quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Palavra da Coruja


O coração não tem rugas. 
Marie de Rabutin-Chantal, marquesa de Sévigné

Memento

O Hudson perto de onde nasce, uma paisagem linda e muito bem tratada, assim como o rio... Um exemplo dado pela OSI - Open Space Institute. Nossos rios bem merecem um OSI, vocês não acham?
Ler mais (em inglês) em OSI



Rhapsody in Blue


(Original Jazz Band Version)

Para a Hora do Chá

 
                                 
                                           Amor Condusse Noi Ad Nada

Quando o olhar adivinhando a vida
Prende-se a outro olhar de criatura
O espaço se converte na moldura
O tempo incide incerto sem medida

As mãos que se procuram ficam presas
Os dedos estreitados lembram garras
Da ave de rapina quando agarra
A carne de outras aves indefesas

A pele encontra a pele e se arrepia
Oprime o peito o peito que estremece
O rosto a outro rosto desafia

A carne entrando a carne se consome
Suspira o corpo todo e desfalece
E triste volta a si com sede e fome.

                                                Paulo Mendes Campos

A um amigo

Tudo que eu sei sobre blogs, e isso não é modo de dizer, aprendi com Ricardo Noblat. O que eu devo a ele não dá para descrever: meu filho diz que ele me deu vida nova! É verdade. Eu estava a caminho de me tornar uma velha sentada diante da TV, fazendo crochê e caladinha. Tinha cansado de traduzir, profissão maravilhosa, mas muito solitária. Nos blogs e agora na fanpage, interagimos, é lúdico, conhecemos pessoas, é vivo! Sou grata ao amigo, de quem gosto muito e acho que é Justiça dizer: ele é um grande professor, além de ser um brilhante jornalista. Nas páginas dele não posso dizer isso, ele não permite: mas nestas mando eu! Então digo: obrigada e um beijo, Noblat muito querido.


A palavra é de... O Estado de S. Paulo

A hora da verdade para a saúde (Editorial)

O reajuste acima da inflação dos planos de saúde individuais e familiares - contratados a partir de janeiro de 1999, ou adaptados à Lei 9.656/98, que regulamentou os planos - chama a atenção para o futuro do setor de saúde privada, no qual eles ocupam posição importante. Se os aumentos seguirem essa progressão, esse tipo de plano tende a se tornar inacessível. Para este ano, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou um reajuste de 9,04%, que é o maior dos últimos oito anos. Ele ficou 2,55 pontos porcentuais acima do índice oficial da inflação, o IPCA, de 6,49%, no acumulado de 12 meses até abril.
O aumento, que foi imediatamente criticado por especialistas e entidades de defesa do consumidor, afeta 8,4 milhões de pessoas, que representam 17,6% do total de brasileiros que têm planos de saúde. Lembra a economista Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que o valor acumulado do IPCA de 2003 a 2013 é de 99,86% e o índice acumulado dos reajustes autorizados pela ANS no mesmo período é bem superior - de 139,24%.
Mas o alvo principal das críticas - que as autoridades da área de saúde deveriam levar em conta - é o método empregado pela ANS para definir o reajuste dos planos individuais. Ele considera a média dos porcentuais aplicados pelas operadoras aos planos coletivos com mais de 30 beneficiários, que sofreram aumentos entre 15% e 20%. Segundo o advogado Julius Conforti, não faz sentido a ANS calcular uma média sobre algo que ela não controla, já que os aumentos dos planos coletivos são negociados pelas operadoras diretamente com as empresas que os contratam, sem qualquer interferência da agência.
Neste ano, a ANS afirma ter levado em conta também outros fatores, sendo o principal deles a inclusão de 60 novos procedimentos médicos no rol de coberturas obrigatórias dos planos individuais. Argumento que também não convence. Outra especialista, a advogada Renata Vilhena, afirma que antes de tais procedimentos entrarem naquele rol deve haver tanto uma ampla discussão a respeito como uma análise do seu impacto nos custos.
Todos concordam que a situação dos usuários de planos individuais - e a dos planos coletivos não é muito diferente - é grave, porque eles enfrentam uma combinação de fortes aumentos com baixa qualidade do atendimento. Continua elevado o número de reclamações sobre negativas de atendimento, descredenciamento frequente de médicos e laboratórios, além de prazos longos para a marcação de consultas, exames e cirurgias. Neste último caso, bem que a ANS tentou ajudar, fixando prazos máximos para atendimento. Mas essa medida tem alcance limitado, porque a rede de médicos, laboratórios e hospitais é pequena para atender à demanda e este é um obstáculo que simples medidas administrativas não podem remover.
Em resumo, os usuários de planos de saúde pagam cada vez mais caro por um serviço cada vez pior. O caso dos planos individuais é ainda mais preocupante, porque, apesar de seus aumentos ficarem acima da inflação, as operadoras continuam descontentes com o controle que sobre eles exerce a ANS. Por isso, muitas operadoras não se interessam mais por eles nem os vendem mais.
Como ficarão milhares de pessoas que deles precisam? E o que dizer dos usuários, muito mais numerosos, dos planos coletivos, às voltas com um atendimento que, por sua demora, se aproxima cada vez mais do SUS?
Sucessivos governos acreditaram que, com os planos de saúde atendendo boa parte da população, poderiam deixar de investir na ampliação e na melhoria da rede de saúde pública, que hoje é o que todos sabem. Essa foi uma aposta desastrada, como mostra o quadro nada animador da saúde privada, cujos usuários em muitos casos já começam a procurar o SUS. Chegou a hora da verdade, e ela é amarga. Recuperar o tempo perdido, com investimentos maciços no SUS, numa fase pouco brilhante da economia, não será nada fácil.

Transcrito de O Estado de S. Paulo de 1/8/2013

A vida que nada vale, por Carlos Brickmann


Os meios de comunicação cobriram amplamente a visita do papa ao Brasil. Deram destaque a uma série de eventos escandalosamente negativos: o erro de trajeto que colocou Francisco no meio de um congestionamento de trânsito, a falha do Metrô que deixou centenas de peregrinos, com os bilhetes pagos, sem acesso aos trens, a falta de ônibus que obrigou os participantes da Jornada Mundial da Juventude a andar quilômetros a pé, ou a depender da boa vontade de fiéis que se empenharam em conseguir-lhes alguma carona. Matérias completas.

Mas houve silêncio em torno do sofrimento inútil imposto aos fiéis pela absoluta falta de competência das autoridades que coordenaram a visita do papa. Em Aparecida, SP, milhares e milhares de peregrinos esperaram ao desabrigo a chegada de Francisco, sob chuva e frio - frio forte, recorde dos últimos 50 anos, mais gelado ainda se considerarmos que todos estavam molhados. Mais de cem fiéis foram hospitalizados, com frio e com fome.

De acordo com as autoridades, em Aparecida havia pouco mais de quatro mil militares cuidando da visita do papa. Ninguém para oferecer aos peregrinos um chá quente, que fosse? Uma sopa? Capas de chuva? Alguém para coordenar uma oferta de emergência de lugares para que esperassem, minimamente protegidos da chuva e do frio? Não, não poderiam todos abrigar-se na Basílica, que é grande mas não comporta tanta gente. Nem seria essencial abrigá-los com conforto, mas pelo menos tirá-los da condição temporária de sem-teto e com-chuva.

Enfim, não foi o único momento em que as autoridades demonstraram não ter planejamento, organização nem compaixão. O que intriga é o comportamento dos meios de comunicação: havia repórteres por ali, muitos repórteres. Mas o drama dos que não tinham onde esperar, nem o que comer, nem onde comprar alguma coisa, este passou longe dos jornais, da Internet, da TV, do rádio. Faltou alguém que, em vez de ouvir declarações de autoridades civis, militares e eclesiásticas, pensasse no lado humano e fizesse ao menos uma side-story. O que não faltava, aliás, era material para side-stories: de onde vieram os peregrinos, onde pensavam hospedar-se, se traziam ou não dinheiro suficiente para alimentar-se, se vieram sozinhos ou com parentes e amigos.

Tudo, enfim, que retira dos meios de comunicação a cara de Diário Oficial e os transforma em protagonistas dos acontecimentos que testemunham. Reportagem sem gente é sempre incompleta.






Leia a íntegra em Circo da Notícia de 30/07/2013

Publicado originalmente no Observatório da Imprensa

Arca do Tesouro



Guardo como tesouro...

Palavrinha

Sergio Cabral tem errado muito. Nem sei se acertou em alguma coisa. Se o fez, foi coisa pequena perto da quantidade de erros que cometeu.

Mas de que adianta forçar seu impeachment, como querem alguns? Melhor pensar um pouco mais em quem viria depois dele... Ou o que estão planejando é uma intervenção federal no Rio de Janeiro?

Política não é para amadores. Em nenhum lugar. Mas creio que aqui no Rio, onde o vespeiro é farto e muito antigo, ainda é mais perigoso.






O Rio precisa aprender a votar? É verdade. Mas qual o estado brasileiro que pode nos dar uma lição? 

São Paulo? Sou paulistana, e podia jurar que o Haddad não ia levar a prefeitura para o PT.

O Amapá, talvez?

Ou Minas?

Só rindo, sabe, rindo para adiar o pranto, talvez. Mas acho melhor a Imprensa carioca ficar bem atenta e vigiar o Cabral, noticiar tudo. Não perdoar nada. Quem sabe ele se convence que andar na linha é o melhor?

E assim pode ser que os que estão de olho na cadeira dele tenham medo. O medo, em certas horas, é muito bom conselheiro... MH

Governo continua falando sozinho, por João Bosco Rabello

A forma atabalhoada como o governo reagiu às manifestações de rua continua produzindo seus efeitos negativos. Depois da Constituinte, do natimorto plebiscito e da reforma política que não sai antes de 2014, chegou a vez do recuo no programa Mais Médicos, que começa a ser revisto antes mesmo de tramitar no Legislativo.
Só mesmo uma desorientação geral pode explicar a ampliação do curso de medicina em dois anos, da qual o governo hoje desistiu, sem prévia consulta à classe profissional afetada diretamente pela medida. A medida provisória que encaminha a proposta promete tramitação conflitada e, pior, simultânea a outros projetos na área da saúde que tiram o sono do governo.
Caso do projeto de iniciativa popular com apoio de 1,7 milhão de assinaturas, destinando 10% da receita da União para o setor, concebido no vácuo deixado pelos poderes Executivo e Legislativo, às turras por conta do conflito na base de sustentação do governo, que tem causa, em grande parte campanha eleitoral antecipada.
Não obstante, o Planalto continua exibindo otimismo com base em projeções para o segundo semestre que não inspiram confiança no mercado investidor e o mantém cético quanto à reversão do cenário econômico negativo. Enquanto não recuperar essa confiança, o governo não terá investimentos necessários para romper a estagnação na infraestrutura e a consequente melhora na prestação de serviços, principal motivação dos protestos de junho.
Ainda que investimentos não gerem resultados imediatos, a simples expectativa de reação já melhora o humor do contribuinte, ainda submetido a um debate sobre temas que não respondem pela irritação demonstrada nas ruas. É a expectativa positiva também que movimenta o investidor, mas governo não a produz. Ao contrário, reafirma a decisão de não mudar nada.
Chega ao grau da tolice responder às críticas com as surradas comparações com o governo Fernando Henrique, encerrado há uma década, realimentando uma polaridade eleitoral que já fechou seu ciclo, como demonstram as quatro candidaturas postas para 2014, até agora. A única ideologia do investidor é o lucro, legítimo diga-se,  não importando a inflação do passado, mas a do presente.


A presidente Dilma Rousseff, no entanto, recorreu a esse expediente na recente entrevista à Folha de S.Paulo, possivelmente contaminada pelo ambiente eleitoral instalado desde que antecipou a campanha pela sua reeleição. Respondeu para adversários e eleitores, mas não para o mercado e os investidores, que deveriam ser os alvos prioritários de seu governo, paralisado pela desconfiança de que tratou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Esse é um episódio que ilustra o cenário que o próprio governo desenhou ao antecipar o processo sucessório. A presidente governa com duas pautas – a do mandato atual e a do futuro, ainda por conquistar, agora em circunstâncias bem mais difíceis – e com viés de piora.

Transcrito do Blog de João Bosco Rabello, Estadão

O governo Dilma está parecendo biruta de aeroporto, por Ricardo Noblat

O governo Dilma está perdidinho desde que começou a despencar nas pesquisas de avaliação de desempenho.

A queda coincidiu com as manifestações de rua nas principais cidades do país.

O governo sugeriu a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva para fazer a reforma política.

Ninguém que foi às ruas pediu reforma política.

O governo desistiu da ideia.

Então sacou uma segunda mais absurda ainda por falta de tempo útil para ser executada: um plebiscito. Destinado a aprovar a reforma política.

Gorou o plebiscito. Ninguém quis. Nem o PT.

Aí o governo decidiu mexer com os médicos ou aspirantes a médico.

Que tal tornar obrigatório um período de dois anos de permanência no SUS para a obtenção do diploma de graduação?

Os médicos foram para as ruas, indignados.

Há pouco, o governo deu o dito pelo não dito.

"Esqueçam minha proposta".




Não passa pela cabeça dos governantes sondar previamente possíveis interessados ou atingidos por suas medidas antes de pô-las a circular?

Evitaria passar por vexames.

O governo está parecendo aquelas birutas de aeroportos que indicam para onde sopram os ventos de superfície.


Transcrito do Blog do Noblat de 31/7/2013