quarta-feira, 19 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Não contrate um homem que faz seu trabalho por dinheiro, escolha aquele que o faz por amor.
Henry David Thoreau

Fim de Tarde


Gerry Mulligan em Night Lights

Para a Hora do Chá


A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa 
Seu dorso frio é um campo de lírios 
Tem sete cores nos seus cabelos 
Sete esperanças na boca fresca! 
Oh! como és linda, mulher que passas 
Que me sacias e suplicias 
Dentro das noites, dentro dos dias! 

Teus sentimentos são poesia 
Teus sofrimentos, melancolia. 
Teus pelos leves são relva boa 
Fresca e macia. 
Teus belos braços são cisnes mansos 
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas 
Que vens e passas, que me sacias 
Dentro das noites, dentro dos dias! 
Por que me faltas, se te procuro? 
Por que me odeias quando te juro 
Que te perdia se me encontravas 
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas? 
Por que não enches a minha vida? 
Por que não voltas, mulher querida 
Sempre perdida, nunca encontrada? 
Por que não voltas à minha vida 
Para o que sofro não ser desgraça? 
Meu Deus, eu quero a mulher que passa! 

Eu quero-a agora, sem mais demora 
A minha amada mulher que passa! 
Que fica e passa, que pacífica 

Que é tanto pura como devassa 
Que bóia leve como a cortiça 
E tem raízes como a fumaça.


Vinícius de Moraes

A palavra é de... Dora Kramer

No pé de quem?


O ministro Gilberto Carvalho parece que estava adivinhando. Em meados de dezembro, há exatos seis meses, o secretário-geral da Presidência da República gravou em vídeo uma saudação de fim de ano ao PT convocando a militância a ir às ruas "assim que passarem as festas".

Aconselhava os companheiros a "descansarem bem agora" porque "em 2013 o bicho vai pegar". Demorou um pouquinho, mas não deu outra: o bicho pegou.

Em configuração diferente daquela pretendida pelo ministro na convocatória de dezembro. Lá a ideia era "a gente ir para as ruas" em defesa do governo federal, contra os "ataques sem limites ao nosso querido presidente Lula".

Na concepção do ministro, em protesto a "eles". Quem? "Os mafiosos midiáticos da oposição ao Brasil", cujo objetivo único na versão natalina de Carvalho seria a destruição "do nosso projeto, do nosso governo, do nosso PT".

Note-se a expressão "da oposição ao Brasil". Refere-se a qualquer grupo, cidadão ou instituição que critique ou discorde do governo tornando-se, por isso, automaticamente inimigo do País.

O ministro atirou na imagem construída por devaneios persecutórios costumeiramente usados como armas de ataque disfarçadas em instrumentos de defesa, mas acertou em sentimentos distantes do alcance da vista.
Há exaustão, há revolta, há contrariedade. Mas não há por parte dos exaustos, dos revoltados, dos contrariados adesão a partido algum. Não que os manifestantes ou parte deles não tenham suas preferências, mas elas não se expressam na explosão da chama acesa pelo aumento das passagens de ônibus.

À exceção de grupos alojados em pequenas legendas cuja expressão é nenhuma, não há até agora a digital de partidos por trás dos protestos que pegaram o Brasil de surpresa.


Leia a íntegra do artigo de Dora Kramer no Estadão de 18/06/2013

O discurso sempre atual de Justo Veríssimo

    

 Apesar de não curar, 
rir ainda é o melhor remédio.

Arca do Tesouro

Pintura –  Sir Joshua Reynolds (1723/1791)

O pintor: Joshua Reynolds nasceu em Plympton, Devon, em 16 de julho de 1723. Como demonstrou desde cedo um talento natural para o desenho, foi estudar com Thomas Hudson, o mais famoso retratista desse tempo. Depois passou dois anos na Itália, onde se apaixonou pelos mestres do classicismo. Voltou para a Inglaterra e de 1743 em diante, foi morar em Londres, que adotou como residência até morrer.

Reynolds, além de excelente retratista, colorista de mão cheia e dono de uma técnica apuradíssima, era homem muito culto e preferia mesmo o convívio com escritores e poetas do que com colegas de ofício.
Foi um dos fundadores da Sociedade dos Artistas, depois transformada em Real Academia de Arte e da qual foi o primeiro presidente.

O rei George III apoiou e patrocinou a instituição, sagrou Reynolds cavalheiro e ele desempenhou seu papel tão bem que até hoje a política da Academia pouco mudou. Era tão respeitado como intelectual entre seus contemporâneos, que basta dizer que James Boswell dedicou a ele o seu monumental “A Vida de Samuel Johnson”, editada em 1791.

Mestre em retratar crianças, um dos temas mais difíceis para qualquer pintor, ele conseguia captar sua inocência e o ar ora travesso ora tímido dos pequenos, sem excesso de pieguice ou frieza, no meio termo exato. Seu grande rival na arte dos retratos, Thomas Gainsborough, um dia exclamou e ficou registrado: “Maldito seja! Ele não se repete nunca!”.

Joshua Reynolds faleceu em 23 de fevereiro de 1792 em sua casa de Leicester Fields, Londres, e está enterrado na Catedral de São Paulo.




O retratoMiss Jane Bowles (1775/76) estava com quase 4 anos quando Joshua Reynolds foi convidado por seu pai para lhe pintar o retrato. O pai de Jane, Oldfield Bowles, pintor também, sabia que estava escolhendo o melhor, mas sabia também que as crianças são modelos difíceis. Então convidou Reynolds para jantar em sua casa. Na hora da sobremesa, foi permitido que Jane fosse até a sala de jantar onde se sentou ao lado do grande pintor.

Reynolds, mestre também na arte de contar histórias e cativar pessoas, conquistou a simpatia da menina que, no dia seguinte, acompanhada de seu adorado cachorrinho, não se negou a ir visitar aquele senhor tão engraçado e brincalhão e onde se sentou com uma expressão animada e divertida, que ele captou com maestria, para que nunca mais se perdesse.

Acervo Wallace Collection, Londres
Encyclopaedia Britannica (Ed. 1973)


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Da seção Obra-Prima do Dia publicada originalmente no Blog do Noblat em 23/01/2010

Palavrinha


Só falta dona Dilma aderir à próxima manifestação em Brasília. 
Fica a sugestão para um cartaz, cartolina verde-bandeira, letras brancas, moldura leve que afinal ela já é uma senhora, e que diga: Eu Também Quero Mais!

Carlos Brickmann

O avanço invisível da crise

Como é fácil prever o passado! Motivos para a insatisfação sempre houve, da falta de vergonha de muitos governantes aos preços altos, do transporte público deficiente aos impostos gigantescos, passando pelas ordens da FIFA que o Brasil atende com tanta presteza; mas os sinais de que a insatisfação transbordava para as ruas foram ignorados.

Houve o tumulto da Bolsa-Família, houve o tumulto nas barcas do Rio de Janeiro, o tumulto do fechamento (que acabou sendo suspenso) da Feirinha da Madrugada, em São Paulo, e também em São Paulo os protestos, sempre na Avenida Paulista, ponto-chave da cidade, dos professores do ensino público, dos agentes penitenciários, dos agentes de saúde. Os confrontos com índios foram encarados como coisa pitoresca. Mas nada é pitoresco quando envolve vidas humanas.

Outro sinal: as pesquisas mostram queda na avaliação dos Governos em geral, de todos os níveis, sejam de um ou outro partido. Os protestos contra o preço do tomate também foram tomados como coisa pequena - mas nada é pequeno quando atinge o bolso da família. E, claro, o tomate foi apenas um símbolo daquilo que incomodava de verdade a população: a alta dos preços. A reação foi a mesma de Maria Antonieta, a rainha da França, quando multidões reclamavam do preço do pão. "Se não têm pão, comam brioches".

A gota dágua foi a tarifa de ônibus. E agora? Talvez as manifestações se esvaziem com as férias escolares, talvez não. Sabe-se como os movimentos começam, mas não como acabam.

E prever o passado é mais fácil do que o futuro.

E?

Há muita gente eufórica com o sucesso popular das manifestações. Imaginemos, entretanto, que apareça um anjo bom propondo-se a atender às reivindicações dos manifestantes. Que é que o Bom Anjo poderá fazer, se até agora não se sabe qual a pauta das manifestações? Há quem diga que o problema é a tarifa dos ônibus, ponto; há quem diga que a tarifa é apenas um dos problemas.

OK: quais as exigências? Cancelar a Copa? Tornar obrigatória uma verba específica para Educação, e outra para a Saúde? Concluir a transposição das águas do rio São Francisco e livrar sabe-se lá quantas pessoas da seca?

Apenas dizer que a praça é do povo o poeta Castro Alves já dizia, há um século e meio, e em belos versos.

A voz rouca

Entrada para o jogo do Brasil, no mínimo R$ 150,00. Uma garrafinha d'água, sete reais. Um cachorro-quente, R$ 12,00. Ver a presidente fechar a cara na hora das vaias, e imaginar o que deve ter dito a seus assessores, não tem preço.





O horror do som

Vaias e aplausos em estádios têm pouca importância. Lula foi vaiado e elegeu Dilma. Médici, o mais duro dos ditadores, foi aplaudido no templo das vaias, o Maracanã, e nunca se atreveu a disputar eleição. Mas, no caso atual, há um clima difuso de insatisfação no país. É difícil defender a multiplicação dos custos com a Copa, a política econômica que gera inflação e baixo crescimento, os subsídios a países estrangeiros para beneficiar empreiteiras brasileiras. É um clima ruim.

Super-super-supersônico

O governador fluminense Sérgio Cabral Filho levou quatro horas para reagir ao quebra-quebra na Assembléia. Foi ágil: a viagem de Paris ao Rio costuma ser bem mais demorada.

Os homens invisíveis

Os destaques das manifestações foram três petistas de primeira linha:
1 - o prefeito paulistano Fernando Haddad. Dizem que pode ser encontrado ao lado de Wally, aquele de "onde está Wally?" Aumentou o ônibus e sumiu.

2 - o ministro da Educação e papagaio-de-pirata chefe, Aloízio Mercadante. Foi notadíssimo por não estar em seu posto normal de trabalho, no ombro direito da presidente Dilma, na hora em que ela foi vaiada no Estádio Mané Garrincha.

3 - O ex-presidente Lula, que se mantém em silêncio há mais de duzentos dias, desde a Operação Porto Seguro, e silente se manteve.

Atribuiu-se a ele uma declaração, embora escrita, de que manifestação é coisa própria da democracia.

O homem visível

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi facílimo de encontrar durante a crise e falou sempre que teve chance.

Seria melhor se tivesse se calado.

Os que ganham

No custo do transporte público estão embutidos impostos federais, estaduais e municipais, que oneram desde os veículos até os combustíveis, passando pelos salários. Já o transporte de luxo merece tratamento VIP: como revela o colunista Lauro Jardim, o Governo Federal oferece empréstimo a juros baratinhos, de 3% ao ano, com dez anos para pagamento, a quem comprar jatos executivos da Embraer.

No programa social Minha Casa Melhor, os juros são de 5% ao ano, para pagamento em quatro anos.

A juventude de volta

Um assíduo leitor desta coluna rejubila-se: aos 52 anos, com duas faculdades concluídas, foi convidado para voltar a ser secundarista e ganhar carteirinha de meia entrada.

O convite foi feito pelo telefone da UMES paulistana.


carlos@brickmann.com.br 
www.brickmann.com.br

Olá! Bom Dia!

Greenfields com The Brothers Four