciam mutuamente. De 1876 em diante, está quase sempre hospitalizado. Mas pinta sem parar. Em 20 de abril de 1883 tem a perna esquerda amputada e morre dez dias depois. A ironia do destino: Manet, cujas obras foram objeto de deboche e zombaria e que custou a ser aceito pela academia e pelo público, foi o primeiro pintor moderno a ser aceito no Louvre, então a catedral da pintura acadêmica, com “Olympia”, hoje no Museu d’Orsay.

O retrato: Émile Zola escreveu um artigo para a Revista do Século XX declarando que Manet seria um dos mestres do futuro e defendendo o artista das acusações que lhe faziam. Dizia mesmo que seu lugar era no Louvre. Manet, agradecido, pinta o retrato do escritor, polemista e jornalista. O quadro foi feito no estúdio de Manet e o cenário montado de acordo com a personalidade e os gostos do retratado. Na parede, uma reprodução do “Olympia”, quadro defendido por Zola; o “Baco” de Velásquez e uma gravura japonesa completam a decoração. Ele está sentado em uma escrivaninha e segura nas mãos um livro, provavelmente “A História dos Pintores”, de Charles Blanc, livro muito consultado por Manet. Na mesa, uma pena e um tinteiro, testemunhos do ofício do retratado. Óleo sobre tela, 146 × 114 cm.

Émile Zola nasceu em 10 de abril de 1840, em Paris, filho de um engenheiro de origem veneziana, Francesco Zola, e de Émilie Aubert. Órfão de pai aos sete anos, morou em Aix até perto dos 17, enfrentando dificuldades cada vez maiores, pois a família foi enganada por especuladores que se apoderaram da empresa do canal construído por Zola, pai. Isso marcou um revoltado Zola. No colégio trava amizade com Paul Cézanne que sonhava em pintar com o mesmo ardor com que ele sonhava em escrever. Duas personalidades que marcariam seu século e a cultura francesa, colegas de banco de escola na provinciana Aix-em-Provence! Zola é o primeiro a romper barreiras e em Paris se torna escritor de renome e jornalista conceituado.

É dele o texto considerado como manifesto literário do movimento naturalista, “O romance experimental” (1880). “Thérèse Raquin”, seu primeiro romance, apresenta inúmeras inovações do naturalismo. Seu outro grande projeto foi “Os Rougon-Macquart”, a saga de uma família do qual faz parte aquela que é considerada sua maior obra, “Germinal”. Apesar de sua qualidade literária, nunca integrou a Academia Francesa, para a qual se candidatou nada menos que 24 vezes.

Sua fama se deve ao célebre J’Accuse (Eu Acuso), que publicou em 1898, no jornal literário L’Aurore, em defesa do capitão Alfred Dreyfus, onde tornou evidente o que mais tarde viria a provar definitivamente a inocência de Dreyfus. Seu artigo foi tão impactante que levou a uma revisão do processo que só terminaria quatro anos depois de sua morte, com a reabilitação, em 1906, do oficial injustamente acusado de traição.

Zola morreu em 29 de Setembro de 1902, asfixiado, em seu apartamento de Paris. Na ocasião, a polícia declarou que fora um acidente ocasionado por escapamento em uma chaminé. Alguns choraram, outros aplaudiram. Zola era então, e desde muito tempo, objeto de admiração apaixonada ou de ódio irrefreável, por motivos literários, morais e políticos. Consta que isso não o desagradava.

Foi enterrado no cemitério de Montmartre em Paris e suas cinzas foram transferidas para o Panthéon em 1908, dois anos depois de Dreyfus ter sido reabilitado.

Acervo Museu d’ Orsay, Paris

Fontes  
http://www.musee-orsay.fr/ 
http://pt.wikipedia.org/wiki/ 

Larousse


Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa (09/10/2009)
Da série Obra-Prima do Dia, publicada originalmente no Blog do Noblat 

Carlos Brickmann

Mas a vida continua 

Até ontem, caro leitor, acredite, o presidente da República foi Renan Calheiros. A presidente Dilma Rousseff fez uma inadiável viagem à Etiópia, o vice-presidente Michel Temer viajou para levar sua inestimável solidariedade à posse de Rafael Correa, reeleito presidente do Equador, o presidente da Câmara, Henrique Alves, fez importante visita oficial ao Congresso americano. Tudo coincidência, claro; ninguém jamais poderia imaginar que todas essas viagens ao mesmo tempo tivessem sido combinadas para prestigiar o nome seguinte na linha de sucessão, o senador Renan Calheiros, expoente do mesmo PMDB de Temer e Alves, baluarte da base de apoio ao Governo da presidente Dilma Rousseff.

Renan Calheiros é o primeiro presidente da República que assume com três denúncias no Supremo, pelos crimes de peculato, uso de documento falso e falsidade ideológica. Seu sucessor na Presidência do Senado, Jorge Viana (PT), foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral por abuso de poder econômico e está sendo julgado no Tribunal Superior Eleitoral. Pode perder o mandato.

De certa forma, ganha-se tempo: ao assumir, o cavalheiro já está sendo processado. Como diziam os propagandistas do Macaco Tião, anticandidato que teve 400 mil votos para prefeito do Rio, sua vantagem é que já estava preso.

Mas não foque a atenção só no Senado. É injusto. Dois deputados federais, Pedro Henry (PP) e Valdemar Costa Neto (PR) exercem o mandato, embora condenados no Mensalão. Dois outros condenados, João Paulo Cunha e José Genoíno, do PT, ainda por cima fazem parte da Comissão de Constituição e Justiça.

(...)

Pois é...

Ontem, dia 25, comemorou-se no país uma data oficial, instituída pela Lei 12.325/2010. Sente-se, caro leitor, e se apoie firmemente nos braços da cadeira: a data comemorada é o Dia Nacional do Respeito ao Contribuinte (existe!). O IBPT, Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, liderou a manifestação Simplifique Já - por um sistema de impostos mais simples e justo.

Boa ideia!


carlos@brickmann.com.br 
www.brickmann.com.br

Palavrinha

No dia 1º deste ano comentei com uma amiga que tinha achado este ano com cara de macaco... E ela: De macaco? Não dá para ser de macaquinho? São tão bonitinhos os filhotes! E eu: Não, com cara de gorilão feio mesmo.

Acabamos rindo da minha besteira e pronto, assunto encerrado.

Mas assim como certos preconceitos que tentamos afastar da cabeça insistem em se mostrar verdadeiros, o ano não começou muito simpático, não.

Tragédias de todo tipo, violência, brutalidade, a natureza muito zangada, crianças sofrendo.

Ontem, ao ver na TV um policial falando de como encontraram a filhinha de um ano do casal assassinado em SP, não resisti e desliguei a TV. Peguei um dos livros que uma boa amiga me enviou e fui me sentar com ele em minha poltrona, a Benta. No início, era Dona Benta, tal qual a avó dos meninos do Sítio. Depois, com a intimidade, virou Benta.

É uma amiga e tanto, a Benta.  Ela foi decorar meu quarto quando nos mudamos, em junho de 1949, da Lagoa para o Leblon. E nunca mais me abandonou - com exceção de épocas em que morei fora do Brasil, pois até para o Recife ela foi!

Já virei noites sentada nela com meu bebê no colo; quase todos os livros que li, ou pelo menos a grande maioria, foi nela; já chorei e ri muito naquele verdadeiro abrigo em que ela se tornou; já sonhei acordada nessa verdadeira amiga. E já 'despertei' ali também...

Graças a Deus, meu filho nunca a pediu para ele pois, se pedisse, a ele eu não diria não, mas que ia sofrer sua ausência, ia.

De vez em quando ela baixa estaleiro. Já foi lisa, listada, xadrez, de flores, como agora. E está de novo precisando de uma repaginada geral. Mas com esse ano amacacado, quem é que diz que eu tenho coragem de me separar dela? Ela vai ter que esperar...

E quando for para o estaleiro, hei de querê-la lisa de novo, azul-hortênsia. Está prometido, Benta.



Olá! Bom Dia!




Trem das Onze, com Zeca Pagodinho