terça-feira, 2 de julho de 2013

Palavra da Coruja


Ser estúpido, egoista e ter boa saúde são as três condições para ser feliz; mas se a burrice faltar, tudo estará perdido.
Gustave Flaubert

Fim de Tarde


Wilson das Neves e Chico Buarque apresentam Grande Hotel

Para a Hora do Chá


Luiz Vaz de Camões

 Não sou um tempo
 ou uma cidade extinta.
 Civilizei a língua
 e foi resposta em cada verso.
 E à fome, condenaram-me
 os perversos e alguns
 dos poderosos. Amei 
 a pátria injustamente
 cega, como eu, num 
 dos olhos. E não pôde 
 ver-me enquanto vivo.
 Regressarei a ela
 com os ossos de meu sonho
 precavido? E o idioma
 não passa de um poema
 salvo da espuma
 e igual a mim, bebido
 pelo sol de um país
 que me desterra. E agora
 me ergue no Convento
 dos Jerônimos o túmulo,
 que não morri.
 Não morrerei, não
 quero mais morrer.
 Nem sou cativo ou mendigo
 de uma pátria. Mas da língua
 que me conhece e espera.
 E a razão que não me dais,
 eu crio. Jamais pensei 
 ser pai de santos filhos.

 Carlos Nejar

A palavra é de... Fernando Henrique Cardoso

FHC sobre crise: 'É fácil jogar pedra'

Ex-presidente afirma, na TV, que protestos ‘não têm foco claro’, mas classe média ‘está achatada’

Guilherme Waltenberg - O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) evitou criticar o governo federal diante das manifestações que tomaram conta do País. Segundo ele, o governo "chamou para si" o problema. "É fácil jogar pedra nesse momento, mas sei que a situação é difícil, é hora de compreender o momento", afirmou o ex-presidente na noite de ontem, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.




(...) O ex-presidente disse ainda que os movimentos que tomaram as ruas do Brasil são consequência de uma crise da vida "cotidiana" da população, e não apenas de uma crise das instituições do País. "O que vemos é a falência dos órgãos públicos há muito tempo. Esses são os problemas que afetam as pessoas, é uma crise das vidas cotidianas, e não das instituições", disse.

A classe média, observou, "está achatada" e também sofre com os problemas na educação, nos transportes e na saúde. "As pessoas estão cansadas da vida como ela é nas grandes cidades." Fernando Henrique citou um artigo que produziu em 2011 sobre o que seriam as futuras demandas das "classes emergentes", com foco na qualidade de vida, para explicar parte da crise. "Não é a demanda sindical, do salário, é a de viver melhor. E outro componente é a decência. Há uma indignação em função do processo de corrupção que atingiu vários setores", avaliou. Para o ex-presidente, o atual momento é de "meditar sobre o que está acontecendo", ponderou. FHC afirmou, no entanto, que faltou o governo "conversar" com o País.

Ler a íntegra no Estadão

Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente da República

Com nosso repórter junto ao CQC, Guga Noblat


Desta vez acompanhamos os protestos em SP, BH e Fortaleza, 
sem esquecer de falar na figura feliciana...

Arca do Tesouro

Conversa vai, conversa vem...

"Para selecionar cidade beneficiada por computador, Lula usou o mesmo critério adotado para escolher sua candidata: o ego".

(Deputado Raul Jungmann sobre declaração do presidente de que a cidade onde nasceu foi escolhida para participar do programa “Um Computador por Aluno” devido ao “critério Lula”).

Talvez esteja aí, no gigantesco ego do presidente, a origem dessa estapafúrdia lei que proíbe o humor durante o período eleitoral.

Pedindo imensas desculpas, declaro desde já que a mim não me farão falta os programas de humor, desde que não proíbam o presidente Lula de falar em palanque e na TV, nem nos proíbam do melhor programa humorístico de todos: a campanha eleitoral na TV.

Ou de ouvir dona Dilma tentando explicar uma ideia, ou esclarecer um ponto de seu programa.

Ou de ouvir a extrema-direita trololó a abanar o rabinho para pessoas que mal tenham oportunidade, lhes darão um bom ponta-pé bem dado.

Como não rir à larga com o sorriso perene do governador Cabral? Impossível. O “Serginho” não nos deixará na mão (já repararam como tem gente que adora se mostrar íntima de gente famosa?).

E quando você vê as confusões que fazem entre direita e esquerda?

É para acreditar que tem gente que não ouve mais Chico Buarque porque ele é petista, ou é para duvidar até o fim dos tempos?

Ou como os tucanos de bico chato ficam em êxtase com “el gabo” (outra intimidade estranhíssima) sem se dar conta que Gabriel Garcia Márquez é amigo íntimo de Fidel Castro? Ele vive em Havana e lá fundou e dirige a Escuela Internacional de Cine Televisión y EICTV. Criou o Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano, para ensinar aos jovens como fazer jornalismo “realista, nada mágico”.

Morto Jorge Luis Borges, ele é o maior escritor latino-americano. Aliás, olhem como tivemos sorte: Borges, um anglófilo declarado. Garcia Márquez, um latino-americano apaixonado.

“Viver para Contar” é para ler com um lenço na mão. Rindo ou chorando, as lágrimas escorrem. É o primeiro volume de sua autobiografia. E suas “Crônicas”? Cinco volumes riquíssimos!

Ficar sabendo como o socialismo entrou em sua alma pelas histórias que ouviu seu avô contar, ou como a mágica de Macondo é herdeira direta das lendas e causos que sua avó dona Tranquilina lhe contava, ler sobre sua carreira de jornalista, ler algumas de suas reportagens e entrevistas, com quem conviveu e como conviveu...

Durante muitos e muitos anos ele foi proibido de entrar nos EUA. Foi preciso um presidente democrata e inteligente como Bill Clinton, que declarou ser “Cem Anos de Solidão” seu livro favorito, para que essa proibição fosse levantada.

Venceu a sensatez! O homem é socialista, sim, mas ele não morde. Ele escreve e é um grande, um extraordinário escritor!

                                                          *******

Atualização em 2/7/2013: será que essa lei ainda está valendo? Ou melhor, alguém se lembra se pegou?


Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Publicado originalmente na Navetta* em 28/7/2010

Palavrinha

Uma coisa ficou muito clara. A meninada que foi para a rua já prestou um grande favor ao Brasil. Até aos vândalos e marginais que por falta de argumentos saem quebrando e depredando, apesar dos pesares, devemos uma gentileza.

A Agenda da Presidente que, até então, nos fins de semana não mencionava compromisso algum, agora está abarrotada de afazeres e reuniões. Tem mais: dona Dilma promete que vai falar muito com os jornalistas!

Faz tudo parte de seu governo “padrão Felipão”, segundo ela. 

O governo como um todo se agita e cada um de seus membros propõe, promete e até toma decisões.

Não sei no que vai dar, provavelmente em muito pouca coisa. O plebiscito é uma ideia estapafúrdia.  Falam em 7 de setembro ou 15 de novembro para sua realização. Daqui lá teremos as férias de julho, a sagrada viagem à Disney, os pacotes já pagos nas agências de viagem, a vinda do Papa. E, torço eu, o gran finale do Mensalão!




Dará tempo para explicar o que é plebiscito e principalmente explicar de que falam as suas perguntas?
Não creio.

E não adianta repetir à exaustão o delicioso “Plebiscito”, de  Arthur Azevedo. No meu tempo de escola, esse texto serviu para cópias, ditados, redações e leituras em voz alta, à exaustão. Nem por isso sei explicar muito bem o que é um plebiscito e muito menos responder, como devem ser respondidas, as suas propostas... MH

Michel Srougi

Depredando a saúde da nação

As propostas para a saúde feitas pelo governo federal são piores do que os depredadores soltos pelas ruas, já que destroem vidas humanas.

Como cidadão, fiquei deslumbrado com o clamor que varre a nação. Como médico, e ligado à saúde, mergulhei em esperanças. Contudo, com a mesma velocidade que esse sentimento aflorou, fui tomado por uma angústia incontida ao observar as manifestações oficiais.

Anunciou-se solenemente que seriam importados milhares de médicos estrangeiros e injetados R$ 7 bilhões em hospitais e unidades de saúde. Também se propôs a troca de R$ 4,8 bilhões de dívidas dos hospitais filantrópicos por atendimento médico e foi anunciada a criação de 11.400 vagas de graduação em escolas médicas.

Perplexo, gostaria de dizer que essas propostas são tão surrealistas que não podem ter sido idealizadas por autoridades sérias, mas sim por marqueteiros afeitos à empulhação. Piores do que os depredadores soltos pelas ruas, já que destroem vidas humanas.

A medicina exercida condignamente pressupõe equipes qualificadas, não apenas com médicos, mas também com enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. Exige instalações minimamente equipadas, para permitir diagnósticos e tratamentos mais simples.

Necessita do apoio de farmácias, capazes de prover sem ônus para os necessitados, as medicações essenciais. Requer processos de higiene, assepsia e certo conforto, para dar segurança e respeitar a dignidade humana dos pacientes. 



O que farão os médicos estrangeiros nas áreas remotas do Brasil apenas com termômetros e estetoscópios nas mãos? Irão receitar analgésicos, antidiarreicos e remédios para tosse, o que poderia ser mais bem executado por qualquer prático de farmácia, também afeito às doenças regionais. Médicos que nos casos mais delicados nem atestado de óbito poderão assinar, pois não conseguirão identificar a causa da infelicidade. 
Pior ainda, como esses médicos conseguirão atuar limitados pela dificuldade de comunicação, desqualificados para tratar doenças já erradicadas em países sérios, frustrados por viverem em regiões destituídas de condições mais dignas de existência para eles próprios, suas mulheres e seus filhos? Certamente tratarão de migrar para centros mais prósperos, abandonando aqueles que nunca conseguirão expressar a desilusão.

Não custa lembrar que muitos países desenvolvidos aceitam médicos estrangeiros, contudo nenhum deles atua sem ser aprovado em exames extremamente rigorosos, que atestam a elevada competência profissional.

Igualmente falaciosa é a proposta de incrementar os recursos para a saúde. Num país como o Brasil, que gasta apenas 8,7% do seu Orçamento em saúde --muito menos que a Argentina (20,4%) e Colômbia (18,2%)-- somente mal-intencionados poderão acreditar que um aporte de recursos de 0,7% corrigirá a indecência nacional.

Também enganadora é a ideia de se recorrer às instituições filantrópicas. Em situação falimentar, deixam de pagar tributos porque não recebem do governo federal os valores justos pelo trabalho. Pelo mesmo motivo, serão incapazes de aumentar o já precário atendimento.

Quanto à criação de novas vagas para alunos de medicina, nada mais irrealista.

Para acomodar os números apresentados, o governo teria que criar entre 120 e 150 escolas médicas. Com que recursos? Com que professores? Com que hospitais?


Presidente, termino pedindo desculpas pela minha insolência. Você, que é digna e tem história, não pode tergiversar perante o clamor de tantos filhos da nação. Faça ouvidos moucos ao embuste e combata de forma sincera os malfeitos.

Assuma, de forma sincera e não dissimulada, a determinação política de priorizar os recursos para as áreas sociais. Para não ser tomada por angústia infinita ao cruzar com a multidão, entoando com indignação o canto de Chico Buarque: "Você que inventou a tristeza/ Ora, tenha a fineza/ De desinventar/ Você vai pagar e é em dobro/ Cada lágrima rolada/ Nesse meu penar". 



Transcrito do site Brickmann & Associados. Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, 29/06/2013


Miguel Srougi,  pós-graduado em urologia pela Universidade de Harvard, é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente do conselho do Instituto Criança é Vida.

Olá! Bom Dia!


La Bamba! com a orquestra de Ray Conniff