segunda-feira, 24 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Sopre, sopre, ó vento do inverno
Vós não sois tão cruel
Quanto a ingratidão humana. 
William Shakespeare

Fim de Tarde


All The Things You Are - Dizzie Gillespie e Stan Getz

Para a Hora do Chá

O amor calado

Ainda que o canto desça, de atropelo
como abelhas no enxame alucinante
em torno a um tronco, e me penetre pelo
ouvido, em sua música incessante,

juro a mim mesmo: nunca hei de escrevê-lo.
Hei de fechá-lo em mim como diamante
dentro da pedra feia. Hei de escondê-lo
na minha alma cansada e navegante.

E nunca mais proclamarei que te amo.
Antes o negarei como os namoros
secretos de menino encabulado.

Que se cale este verso em que te chamo.
Cessem para jamais risos e choros.
Meu amor mineral é tão calado!

Odylo Costa, filho

A palavra é de... Alberto Dines

No país do futebol, a goleada dos protestos

Inimaginável: William Bonner, o âncora mais conhecido e editor-chefe do mais importante telejornal brasileiro, obrigado a fazer o papel de coadjuvante no segundo dia da Copa das Confederações porque as ruas de dez capitais do país – inclusive Brasília – foram tomadas por gigantescas manifestações populares. Muitas contra o desperdício de dinheiro para construir estádios suntuosos para os megaeventos até 2016.

Tudo previsto, armado, roteirizado: Bonner conduziria o jornal a partir das capitais onde a seleção brasileira deveria jogar (na segunda-feira, 17/6, estava em Fortaleza), enquanto a companheira de bancada Patricia Poeta faria a interlocução. Na primeira edição em dia útil, ela acabou conduzindo noticiário e ele contentou-se com breves comentários. Inédito, assustador.

As autoridades foram ainda mais surpreendidas do que a Rede Globo pela dimensão e duração do protesto. Não levaram a sério as vaias à presidente Dilma Rousseff no sábado (15), durante a abertura desta copinha de nome complicado – das Confederações – e pouco empolgante. A culpa foi atribuída à oposição e aos derrotistas.

Todos contavam com a paixão nacional. Todos foram vergonhosamente driblados por ela. O aumento das tarifas de transporte público previsto para o início do ano foi chutado para a frente a fim de não impactar no cálculo da inflação. Acabou impactando na história política do Brasil.

Leia a íntegra do artigo no Observatório da Imprensa de 18/06/2013, edição 751

Viva São João!

                                                             
                                                                 Quadrilha Festa Junina 

Arca do Tesouro



Meu cachorro dorme em media 18 horas por dia. Ele tem toda a comida preparada para ele, uma comida que não lhe custa nada. Sim, para o meu cachorro não vale a máxima “Não existe almoço grátis”. 

Meu cachorro visita o veterinário uma vez ao ano ou quando necessário, se algum mal aparece, e toma todas as vacinas. Por isso, ele não paga nada, e nada é pedido a ele: ele não precisa do SUS. 

Meu cachorro late muito, mas não morde, quer dizer, é bom sempre ficar de olho no bicho porque nunca se sabe. 

Meu cachorro mora em uma boa vizinhança e numa casa muito maior do que necessita, mas não precisa limpar nada: se ele faz sujeira, alguém limpa. Aliás, ele escolhe os melhores lugares da casa para dormir e recebe essas acomodações completamente grátis.

Vive como um rei e não tem nenhuma despesa devido a isso. Todos os seus custos são pagos por pessoas que têm que sair de casa para ganhar a vida todo o dia.

Bem, eu andei pensando sobre isso e, de repente, veio a resposta: meu cachorro é do PT.


Em 29 de janeiro de 2010, a Navetta* recebeu e-mails de dois leitores/amigos com a piada acima. Irrestível voltar a publicá-la aqui...

Obrigada mais uma vez, Delicada e Antonio Romane.

Lucas Mendes fala de Indignados e Indignos

                                
Na praça de Madrid, a musica é ruim, o copo de vinho é péssimo, a noite é esplêndida. A Praça Puerta del Sol vive em estado de festa permanente e não há vestígios dos protestos que nasceram aqui há dois anos, se espalharam por 58 cidades espanholas e, nos meses seguintes, mobilizaram de 6 a 8 milhões de espanhóis.

Contra quem e o quê? Contra as eleições do dia 22 de maio, contra a proibição de protestos, contra os políticos no poder e fora do poder, contra a austeridade e a corrupção. Enfim, uma indignação contra o estado das coisas. Passagem de ônibus e metro não estavam em jogo. E são caras em Madrid.

O movimento nasceu com vários nomes: "Los Indignados", "Democracia Real Ya", "Tomar la Plaza", " Juventud Sin Futuro", mas acabou conhecido como 15-M ou 15 de maio, dia do nascimento dos protestos que, como no Brasil, não tinham pai. Nem mãe. Nem líderes. Nem herdeiros e, menos ainda, planos a longo prazo.

As conexões e mobilizações, como no Brasil, foram pela mídia social. Houve inspiração nos protestos da Tunísia e do Egito e o movimento chegou a ser chamado de Primavera Espanhola. O nome não pegou, como ainda não pegou no Brasil.


Mary Zaidan

O PT afônico

O PT nunca amargou desilusão tão profunda: as ruas se abarrotaram de gente sem que o partido as mobilizasse. Gente que, em sua maioria, prefere que a “onda vermelha” convocada, oportunista e extemporaneamente, pelo presidente da sigla Rui Falcão, fique longe.

Golpe duro para quem sempre se vangloriou da sintonia com as massas, de ser o senhor das vozes das ruas. Que se arvorava a ser quase, senão o único, na interlocução com os jovens. Que paga centenas de blogueiros, sabem-se lá quantos tuiteiros e facebuqueiros para falar bem do governo e rechaçar opiniões contrárias. Mas que não foi capaz de nem mesmo sentir o cheiro da mobilização, via redes sociais, que nas duas últimas semanas sacudiu o País de ponta a ponta.

É fato que nenhum partido, pouquíssimos políticos e só alguns analistas conseguiram traduzir, pelo menos parcialmente, o que está se passando. Mas, para o PT, estar divorciado disso, não ser o dono da voz, é quase mortal. Tanto que se expõe ao rechaço enfiando-se em manifestações que, pelo menos por enquanto, agremiação ou político algum é bem-vindo. Até porque os partidos políticos - mais preocupados com os seus umbigos e com a eleição seguinte - são alvos da grita.

Estar apartado disso é tão letal para o PT que fez seus dirigentes esquecerem os disfarces habituais. No olho do furação, enquanto o prédio da Prefeitura de São Paulo era vandalizado e o prefeito Fernando Haddad deixado nu, lançado à sua própria sorte, a presidente Dilma Rousseff reunia-se com o seu inventor Lula, o marqueteiro João Santana, o ministro Aloizio Mercadante e Rui Falcão. Na pauta, o PT e a manutenção do poder depois do estouro da boiada – da qual eles se imaginavam donos - falavam mais alto do que o País.

O petista Haddad abrigou-se ao lado do tucano Geraldo Alckmin e, juntos, anunciaram a suspensão do reajuste das tarifas de ônibus, metrô e trens. No dia seguinte, quinta-feira, ambos colheram uma manifestação em paz, que ocupou toda a Avenida Paulista. Dilma só falou ao País na sexta-feira, um dia depois de a “pequena minoria” - esse pleonasmo que deixou rastros de destruição em dezenas de centros urbanos - fazer estragos diante de seus olhos, importunando-a no Palácio do Planalto, ameaçando o Congresso Nacional, ateando fogo e quebrando os vidros do Palácio do Itamaraty.

Seu pronunciamento foi correto no tom, medido, bem escrito. João Santana teria acertado em tudo, não fosse o deslize costumeiro de, mais uma vez, colocar o PT antes do País; de anunciar um pacto nacional com a pauta da campanha eleitoral já desenhada para 2014. De amenizar, mas não eliminar a soberba.


Transcrito do Blog do Noblat de 23/06/2013

Olá! Bom Dia!


Schottish-Choro: Yamandu Costa e Guto Wirtti