quinta-feira, 6 de junho de 2013

Palavra da Coruja


A vida é o que acontece com você enquanto você está ocupado fazendo outros planos.
John Lennon

Fim de Tarde


Les Mensonges 


Lorsque tu me regardes
Je le vois bien, c'est vraiment vrai
Que ton regard s'en va
Et passe à travers moi
Pour se perdre au-delà de moi
Et quand je te demande
Sans cesse à quoi tu songes
Crois-tu que je n' sens pas
Que tu me réponds des mensonges ?

Sais-tu que j'aime tes mensonges ?
Sais-tu que j'aime tes mensonges ?

Tu peux baisser les yeux
Ébouriffer mes ch'veux
Et dire ce que tu veux
Je n' te crois pas

Quand tu m'embrasses moi
Je me dis mais oui c'est pourtant vrai
Tant qu'il m'embrasse moi
C'est toujours ça de pris
Puisque tout passe et que tout lasse
Et quand tu me souris
D'un air distrait, c'est vrai
Crois-tu que je n' vois pas
Que tu penses à tout sauf à moi ?

Sais-tu que j'aime tes mensonges ?
Sais-tu que j'aime tes mensonges ?

Tant que tu mentiras
C'est que tu tiens à moi
Comme moi je tiens à toi
Bien malgré toi

Mais tu ne le sais pas
je le sais c'est pourtant vrai
Que toi tu es comme ça
Car moi je te connais
Et toi tu ne te connais pas
Je ne vis que pour toi
Tu ne vis que par toi
Et pourtant toi sans moi
Ça n' marcherait pas, tu n' t'en doutes pas ?

Sais-tu que j'aime tes mensonges ?
Sais-tu que j'aime tes mensonges ?

Tant que tu m' tromperas
Et que tu reviendras
C'est que tu n' pourras pas
Te passer d' moi

J'aime ta duplicité
Hélas, hélas, c'est pourtant vrai
Crois-tu que je n'entends pas
Quand tu m'appelles moi
De toutes sortes de nouveaux prénoms ?
Si tu me quittes un jour
Ne t'en fais pas, c'est vrai
Moi, je disparaîtrai
Tu n'entendras plus parler d' moi

Je regretterai tes mensonges
Je regretterai tes mensonges

Continue de mentir
Non, ne t'en prive pas
Car moi, je ne peux pas
Vivre sans toi
Car moi, je ne peux pas
Vivre sans toi

Para a Hora do Chá


A cestinha de costura

Para o livrinho de D. Brasília Vieira

 Não quero panteons não quero mármores
 Não sonho a Eternidade fria, escura...
 Minha glória ideal é o quente abrigo
 De uma pequena cesta de costura.

 À sombra dos terraços florescentes 
 Entorna a violeta a essência pura: 
 Flores d'alma recendem mais fragrância 
 Numa pequena cesta de costura.

 Batida pelos corvos da procela,
 A pomba a era tímida procura:
 Pousa minh’alma foragida as asas
 Nesta pequena cesta de costura.

 Astros que amais a espuma das cascatas!...
 Orvalhos que adorais do lírio a alvura!
 Dizei se há menos lânguidos arminhos
 Nesta pequena cesta de costura.

 Nesse ninho de fitas e de rendas...
 No perfume sutil da formosura...
 Vão meus versos viver de aroma e risos
 Entre as flores da cesta de costura.

 E quando descuidada mergulhares
 Esta mão pequenina, santa e pura,
 Possam eles beijar teus níveos dedos
 Escondidos na cesta de costura.


Castro Alves

'Se os fatos são contra mim, pior para os fatos'

     A televisão matou a janela.

     Amar é dar razão a quem não tem.

     Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.




     O adulto não existe. O homem é um menino perene.

     O Brasil é muito impopular no Brasil.

     Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.





  O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.

       Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo podia-se andar nu.

       Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas.



                   
      Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos.


Nelson Rodrigues, pensador, dramaturgo, jornalista, cronista, Fluminense, frasista genial. Recife,1912/Rio de Janeiro,1980

Arca do Tesouro

Garrincha não pensa

Amigos, estou diante de um problema, que é o seguinte: — Garrincha foi, há pouco tempo, meu personagem da semana. Poderei repeti-lo sem irritar os leitores? Eis a verdade, porém: — não se trata de escolher, de optar. Ontem, só houve em campo um nome, uma figura, um show: — Garrincha. 

Os outros três campeões do mundo estavam lá também. Mas Didi, Zagalo e Nílton Santos pertencem à miserável condição humana. São mortais e suscetíveis de todas as contingências da carne e da alma. Jogaram por honra da firma e por um dever contratual. Estavam exaustos e no extremo limite de suas resistências emocionais e atléticas. Garrincha, não. Garrincha está acima do bem e do mal.

O problema de forma física e técnica não existe para ele, nunca existiu. Como os três outros campeões mundiais do Botafogo, ele foi massacrado por apoteoses consecutivas. Desde Brasil x Suécia que o “seu” Mané está em vigília permanente. E, no entanto, vejam vocês: — apareceu em campo com uma disposição vital esmagadora. Ninguém mais ágil, mais plástico, mais alado. Em campo, desde o primeiro minuto, foi leve como uma sílfide.

O futebol era, nesta terra, um esporte passional, sombrio, cruel. O torcedor já entrava em campo vociferando: — “Mata! Esfola!”. Ontem, porém, no Botafogo x Fluminense*, sentiu-se uma curiosa reação: — Garrincha trazia para o futebol uma alegria que começou dez dias depois da Copa da Suécia, durante os quais os campeões do mundo foram submetidos a um festival de homenagens inédito. 

Quando ele apanhava a bola e dava o seu baile, a multidão ria, simplesmente isto: — ria e com uma saúde, uma felicidade sem igual. O jornalista Mário Filho observou, e com razão, que, diante de Garrincha, ninguém era mais torcedor de A ou de B. O público passava a ver e a sentir apenas a jogada mágica. Era, digamos assim, um deleite puramente estético da torcida.

Aconteceu, então, o seguinte: — foi-se assistir a um jogo e viu-se Garrincha. No fim, já as duas torcidas queriam apenas que Garrincha apanhasse a bola e começasse a fazer as suas delirantes fantasias. Então, aplaudiam nas arquibancadas, cadeiras e gerais, com uma euforia de macacas-de-auditório. 

Por exemplo: — o meu caso. Eu estava lá, como pó-de-arroz nato e hereditário, para torcer pela vitória do Fluminense e contra a vitória do Botafogo. Súbito começo a exultar também. Diante de cada jogada de Garrincha, eu experimentava a alegria que as obras-primas despertam.

E, no entanto, vejam vocês: — chamavam este homem de retardado! Só agora começamos a fazer-lhe justiça e a perceber a sua superioridade. Comparem o homem normal, tão lerdo, quase bovino nos seus reflexos, com a instantaneidade triunfal de Garrincha. Todos nós dependemos do raciocínio. Não atravessamos a rua, ou chupamos um Chica-bon, sem todo um lento e intrincado processo mental. Ao passo que Garrincha nunca precisou pensar. Garrincha não pensa. Tudo nele se resolve pelo instinto, pelo jato puro e irresistível do instinto. E, por isso mesmo, chega sempre antes, sempre na frente, porque jamais o raciocínio do adversário terá a velocidade genial do seu instinto.

No segundo tempo, quase não lhe deram bola. E aconteceu o inevitável: — o Botafogo caiu verticalmente. O Fluminense podia ter empatado, até. Mas ficamos num joguinho platônico, um futebol inofensivo, de passes para os lados e para trás. Resta saber: — de quem é a culpa? De uma indigência de recursos táticos? Ou faltou-nos um Garrincha, com suas penetrações fulminantes, as suas geniais invenções? No primeiro tempo, botafoguenses e tricolores punham as mãos na cabeça: — “Isso não existe!”.

Eu falei, mais atrás, que ele foi, na sua agilidade, algo de muito leve, de muito etéreo. De fato, na etapa inicial, Garrincha deu uma bicicleta de sílfide. Terminado o jogo, saímos do estádio com a ilusão de que tínhamos visto não um jogo, não dois times, mas uma figura única e fantástica: — Garrincha, o meu personagem da semana.


Nelson Rodrigues
*Botafogo 2 x 1 Fluminense, 10/7/1958, no Maracanã. O campeonato carioca

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Transcrito do site do Botafogo que por acaso é o time do meu filho e, por isso mesmo, o meu. MH

Isabel Coutinho

Se você, leitor, assistiu ao filme Afirma Pereira, com o grande, o insubstituível Marcello Mastroianni no papel de um velho jornalista lisboeta, e se emocionou como eu, há de gostar de ler esta crônica que transcrevo do jornal português "Público":

Sardinhas decapitadas

Quando penso no escritor ital­iano Anto­nio Tabuc­chi, vem-me à memória a imagem de Mar­cello Mas­troianni, solitário, sen­tado num banco de uma estação de com­boios por­tuguesa enquanto esper­ava a ordem do real­izador, Roberto Faenza, para que entrasse em mais uma cena de Afirma Pereira.


O filme foi rodado em Por­tu­gal em 1994 e o jor­nal enviou-me, em reportagem, para as fil­ma­gens. Não me lem­bro se tro­quei com Anto­nio Tabuc­chi impressões sobre essa memória indelével que me ficou de Mas­troianni inter­pre­tando o velho jor­nal­ista do ves­per­tino Lis­boa, mas, sem­pre que abro uma lata de sardinhas, lembro-me do escritor ital­iano. É que devo a Anto­nio Tabuc­chi uma das ima­gens mais fan­tás­ti­cas que alguém já me deu da gas­trono­mia por­tuguesa.

Essa rev­e­lação acon­te­ceu em 1996, quando falei com ele por causa de um artigo para a revista de domingo do PÚBLICO sobre Alexan­dre O’Neill (1924–1986), de quem o ital­iano era muito amigo (o artigo chamava-se O Homem que tropeçava de ter­nura, foi pub­li­cado a 18 de Agosto de 1996).


Tabuc­chi contou-me que veio a Por­tu­gal em 1964–65 quando prepar­ava uma tese sobre a poe­sia sur­re­al­ista por­tuguesa e, no bolso, trazia moradas de int­elec­tu­ais por­tugue­ses. Um deles era o poeta Alexan­dre O’Neill. “Cheguei a casa dele e toquei à porta. Lev­ava uma carta de uns ami­gos ital­ianos. Alexan­dre estava a comer sardinhas em con­serva. Encontrava-se soz­inho em casa. Perguntou-me: ‘Queres comer sardinhas decap­i­tadas?’”, con­tou o escritor que traduziria depois para ital­iano poe­mas de O’Neill numa antolo­gia a que chamou Made in Por­tu­gal. Tal e qual como as sardinhas.


Nessa altura, Tabuc­chi lem­brou que era habit­ual um grupo de ami­gos reunir-se em casa de O’Neill para comer uma sardinhada. Depois, até às três da manhã, dis­cu­tiam lit­er­atura. Alexan­dre pegava nos livros de Guimarães Rosa e de João Cabral de Melo Neto e lia alto. “Lia de uma maneira mag­ní­fica, esplên­dida, com muita inten­si­dade. Ficá­va­mos ali a dis­cu­tir e, às duas da manhã, prop­unha: ‘Vamos comer bacal­hau com grão?’ — e lá se ia até ao Mer­cado da Ribeira.” Era uma época em que Lis­boa tinha tas­cas onde se podia comer por módi­cas quan­tias.


Tabuc­chi recor­dou tam­bém uma tarde pas­sada num piquenique: “Fomos fazer um piquenique nos arredores de Lis­boa, em Agosto. Ao pé de uma capela onde os ciganos se cos­tu­mam reunir para dar a bênção aos ani­mais. Fica num pin­hal muito bonito. O Alexan­dre era muito boémio e gostava destas ciganadas. Naquele dia, estavam o pro­fes­sor de História de Arte Hel­mut Wohl, a sua mul­her Alice e o poeta Ruy Cinatti, que fez um número teatral mag­ní­fico. A certa altura, aproximou-se uma cigana que lhe começou a ler a sina, falando uma lín­gua incom­preen­sível. E o Cinatti começou a con­ver­sar com ela num dialecto dele, que era com­ple­ta­mente inven­tado, e falaram durante meia hora. Pare­cia que os dois se enten­diam per­feita­mente.” 


Os anos pas­saram. Lis­boa não é a mesma. O’Neill, Mas­troianni e Anto­nio Tabuc­chi par­ti­ram. Mas as suas histórias ficam.

(Crónica Porque hoje é domingo, pub­li­cada na revista 2, no dia 1 de Abril de 2012)

Transcrito do Blog Ciberescritas (04/06/2013) 

Palavrinha

A insegurança está cada dia mais aflitiva. Quase não há espaço nos noticiários para outras notícias que não sejam assaltos, sequestros relâmpagos, mortes. Crimes, muitos crimes.

E os acidentes de trânsito? O excesso de velocidade? A falta de controle? Será que os motoristas que perderam a carteira nunca mais dirigiram? Será?

Outra notícia que acabo de ouvir: nas áreas ribeirinhas do Pará há milhares de crianças sem registro. E não é essa geração, não: tal qual a aristocracia, isso já vem de pai para filho desde o século passado...

No Pará,
parece que são mais de 80 mil crianças sem registro. No país, mais de 600 mil!

Às vezes eu me pergunto se o Brasil todo já entrou no século 21.



Olá! Bom Dia!


A orquestra de Harry James interpreta Don't Be That Way