segunda-feira, 27 de maio de 2013

Palavra da Coruja


A vaidade é a espuma do orgulho.
Alphonse Karr

Fim de Tarde


Gerry Mulligan em Satin Doll

Para a Hora do Chá

Murmúrio
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!

Cecília Meireles

Em Busca do Ouro (1925)



Este é um filme de Charles Chaplin. Creio não ser necessário dizer mais nada. Só lembrar aos leitores que essa é a célebre cena do jantar de Ação de Graças quando Chaplin e Mack Swain degustam o sapato que Chaplin preparou para os dois.

Arca do Tesouro

Uma Inesquecível Hora do Recreio do Blog do Noblat
14 de novembro de 2011

No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentava Nabucco, de Verdi, símbolo da unificação do país.

Silvio Berlusconi assistia à apresentação, dirigida pelo maestro Riccardo Muti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno – ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura.

Como Muti declararia ao TIME, houve, já de início, uma ovação incomum, clima que se transformou numa verdadeira 'noite de revolução' quando ele sentiu uma atmosfera de tensão aos primeiros acordes do Va pensiero.

"Há situações que não se pode descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expectativa do hino; clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o coro entoa – ‘Ó minha pátria, tão bela e perdida’."

Ao terminar o hino que é o hino extraoficial da Itália, os aplausos da plateia interrompem a ópera e o público se manifesta com gritos de bis, viva Itália, viva Verdi.

Não é usual dar bis durante uma ópera. O maestro hesitou, como declarou depois: "não cabia um simples bis; tinha que haver um propósito específico".

Riccardo Muti então se voltou no púlpito, encarou o público e com ele o próprio Berlusconi. Fez-se silêncio. Reagindo a um grito de "longa vida à Itália", ele falou:

"Sim, concordo com longa vida à Itália mas ... [aplausos]. Não tenho mais 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquiesço ao vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas ao sentimento patriótico que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o coro que cantava ‘Ó meu pais, belo e perdido’, eu pensava que a continuarmos assim, mataremos a cultura sobre a qual se assenta a história da Itália.

Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente ‘bela e perdida’ (longos aplausos).

Reina aqui um ‘clima italiano’; eu, Muti, me calei por longos anos. Gostaria agora... nós deveríamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, no teatro da Capital, e com um coro que cantou magnificamente e foi belissimamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos."

Foi assim que Muti convidou o público a cantar o Coro dos Escravos. Os espectadores se levantaram. Toda a ópera de Roma se levantou... O coral também se levantou. Reparem no pranto dos artistas:




A grande alma do povo italiano tornou a vencer, como vimos neste dia 12 de novembro de 2011, oito meses depois dessa noite inesquecível em Roma.


Transcrito do Blog do Noblat

Mary Zaidan

Dilma navega trôpega



A CPI da Petrobrás, requerida com assinaturas de 120 deputados da base aliada, 52 do PMDB, partido que ocupa a vice-presidência da República, não deve prosperar. Será barrada pelo presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), assim como o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) impediu que a MP dos Portos caducasse. Velho de guerra nos meandros que a presidente Dilma Rousseff e suas ministras de articulação política ainda patinam, o PMDB morde e assopra. Cria confusão e vende caro a solução.

Renan atropelou o regimento, fez juras que sabe que não cumprirá, e aprovou a MP em menos de 12 horas. Deixou Dilma como devedora de uma conta polpuda. Já Alves tem um poder de barganha imenso: 15 CPIs na fila, que ele coloca na pauta se e quando quiser.

Em outras palavras, o governo Dilma - sustentado pela maior base de que se tem notícia no planeta - é refém do PMDB. Uma dependência costurada quando o então presidente Lula necessitou de José Sarney (PMDB-AP) para evitar que a fervura do caldo do mensalão lhe interrompesse o mandato. Fernando Henrique Cardoso também foi, mas em menor grau. Tinha o fiel PFL dando-lhe músculos nas emergências.
Dilma navega trôpega. Foi aconselhada a manter-se longe da política. Seja no Congresso ou fora dele. Ainda que queira fazer o diabo para se reeleger, não tem preparo para encarar capetas como o governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB).

Nem mesmo quanto ao PT ela tem certezas. Até porque alguns petistas não escondem que preferem Lula em 2014.

Já não conta também com a fidelidade do PSB do governador de Pernambuco Eduardo Campos, decidido pelo voo solo no ano que vem. Nem com o PSD de Gilberto Kassab, que prefere tirar o corpo fora. Diz - bem ao estilo de quem definiu a sigla como nem à direita, nem à esquerda, nem de centro -, que vota em Dilma, mas que o partido não está alinhado, e o ministério dado ao correligionário Afif Domingos é cota pessoal da presidente.

PSB, PSD, PTB e PSC contribuíram, mas não chegaram nem perto do também aliado PP, que, mesmo comandando o cobiçadíssimo Ministério das Cidades, colocou 26 assinaturas, 70% de sua bancada, na CPI da Petrobrás. Sabem que o governo só negocia sob pressão. E que quanto mais de presépio forem as vacas, menor é o valor delas.

Nesse contexto, soou como chacota a frase de Lula, na última quarta-feira, quando admitiu ter escolhido uma neófita para dirigir o País: "Eu acho que a presidenta, depois de dois anos e meio, já sabe tranquilamente como cuidar da política.” Dito assim, parece que nem o inventor de Dilma consegue mais esconder que torce por Lula em 2014.


Transcrito do Blog do Noblat (26/05/2013)

Palavrinha

O Glossário da Lenita

Às vezes tenho vontade de contar umas histórias que presenciei ou que me contaram. Não são histórias pessoais, propriamente, mas como contar, por exemplo, que já ciceroniei Charles Aznavour sem falar como tal maravilha aconteceu comigo?

Ou que já almocei com Rita Hayworth e Ali Khan sem falar no papai?

Por isso, quando entro num espaço novo, tenho que fazer o que fiz na Navetta ou no Blog 50AnosdeTexto do meu amigo Sergio Vaz: publicar um pequeno glossário de quem é quem na minha vida.

Vamos lá:

Papai e Mamãe:  sou uma felizarda. Tive dois pais - o que me gerou em 1937 e o que possibilitou que eu crescesse forte, saudável e mimadíssima desde 1938... Não há dia que não me lembre deles dois. Dela e seus muitos pitos e ensinamentos; dele e sua paixão pela daughter e pelo amigalhaço. E de sua bondade, generosidade, senso de lealdade aos amigos, exemplos diários de justiça e gratidão e senso de humor apuradíssimo!

Daughter: comecei a aprender inglês aos 4 anos. Papai achou muita graça de eu logo aprender a dizer daddy, mommy e daughter. E passou a me chamar de Daughter. Raramente me chamava de Lenita, só quando estava prestes a ter uma conversa séria.

Amigalhaço: era assim que ele chamava o neto que passou a chamá-lo de Vovô Amigalhaço. Eles se amavam de paixão.

Lenita: apelido que Adoniran me deu mal nasci e que pegou. Desde então toda a família e amigos de sempre, só me chamam de Lenita.

Paizão (Adoniran): nunca o chamei pelo pseudônimo artístico, como aliás ninguém da família. Para os pais ele era o Joanin, para os irmãos, cunhados e sobrinhos, o João. E para mim, ensinada por ele, o paizão. Mas desde que comecei a levar a sério a administração de seu legado, tornou-se mais fácil dizer Adoniran. Requer menos explicações.

Sobrinhos e sobrinhos-netos: filhos e netos de amigos ou primos a quem amo. Não tive irmãos, não posso pois jurar - mas acho difícil alguém gostar mais de um sobrinho só porque é parente do que eu dos sobrinhos que não herdei - escolhi.

Espero ter feito um bom glossário.

Quanto às histórias, virão quando surgir uma oportunidade ou quando me der na telha.





Olá! Bom Dia!


Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim
com MPB4 e Quarteto em Cy

Nota de pesar

Morreu Roberto Civita, o criador de VEJA

Ele dedicou 55 de seus 76 anos à paixão de editar revistas, nunca se afastou do compromisso com o leitor e com o Brasil e fez da Abril um dos maiores grupos de comunicação da América Latina



Roberto Civita durante o Prêmio Jovens Inspiradores 2012 (Ivan Pacheco) 


(...) Risonho, cordial, otimista, Roberto Civita sempre acreditou que nenhuma atividade vale a pena se não for praticada com prazer. “Você está se divertindo?”, perguntava insistentemente aos profissionais com quem convivia. Mantinha-se otimista mesmo quando contemplava a face sombria do país. Para ele, o Brasil só conseguiria atacar com eficácia seus muitos problemas se antes aperfeiçoasse o sistema educacional, modernizasse o capitalismo nativo, removesse os entraves à livre iniciativa e consolidasse o estado democrático de direito. “O que VEJA defende, em essência, é o cumprimento da Constituição e das leis”, repetia. Também essa fórmula parece simples. Difícil é colocá-la em prática. Foi o que o editor de VEJA sempre soube fazer.


Transcrito da VEJA OnLine

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Dizem que quando um anjo morre, toca um sino no Céu. Baseada nessa imagem, crio a minha: acho que quando um jornalista morre, um anjo com certeza sai pelo Céu a gritar: Extra! Extra!

Desde seu lançamento, VEJA se tornou A Revista imprescindível. Para quem tinha filho em idade de prestar exame vestibular então... era impensável desistir de sua assinatura.

Penso exatamente como Roberto Civita: se você não está se divertindo e não gosta do que faz e para quem faz, o melhor é pedir o boné...

Deve ter sido um bom chefe.