sábado, 6 de julho de 2013

Maria Helena RR de Sousa

Pelo nosso contentamento

Shakespeare inicia seu pungente Ricardo III com os versos “Now is the winter of our discontent / Made glorious summer by this sun of York". Nossos jovens, poetando pelas ruas do Brasil, cantam outros versos: “Este é o inverno de nosso contentamento/ tornado glorioso pelo sol de nossa dor”.
Bem, ainda não é. Mas será. Os ouvidos oficiais podem ser moucos por algum tempo, mas não para sempre.

Faz um mês que o Brasil está em ebulição a pedir o que lhe é devido. Nos primeiros dias pensei que o susto dado em Brasília e seus satélites levaria – chegaram todos a ficar com o semblante desfeito – ao início das soluções de nossos problemas. Mas qual...
Das ruas não se ouviu pedidos por constituintes, plebiscitos ou similares. O que vemos nos mais variados cartazes são pedidos por uma vida melhor e utilização honrada dos impostos pagos.  Como um brado resumido neste cartaz:


Ilustração de Leo Silva

Reuniões houve. Latinório também. Mas tente fazer um resumo do que leu ou ouviu dito por nossas autoridades e veja no que deu: em nada.
Provas? O táxi-aéreo da FAB. A FAB do Senta a Pua! agora leva namorados e famílias de Natal ao Rio a Natal; ou convidados de Brasília a um casamento em Trancoso.

Sem querer, descobrimos que nem só os ex-desvalidos recebem um Bolsa-XXXX. Os poderosos têm o Bolsa-FAB. E talvez outras bolsas pois não nos foi explicado, nem a Imprensa perguntou, onde foi que as sete criaturas de Natal se hospedaram, onde almoçaram e jantaram, que tipo de ingresso tinham para o jogo, como chegaram e saíram do Maracanã, quem os buscou e levou ao Galeão.

O ensaio de explicação dado pelo Alves da Câmara– almoço com o prefeito do Rio justo na véspera do jogo Brasil x Espanha! – é um tapa em nossa cara. Aliás, isso merece outro cartaz: chega de reuniões e palestras com tudo pago justo nas sextas ou quintas na cidade que interessa ao parlamentar ou ao palestrante passar o fim de semana.

Devo fazer a justiça de dizer que o Alves da Câmara fez uma conta de chegar e diz que vai pagar... as passagens!

Já o Calheiros do Senado foi a um casamento na Bahia, não sabemos de quem. E lá nos interessa saber de quem? Claro que sim. Se pago o transporte e nem ao menos como um bolinho de queijo, tenho o direito de saber quem se casou e mereceu a presença dessa figura.

Que já disse que não paga. É usuário do Bolsa-FAB e pronto.

Enquanto isso, Lula, o Arredio, desaparece. Sempre soubemos que ele não é um bom amigo. Largou Dirceu no pântano e sem Dirceu ele não seria presidente nem do Corinthians. Agora, largou dona Dilma na boca do vulcão.

Dela não falo. Penso que não compreendeu nada. Desconfio que se surpreendeu com o amigo da palavra fácil e coração de pedra. E isso dói.

Resta desejar força à meninada. E que não esqueçam os dois defeitos abomináveis do Lula: é ingrato e é pusilânime.

São meus votos.


Publicado originalmente no Blog do Noblat em 5/7/2013
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Observações em 6/7/2013:
Só soube após a publicação do artigo que o Calheiros do Senado voltou atrás e vai ressarcir a União em R$32.000,00.  
Também soube na mesma ocasião que o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, fizeram igualmente uso do táxi-aéreo da FAB.
Até pouco tempo atrás valia a piada a cada enxadada uma minhoca. Agora parece que a cada enxadada um balde de minhocas. Além de dificultar o Brasil, coisa de somenos importância, dificulta os articulistas, coitados, que jamais estão atualizados em seus textos. MH 

2 comentários:


  1. Maria Helena, o Ministro Barbosa está nesse saco de gatos de contrabando. Não que seja um pobre inocente, mas usou passagem de direito em avião de carreira, para ir "para casa", e não ao jogo.

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  2. Sei não, Lilyane. Já li versões bem disparatadas. O que é preciso é a FAB ter ordens superiores para só ceder seus aviões e seu pessoal para os casos elencados na Lei. Sem exceções. MH

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