domingo, 16 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Barômetro: um aparelho engenhoso que indica o tipo de tempo que estamos tendo.
Ambrose Bierce

Fim de Tarde


I'm Getting Sentimental Over You
por Oscar Peterson, Joe Pass e Ray Brown

Para a Hora do Chá

Amor Bastante

quando eu vi você 
tive uma idéia brilhante 
foi como se eu olhasse 
de dentro de um diamante 
e meu olho ganhasse 
mil faces num só instante 

basta um instante 
e você tem amor bastante 

um bom poema 
leva anos 
cinco jogando bola, 
mais cinco estudando sânscrito, 
seis carregando pedra, 
nove namorando a vizinha, 
sete levando porrada, 
quatro andando sozinho, 
três mudando de cidade, 
dez trocando de assunto, 
uma eternidade, eu e você, 
caminhando junto


Paulo Leminski

A palavra é de... Carlos Brickmann

Os anônimos, os invisíveis.

Quem comanda os manifestantes? Sabe-se pouco deles, exceto que pertencem a variados grupos de esquerda. Quem, em São Paulo, foco da crise, comanda os agentes que os enfrentam? Ninguém: durante a maior parte do tempo em que a cidade parou, prefeito e governador ficaram em Paris, sofrendo as agruras de estar longe de casa, em campanha para que São Paulo seja escolhida, daqui a cinco meses, para sede de uma exposição que se realizará daqui a sete anos.

Na terça, noite de tumultos, o governador tucano Geraldo Alckmin e o prefeito petista Fernando Haddad estavam juntos, jantando com as esposas, preocupadíssimos com São Paulo, na Embaixada brasileira em Paris. Ambos os casais se hospedaram no ótimo e caro Hotel Matignon. Nem Haddad nem Alckmin pensaram em voltar ao Brasil para enfrentar a crise. Como ensina a clássica canção americana April in Paris, é irresistível a primavera em Paris.

Na rebelião de maio de 68, o general De Gaulle foi para a TV e, num discurso histórico, reverteu a maré política. Mas De Gaulle estava em Paris a serviço.

Seria essencial a presença de Alckmin e Haddad na França? Não: nenhum dos dois tem imagem que reforce a candidatura paulistana. Poderiam ter enviado Guilherme Afif para a Europa. Se Afif é vice do tucano e ministro do PT, poderia acumular mais dois cargos e representar tanto Haddad quanto Alckmin. Se Haddad e Alckmin estivessem em São Paulo, teriam resolvido algo? Provavelmente não; mas pelo menos estariam no posto para o qual foram eleitos. 




April in Paris, por Billie Holiday

Saul Bass, um grande artista gráfico


Os créditos na abertura do filme 'Casino Royale' viram, pela arte de Saul Bass, uma pequena obra-prima. Todas as aberturas de filmes  criadas por ele são brilhantes, como por exemplo a do excelente 'A Volta ao Mundo em 80 Dias' e o desenho de 'Deu a Louca no Mundo". Saul Bass foi um grande artista.

Arca do Tesouro

Pintura:  Alguns Círculos, por Wassily Kandinsky (1926)

Impossível falar em Kandinsky sem falar na extraordinária experiência que foi a Staatliches-Bauhaus (“casa estatal de construção”, mais conhecida por Bauhaus) escola de design, artes plásticas e arquitetura, que funcionou na Alemanha entre 1919 e 1933. A Bauhaus foi uma das maiores e mais importantes expressões do que é chamado Modernismo, sendo uma das primeiras escolas de design no mundo.

Walter Gropius, o grande nome da arquitetura alemã do século XX, fundador da Bauhaus, convidou Kandinsky para lecionar ali, na cadeira “Pintura Mural”. O pintor, ao mesmo tempo que lecionava, desenvolvia pesquisas sobre materiais e diferentes meios de amalgamá-los. E cuidava de expor seus trabalhos. Fez sete exposições enquanto em Weimar, cidade sede da Bauhaus, muitas conferências, e publicou ensaios sobre temas relacionados à pintura.

Mas nem tudo foi tranquilo nessa fase. Em 1924, ele se afasta da escola e funda, com Paul Klee, Feininger e Jawlensky, o grupo “Die Blaue Vier” (Os quatro azuis). Em 1925, quando a Bauhaus é transferida para Dessau, tem início sua segunda fase na escola, que seria muito rica. A sede da escola é magnífica, inclusive com moradia para os mestres.

Kandinsky e Klee, e suas famílias, eram vizinhos. Pediram, e Gropius concordou, que fosse introduzido no currículo um Curso de Pintura Livre, onde ambos puderam continuar suas investigações sobre pintura. É preciso ressaltar que a sólida amizade, a dedicação ao ofício e o fato de um admirar sinceramente a arte do outro, não fez com que seguissem os mesmos caminhos. Criaram mundos inteiramente distintos.

Em 1926, o primeiro número da revista “Bauhaus” é dedicado a Kandinsky, por ocasião de seu 60º aniversário. Gropius é demitido por picuinhas políticas, a Bauhaus passa a ser dirigida por Hannes Meyer, e de 1928 a 1931, conhece uma fase de intensa politização dos estudantes.

Meyer tinha aversão ao esteticismo, o que dividiu alunos e mestres. Kandinsky e Klee viram–se expostos a ataques violentos. Meyer foi demitido e Ludwig Mies Van der Rohe, outro grande arquiteto, a pedido de Gropius, aceita dirigir a Bauhaus, que transforma numa escola exclusivamente dedicada à arquitetura.

Klee vai ensinar na Academia de Belas Artes de Düsseldorf, enquanto Kandinsky aos poucos larga a atividade de docente. Em 1932, a Bauhaus foi transferida para Berlim; por conta de uma forte campanha de difamação feita pelos nazistas, a escola é fechada após encontrarem material comunista em suas instalações. O mundo, mais uma vez, saiu perdendo por causa de fanáticos...




“Alguns Círculos” é a imagem de hoje. “O círculo”, segundo Kandinsky, “é a síntese das grandes oposições. Combina o concêntrico e o excêntrico em equilíbrio e numa única forma. Das três formas primárias, é a que aponta mais claramente para a quarta dimensão”.


Óleo sobre tela, 140,3 x 140,7cm

Acervo Museu Guggenheim, Nova York

Fontes: www.guggenheim.org
Encyclopedia Britannica


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Da seção Obra-Prima do Dia publicada originalmente no Blog do Noblat (28/01/2010)

A Palavrinha do Joseph Blatter


Surpresa com as vaias para dona Dilma no Mané Garrincha, em Brasília? Nenhuma. 
A única surpresa foi a atitude do Joseph Blatter.
Ingenuidade? Custo a crer.
Burrice? Não, nem de longe...
Malícia? Bem, em se tratando de bons inimigos cordiais, pode até ser.
Mas o que sei é que mal ele começou o puxão de orelha nos brasileiros, senti que a vaia ia chegar a Zurich sem a ajuda da tecnologia.

Marli Gonçalves

No Limite

Não foi só aqui, ali, que os rojões estouraram e que vêm há algum tempo surgindo revoltas, algumas mais criativas, outras mais violentas, explicáveis ou não, atrasadas ou não. É tendência, certa modinha até. Coisas dos tempos, dirão alguns, coisas do fim dos tempos, dirão os mais pessimistas.
A verdade é que há saturação - e cada vez mais rápida. E os nossos limites estão ficando a cada dia mais estreitos, basta se dar conta do que ocorre ao redor para perceber. Quando as coisas saem do limite, explodem. Daí uma manifestação que reclama de centavos se tornar um problema e ganhar o mundo, assim como uma tese no fundo maluca e inverossímil, a dos transportes coletivos gratuitos. Ou alguém aí acha que dá para acolher essa luta em sã consciência? Vamos tirar o dinheiro de onde? Do meu, não exatamente bolso, não, nem pense.

Mas pouco importa a lógica ultimamente. Jovens libertários fortemente armados com cartolinas coloridas e boas frases escritas com canetas hidrográficas, máscaras sofisticadas e se comunicando o tempo inteiro entre si, registrando cada segundo de seus próprios passos, são uma novidade por aqui e vão gostar da brincadeira, acreditem. Eles podem surgir apelando por qualquer coisa: inconscientemente estão tentando ir além dos tais limites.

As cidades, especialmente São Paulo, travam até em dias ensolarados. Não há onde colocar mais carros nas descuidadas ruas e avenidas sem planejamento e que entram em obras contratadas e feitas igual ao focinho dos governantes. Tudo é superlativo: muita gente, muita confusão, muita emoção. Daqui a pouco seremos mesmo "potes até aqui de lágrimas". Chorando, parados, em congestionamentos.

Vamos lá. Na moda não há mais o que inventar, a ponto de repetições surgirem uma atrás da outra, com nomes estilosos como vintage, releitura, inspirações muito próximas a cópias. Tudo tão antigo, mas que, como muitos não viram, as coisas são vendidas como o último grito, grandes rebeldias. Não é que tem até garoto de escola chique querendo andar de saia para zoar, sem tese precisa, e fazendo com que Flávio de Carvalho se revire no túmulo? Ele, sim, foi incisivo nos anos 50: "a saia e a blusa libertariam o homem moderno do calor", levando ventinhos especialmente para as partes baixas.

E comportamentos, então? Vamos à questão dos gêneros. Não há mais nenhuma letrinha para chegar, pelo menos que eu saiba, ao LGBTS, gays, lésbicas, transgeneros, travestis. Só simpatizantes, o S, ou quem sabe, os discordantes, infelicianamente, que ocupariam o D. O que ainda pode surgir, uma vez que a religião, também no limite, tentará regrar? Incesto, zoofilia, nem precisa. O comportamento humano é o que nunca terá limites.

O ar que respiramos está no limite. A água que bebemos está no limite. As sacanagens que fazemos com a Terra já atingem o espaço, o infinito. Os oceanos já buscam ultrapassar os limites que lhes impusemos, e vêm lambendo nossas costas, o que é trágico, pouco sensual. 


Foto G1

Tudo reflete na política, nessa aí onde não há mais nem direita nem esquerda, muito ao contrário, diriam alguns. Democratas viram ditadores em minutos. Modernos e queridinhos transformam-se em monstros com qualquer estalar. Gente boa aplaude espionagem de nossas vidas privadas. E tudo aquilo que nos juraram que jamais ocorreria de novo, os horrores de guerra, os líderes de turbas e métodos sanguinários, todos os dias estampam jornais e chegam mais perto de nossas portas. 


Estamos porrrrr aqui. Mas vamos tentar sempre ultrapassar os limites, porque ainda não os estamos vendo claramente.


São Paulo, flamejante, 2013

Marli Gonçalves é jornalista - Assistindo ao transbordo. Porque o limite não é o fim.

Olá! Bom Dia!


Paulinho da Viola canta Onde A Dor Não Tem Razão