quarta-feira, 26 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Hegel estava certo quando disse que nós aprendemos com a História que o homem nunca aprenderá nada com a História.
George Bernard Shaw

Fim de Tarde


The Mills Brothers apresentam Up The Lazy River

Para a Hora do Chá


Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram. 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança. 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

A palavra é de... Dora Kramer

À moda antiga

A presidente Dilma Rousseff convocou uma grande reunião com governadores e prefeitos e propôs a discussão de "cinco pactos" que poderiam ser vistos como itens de uma boa carta de intenções caso as soluções não estivessem nas mãos de um grupo que há dez anos ocupa o poder.

O que se viu foi a tentativa de tratar um problema novo à moda antiga, com a enferrujada ferramenta do gesto de impacto.

A presidente voltou a condenar a violência e prometeu mudanças. Teria dito o óbvio não fosse a esquisitice de ignorar que a preservação da responsabilidade fiscal e o controle da inflação são tarefas das quais seu governo se descuidou.

Governo este que teria de ter cumprido a tarefa de conduzir um esforço nacional pela garantia de serviços decentes na saúde, educação e transportes coletivos. No lugar disso, o discurso antes de falarem as ruas era o de que estava tudo uma maravilha no País cujo sucesso o autorizava a dar lições de gestão mundo afora.

Quanto à reforma política, foi a presidente Dilma Rousseff em pessoa quem avisou logo no início de seu mandato que deixaria de lado toda e qualquer reforma. Agora propõe um plebiscito que por ora tem jeito de factoide: assume o papel de protagonista do debate com vistas a deixar as questões de gestão governamental em segundo plano.

Dilma suscitou mais dúvidas que ofereceu respostas. Muito provavelmente porque não houvesse mesmo nada de diferente a dizer, dado o susto que assolou a nação em geral e talvez de modo especial a presidente, que uma semana antes reagia a vaias com jeito de poucos amigos e atribuía as críticas à intolerância vazia dos militantes do mau agouro.


Transcrito de O Estado de S. Paulo, onde foi publicado em 25/06/2013
Leia a íntegra clicando em Dora Kramer

Você sabe o que é Mentos?


Se não sabe, clique em Mentos e compreenda a deliciosa ironia do nem sempre bem comportado Kibeloco. Falei bem comportado: inteligente ele sempre é.

Arca do Tesouro

Pintura - Cristo Carregando a Cruz, de Hieronimus Bosch

A belíssima pintura flamenga, organizada e serena, é tão distante do cenário de horrores da pintura de  Bosch que pode dar a impressão que seus autores eram antípodas e de eras muito diferentes. No entanto, a paisagem deles era a mesma, seu mundo exterior muito próximo e a distância temporal entre eles, mínima. Quando Jan van Eyck morreu, por exemplo, Bosch estava nascendo.

O mundo de beleza e harmonia da pintura flamenga tradicional é o oposto do mundo de horrores e de imaginação desenfreada que vemos nas obras de Hieronimus Bosch.

Há em seus quadros imagens alucinadas, como a de um estranho animal enfiando à força um galho pontiagudo em uma imensa orelha. Ou uma criatura de cabeça gigantesca que abre a boca para mostrar lá dentro pessoas atrás e em baixo de uma mesa. Ou um homem apanhado por um enorme chapéu que descobre que uma de suas pernas está criando raízes. Pessoas voam pelos ares, como o casal que passa voando, montado num peixe, no dramático “A Tentação de Santo Antonio”.

Apesar de suas obras, com os animais e monstros bizarros que ele inventava, serem criações da Idade Média, elas não diferem muito da pintura dos surrealistas de nossos tempos. Bosch pintou em uma época de transição. Sua pintura sem dúvida nenhuma demonstra sua preocupação com aquele mundo que se transformava diante de seus olhos. Na verdade, olhado por esse prisma, Hieronimus Bosch é, curiosamente, muito atual.

São muitas as suas obras-primas e neste apanhado tive que escolher entre elas, escolha difícil, posso assegurar. Eis a escolhida: Cristo Carregando a Cruz (1515/1516)




Numa composição extremamente avançada para a época, uma série de rostos muito próximos uns dos outros para os quais não há paralelo na arte do período, esse quadro de Bosch é um verdadeiro estudo de expressões faciais humanas e de semblantes demoníacos.

No entanto, os elementos da composição, apesar de caóticos e caricaturais, não extrapolam, e o equilíbrio fica mantido para enfatizar a serenidade do rosto delicadamente moldado do Cristo, no centro de tudo. No meio do tumulto, o perfil de Santa Verônica que se afasta da multidão com o pano que traz marcado, com muita nitidez, a “vera imagem” do rosto de Jesus Cristo.

Óleo sobre madeira, 74 x 81 cm.

Acervo Museu de Belas Artes de Ghent, Bélgica


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Da seção Obra-Prima do Dia publicada originalmente no Blog do Noblat em 15/1/2010

A Falência Múltipla dos Órgãos, por Maria Helena RR de Sousa

Gosto muito do programa Painel, da Globo News, apresentado pelo jornalista William Waak. Sério, com bons convidados, temas sempre atuais e importantes, é um programa que ensina. Só dois reparos: o tempo é curto e o jornalista às vezes se entusiasma e fala mais que seus entrevistados...

Mas como ele é inteligente e com larga vivência como repórter, tudo o que diz é relevante e ajuda o espectador a compreender melhor a vida atribulada de nossos dias.




Sábado passado, 22 de junho, estavam no Painel (foto acima), da direita para a esquerda, Murillo de Aragão, Luis Felipe Pondé e Juan Arias, corresponde do El País no Brasil. Todos três com respostas excelentes às perguntas sempre instigantes de Waak.

Mas hoje vou me debruçar sobre a figura simpática e especialmente brilhante de Juan Arias.

Lá pelas tantas, ele comentou o que lhe disse um amigo médico quando perguntado sobre qual seria, na opinião dele, o motivo mais forte para tanta gente protestar contra tantas e tão variadas coisas pelas ruas do país. E o médico saiu-se com essa resposta: a falência múltipla dos órgãos.

Nada mais exato. Preciso. Queria tanto saber quem é esse médico: é muito bom de diagnóstico!

Os cartazes só confirmam isso. Falam de tudo. Já li desde um “Mãe, to bem!” carregado por um garoto bem jovem até uma menina dizendo “As balas não matam as ideias”, passando por queixas amargas contras os desmandos na Saúde, na Educação, na Justiça, nos Transportes...

Mas a grande campeã dos cartazes é a deslavada corrupção que nos devasta. Os jogos que vêm por aí, em má hora essa herança maldita do Lula que vai nos alquebrar ainda mais, levam lambada de todo jeito.

Realmente, o preço das arenas – sim, não são mais estádios, são Arenas - ofende desde o cidadão que recebe um salário mínimo até o empresário bem sucedido, mas honesto e que sabe o preço das coisas.

Aqui no Rio, a maior agressão que nos foi feita, entre tantas e tantas, como o metrô, a Cidade da Música, o Engenhão, o entorno do Porto, foi, sem dúvida alguma, o Maracanã. Primeiro que esse estádio era patrimônio dos cariocas e xodó de todos que gostam de futebol. Deixou de ser um estádio, virou uma arena, deixou de ser nosso, é da FIFA e em breve será de quem o comprar pelo melhor preço – esse melhor é irônico, sim.

“O Brasil está em manutenção” foi outro cartaz que chamou minha atenção. E está. Anteontem mesmo, 24 de junho, dia de São João, quando até pouco tempo a grande preocupação do Chefe do Governo era o “Arraiá do Torto”, vimos dona Dilma propor um plebiscito para consultar a população sobre a realização de uma Constituinte dedicada exclusivamente à tão desejada Reforma Política.

Virá, não virá? Será uma rima ou será uma solução?


Da seção de artigos de Brickmann & Associados

Carlos Brickmann

                                            Pão com pão, e pão velho.  

Dilma Rousseff poderia ter iniciado o controle de gastos públicos pelo corte da reunião com governadores e prefeitos: eles foram a Brasília só para ouvir. Poderiam ter recebido um vídeo por e-mail, seria a mesma coisa. Ou apenas o texto daquilo a que Dilma chamou de "pacto". Que pacto, se ninguém pactuou nada? Pacto é acordo. Não é um novo tipo de PAC, embora também não funcione.

Diria um cínico que há propostas boas e novas, sendo que as boas não são novas e as novas não são boas. Mas estaria errado: as propostas não são nem novas nem boas. A começar pela Constituinte exclusiva para a reforma política. O vice Michel Temer, jurista consagrado, professor de Direito Constitucional, já a considerou inconstitucional. As demais:

1 - controle de gastos públicos. Seriam reduzidos o número de ministérios, de funcionários contratados sem concurso? Seria abolido o segredo do custo dos cartões corporativos, a redução de comitivas? Dilma não anunciou nada disso.

2 - royalties do petróleo para a Educação. Já combinou com os governadores? Como se gastaria esse dinheiro? Qual o projeto nacional de avanço da Educação?

3 - tipificar a corrupção como crime hediondo. Quem porá o guiso nos mensaleiros? Quem apoia a presença de condenados no Congresso irá prendê-los?

Anunciar bons propósitos é pouco; e fica ainda pior sem combinar primeiro com governadores e prefeitos que pagarão a conta. O pacto é apenas a opinião de Dilma.

É como um sanduíche de pão com pão, sem recheio. Não dá liga.

Os médicos e o PT

Dilma prometeu contratar médicos estrangeiros (já é um avanço: ao menos publicamente, ela considera que cubanos também são estrangeiros) para suprir a falta de profissionais brasileiros. Pois é: o líder do Governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, do PT paulista, em 2003 apresentou projeto de lei que proíbe o aumento do número de vagas nas faculdades de Medicina e a criação de novos cursos, sob a justificativa de que a quantidade de médicos no Brasil é superior à recomendada por entidades internacionais.

Que é que Chinaglia vai dizer a Dilma?

Questão de articulação

O pacto de Dilma com Dilma, que governadores e prefeitos tiveram de ouvir, tem chance de ser aprovado? Talvez - mas os líderes de seu Governo no Congresso, que precisarão coordenar as bancadas dilmistas nos debates e votações, não foram informados de nada, nem consultados antes da reunião.

Frase de Eduardo Braga: "No Congresso, acho que ninguém foi avisado. Eu não sabia". Frase de Arlindo Chinaglia: "Acabei de chegar, estou tomando pé da situação agora".

Anda, transporte!

A última ordem da presidente a governadores e prefeitos se refere a investimentos em transporte- segundo Dilma, R$ 50 bilhões. Ótimo. Mas em 2012, só 33% da verba anunciada pelo Governo Federal para Transportes foram liberados.

Quem sabe mais?





Uma declaração de Mayara Vivien, 23 anos, estudante, foi o grande destaque do encontro da presidente Dilma com os líderes do Movimento Passe Livre, no Palácio do Planalto, em Brasília: ela disse que Dilma está despreparada para entender de transporte público. A frase é notável por dois motivos: primeiro, porque Mayara acha que ela e seus colegas estudantes entendem de Transportes; segundo, porque Dilma Rousseff, além de ter mestrado, de ter longos anos de experiência em administração pública, está convencida de que é especialista não apenas em Transporte Público, mas em todas as demais áreas de conhecimento humano. Deve estar furiosa. Mayara criou um fosso entre ela e a presidente.

Igreja alerta

Fala-se em Copa do Mundo, Copa das Confederações, mas não se pode esquecer algo muito próximo: a Jornada Mundial da Juventude católica, no Rio, com a presença do papa Francisco. Falta um mês - e o Rio é exatamente a cidade em que a casa do governador ficou dias cercada por manifestantes, onde acaba de haver um combate entre Polícia e traficantes com nove mortos, onde o tráfico ainda comanda amplas áreas. O cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, organizador da Jornada Mundial da Juventude, já encaminhou à Embaixada brasileira no Vaticano sua preocupação com a visita. O cardeal não está apenas preocupado com o papa: teme também a repercussão do noticiário entre os peregrinos que planejam participar do evento.

Definitivo

Do sempre articulado Hélio Schwartsman, na Folha, sobre o plebiscito: "Se democracia direta fosse bom, assembleias de condomínio seriam um sucesso".




Olá! Bom Dia!


Para Vigo me voy... com Compay Segundo
para começar o dia com vontade de cantar...