quarta-feira, 24 de julho de 2013

Palavra da Coruja


Aqueles que tornam impossível a revolução pacífica acabarão por tornar inevitável a revolução violenta.
John Fitzgerald Kennedy

Memento


 
Dominguinhos (1941 2013):  Fulô de araçá (Manduka e Dominguinhos)

Para a Hora do Chá


Murilo Mendes

Murilo adentro,
metido a Murilo (não)
sinto-me compelido
ao trabalho literário.
Nem sempre,
pelo menos é o que digo
quase sempre.
Às vezes sofro,
sopro
como uma pequena ferida,
sua ausência
ardendo, vermelha e ácida,
ao toque do cuspe,
(um pouco de cuspe nessa chaga
modesta e incômoda).

Caminho.
clandestino,
e a contraluz tateio:
o suor me enfeita a testa.
Penso, não penso,
a camisa aperta a barriga, 
a desmesura.
Vivo assim manejando sempre
o verbo pedir.

De substrato católico,
torno a arder
quase sempre.
É assim.

Ora, direis, que papo é esse
ó cara, ó mano?
Nessa natureza morta
esses homens são subúrbios longínquos.
Sair, hoje?
Não.
Nem pensar.

José Almino

A palavra é de... O Globo

No pano de fundo das manifestações  (Editorial)

Enquanto analistas tentam decifrar as mensagens emitidas pelas manifestações de ruas, políticos procuram capitalizar a onda de mobilizações. A oposição não perdeu tempo em acusar o PT e aliados de serem os alvos efetivos das reclamações gritadas pelos jovens contra a má qualidade de serviços públicos essenciais. Já o lulopetismo construiu o argumento, exposto pelo ex-presidente em artigo no “New York Times”, de que tudo se deve ao êxito no campo social obtido pelo PT no Planalto. A explicação estaria na faceta do ser humano de sempre querer mais do que é bom, tese de inspiração antropológica repetida pela presidente Dilma no discurso de recepção ao Papa Francisco.

A discussão não tem fim, por ser alimentada pela campanha eleitoral antecipada. Numa visão fria, distante de paixões político-ideológicas, inevitável considerar, nas análises sobre o fermento no subsolo da agitação da juventude, as falhas na política de investimentos e gastos públicos.

Reclamações pela falta de saúde, educação e transporte público de “padrão Fifa”, expostas em muitos cartazes nas manifestações de junho, não surgem do nada, nem são resultado de alguma perversão oposicionista. Pesquisa feita em maio, nas vésperas das passeatas, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, detectou junto aos jovens de 15 a 29 anos de idade demandas quase unânimes por melhores educação e saúde, nesta ordem, com índices de respostas acima de 80%. O “combate às mudanças climáticas” fecha a lista com apenas 7% — prova de como o senso comum às vezes passa distante da realidade.

Se há deficiências nas escolas públicas e nas emergências, postos e hospitais do SUS é porque o dinheiro do contribuinte teve outras prioridades, como programas assistencialistas e aposentadorias, por exemplo. E tanto a Educação quanto a Saúde padecem, em geral, da falta de técnicas modernas de gestão.

Tabulação feita pelo GLOBO com base em estatísticas do DataSUS e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, mostra outro aspecto do erro de enfoque na política de gastos. O levantamento, sobre o período de 2001 a 2011, detecta o paradoxo do crescimento de mortes violentas nas regiões Norte e Nordeste enquanto aumenta a renda per capita. Mas não há contradição.

A renda aumentou, mas equívocos na política de gastos e investimentos públicos deixaram em plano secundário a segurança pública e a infraestrutura de transportes. Policiamento deficiente, estradas malconservadas e transporte público precário são causas importantes de mortes no país, em especial nas regiões menos desenvolvidas.

A onda de manifestações parece ter surgido de repente. Mas não foi assim. Ela já crescia abaixo da superfície do cotidiano, ajudada por uma inflação persistente e alta.


Publicado em O Globo de 24 de julho de 2013

Um sumo pontífice prático, popular e informal

José Carlos Fernandes, Gazeta do Povo

Prático, popular e informal. Para o religioso catarinense Clodovis Boff, 69 anos – um dos maiores expoentes da teologia no Brasil –, essas três características do papa Francisco são mais do que marcas pessoais. Devem se tornar marcas pastorais – seguidas pelo clero e cobradas pelos fiéis. Debaixo do pontificado de Jorge Bergoglio, “um legítimo pastor do Mundo Novo, pouco dado às pompas vaticanas”, como frisa, tende a vingar um jeito latino-americano de ser Igreja.

Boff se refere aos gestos largos e calorosos de Francisco, um sujeito que tem pouco a ver “com palácios italianos onde vivem muitos clérigos como se fossem príncipes”. As inspirações mais flagrantes do religioso são a pobrezinha Igreja Primitiva e sua legião de mártires; e a Igreja da Conferência de Puebla, no México, em 1979, quando se afirmou a opção preferencial pelos pobres e pelos jovens.

“Francisco traz muitas incógnitas. É evangélico, fala ao povão, é independente. Não tem medo de quebrar tabus. Ele é o que é sem ser demagógico e populista. Tende a surpreender”, observa Boff, que é frade da Ordem dos Servos de Maria, professor da graduação e do mestrado de Teologia na PUCPR, pesquisador de Mariologia, Escatologia e Método. Em resumo, tem autoridade na observação do papado e nos efeitos da visita do papa ao país.

As incógnitas não são estranhas para quem acompanha Jorge Bergoglio desde abril, quando foi eleito. Não se sabe, por exemplo, se a simplicidade é corolário de um distanciamento doutrinário de seu antecessor, Joseph Ratzinger, o Bento XVI. “Teologicamente eles não têm muita semelhança”, afirma Clodovis, ao comentar que na encíclica Lumen Fidei, iniciada por Bento XVI, concluída por Francisco, o argentino cita por força de algum escriba autores como Nietzsche e Rousseau, entre outros com os quais Ratzinger – que fala com proficiência aos europeus – lida com os pés às costas. Não é essa a praia de Francisco.

Leiam mais na Gazeia do Povo

Ufa!..., por Maria Helena RR de Sousa

Uma vez petista, sempre petista, não é? Olhem como começa o artigo de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, “Onde estará o Papa?”, que leio no Jornal O Globo desta terça-feira 23 de julho, segunda dia da visita do Papa ao Rio de Janeiro:

“O Papa Francisco chegou ao Rio sorridente, a ponto de contaminar a presidente Dilma, que parecia uma menina no dia de sua Primeira Comunhão”.

Não sei onde ele viu essa menina, pois não foi a que todos vimos discursar um discurso palanqueiro como são todos os que ela aprendeu com seu tutor, o ausente Luiz Inácio. Ela saudou o Papa como se ele fosse um eleitor e não o Pastor que aqui veio como missionário de Cristo.

Ele, inclusive, usou as mesmas palavras de São Pedro:  “Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo”.




Acredito que o Papa vá alcançar o coração da juventude. É simpático, fala em linguagem simples, não é pedante, nem se põe acima das pessoas comuns como um santo vivo caminhando sobre o fogo. Fica mais fácil segui-lo.

Porém penso que se ele quer orientar os jovens devia falar sobre o momento pelo qual passamos – a meninada nas ruas pedindo mais atenção e cuidado do Governo Federal e não, como disse dona Dilma ecoando Lula, uma juventude ambiciosa, já coberta de bênçãos pelos dez anos de PT, a querer mais...

Leio também uma pesquisa do IBOPE sobre o pensamento dos jovens: “Com opiniões que divergem das práticas da Igreja, a maioria dos jovens brasileiros apoia o uso da pílula do dia seguinte para evitar a gravidez (80%), o fim do celibato para os padres (74%) e a possibilidade de mulheres celebrarem a missa (61%). Quando se fala em casamento de pessoas do mesmo sexo, o resultado é apertado, mas 51% das pessoas com idades entre 16 e 29 anos concordam com a união”. Jornal O Globo

Não sei como o Papa Francisco vai sair desse imbroglio, os meninos querendo uma coisa que ele não pode dar, sob pena de ficar na História como o Papa que acabou com o catolicismo no Brasil.

Sou também de opinião que em seu dia de folga da agenda que promete ser pesada, ele podia fazer uma visitinha ao PM que foi incendiado por um coquetel molotov quando guardava o Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, local que ele insistiu seria – e foi – seu encontro com as autoridades brasileiras.

A polícia tem sido violenta? Mas qual deveria ser seu modus operandi diante do que fazem esses arruaceiros, os marginais, que não querem nada a não ser a destruição de tudo? Tratá-los a pão de ló?

Tem outro espinho em seu caminho carioca: frei Leonardo Boff, o ex-frade franciscano, que foi punido com o silêncio. Silêncio que ele só exerce nos púlpitos, porque artigos e palestras ele produz às centenas. Fala o que quer para quem quiser ouvi-lo. Parece que o Papa Francisco pediu seu livro para ler. Custo a crer que na Biblioteca do Vaticano não exista um exemplar desse livro... mas tudo pode ser...

Sem falar nas alopradas tupiniquins que imitam as que andam peladas pelo mundo em busca de holofotes e que começam a se exibir no Rio. Como tudo que vem do estrangeiro, logo copiamos, já repararam?

Coitado do Papa. Apesar de bem disposto, imagino que quando sentar na poltrona do voo da Alitalia que o levará de volta para Roma, vá dar um longo suspiro de alívio.

Como eu que direi, aliviada: “Ufa!”


Hoje, o Trem das Onze não podia faltar


Figlio Unico: Trem das Onze na versão italiana feita por Riccardo del Turco que, curiosamente, é apresentado como parceiro da música lá na Itália... 

Palavrinha

Assim não dá...

Não sei qual a intenção secreta, mas às vezes desconfio que seja matar de vergonha todos os cariocas com vergonha na cara e habituados a receber bem seus convidados. Assim, nas eleições, não terão os do contra nas urnas...

Sempre fomos uma cidade acolhedora... se bem que aquela 'história' do "apareça lá em casa", para os visitantes de fora, é muito verdadeira. Mas nosso coração abriga os que aqui vêm para morar. Isso é fato.

Ultimamente andamos meio à vontade demais. Há coisa de um ano e pouco um senhor que mora em Brasília e não é nem político nem jornalista, disse num jantar, para meu constrangimento: "O Rio anda muito sem cerimônia. Em tudo". O amigo que o acompanhava quis consertar, mas ele concluiu: "Andam todos vestidos como se estivessem no sofá de casa vendo TV, falam aos berros nos restaurantes e cafés, fazem pipi na rua com a maior calma, os namorados exageram tanto nos carinhos quanto nas brigas, o comerciante ou nos destrata ou nos rouba".

Tableau, como se dizia quando era jovem.

Ninguém da cidade teve como retrucar.

Agora, piorou.

Transportes de quinta; insegurança de humilhar os países em conflito desde sempre (nossa guerra é muito mais assustadora que as deles); preços nas alturas; o Juquinha de helicóptero pra lá e pra cá; e a sujeira nas ruas, culpa dos moradores e não do lixeiro, de enternecer a alma do Lula que tanto protege os catadores de papel.

Essa do metrô ontem, dia do teste final para os eventos em Copacabana... fiquei até com pena do Prefeito, sabiam?

Campus Fidei pode virar um lamaçal...

Local da missa final teve pontos inundados cobertos por brita ontem e organizadores não excluem mbargar algumas áreas

Jamil Chade e Rodrigo Burgarelli, O Estado de S. Paulo

As chuvas que afetam o Rio ameaçam transformar o local escolhido para a missa final do papa Francisco, o Campus Fidei, em um grande lamaçal e, em toque de caixa, os próprios organizadores despejaram ontem no terreno cerca de 50 caminhões de brita.



                                                    Campus Fidei - Foto: Fabio Motta/AE

Ainda assim, admitem que os fiéis que acompanharem o pontífice precisam estar preparados para um local "molhado" e não excluem embargar algumas áreas inundadas.

O local montado para receber milhares de jovens no fim de semana, em Guaratiba, foi erguido sobre um pântano e, com as chuvas, a drenagem ficará comprometida. Na semana passada já foram dois dias de chuvas e, nesta semana, a chuva que começou na terça-feira, 23, no Rio deve durar até quinta-feira.

Duda Magalhães, presidente da Dream Factory, empresa que está encarregada por montar o local, admitiu que a opção foi também por ampliar os canais de drenagem que existem no local para que a água que vem caindo possa ser escoada aos rios da região. Mas reconhece que dificilmente o local estará seco até o fim de semana. "As pessoas que vierem para Guaratiba devem esperar um local que, em determinadas áreas, poderá ainda estar molhado", disse.

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E tudo na frente do papa, por Carlos Brickmann

O papa Francisco viu tudo - mas, homem educado e gentil, fará aos brasileiros a gentileza de esquecer aquilo que viu.

O papa percebeu, antes ainda de descer no Brasil, o quanto um Governo pode ser grosseiro. A presidente Dilma não se deu ao trabalho de chegar ao Rio mais cedo, para receber o visitante. Saiu de Brasília na última hora. Para que o protocolo se cumprisse, o avião do papa precisou dar voltas sobre Valença, no Estado do Rio, esperando que o avião de Dilma pousasse antes e ela pudesse recebê-lo.

O papa sentiu, já no Brasil, o quanto a falta de noção resvala para a inconveniência. Aos 76 anos, depois de viajar de Roma ao Rio, depois de enfrentar o trânsito carioca, teve de ouvir meia hora de discurso eleitoral da anfitriã a respeito das maravilhas de seu Governo - justo Francisco, que nem vota no Brasil! Como comparação: seu próprio discurso, bonito e preciso, durou 15 minutos.




O papa viu que a loucura por uma foto a seu lado (que terá, sem dúvida, alto valor eleitoral) superou qualquer outra consideração. Cardeais, arcebispos e bispos não tiveram oportunidade, no Palácio Guanabara, de aproximar-se de seu dirigente espiritual: todos os espaços estavam ocupados por José Eduardo Cardozo, Renan Calheiros, Henrique Alves, os próceres de sempre da República.

O papa foi testemunha próxima de uma imensa grosseria: o presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, o cumprimentou e, em seguida, passou direto pela presidente Dilma, sem olhá-la. Foi um desrespeito à mulher e à presidente.

Guerra aberta

É fato que boa parte do Governo concentra esforços em tentar desmontar a imagem do ministro Joaquim Barbosa, considerado uma ameaça à reeleição da presidente. Os jornalistas de sempre se dedicam a divulgar que o ministro costuma almoçar e jantar, e que isso é um escândalo inominável num país em que - antes da salvação trazida pelos Governos petistas - havia gente passando fome.

Mas a causa da imperdoável descortesia do ministro, ao negar cumprimento à presidente, vem sendo atribuída à história do apartamento de quarto e sala que comprou em Miami. Atribui-se ao Governo Federal a entrega à imprensa de informações (por lei, sigilosas) sobre a forma de compra do imóvel nos EUA.

A voz do poeta

O grande Olavo Bilac é o autor frase pinçada pelo portal jurídico Migalhas (www.migalhas.com.br): "Há indivíduos que, quando vão a um teatro, levam para lá a sua melhor sobrecasaca, mas deixam em casa toda a sua educação."

As confissões

Nesta sexta, o papa ouvirá a confissão de três brasileiros, na Quinta da Boa Vista. Nada de política na cerimônia: cada um terá três minutos para a confissão.

Dificilmente se encontrará político capaz de confessar-se em três minutos.

Os novos milagres

Já há piadas sobre a visita do papa e os milagres a ele atribuídos. Ficou preso num congestionamento no Rio, de janela aberta, e não foi assaltado; cumprimentou toda aquela gente importante que vimos na TV e continua com seu anel de prata; fez com que o governador Sérgio Cabral andasse de carro; foi fotografado sem que a cabeça do ministro Mercadante aparecesse em seu ombro direito.

Os velhos milagres

Religião é coisa forte. Há muitos anos, um grande jornalista, conhecidíssimo, viajou à França, com passagem por Lourdes. A família inteira, religiosa, lhe pediu que trouxesse água benta do Santuário. Ele, claro, esqueceu. Quando as tias lhe pediram a água benta, comprou diversos frascos, encheu-os com água comum e os entregou como se fossem de Lourdes. A família inteira ficou felicíssima.

E logo no dia seguinte já havia notícias de cura, graças à sua água benta.

O milagre do Homem Novo

O papa é argentino, Deus é brasileiro e o dom da dupla idade é coisa nossa. O ministro Raimundo Carreiro, do Tribunal de Contas da União, foi em outros tempos secretário-geral da Mesa do Senado. Aposentou-se em março de 2007, obviamente com vencimentos integrais, por ter completado 60 anos. Em seguida, foi nomeado para o TCU. Deveria aposentar-se por idade aos 70 anos, em 2016 - mas, com isso, perderia a chance de ser presidente do tribunal. Resolveu o problema de maneira simples: entrou na Justiça do Maranhão para corrigir a data de seu nascimento, que passou de 1946 para 1948. Assim, só precisará aposentar-se em 2018, podendo presidir o TCU. Perfeito? Quase: e a aposentadoria por idade, no Senado? Teria de ser anulada, já que ele era mais jovem do que se imaginava? Ou, pelo menos, teria de devolver dois anos de vencimentos integrais aos quais não fizera jus? Nada disso: fica tudo na mesma.

Para o Senado, ele nasceu em 1946; para o TCU, em 1948. E o cidadão paga o presente pelos dois aniversários.

Agora, vai!

O governador paulista Geraldo Alckmin assinou o decreto 59.374, alterando o nome da Divisão de Investigações sobre Infrações contra o Meio Ambiente para Divisão de Investigações sobre Infrações de Maus Tratos a Animais e Demais Infrações do Meio Ambiente. Pronto: todos os problemas estão resolvidos.


carlos@brickmann.com.br
www.brickmann.com.br

Olá! Bom dia!


Tony Dallara: Come Prima