domingo, 14 de julho de 2013

Palavra da Coruja


Minha ideia de uma pessoa agradável é uma pessoa que concorda comigo.
Benjamin Disraeli

Memento

     
   Fred Astaire em Drum Crazy, 
cena do filme Easter Parade

O Mundo Gira...


Fim de Tarde


Louis Armstrong e sua deliciosa versão de C'est si bon!

Para a Hora do Chá


O Seu Santo Nome 

Não facilite com a palavra amor. 
Não a jogue no espaço, bolha de sabão. 
Não se inebrie com o seu engalanado som. 
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro). 
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão 
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra 
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra. 
Não a pronuncie.

Carlos Drummond de Andrade

A palavra é de... João Bosco Rabello

A opção pelo confronto com o Congresso

A receita que o governo adota para enfrentar o desgaste político refletido na queda brusca da aprovação presidencial, parece se resumir no empenho em desgastar o Congresso Nacional, numa tentativa de isolá-lo no papel de vilão da crise, enquanto produz aleatoriamente factoides destinados a demonstrar um ativismo de efeito maquiador para o seu verdadeiro problema – a gestão ineficiente.

As afirmações do ministro Aloízio Mercadante, da Educação, aos jornalistas Fernando Rodrigues e Valdo Cruz, da Folha de S.Paulo, constituem uma confissão explícita dessa estratégia –  e de seu grau de ficção -, ao materializar uma advertência ao Legislativo para os riscos eleitorais de rejeitar o plebiscito para a reforma política.

Não há qualquer risco eleitoral na rejeição ao plebiscito, simplesmente porque ele não se traduz por recusa à reforma política. Esta, que jamais esteve na chamada  pauta das ruas, começa a ser feita aos poucos, independentemente de consulta prévia à população, na medida em que o Congresso, por instinto de sobrevivência (que parece ser maior que o do Executivo), mexe em suas zonas de conforto, removendo regras e mecanismos que respondem pela imagem negativa junto à sociedade.

A eliminação da figura do segundo suplente de senador, com as restrições de parentesco nela embutidas, é um exemplo de uma regra ofensiva ao bom senso, cuja eliminação se insere no contexto da reforma política, embora isolada desta. Outras medidas virão, fatiadas, por autodefesa, e com mais rapidez que uma reforma ampla e determinada pela conveniência diversionista do governo – e o sectarismo doutrinário do PT -, possam viabilizar.

O risco eleitoral que o ministro vê para o Legislativo, é de todos, desde que as manifestações cobraram gestão de serviços e um basta à corrupção e aos maus costumes. Transferir artificialmente ao Congresso a responsabilidade exclusiva pelo quadro geral de insatisfação, mais que insensato, é ineficiente, e não exclui o governo de fazer o que lhe compete para igualmente minimizar os seus próprios riscos.

Que incluem a perda do favoritismo da presidente na disputa de 2014 e, ao contrário do que diz Mercadante, já tornaram a vitória no primeiro turno uma hipótese fora das agendas de especialistas, analistas e políticos. Um rápido mergulho no histórico eleitoral de 92 para cá indicará que nenhum governante logrou a reeleição com menos de 50% de ótimo e bom. O que impõe à presidente Dilma a recuperação de, pelo menos, 25% do prestígio perdido.

Não é tarefa simples, especialmente se o governo permanecer errante e fiel às próprias convicções, entrincheirado no Planalto a olhar para o vizinho e lhe apontar os defeitos, alheio ao que se passa dentro de sua própria casa. Está vendo um filme e esquecendo de outro, tão conhecido, em tantas versões – cujos protagonistas se dedicaram a hostilizar o Parlamento.

A razão que assiste ao ministro está na constatação de que as manifestações de rua projetam danos eleitorais. São, na essência, uma advertência para os que pretendem renovar mandatos, que vale para todos, embora o Planalto dela se exclua, como se a pauta por melhores serviços, à altura dos impostos pagos, e agora percebidos como instrumento de pressão, não coubesse ao Executivo.

Nesse contexto, a velocidade de reação é inegavelmente maior no Legislativo, desde que assim o queira. Entre vacilos (aviões da FAB para recreio) e hesitações (fim do suplente de senador), o Congresso vai se submetendo ao receituário prescrito pelos manifestantes, embora com equívocos como meia-entrada para “jovens” de 20 anos, transporte público gratuito e a adjetivação para crimes de corrupção que não garante o fim da impunidade e que ainda vão trazer muita dor de cabeça.

O Congresso, porém, reproduz em certa medida o erro do governo de adotar providências sem consulta aos segmentos organizados da sociedade, baseado no suposto acerto da interpretação das reivindicações. Faz populismo quando torna hediondo crime de corrupção ou quando faz socialismo com o chapéu alheio, exemplo da meia-entrada imposta a produtores privados e artistas em geral.



Ilustração: Alex Falco


Nesse ritmo, mais um pouco e vai tabelar o chope que os “jovens” de 29 anos, da deputada Manoela D’ávila (PC do B-RS), pagam inteiro após a economia feita nos espetáculos artísticos. Da mesma forma que, aberta a porteira para a fiscalização estatizada do Ecad, já há emendas estabelecendo a gratuidade do uso de obra musical por entidades filantrópicas.

Um confisco imposto ao autor, a quem cabe a prerrogativa exclusiva de dispor de sua obra. Com a qual só ele pode ser generoso.


Transcrito do Estadão de 11/7/2013

Tem coisa mais querida?

Crianças: um tesouro

Perguntas de crianças entre 4 e 5 anos:


* "Será que a mamãe do ovo de Páscoa é uma galinha de chocolate?"

* - Você sabe o que é neve? "Sei, são pedacinhos da nuvem que caem".

* A irmã chora e suas lágrimas caem em João que lhe diz: "Pára com essa chuva"

* "Papai, você que é mais alto, pega aquele arco-iris para mim?'.


(Do site Enfandises)

Transcrito da Navetta* (29/03/2010)

Arca do Tesouro

Relojoaria – Relógio Carrilhão (1598)

Muitos foram sempre os motivos para o homem marcar o Tempo decorrido. Sua própria subsistência dependia disso. Mas outras razões foram surgindo como justificar a importância de cada indivíduo ou grupo de indivíduos pelos elos com o passado; organizar a sociedade em que viviam; estabelecer a linhagem familiar ou dinástica.

Descoberta e registrada a regularidade das mudanças que marcavam os dias e noites e a passagem de um período determinado, as estruturas de marcação do Tempo foram sempre um acordo feito entre as pessoas que viviam pelas datas do registro escolhido.

Para os cristãos, durante muitos séculos, o calendário da Igreja era o que regulava suas vidas. Os dias santos transformaram-se nos marcadores para determinados compromissos ou eventos e isso era acompanhado por todo o grupo social que criou e aceitou a data.

O exemplo mais forte é o “antes de Cristo” ou “depois de Cristo”, marcação que orienta, informa e na qual se estruturou a maioria do mundo moderno, e que na realidade não está baseada em uma data específica, já que não se pode garantir a data exata do nascimento de Jesus Cristo.

Outro exemplo da força do calendário cristão era a data escolhida pelos britânicos para pagar seus impostos: o Dia da Anunciação de Maria, 25 de março.

Na Inglaterra de Elizabeth I, já no final de seu reinado (ela reinou de 1558 a 1603) os relógios carrilhão ainda eram muito raros enquanto que em outras partes da Europa, como Alemanha e Países Baixos, eram uma tradição.




O relógio que hoje mostramos é desse tipo: a cada quarto de hora, os treze sinos montados no topo da caixa tocam um trecho de música diferente. As horas também são marcadas por um sino, maior e separado dos outros. Também é dos primeiros exemplares com dois ponteiros montados concentricamente no mesmo espaço para indicar as horas e os minutos.

Chamado Relógio Carrilhão de Interior, ou de Mesa, tem uma alça pela qual pode ser transportado. É criação de Nicholas Vallin, natural de Lille, Flandres, que em 1580 foi para a Inglaterra com seu pai John, onde abriram uma relojoaria e oficina de ourivesaria que rapidamente fez seu nome brilhar.

Altura: 58,42 cm.

Acervo Museu Britânico, Londres


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Da série Obra-Prima do Dia publicada originalmente no Blog do Noblat (25/1/2012)

Investigação revela história secreta de esterilização de latinos nos Estados Unidos

Jaime González,  BBC Mundo

BBC     
     Leis de eugenia permitiam esterilizações feitas de forma indiscriminada.





Durante boa parte do século 20, milhares de pessoas foram esterilizadas em instituições psiquiátricas nos Estados Unidos, e, em muitos casos contra a vontade de suas famílias.

As intervenções foram feitas em nome da saúde pública e de uma melhoria da raça, e estavam protegidas por leis de eugenia em vigor na época.

Uma nova investigação diz que na Califórnia – estado onde foram praticadas um terço das estimadas mais de 60 mil esterilizações que ocorreram em todo o país nos anos 70 - a população latino-americana foi submetida a esses procedimentos em um nível "desproporcionalmente elevado".

Leia mais em BBC  Brasil

Lula e Dilma: desgaste na relação?

Após manifestações, Lula e Dilma vivem desgaste na relação

Natuza Nery, Valdo Cruz e Catia Seabra, Folha.com

As manifestações de junho não derrubaram apenas a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Elas também ajudaram a desgastar sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Petistas dizem que "criador" e "criatura" estão muito longe de um rompimento, e que errará quem apostar nesse desfecho, mas concordam no diagnóstico: a ligação dos dois chegou ao ponto mais difícil desde que Dilma assumiu o cargo, há dois anos e meio.

Nos bastidores do governo e no próprio PT, a distância foi percebida e virou alvo de comentários.

Interlocutores de Dilma atribuem a aliados de Lula o vazamento de críticas à atuação do Executivo durante a onda de protestos que sacudiu o país em junho.

Interlocutores de Lula dizem que ele considerou uma "barbeiragem" a decisão do Planalto de propor uma constituinte para a reforma política sem ouvir o vice-presidente Michel Temer (PMDB), mas consultando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), adversário do PT.

Também há queixas partindo do governo. Uma delas: Lula chegou a sugerir a redução do número de ministérios, embora tenha promovido o aumento do número de pastas quando era presidente.

Pessoas que falaram com o ex-presidente nas últimas semanas o descrevem como "preocupado" e dizem que volta e meia ele expressa incômodo com a "teimosia" e a centralização da sucessora.


Desde dezembro, ele tem sido assediado por empresários, banqueiros, sindicalistas e políticos, que em geral reclamam do estilo de Dilma.

Leia mais em Após manifestações, Lula e Dilma vivem desgaste na relação

De Salvador a Las Vegas: Uma viagem surpreendente ao país da espionagem cibernética, por Vitor Hugo Soares

A sombra do mouse sobre o mundo

Há alguns anos, no auge do pânico e perplexidade causados pelos atentados de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos, passei por um dos maiores constrangimentos pessoais de que me recordo.

Transitava então pela agitada área de inspeção do aeroporto de Londres em viagem de volta a Salvador, depois de passar dias memoráveis na fantástica cidade de Amy Winehouse, quando ela ainda vivia, cantava como ninguém, e aprontava todas em Candem Town, onde eu passara um domingo de despedida para nunca esquecer. Antes da vergonha, evidentemente.

Devo confessar que meu inglês é péssimo. Se é que dá para chamar de “meu inglês”, o arremedo daquilo que falo e entendo do idioma de Shakespeare. Daí a demora para compreender os gritos nervosos dos agentes de segurança de Heatrow, que me mandavam desafivelar o cinto, tirar os sapatos, enquanto era apalpado e submetido a uma “revista” pública, em meio a outros passageiros tão espantados e nervosos quanto eu.

Ainda lembro bem da minha reação íntima e tola naquele momento. Ateu que acredita em milagres, perguntava com meus botões quando segurava a calça folgada com uma mão, enquanto com a outra levava o passaporte que os agentes queriam bem à vista.

Meu Santo Antonio da Glória, o que eu vim fazer aqui?”, escrevi (rapidamente esquecido dos belos momentos vividos na terra da Rainha), ao descrever no artigo que publiquei na época neste blog, aquela situação tão insólita.

No calor da hora até prometi, não permitir a mim mesmo que a situação se repetisse. Pura bravata, que durou pouco tempo para ser deixada de lado.

Retornei há poucos dias de uma viagem formidável aos Estados Unidos. Quase um mês – pedaços divididos de maio e junho - voando e rodando entre os estados da Flórida, Califórnia e Nevada. A maior parte do tempo na costa oeste das praias bravias do mar do Pacífico, recantos de sonhos descritos com perfeição nas canções de nosso Lulu Santos.

Semanas entre a sempre esbelta, multicultural e cosmopolita San Francisco, (mais asiática que nunca, além de Chinatown) e os vinhedos verdejantes dos vales de Sonoma e Napa. Além da sensação, sem preço, de caminhar pelas ruas, mesmo as mais desertas, a qualquer hora, sem medo de "balas perdidas" ou de ladrão atrás...

Parada de afetos, recordações, conhecimentos e reconhecimentos em Santa Rosa (a 70km de Frisco pela Freeway que cruzamos inúmeras vezes em idas e vindas, perdidos algumas vezes, mas sempre reencontrando o caminho certo da volta, de dia ou de madrugada).

Organizada, acolhedora, deliciosa, rica e civilizada cidadezinha cercada de parques nacionais e recantos indescritíveis. Vinho de primeira, ótima comida (em casa e nos restaurantes), jazz de primeira nas casas noturnas e emissoras de rádio locais, e imperdíveis oportunidades de compras, naturalmente.

Sem falar nas cerejas do bolo: a primeira e sempre sonhada visita a Los Angeles, com direito a hospedagem em Hollywood, no mesmo hotel onde viveu um tempo ninguém menos que Marilyn Monroe. Enfim.

Sob nossos pés e à nossa vista, os encantos e desencantos da cidade do cinema. A calçada da fama, Beverly Hills, os drogados nas ruas, Sunset Boullevard, a praia dos artistas e figurões em Santa Mônica, em esplendoroso dia de sol. Garoto deslumbrado, depois de adulto.

E depois a descoberta de Las Vegas, no deserto do estado de Nevada. A cidade surpreendente, criada no meio do nada, mas talvez a mais emblemática representação urbana dos Estados Unidos atualmente. Ainda sob impacto da crise braba e em busca de saída. Nos majestosos hotéis temáticos (o Egito, a Itália, a França, o Brasil e muito mais, reunido num mesmo lugar) as ruas fervilhantes de crianças, jovens e adultos e idosos em busca, de dia e de noite, das ofertas de opções culturais, artísticas, esportivas, de consumo ou de puro lazer e divertimento.




Sem falar na jogatina desenfreada, nos modernos e luxuosos cassinos de cada hotel. Nos dias que passamos por lá, três núcleos do Cirque de Soleil se apresentavam em locais diferentes da cidade, incluindo o Luxor Hotel onde ficamos hospedados.

Tudo por menos que o custo de recentes temporadas em hotéis (de menor qualidade em serviços e conforto) de Gramado, São Paulo, Salvador e até Campina Grande, Paraiba, no período junino.

Salvo, é claro, o preço dos constrangimentos nos aeroportos internacionais da terra de Obama. Entre Miami, San Francisco, Los Angeles e Las Vegas, uma meia dúzia de vezes pelo menos tive o cinturão retirado, sem sapatos, calça folgada caindo, braços e mãos para o alto, e o agente de segurança alertando : “Senhor, abra as pernas por favor, coloque os pés no lugar marcado e olhe para a máquina para não repetir a operação de raio-x no corpo”.

E no hotel, a descoberta desconcertante: uma carta padrão com carimbos oficiais, dentro da mala de uma das acompanhantes na viagem (cadeado de proteção retirado), notificando que a mala havia sido aberta e revistada (depois fechada, arrumada, fora das vistas do dono), para inspeção.”Para sua proteção e dos demais passageiros”, dizia o cartão com pedido de desculpas em nome da Convenant Aviation Security (CAS) pelo “serviço” realizado pela empresa contratada Transportation Security Administration (TSA). Simples assim.

Agora, no meio do escândalo causado pelas revelações da espionagem cibernética americana, feitas por Edward Snowden e suas graves repercussões, também no Brasil, leio um artigo instigante publicado no jornal El País, do Uruguai, onde a politicamente fragilizada presidente Dilma Rousseff e seus colegas do Mercosul, se reuniram ontem (12) em busca de uma reação de consenso sobre as denúncias das violações de e-mails.

Até aqui só resultaram em atitudes de pavor do chanceler Patriota, e de chacota e certo descaso e cumplicidade dos ministros Celso Amorim, da Defesa, e Paulo Bernardo, das Comunicações.

Em síntese, o texto assinado por Cláudio Fantini, destaca que há acontecimentos tão fortes e impactantes que acabam cobrindo seu próprio significado mais profundo. Segundo o autor, a queda das torres gêmeas foi tão chocante que impediu ver o fundamental. Além daqueles arranha-céus e de uma ala do Pentágono, o terrorismo havia derrubado pilares fundamentais do Estado de Direito e da sociedade aberta.

É isto que está mostrando agora, segundo o autor, “a espionagem massiva denunciada por Snowden. O pânico e a sensação de vulnerabilidade fizeram a maioria dos norte-americanos firmar o contrato social descrito por Thomas Hobbes no Leviatã, cedendo intimidade e liberdade em troca de proteção.

Mais não digo. Apenas recomendo, com ênfase, a leitura do texto de Fantini no diário uruguaio. Agora vou tratar de transmitir, pelo g-mail, o texto deste artigo para Ricardo Noblat publicar em seu blog.

E seja lá o que Santo Antonio quiser.


Vitor Hugo Soares é jornalista, edita o site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br

Publicado originalmente no Blog Bahia em Pauta (13/07/2013)

Um quadro preocupante, por Ruy Fabiano

A ignorância política – o desconhecimento dos mais elementares princípios da separação dos poderes da República e do funcionamento das instituições - é um dos fatores determinantes da crise de representação, que indispõe, neste momento, a sociedade brasileira e seus governantes.

Isso explica reivindicações conflitantes nas manifestações de rua. Criticam-se os partidos políticos, a qualidade dos serviços públicos, o governo e a carga tributária, mas, simultaneamente, pedem-se mais políticos, mais governo, mais carga tributária.

Pegue-se uma, entre as muitas exigências expostas nas ruas: a tarifa zero nos transportes públicos. Sua adoção pressupõe a estatização plena do setor, o que significa mais governo, mais políticos, mais chances à corrupção, mais tributos.

Há também, explícita, a ideia de que o governo federal pode tudo: prender políticos corruptos, mudar as leis, refazer, por decreto, o país. Não se tem a mais remota ideia de como funcionam os poderes e os limites de cada qual. Não é casual que a presidente da República seja a mais penalizada pelos manifestantes.




É como se dela tudo dependesse. E ela reage como se assim fosse, mandando pacotes com propostas improvisadas e até exorbitando de sua jurisdição, ao propor plebiscito para a reforma política ou mesmo a convocação de uma assembleia constituinte (da qual teve de recuar, por inconstitucional).

Mesmo segmentos em tese mais preparados exibem essa espantosa ignorância. Há dias, chegou às mãos da presidente Dilma Roussef uma “Carta Pública dos Povos Indígenas do Brasil”, preparada por ONGs que cuidam da causa, com destaque para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

São, pressupõe-se, entidades especializadas, que deveriam conhecer os princípios fundamentais de organização e funcionamento do Estado. Mas exibem a mesma ignorância flagrada nos manifestantes de rua. Pedem (ou exigem) à presidente o que não está a seu alcance atender.

Exemplo: “Não admitiremos retrocessos na garantia dos nossos direitos, por meio de iniciativas legislativas (...)”, diz a carta, em certo trecho. Ora, a presidente não pode impedir iniciativas legislativas (aliás, ninguém).

Pode, no máximo, se aprovadas, vetá-las, cabendo, no entanto, ao Legislativo o direito de derrubar-lhe o veto.

No sistema presidencialista, Executivo e Legislativo só podem ser dissolvidos por dois meios: golpe de Estado ou eleições. Excluindo-se o primeiro, sempre uma tentação a grupos radicais, resta o segundo. O Congresso que aí está, goste-se ou não, foi eleito pelos mesmos manifestantes que o querem agora derrubar. Mas, para tanto, só há um meio: o golpe.

No sistema parlamentarista, em que o Congresso é eleito por até quatro anos, prevê-se sua dissolução pela via democrática, em situações de crise de governo, com a convocação de novas eleições.

O parlamentarismo, no entanto, foi rejeitado em dois plebiscitos (1961 e 1993), o que faz supor que a sociedade brasileira apoia o sistema presidencialista, adotado desde a Proclamação da República. Será? Improvável.

A complexidade do tema e a maneira ligeira e manipulada com que, nas duas ocasiões, foi exposto ao público fazem supor que o eleitor não sabia exatamente no que estava votando.

Em ambas as ocasiões, o público não foi informado da natureza e funcionalidade de cada um dos sistemas, apresentados sob um viés ideológico, que comprometeu a consulta.

Em 1961, até a Guerra Fria entrou em pauta. Em 1993, embora ela já não estivesse formalmente em pauta, o conteúdo não foi diferente. Houve até um fato inusitado: o PT, em seu primeiro programa no horário gratuito, pela voz de Lula, defendeu o parlamentarismo. Do segundo em diante, se opôs.

Nas ruas, o povo reclama das consequências, mas ignora – e, portanto, não vai às causas. O Congresso, beneficiário do sistema em vigor, investe num varejo que não muda nada e nem efeito sedativo chega a ter. Derruba um projeto polêmico, aprova outro, de índole demagógica, e espera assim acalmar o público.

A presidente providencia pacotes, faz discursos, afrouxa os cordões da economia e busca ganhar tempo. O Judiciário, por sua vez, manda prender um deputado, cuja sentença condenatória lá estava há anos, promete acelerar o mensalão e coisas do gênero. Ninguém vai à raiz do problema.

O público percebe o jogo de cena, mas ignora a essência da questão e pede mais Estado, que, assim, protagoniza simultaneamente o papel de herói e vilão da mesma história.

O governo cooptou as principais entidades da sociedade civil, que ao tempo da ditadura foram fundamentais para a reconquista da democracia. Por aí, não há muito o que esperar. A sociedade civil organizada está aparelhada. Em tal contexto, amplia-se o raio de ação de aventureiros e golpistas.


Ruy Fabiano é jornalista.
Publicado originalmente no Blog do Noblat de 13/7/2013

Olá! Bom Dia!

La Marsellaise, em um das cenas mais marcantes de "Casablanca" (1942), o filme dirigido por Michael Curtiz com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains, e que ocupa um lugar especial no coração de quem ama Cinema.