terça-feira, 18 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Aquilo que parece o máximo do absurdo numa geração muitas vezes na próxima se torna o máximo da sabedoria.
John Stuart Mill

Fim de Tarde


Ray Charles canta 
I Can't Stop Loving You

Para a Hora do Chá


Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

A palavra é de... Ricardo Setti

Como se protesto algum estivesse acontecendo nas ruas do país, Renan resolve gastar rios de dinheiro para divulgar imagem dos senadores em seus Estados. Entre outras coisas, serão instalados novos canais da TV Senado em 10 capitais



Renan Calheiros (Foto: Ag Senado)

Foto: Agência Senado

Até parece que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, vive em Marte.

Num momento em que protestos contra aumento de passagens de ônibus em várias cidades se espalham para outras e passam a abarcar várias outras mazelas do país, e num período em que o prestígio dos políticos está péssimo nas pesquisas de opinião pública, ele resolve gastar uma dinheirama para “divulgar o trabalho” dos senadores — e, claro, dele próprio — nos Estados.

O Senado já sustenta uma enorme máquina de divulgação: tem uma emissora de TV, uma emissora de rádio, uma agência de notícias e um jornal, que empregam mais de mil pessoas. Isso, porém, para o senador, parece pouco. Leiam a reportagem abaixo e tirem vocês mesmos suas conclusões:

Renan cria máquina de divulgação nos Estados

Por Débora Álvares e Ricardo Brito, do jornal O Estado de S. Paulo

Numa cruzada para expandir a exposição do trabalho dos parlamentares pelo país, especialmente nos seus Estados, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acelerou o ritmo de implantação de veículos oficiais de comunicação da Casa.

Ao custo de mais de 15 milhões de reais somente neste ano, Renan quer montar uma máquina de comunicação com o aumento da presença da TV e da Rádio Senado.

Essa operação ocorre no momento em que o presidente alardeia que enxuga custos, com previsão de economia de 316 milhões de reais em dois anos.

A previsão é que, com a compra de equipamentos para a instalação de novos canais de televisão em 10 capitais, todos dotados de tecnologia digital, o Senado gaste 12,7 milhões de reais em 2013. A Casa também custeará, por mais de 2,5 milhões até o final do ano, a aquisição de transmissores de rádio em nove Estados.


Leia mais no Blog de Ricardo Setti de 17/06/2013

Saindo do berço esplêndido com Guga Noblat, repórter do CQC


São Paulo, 17 de junho de 2013: um dia para ficar gravado. 

Arca do Tesouro

Um azulejo encontrado em Toledo...





Enviado por pfli para o Navetta* em 27.7.2010

Palavrinhas..s

Palavras de Dilma Rousseff, presidente da República:

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff considera que as "manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia". A afirmação de Dilma foi transmitida nesta segunda-feira, 17, pela chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Helena Chagas, segundo a qual a presidente ainda afirmou que é "próprio dos jovens se manifestarem


Palavras de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República:

Gabriel Manzano - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Desqualificar os protestos dos jovens em São Paulo e outras capitais "como se fossem ação de baderneiros" constitui, na avaliação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "um grave erro". Para ele, "dizer que (essas manifestações) são violentas é parcial e não resolve".




(Rebelo e Blatter na sede da FIFA, Zurich, em 19 de março de 2013)


17/06/ 2013:  Palavras de Joseph Blatter, da FIFA:
(...)  "Vocês verão que hoje é o terceiro dia de competição e isso irá se acalmar", insistiu. "Será uma grande competição", disse Blatter. "O futebol é mais forte que a insatisfação das pessoas. Eu disse a Dilma e Aldo (Rebelo) que temos confiança neles. Uma vez que a bola rolar, as pessoas vão entender e isso vai acabar", afirmou.


17/06/2013:  Palavras de Aldo Rebelo, ministro dos Esportes
"Quem achar que pode tentar impedir (a realização dos jogos) enfrentará a determinação", bradou Rebelo. "O governo assumiu como responsabilidade e honra acolher esses dois eventos internacionais e vai realizá-los oferecendo segurança e integridade aos torcedores e turistas."

(...) Um jornalista do veículo que organiza um congresso sobre negócios e futebol no Rio abordou o ministro sobre a importância de a Copa do Mundo deixar um legado concreto para o Brasil e a população. Rebelo preferiu comemorar o lado lúdico da questão.

"O maior legado que a Copa deixará é a alegria do povo brasileiro em acolher uma competição como essa", discursou o político, para em seguida destacar a geração de empregos que a construção de estádios, hotéis e reformas de aeroportos proporcionaram.

O ministro também comentou sobre o atraso nas obras de infraestrutura prometida para a Copa de 2014. Ao receber a pergunta sobre o tema, Rebelo arregalou os olhos e encheu os pulmões de ar, preparando-se para a resposta. Saiu-se assim: "Todas as obras que constam da matriz de responsabilidade serão concluídas dentro do prazo. As que não forem concluídas serão retiradas da matriz", disse Rebelo, arrancando risos. E completou: "Vão (imprensa) dizer que as obras não vão ficar prontas e nós (governo) vamos dizer que vão. Eu sou o burocrata que tem que dizer isso."


Palavras da MH:
O ministro dos Esportes é muito divertido.

Ricardo Noblat

E eles saíram do Facebook

O que distingue a época em que eu corria dos PMs montados a cavalo nas ruas centrais do Recife, desta quando escrevo sobre os jovens vítimas da violência da PM de São Paulo, é que há 45 anos vivíamos sob o tacão da ditadura militar inaugurada em  março de 1964 e só concluída formalmente em março de 1985. De resto, agora como antes, o que os jovens tentam fazer é somente política. E nada mais.

Aqueles obrigados a conviver com a ditadura eram chamados pelas autoridades de subversivos, comunistas e, mais tarde, terroristas. Assim também eram apresentados pela imprensa em geral.

Enfrentavam a repressão com paus e pedras e derrubavam cavalarianos com bolas de gude.

Até dezembro de 1968 apenas apanhavam e eram presos por pouco tempo. Dali para frente passaram a ser torturados e mortos.

Muitos eram "filhos órfãos de pais vivos - quem sabe... Mortos, talvez... Órfãos do talvez e do quem sabe".

Ou de "viúvas de maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe e do talvez", como denunciou o cearense Alencar Furtado, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, em discurso que lhe custou o mandato cassado em junho de 1977 pelo presidente-general Ernesto Geisel.

Um objetivo unificava as diversas tendências e organizações que atraíam os jovens: a luta pela liberdade.

Quando a ditadura tirou a máscara e exibiu sua carranca medonha, os jovens se dividiram entre duas formas de combatê-la: pela via legal do prudente exercício cotidiano da política e pela via armada.

Quando a ditadura chegou ao fim, os que ainda eram jovens foram terminar seus estudos e cuidar da vida.

O ambiente estudantil, as entidades juvenis que restaram e os partidos que passaram a atuar livremente depois da redemocratização do país foram incapazes de seduzir as gerações que sucederam àquelas sacrificadas ou brutalizadas pela ditadura de 64.

Quem se encarregou de fazê-lo foi a sociedade de consumo com todas as suas formidáveis invenções. Os jovens só se animaram a sair às ruas para ajudar a derrubar Collor e a eleger Lula. Desanimaram ao vê-los mais adiante de mãos dadas como bons aliados.

As redes sociais começaram a funcionar como seu ponto de encontro e sua tribuna.

Manifesto eletrônico tomou o lugar dos antigos abaixo-assinados. Nunca se produziu tanto manifesto como nos últimos 10 anos. Basta colar ali o nome previamente digitado e sair para a balada.

Ainda é assim. Talvez ainda seja assim por muito tempo. Talvez esteja deixando de ser assim. É cedo para saber. E, no entanto...




No período de apenas uma semana, alguns milhares de jovens marcharam pelas ruas de uma dezena de cidades protestando contra o aumento das passagens de ônibus, os milionários gastos públicos com a Copa do Mundo, e o Estatuto do Nascituro.

Foram recepcionados com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, balas de borracha e policiais furiosos capazes de baixar o cacete em quem apenas a tudo assistia assustado.

O epicentro dos protestos foi a capital de São Paulo. Ali, e em mais três ou quatro capitais, esta noite promete novos confrontos entre o novo e o velho, o aprendiz e o sabe tudo, o insatisfeito e o conformado.

Pouco importa que os jovens disparem suas exigências em todas as direções sem  priorizar nenhuma, que careçam de líderes amadurecidos, e que acolham em seu meio uma minoria de baderneiros e de vândalos.

Desde quando foi diferente no passado?

Somente a experiência ensina. E não há porque imaginar que os jovens de hoje não aprenderão.

Por mais legítimo que seja, o poder existe para ser contestado. Se não for pode virar tirania.

A natureza do poder é conservadora.

A natureza da rebeldia é destrutiva.

O progresso social e humanístico é filho legítimo do eterno confronto entre a rebeldia e o poder.

Que assim seja!


Transcrito do Blog do Noblat (17.6.2013)
(Ilustração extraída do Facebook Sou Designer)

Olá! Bom Dia!


Slow Blues, com Oscar Peterson e Count Basie