terça-feira, 6 de agosto de 2013


Não devemos estar sempre a falar, na praça do mercado, daquilo que nos acontece na floresta.
Nathaniel Hawthorne


Memento


Dois ingleses vão à Itália

Elis Regina convida Adoniran Barbosa para o seu "O Fino da Bossa...

Fim de Tarde


Trem das onze por Stefano Bollani 

Para a Hora do Chá


Retrato próprio

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Manuel Maria Barbosa du Bocage 

A palavra é de... Ricardo Noblat

Perdoemos os que erram e confessam seus pecados. E os ajudemos a trilhar outra vez o caminho do bem.

A essa altura, quantas pessoas não revisam seu modo de vida depois do que ouviram do Papa Francisco?

Quantas não seguraram o choro diante daquela figura simples, amorosa e completamente desprovida de medo?

E quantas não choraram, e talvez ainda chorem, tocadas pela infinita bondade que emana dele?




Não sei se o governador Sérgio Cabral, do Rio, tem de fato religião. E se a pratica com moderação ou afinco. Também não sei dizer se é uma pessoa que se comove com facilidade. Sei que não somos mais perfeitos ou imperfeitos do que ele. E que pelo menos por enquanto deveríamos acreditar no que repete desde a passagem do Papa.

Quando nada porque "é preciso reabilitar a política", como ditou Francisco. E só se reabilita a política reabilitando-se os políticos.

Com a popularidade reduzida à microscópica marca de 12% de ótimo e bom, Cabral bateu no peito outro dia em sinal de arrependimento e disse: "Sou cristão. Nunca fiz uso da religiosidade para minha vida pública. Mas como governador e ser humano, o Papa muito me tocou".

Foi além: "Acho que estava trabalhando mal determinadas questões. Estava me faltando autocrítica. Cometi erros de diálogo, de incapacidade de dialogar, que sempre foi a minha marca".

Perguntaram sobre as manifestações contra ele. Cabral respondeu, modesto: "Acho que da minha parte faltou mais diálogo, uma capacidade maior de entendimento e de compreensão".

Para emendar em seguida de maneira um tanto confusa: "Não sou uma pessoa soberba, que não está aberta ao diálogo. Para mim a democracia é um bem intangível". E concluiu: "Ouço com muito prazer as críticas da opinião pública".

Ouvir só não basta. Então Cabral resolveu doar ao Rio seu segundo Código de Ética.

O primeiro decorreu das viagens que fez em jatinhos cedidos por prestadores de serviços ao Estado. O código proibiu tais viagens.

O segundo código tem a ver com o uso feito por Cabral de helicópteros do governo.

Helicóptero de R$ 12 milhões servia para ele ir trabalhar e, nos fins de semana, usufruir de sua casa de veraneio junto com a família. Acabaram os voos de recreio.

Aumentou o desejo de Cabral de agradar seus governados.

O carioca jamais se conformou com a demolição do Parque Aquático Júlio Delamare e do Estádio de Atletismo Célio de Barros, partes do complexo do Maracanã? Cabral anunciou que eles não serão mais demolidos.

Resta saber o que fará o consórcio de empresas que reformou o Maracanã. E que lucraria com a demolição do parque e do estádio.

Na prática, Cabral rasgou o contrato que ele mesmo assinara.

Em troca de sua rendição aos bons costumes, Cabral gostaria de ser deixado em paz por aqueles que regularmente protestam nas vizinhanças do seu apartamento, no Leblon. Que peçam seu impeachment, tudo bem. É direito de qualquer um. Mas infernizar a vida de uma família a ponto de forçá-la a mudar de endereço contra sua vontade e a viver na clandestinidade...

A reclamação de Cabral procede. O problema dele é que Francisco animou os jovens a saírem às ruas para lutar por suas utopias mesmo que elas pareçam inalcançáveis. E foi logo avisando que não gosta nem um pouquinho de jovens acomodados.

Como conciliar, pois, a pretensão de Cabral, o mais novo discípulo do Papa, com a da rapaziada disposta a mostrar o seu valor?

Essa é uma missão para o super Francisco.



Publicado originalmente no Blog do Noblat de 5/8/2013

Meu repórter favorito, Guga Noblat, aqui no Leblon, Rio de Janeiro, em 05/08/2013



Hoje não publico meu repórter favorito sem uma observação: acho que as manifestações de junho, como eram as de junho, com o mesmo espírito, merecem o apoio de todos os cidadãos, como bem nos ensinou o Papa: jovem tem que se manifestar. 

Mas esses mascarados grosseiros, brutos, que não estão lá para se manifestar mas sim com um plano político bem esquematizado, esses creio que a polícia devia retirar do local: rosto descoberto deve ser a primeira exigência. 

A segunda: que vão se manifestar diante do Palácio Guanabara e durante o dia. À noite, não. A lei do silêncio deve ser respeitada e os vizinhos do Cabral não merecem isso. Nem os do Leblon, nem os do Palácio. Em todos os países as manifestações obedecem posturas municipais. Só aqui é essa zorra. 

E é bom ficar claro que Guga estava lá tra-ba-lhan-do! O que seria de nós sem a Imprensa? "Ah! mas ele trabalha num programa cômico", foi um comentário que ouvi. E daí? A Comédia sempre foi um dos mais contundentes meios de crítica política. Talvez até o maior... MH

Arca do Tesouro


Theo da Cuica , Carlinhos Vergueiro e Dora Vergueiro:  Torresmo a milaneza

Fundador da Amazon compra o ‘Washington Post’ por US$ 250 milhões

Com o negócio, a família Graham encerra um período de oito décadas à frente da publicação, que é uma das mais tradicionais dos Estados Unidos

Filipe Serrano, de O Estado de S. Paulo

O tradicional jornal norte-americano Washington Post, responsável pelas denúncias que levaram à queda do presidente Nixon, em 1974, no escândalo conhecido como Watergate, foi comprado pelo fundador e presidente executivo da Amazon, Jeff Bezos por US$ 250 milhões. Esse é o primeiro grande investimento do executivo fora do meio digital.







(...) Legado. A compra por parte de Bezos encerra o período de oito décadas em que a família Graham esteve à frente do tradicional jornal norte-americano, desde que a publicação foi comprada pelo investidor Eugene Meyer depois que o jornal tinha ido à falência, em 1933.

O Post, fundado em 1877, ficou marcado na história pela série de reportagens, publicadas a partir de 1972, sobre escândalo do Watergate, dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein. O caso terminou, dois anos depois, com a renúncia do presidente Richard Nixon. "Todos na Post Company e todos em nossa família sempre tivemos orgulho do Washington Post - do jornal que publicamos e das pessoas que o escrevem e o produzem", disse Don Graham, neto de Eugene Meyer, presidente do conselho e CEO da Washington Post Company. Ele continuará no cargo.

O jornal é visto como um dos mais influentes e admirados dos EUA, ao lado do New York Times, mas sua situação financeira foi agravada nos últimos dez anos por causa do declínio das receitas com publicidade e de leitores.

Leiam a íntegra em O Estado de S. Paulo


********

Obs -  É sempre triste quando um bom jornal fecha. E o Washington Post não era só um bom jornal, era uma escola de bom jornalismo. Uma pena, literalmente.

Como disse um amigo que também nasceu em 1937, começam a fazer de tudo para que não soframos tanto assim na hora de deixar o mundo: ele está ficando tão desinteressante...

Quando um é igual a zero, por David Uip

Qualquer médico brasileiro precisa comprovar o domínio do inglês para estagiar nos EUA, por exemplo. A conversa com o paciente é fundamental

Em 1973, aluno da Faculdade de Medicina do ABC, como voluntário e depois como subcoordenador de saúde do Projeto Rondon, no campus avançado de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), senti de perto a total falta de estrutura para a prestação de assistência médica de qualidade a um povo já sofrido.

Tivemos que fazer um parto em plena estrada de terra, pois o serviço de saúde era distante, as condições da rodovia eram terríveis e não havia mais tempo.
Éramos um grupo de entusiastas, mas sempre sob supervisão acadêmica. Ninguém estava ali se não pela sua própria vontade.

Em 1976, já residente da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, continuei no Projeto Rondon, em Marabá (PA). O atendimento às populações ribeirinhas ocorria após uma linda travessia de barco seguida por uma esburacada e longa estrada.

Há 11 anos, convidado pelo governo de Angola, coordeno projetos de prevenção à transmissão vertical do HIV e de biossegurança nos hospitais nacionais. Chegamos lá logo após o fim de uma guerra civil. Ajudamos a qualificar os recursos humanos locais para prestar assistência aos doentes, por meio de treinamentos e intercâmbios.

Essa experiência de décadas me permite dizer, categoricamente, que não se resolve a carência de médicos no interior do Brasil contratando profissionais estrangeiros sem revalidação do diploma ou exame de proficiência em língua portuguesa.

Qualquer médico brasileiro precisa comprovar o domínio do inglês fluente se quiser estagiar nos Estados Unidos, por exemplo. Na atenção primária em saúde, a conversa com o paciente é fundamental.

Nos rincões brasileiros, a carência de estrutura dos serviços de saúde, sem contar a questão do acesso, ainda é, infelizmente, uma realidade. É preciso condições adequadas de trabalho e a possibilidade de crescimento em termos de carreira e qualificação. Nenhum médico hoje ficará satisfeito simplesmente em razão do salário.

Preocupa do mesmo modo a proposta do Ministério da Educação em relação à extensão dos cursos de medicina, com residência compulsória no Sistema Único de Saúde.
Não foi estabelecido de que forma esses alunos serão monitorados à distância ou qual faculdade tem corpo docente suficiente e capacitado para ensinar nas salas de aula e monitorar alunos à distância, simultaneamente.

Se não forem elevados os recursos destinados para a área da saúde, não se fará política pública neste país.

O Instituto de Infectologia Emílio Ribas forma residentes para o país inteiro. Vejo jovens dispostos, que mantêm o romantismo pela profissão e são bem qualificados, mas não encontram condições mínimas de trabalho em muitos lugares.

O Brasil já avançou bastante nas últimas décadas em saúde pública. A população hoje vive mais e com maior qualidade. Ainda temos muito para avançar na área de ensino, pesquisa e qualificação em medicina. Queremos médicos brasileiros, e até mesmo estrangeiros, com condições adequadas para proporcionar saúde à população.