quinta-feira, 25 de julho de 2013

Palavra da Coruja



Eu vou pedir com jeitinho que rezem por mim. Eu preciso.
Papa Francisco  (aos fieis em Aparecida, 24/7/2013)


Memento


Leila Pinheiro - Nem às Parede Confesso

As I'm sitting here doing nothing but aging...


George Harrison and Eric Clapton  - While my guitar gently weeps 

Para a Hora do Chá


A espantosa ode a São Francisco de Assis

1

Meu são Francisco de Assis, Francisco de Assim, poverello, ou como te chame a sabedoria dos povos e dos homens 
Este é Vinicius de Moraes, de quem se podia dizer - o poeta - se jamais alguém o pudesse ser depois de ti. 

2

Este é o impuro, o inconstante, o trágico, o leproso e possivelmente o morto 
Que vem a ti o fiel, o calmo, o humano, o constante. 

3

Este é o que sacrifica a vida pelo prazer da hora, e se desgraça 
Que vem a ti que sacrificaste a vida pela eternidade e pela graça. 

4

Este é o homem da mulher, o homem da carne, o homem da terra 
E que te ama santo da Mulher, santo da Carne, santo da Terra. 

5

Este é o que peca e não se arrepende, o supliciador e o criador do espasmo 
E que te exalta irmão humilde e louco, confidente, e inventor do êxtase. 

6

Este é o mágico do desespero, o inquisidor e o sedutor, o poeta triste 
Que te proclama o rei, entre todos, amante sem mácula. 

7

Meu são Francisco de Assis! acolhe teu amigo e teu criado 
Que partiu para sempre e se perdeu, e nunca mais foi encontrado. 

8

Tenho um mistério a te dizer, mas quem sabe não o ouvirias 
Vendo-me criança - se é que eu fui criança um dia! 

9

Ó dá-me teu sorriso, são Francisco, e me purifica 
E liberta-me da vã palavra de sonho que me impurifica! 

10

Eis que converti meu demônio a mim e meu anjo a mim 
E me sinto demais em mim mesmo e quisera me despedaçar em ti. 

11

Porque me sinto covarde de não poder dormir e precisar fechar a porta 
Ao vento frio ou ao chamado sombrio da pureza morta. 

12

És tu um dom da minha miséria e serias o mesmo 
Se eu fosse como tu mesmo? - e te proclamaria? 

13

E [...] porque amo a miséria em mim que me deposita em ti 
Porque não fosse eu sombra não serias sol nem pensarias em mim. 

14

E [ ... ] porque aceito minha depravação e faço a minha queixa sem piedade 
E de todos tenho piedade menos de mim - e não há salvação para minha piedade 

15

Sou digno como o animal nobre que morre em silêncio e sem lágrimas 
E não tem limbo ou purgatório, céu ou inferno para a sua alma. 

16

Mas sou impuro como a terra que recebe a consumação da carne 
E astuto como o fogo e plástico como a água. 

17

Meu são Francisco, ouve o meu voto e compreende o meu vazio 
E me aquece do frio, e me protege do sonho sombrio. 

18

Tu és a Palavra - a palavra inexistente - a poesia 
Que eu busco sem tréguas, que busco de noite e que busco de dia. 

19

Não creio em Deus mas creio em ti - Deus é minha melancolia 
Tu és minha poesia - ou quando não seja o amor que ela se deseja 

20

Tenho o lar e tenho o mar, e nada tenho 
Tenho a emoção - tenho-a? - nem pranto mais blues. 

21

Na verdade muitas coisas eu tenho, e muita razão de ser feliz 
Se não existisses talvez - mas exististe, São Francisco de Assis! 

22

És a infância não vivida, és a mocidade não merecida 
És tudo de justo feito injusto pela catástrofe da vida. 

23

Ninguém o sabe senão tu - nem mesmo eu sei! nesse momento 
Meu pensamento é tédio mas amanhã pode ser contentamento. 

24

Porque há em mim uma fonte pura de mal que me embriaga 
De bem, mas que subitamente me estanca o que me falta. 

25

É a mulher, essa que me suporta e que me acaricia 
E a quem acaricio, e a quem eu rio e que se ri. 

26

Não fosse ela, e eu estaria como Jó te mentindo, 
Porque o poeta é a semente da mentira se, no desespero, só. 

27

Dou-te meu voto além da mulher! é a criança que te fala 
Quando subitamente se conheceu menino no grande silêncio de uma sala. 

28

Quando brincando com o próprio sexo o surpreendeu sensível 
E o viu inteligente e emocionado e não compreendeu. 

29

E que criou sozinho a primeira forma nua para o prazer contemplativo E que se deu a ela desvairado do mistério de se saber vivo. 

30

E que a transportou na memória em amor e que foi traído 
Pelo toque de outra mão menos pura e mais desmerecida. 

31

E que foi seviciado antes do sêmen pela desventura 
Feito mulher, e a perdoou, e a amou, e a fez sua criatura. 

32

E que foi iniciado nos prazeres da carne como o inocente aprendiz 
A quem a mulher diz - Faz! e ele faz, tal como eu fiz. 

33

Antes do sêmen! e não morri - e bela fiz minha criatura
Eis por que não há salvação e eu amo a minha degradação e impostura. 

34

Porque eu sou o sedutor, se seduzido, e o erótico, se seviciado 
E o amante, se querido, e o perdido, se privilegiado. 

35

Porque fazemos um - eu e a mulher - e não há dois arrependimentos 
Para um só corpo - nem duas salvações para um só sentimento. 

36

E se alguém não vem comigo eu não quero ir, porque não sou sozinho 
E se eu fosse sozinho não estava nesse momento clamando de ti 

37

Meu são Francisco de Assis! ouve tu ao menos a minha inefável miséria 
Sem perdão e sem consolação e sem fim nos caminhos da Terra. 

38

Ouve o apelo mais íntimo, o que não está nas minhas palavras 
E que está no meu ser infeliz e no ser infeliz que eu crio à minha passagem. 

39

O santo, o herói e o poeta - três penitências do mundo 
Tu, santo, herói e poeta - uma penitência em mim. 

40

Nunca te verei no céu, nem nunca me verás no inferno 
Mas hei de te escutar no estio, e tu me escutarás no inverno. 

41

Não me verás no céu porque não há paixão para a serenidade 
Nem no inferno porque não há castigo para a fatalidade. 

42

Mas eu te escutarei aqui na Terra, entre as grandes árvores 
A cabeça no seio da amiga, e a quem eu falo como ao pássaro. 

43

Um dia deixarei a cidade da minha angústia e sua torre 
E irei a Assis entre colinas me abandonar à tua saudade. 

44

E dá-me nesse dia de chorar todas as lágrimas contidas 
E de me perder em mim o pranto e de me ajoelhar no teu sepulcro. 

45

Ó grande santo louco, meu irmão, taumaturgo em minha alma 
Taumaturgo - palavra que contém silêncio e que me acalma! 

46

Just now I have been in a [ ... ] party in the Magdalen's cloister 
And there was an Armenian [ ... ] all the others. 

47

Good inocent peopte [ ... ] some liquor in their rooms 
But was a bloody phantom between them, so help me God! 

48

Eu sou o conhecimento perfeito das coisas e dos homens 
Linchai-me! eu sei todos os segredos, e eu me abandono. 

49

Nunca criatura criada foi tão pagã como eu, so help me God! 
Arrastando meu ser à execração e à contemplação quieta da morte. 

50

Em vão te direi - ou não? - porque não vens beber meu vinho 
Na minha mesa, e poderíamos falar com mais carinho. 

51

São Francisco de Assis! meu irmão, meu único inimigo 
No céu, eu te maldigo, eu te bendigo. Eu me persigno! 

52

Tive uma jetatura: a mulher; uma aventura: a poesia 
Uma desventura: a delicadeza. Sou delicado, não peço, mendigo! 

53

Mendigo: mendigo o pão de meus pais, o amor de meus amigos 
Mas só a mulher me persegue e só à mulher eu persigo. 

54

Santo! tenho gana de te dizer: foge de mim! evita o meu contato escuro 
Porque eu sou puro na maldade e puro na sinceridade e impuro. 

55

Quatro livros escrevi - e sou tão moço! e nada compreendo de mim 
Senão que sou cruel com a mulher, e que minha angústia não tem fim. 

56

Fui buscado, também. Buscou-me a sociedade, o anfitrião 
E eu fui mendigo em meu salão e me desprezei e disse não. 

57

E me mandaram a Oxford, e eu disse não, e vi jovens viscondes 
Que temeram meu pudor, e eu disse não, e me persigno! 

58

Tudo é magia! Lembras-te? o silêncio fantástico das noites 
E a alma bêbada de emoção? e nenhum pouso. 

59

Ah, que a vida não tem solução. Muitos o disseram em vão 
E o direi em vão, e morrerei, e os que me virem, sorrirão.


Vinícius de Moraes

Aprovação do governo Dilma tem queda de 24 pontos, segundo CNI/Ibope

Em junho, 55% dos entrevistados avaliaram o governo positivamente, neste mês 31%

  • Os que desaprovavam a presidente eram 25%, e agora esse número subiu para 49%


Leia mais sobre esse assunto em O Globo



 

A palavra é de... Dora Kramer

Incenso e mirra

O Estado de S.Paulo

Quando esteve a primeira vez no Brasil, em 1980, João Paulo II falou das injustiças sociais, mas fez gesto de significado político importante para a época, último governo da era militar: esteve com trabalhadores no estádio do Morumbi e depois recebeu um grupo de sindicalistas, entre eles Luiz Inácio da Silva - o metalúrgico que liderava o renascimento do movimento sindical - e a viúva de Santo Dias, morto durante a greve do ano anterior no ABC.

Não politizou na fala e sim no ato de apoio aos que confrontavam a ditadura. Naquele contexto foi entendido como um mensageiro do respeito aos valores democráticos.

Agora vem o papa Francisco com a atitude correta no momento certo, em seu exemplo de despojamento, pregando na prática o resgate de princípios de conduta a serem adotados na aproximação entre líderes e liderados.

A autoridade, parece dizer ele em cada gesto, prescinde de pompa para atrair apreço e respeito. Ao contrário, quanto mais próximo estiver o representante - no caso dele, do Vaticano e da Igreja Católica, mais apreço receberá do representado.

O contraste das imagens de Francisco carregando sua maleta no embarque em Roma, fechando a porta do carro que o levou da Base Aérea do Galeão à Catedral Metropolitana, optando por acomodações sem luxo na residência da Arquidiocese do Rio, evidenciam o mau gosto e o caráter ofensivo da regalia e ostentação tão caras (estrito e lato sensos) a nossas excelências.

A diferença entre a estreiteza e a amplitude esteve marcada nos discursos do papa e da presidente da República no Palácio Guanabara. Francisco, o pastor, foi modesto: "Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permitam-me que eu possa bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e transcorrer essa semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo". Falou de amor e fraternidade.




Dilma, a governante, foi soberba e inoportuna ao tentar absorver para si e seus aliados políticos (não era hora nem lugar de exaltar o "trabalho" de prefeito e governador) a boa atmosfera da visita papal, com um pronunciamento de exaltação aos feitos do governo federal aos quais buscou também associar ações da Igreja. Defendeu de novo a tese de que os protestos decorrem dos "avanços dos últimos dez anos". Falou de pretensão e egoísmo ao desconhecer esforços anteriores.

Leia a íntegra no Estadão

Prefeito do Rio reconhece que a cidade pode voltar a parar nesta quinta e sexta-feira

E revela que está torcendo para que o tempo melhore

Wilson Tosta, Roberta Pennafort e Fabio Grellet,  O Estado de S. Paulo


Um dia após o colapso dos transportes que deixou a pé milhares de peregrinos e voluntários da JMJ (leia mais ao lado), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), expressou preocupação com o desempenho do setor a partir de nesta quinta-feira, 25. "Se 1,5 milhão de pessoas resolverem sair (de Copacabana) logo depois da saída do papa Francisco, isso vai obviamente criar dificuldades."

Às 18h, começará na praia a Festa de Acolhida dos Jovens e nesta sexta, no mesmo horário, a via-crúcis. Nos dois eventos, a prefeitura espera público semelhante ao do réveillon. Paes também anunciou punições para as empresas de transporte coletivo por sua falha de terça-feira, 23.

"Os consórcios foram informados. Serão multados", disse o prefeito, afirmando que, se o metrô fosse da sua alçada (as linhas são do Estado, governado por seu padrinho político, Sérgio Cabral, também do PMDB, e têm a gestão privatizada), também seria multado.

Para o prefeito, entre os fatores que ajudaram a piorar a situação dos transportes terça-feira estavam o frio e a chuva fina em uma região que recebe ventos vindos do mar. O mau tempo levou a maioria dos fiéis a deixar a praia quase ao mesmo tempo, após a celebração religiosa, concentrando o movimento em um espaço de tempo muito curto.



                Na terça-feira, linhas de metrô pararam e causaram lotação - Foto: Clayton de Souza/AE
                                                       

"A gente torce e espera que o tempo melhore amanhã (quinta) e que as pessoas aproveitem os shows que estão programados para depois."

Pelo planejamento da prefeitura, o escoamento das pessoas acontecerá aos poucos, até as 4h de sexta. Apesar de reconhecer que ocorreram falhas, Paes afirmou que a JMJ tem um "grau de imprevisibilidade alto", o que cria dificuldades extras. "Esperamos 1,2 milhão de pessoas no Campo da Fé (em Guaratiba, aonde o papa Francisco vai no fim de semana), prevemos que vai levar dez horas para escoar o público, mas não tem catraca lá", disse. "Do jeito que esse papa é carismático, do jeito que esse papa já conquistou esta cidade, não duvido que vá mais gente para o Campo da Fé, aí vai levar 15 horas."

Fechamento. Hoje, Copacabana será fechada ao trânsito em 24 pontos, em um esquema muito semelhante ao do réveillon. A partir de meio-dia, será proibida a circulação de carros particulares e, depois das 14h, nem mesmo ônibus e táxis poderão circular na região. Para chegar ao bairro, os fiéis deverão usar o metrô, com bilhetes com horário fixo, comprados previamente para evitar superlotação de trens e estações. "Nenhum passageiro entrará no metrô nesse horário sem esse ingresso (com horário pré-fixado)", afirmou o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório.

O diretor de engenharia da concessionária Metrô Rio, Joubert Flores, disse na quarta-feira, 24, que conta com a experiência de 14 anos em operações especiais no réveillon de Copacabana e em eventos como os shows de Rolling Stones e Stevie Wonder na praia. "Os horários serão mais espalhados do que no réveillon e muitos peregrinos vão de ônibus até Botafogo e, de lá, vão andando, como se faz também no dia 31 de dezembro."

Transcrito do Estadão

O nome do bebê

George é o santo padroeiro da Inglaterra, como sabemos por esse dito muito antigo: Saint George for England, Saint Andrew for Scotland and Saint Patrick for Ireland!

É o nome de seu tataravô, pai de sua bisavó, o Rei George VI ainda lembrado pelos mais velhos como o rei que os ajudou a enfrentar os horrores da IIGG e dos terríveis bombardeios sobre Londres.

Três reis medievais escoceses tinham o nome Alexander,  mas é difícil não ligar o nome ao do general macedônio que conquistou a maior parte do mundo como o conhecemos, Alexandre, o Grande. Ou ao nome do meio de Elizabeth II, Alexandra.

Louis,  nome de Louis Mountabatten (tio do bisavô Príncipe Philip, Duque de Edinburgo), o último Vice-Rei da Índia e que morreu na explosão de seu iate, num ataque do IRA. E nome de inúmeros reis franceses...

Enquanto isso, Sua Alteza Real Príncipe George de Cambridge, ainda um pingo de gente, nem desconfia da carga que será sua...

Que Deus o abençoe, são meus votos.





Fonte: BBC News

Será que o Papa Francisco se esqueceu de Dom Helder?, por Joaquim Falcão

A reconciliação da Igreja Católica com o Brasil, através dos jovens, passa necessariamente pela necessidade do Vaticano fazer as pazes com D. Helder Câmara. O silêncio é gritante.
D. Helder, que com certeza teria sido Prêmio Nobel da Paz se não tivesse sido vítima da aliança do regime militar com João Paulo II e Dom Dedé, o arcebispo quase anônimo que lhe substituiu na prestigiosa até então Arquidiocese de Olinda e Recife, talvez hoje estivesse se não entre os papáveis, pelo menos entre os santificáveis da Igreja.
Para que o Vaticano se reconcilie com os pobres brasileiros, é prudente pedir perdão aos próprios brasileiros pela censura eclesiástica que impôs a D. Helder e à Teologia da Libertação, ao ostracismo que D. Helder aceitou na sua desilusão calada e sofrida.
Enquanto isso João Paulo II fazia ostensivamente política ocidental capitalista em sua terra natal para derrubar o regime comunista polonês, amordaçava os padres e fiéis brasileiros, muitos torturados, que também queriam implantar a democracia no Brasil. E conseguiram, sem auxílio do Vaticano.
Hoje, o Papa Francisco corre atrás do prejuízo. Vamos saudá-lo e ajudá-lo. O elitismo político religioso de João Paulo II abriu as largas avenidas da fé e da esperança, não para o catolicismo, mas para as demais religiões, não tradicionais ao Brasil, como a dos evangélicos. Estes ocuparam o vácuo do desprezo e do medo das massas experimentado pelos cardeais e papas de Roma. Agora a Igreja Católica amarga uma perda de mais de 30% de seus fiéis para os evangélicos.
O Vaticano europeizado em sua distância, aprisionado pelos esquemas mentais da guerra fria – ou comunismo ou capitalismo – não foi capaz de ver D. Helder com a singularidade da esperança. Estigmatizou-o. Não percebeu que a Igreja Católica tinha sido, em nossa história, “o cimento de nossa nacionalidade”, como disse certa feita Gilberto Freyre.
Não me espantaria se um separatismo religioso se instaurasse progressivamente no Brasil com a expansão dos evangélicos. O que é um direito deles, sem dúvida.
Será possível que o Papa Francisco, que prega como pregava D. Helder, com simplicidade, a favor da pobreza, contra os ouros dos altares e os veludos carmim, vá silenciar, nesta longa viagem, sobre D. Helder? Não vá lhe estender a mão?

        Estátua de D. Helder diante da Igreja das Fronteiras, onde ele morava quando Arcebispo de Olinda e Recife *

O quarto de D. Helder, em sua pequena casa no Recife, e não no palácio do Arcebispado a que tinha direito, era mais despojado do que este quarto, difundido no mundo todo, que o Papa Francisco tanto recomenda como simbolismo de expiação dos pecados da elite religiosa diante dos pobres. Já é algo em comum.

*Foto: Paulo Roberto Martins 
Transcrita da Navetta* de 1/11/2011

Brigando com os fatos, por Carlos Brickmann

O esporte nacional não é mais o futebol. O esporte nacional é bater na FIFA, organizadora da Copa do Mundo. Não importa o que a FIFA diga, está errado - mesmo quando o que a FIFA diz está de acordo com as opiniões de quem a critica. Trata-se a FIFA, nos meios de comunicação, como se fosse uma entidade todo-poderosa, acima dos países e governos, a quem humilha por pura maldade, embora a FIFA seja apenas, para o bem e para o mal (e frequentemente para o mal, já que há inúmeros casos de corrupção a ela relacionados, que sempre procurou contornar em vez de esclarecer), uma empresa privada, não pertencente a Governo nenhum, criada e operada com o objetivo exclusivo de desenvolver seus negócios e dar lucros.

Alguns fatos básicos têm sido esquecidos pelo jornalismo deste país - inclusive que, sob o comando da FIFA, o futebol cresceu constantemente no mundo inteiro. Como lembrava o ex-presidente João Havelange, há mais países filiados à FIFA do que à ONU. As tentativas de minar a organização internacional (como a formação de times não-afiliados, em especial o Millonarios, da Colômbia, que reuniu em certa época alguns dos maiores nomes do futebol mundial) sempre falharam. Estarão todos errados, não haverá ninguém que se salve?

1 - A FIFA não pediu ao Brasil para organizar a Copa. Vários países, entre eles o Brasil, pediram à FIFA que os escolhesse para realizar o torneio. Entre vários candidatos, o Brasil venceu - não apenas a CBF, Confederação Brasileira de Futebol, mas o Estado brasileiro, já que o presidente da República participou das articulações para que o país fosse escolhido e assinou, oficialmente, uma carta em que se comprometia a realizar ou garantir uma série de providências. Entre elas, por exemplo, providenciar a permissão de venda de cerveja nos estádios, o que era vedado pela lei brasileira. O Brasil poderia ter rejeitado a exigência e a FIFA ou aceitaria a decisão ou realizaria a Copa em outro país. Simples assim.

2 - A FIFA não determinou que o Brasil construísse estádios em cidades onde o futebol não é lá muito popular. Brasília, Manaus, Campo Grande provavelmente terão problemas para utilizar os estádios depois da Copa. Quem escolheu essas cidades? O Governo brasileiro e a CBF. Se Belém fosse escolhida, em vez de Manaus, para a FIFA não faria diferença. E no Pará o futebol é esporte popular. Em Goiânia há um belo estádio que poderia ser modernizado a custo muito inferior ao da construção de um novo. Em Brasília é bem mais difícil utilizá-lo - a tal ponto que querem importar jogos cariocas para dar-lhe sentido.

3 - A FIFA não determinou, também, que a Copa se realizasse em doze cidades-sede. Doze é muito; encareceu as obras (o que talvez tenha deixado muita gente satisfeita), encarecerá o turismo, tornará mais cansativo e mais caro o giro das seleções. Por que doze, e não seis? Porque o Brasil assim o quis.

4 - O Brasil precisa de escolas, hospitais, transporte, e não de novos estádios. Voltamos à questão inicial: a opção foi oficial, brasileira. Para realizar a Copa, seria preciso deixar os estádios confortáveis, modernos, prontos para transmissão internacional de TV, equipados para uso de Internet. A FIFA também não obrigou o Governo a colocar dinheiro em equipamento esportivo. O Governo é que fez as opções: estádios padrão FIFA, muitos deles com dinheiro público. É ruim? Se for, a escolha foi nossa, do nosso Governo democraticamente escolhido.

5 - A realização da Copa não deixa nenhum legado útil à população do país. Aceitemos, para argumentar, que isto seja rigorosamente verdadeiro (e não é). Mas Barcelona aproveitou a oportunidade dos Jogos Olímpicos para modernizar-se, tornar-se mais bonita, mais agradável, mais acolhedora. A oportunidade é a mesma; se o Brasil a perdeu, não pode botar a culpa em gente de fora.

6 - O presidente da FIFA, Joseph Blatter (que este colunista, a propósito, considera uma figura pouquíssimo recomendável), disse que talvez a entidade tenha cometido um erro ao escolher o Brasil para realizar a Copa. Pode ter razão ou não; mas não é exatamente a mesma coisa que dizem os críticos da disputa da Copa no Brasil? Blatter disse, em outras palavras, que poderia ter escolhido lugar mais tranquilo. Poderia; e parece estar arrependido da escolha. Não há em suas palavras, entretanto, nenhuma ameaça imperialista de violar a soberania brasileira e mudar a Copa de país, embora isso possa acontecer (e pelo menos dois outros países americanos, Estados Unidos e México, têm condições de realizá-la com pouquíssimo tempo de preparação). Se isso ocorresse, realizaria o sonho de quem acha que a Copa é um desperdício de tempo e dinheiro. E não seria a primeira vez: a Colômbia, em 1986, desistiu da Copa devido a problemas de segurança, e o México a realizou com tranquilidade.

Quanto ao mais, caro leitor, tanto Blatter como seu adjunto Jerôme Volcker não são pessoas cuja visita possa considerar-se agradável. Só que o problema não é este: os dois, arrogantes, autoritários, prepotentes, antipáticos, foram convidados pelo Governo brasileiro. Não vieram à força; foram chamados. É duro admitir, mas estão aqui porque queremos, conforme decisão de nossos governantes.

Leia a íntegra no Observatório da Imprensa

carlos@brickmann.com.br

Palavras do Papa Francisco no Hospital São Francisco de Assis

Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro,
Amados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades,
Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
Prezado médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde,
Amados jovens e familiares!

Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza, e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão sofredor foi 'mediador de luz para São Francisco de Assis', porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne sofredora de Cristo.

Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês - vocês que são a carne de Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e também o meu. Abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade, como São Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química.

Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores de morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro.

Precisamos todos de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor. Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser.

Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente, existe 'um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias'.

A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança! No Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele.

Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre.

Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso!
Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: 'Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes', diz-nos Jesus.

E quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe dos esforços que vocês fazem, ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para ele nos momentos mais duros e ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençoo."

Rio de Janeiro, 24 de julho de 2013

Transcrito do Jornal O Globo

Olá! Bom Dia!


Rancho Folclórico do Porto - O adro

O rio Douro


O Douro é o coração do jardim da Europa à beira-mar plantado. Suas margens ricas em vinhedos são deslumbrantes. Não há um milímetro descuidado ao longo desse rio. Não sei o que dizer do Douro que não seja companhado de um exagero de adjetivos. Tudo ali é lindo. Em primeiro lugar, os habitantes da região: não há gente mais simpática! O por do sol na foz do Douro, francamente, parece filme de Hollywood com a cor exagerada, mas é verdade, aquele dourado do sol no rio é verdadeiro. E o cais da Ribeira, onde se come um pastel de bacalhau de chorar de tão bom? No mundo há milhares de paisagens lindas, mas o vale do Douro está entre as mais belas. Tome um cálice de vinho do Porto e depois conversamos.