terça-feira, 25 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Uma multidão de líderes não é boa coisa. Que haja um só líder, um só rei.
Homero (na Ilíada)

Fim de Tarde

Norah Jones, acompanhada por Wynton Marsalis:
 Come Rain Or Come Shine

Para a Hora do Chá


 A implosão da mentira

 Fragmento 1


                Mentiram-me. Mentiram-me ontem
               e hoje mentem novamente. Mentem
               de corpo e alma, completamente.
               E mentem de maneira tão pungente
               que acho que mentem sinceramente.

                Mentem, sobretudo, impune/mente.
               Não mentem tristes. Alegremente
               mentem. Mentem tão nacional/mente
               que acham que mentindo história afora
               vão enganar a morte eterna/mente.

                Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
               falam. E desfilam de tal modo nuas
               que mesmo um cego pode ver
               a verdade em trapos pelas ruas.

                Sei que a verdade é difícil
               e para alguns é cara e escura.
               Mas não se chega à verdade
               pela mentira, nem à democracia
               pela ditadura.


 Fragmento 2


                Evidente/mente a crer 
               nos que me mentem 
               uma flor nasceu em Hiroshima 
               e em Auschwitz havia um circo 
               permanente.

                Mentem. Mentem caricatural-
               mente.
               Mentem como a careca
               mente ao pente,
               mentem como a dentadura
               mente ao dente,

               mentem como a carroça
               à besta em frente,
               mentem como a doença
               ao doente,
               mentem clara/mente
               como o espelho transparente.
               Mentem deslavadamente,
               como nenhuma lavadeira mente
               ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
               com a cara limpa e nas mãos
               o sangue quente. Mentem
               ardente/mente como um doente
               em seus instantes de febre. Mentem
               fabulosa/mente como o caçador que quer passar
               gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
               a caça é que caça o caçador
               com a armadilha.
               E assim cada qual
               mente industrial?mente,
               mente partidária?mente,
               mente incivil?mente,
               mente tropical?mente,
               mente incontinente?mente,
               mente hereditária?mente,
               mente, mente, mente.
               E de tanto mentir tão brava/mente
               constroem um país
               de mentira
                                       —diária/mente.


 Fragmento 3


                Mentem no passado. E no presente
               passam a mentira a limpo. E no futuro
               mentem novamente.
               Mentem fazendo o sol girar
               em torno à terra medieval/mente.
               Por isto, desta vez, não é Galileu
               quem mente.
               mas o tribunal que o julga
               herege/mente.
               Mentem como se Colombo partindo
               do Ocidente para o Oriente
               pudesse descobrir de mentira
               um continente.

                Mentem desde Cabral, em calmaria,
               viajando pelo avesso, iludindo a corrente
               em curso, transformando a história do país
               num acidente de percurso.


 Fragmento 4


                Tanta mentira assim industriada
               me faz partir para o deserto
               penitente/mente, ou me exilar
               com Mozart musical/mente em harpas
               e oboés, como um solista vegetal
               que absorve a vida indiferente.

                Penso nos animais que nunca mentem.
               mesmo se têm um caçador à sua frente.
               Penso nos pássaros
               cuja verdade do canto nos toca
               matinalmente.
               Penso nas flores
               cuja verdade das cores escorre no mel
               silvestremente.

                Penso no sol que morre diariamente
               jorrando luz, embora
               tenha a noite pela frente.


 Fragmento 5


                Página branca onde escrevo. Único espaço
               de verdade que me resta. Onde transcrevo
               o arroubo, a esperança, e onde tarde
               ou cedo deposito meu espanto e medo.
               Para tanta mentira só mesmo um poema
               explosivo-conotativo
               onde o advérbio e o adjetivo não mentem
               ao substantivo
               e a rima rebenta a frase
               numa explosão da verdade.

                E a mentira repulsiva
               se não explode pra fora
               pra dentro explode.


Affonso Romano de Sant'Anna

A palavra é de... Elton Simões



R$ 0,20 não compra um café. Não mata a sede. Não mata a fome. Não compra nada. R$ 0,20 não serve para muita coisa. Na maioria dos casos, R$0,20 é aquele troco inconveniente que fica no fundo de bolsos e bolsas, esperando para ser descoberto pelo detector de metal do aeroporto.

Não dá para fazer coisa alguma com R$ 0,20. Realmente não dá. Mas, aparentemente, R$ 0,20 pode fazer muita coisa. Pode ser a fagulha que começa o fogo, que vira incêndio. Depois que o incêndio começa a fagulha já não tem importância. Não se combate incêndio procurando a fagulha. Esta se extinguiu faz tempo.

O mar de gente que inunda a rua não está interessado em trocar cidadania por centavos. Devolver R$ 0,20 não traz cidadania. Não devolve a dignidade. Não resolve a desilusão. Não traz a esperança.

Não é a situação ruim que embala o protesto. É a constatação que o sofrimento não levará a dias melhores que motiva a ação. É a falta de esperança. É a certeza de que o futuro não será melhor se tudo continuar como está. É a falta de fé nos representantes ou em sua capacidade de estar à altura dos desafios. É a descrença nos representantes pelos representados. Tudo isso leva a população às ruas. E isso não é pouco.

Só a volta da esperança traz a paz. Somente aqueles que são ouvidos podem ter o luxo de parar de gritar. A crise é de esperança. A crise é de representação. Sem que o eleitor se sinta representado pelo eleito, não existe democracia. E, sem democracia, o protesto é o que resta para ser ouvido.


Leia a íntegra no Blog do Noblat de 24.6.2013 


Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). E-mail: esimoes@uvic.ca 

Esse novo repórter do CQC...


Na festa de aniversário do PSDB (e dos 82 anos de FHC), ontem, 24/06/2013, em pleno Congresso, fica registrada a brilhante técnica empata-festa de Guga Noblat...

Arca do Tesouro


Cartum do Angeli
Será que esse cartum está ultrapassado? Será?


Transcrito da Navetta* de 25/09/2010

João Bosco Rabello

Pacto: só princípios não neutralizam as ruas

Os enunciados do pacto político proposto pela presidente Dilma Rousseff a governadores e prefeitos evidenciam erros próprios da pressa com que foram alinhavados, na esteira das manifestações de rua das últimas semanas. À exceção do plebiscito pela reforma política, de inspiração do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), a pauta, por si só, não sugere consistência para uma trégua.

A começar pelo pacto de responsabilidade fiscal, cujos efeitos para a economia só serão objetivos se o forem igualmente os pontos que determinarão sua abrangência e sinceridade. Dito como foi, tem efeito zero, até porque foi o governo federal que mais flertou com a flexibilização do princípio, assim como o fez com a inflação, além de negligenciar o alerta sobre a necessidade de reduzir a desconfiança do mercado.

O governo parece também alheio à ineficiência da gestão como causa a impulsionar o movimento. É o que sugere a proposta de mais médicos estrangeiros dissociada da melhoria das condições dos hospitais, reclamação maior e recorrente dos médicos brasileiros e dos pacientes. Ou a transformação da corrupção em crime hediondo.

Esta última é mais do mesmo: à falta de punição responde-se com mais legislação. O próprio partido do governo recusa-se a aceitar julgamento do Supremo Tribunal Federal que condenou alguns de seus dirigentes e faz do Congresso Nacional trincheira para desmoralizar a sentença. Adiantaria, nesse caso, aumentar as penas?


Ler a íntegra no Estadão.com.br, de 24/06/2013

Ricardo Noblat

Cheiro de marketing no ar

Com a proposta de Constituinte exclusiva destinada a fazer a reforma política, Dilma tenta ficar de bem com aqueles que foram às ruas contra a corrupção, e deixar o Congresso de mal com eles.

A reforma não saiu até hoje por que? Porque o Congresso não quis. Ela contrariará poderosos interesses estabelecidos. E mexerá para valer com o modo de eleger os políticos.

Se a ideia da Constituinte exclusiva for adiante, os brasileiros elegerão pessoas unicamente para que façam a reforma política. No que façam voltarão para suas casas.

É de se esperar, portanto, que os constituintes se sintam à vontade para conceber a reforma que queiram. Não terão de se preocupar com as consequências sobre o seu próprio futuro.

Os partidos que apoiam o governo tem número de votos mais do que suficiente para aprovar o que Dilma sugere. Aprovarão?

Dificilmente.

Dilma sabe disso?

Sabe.

Então...

Política é a arte do possível.

Tem cheiro de marketing no ar.


Transcrito do Blog do Noblat de 24.6.2013

Olá! Bom Dia!


Doris Day em Shaking The Blues Away