sábado, 25 de maio de 2013

Palavra da Coruja


Nada transforma tanto a opinião que você tem de um amigo quanto o sucesso - seu ou dele.
Franklin P. Jones 
(jornalista e colunista da 'Saturday Evening Post' nas décadas de 40 e 50 do século XX)

Fim de Tarde


 Charles Aznavour interpreta Les Deux Guitares
 Opéra Garnier, Paris, 2008


Deux guitares en ma pensée
 Jettent un trouble immense
 M'expliquant la vanité
 De notre existence
 Que vivons-nous?
 Pourquoi vivons-nous?
 Quelle est la raison d'être?
 Tu es vivant aujourd'hui
 Tu seras mort demain
 Et encore plus après demain

 Aigh raz, ischô raz
 Ischô mnôguo mnôguo raz
 Aigh raz, ischô raz
 Ischô mnôguo mnôguo raz

 Quand je serai ivre-mort
 Faible et lamentable
 Et que vous verrez mon corps
 Rouler sous la table
 Alors vous pourrez cesser
 Vos chants qui résonnent
 Mais en attendant jouez
 Jouez je l'ordonne

 Aigh raz, ischô raz
 Ischô mnôguo mnôguo raz
 Aigh raz, ischô raz
 Ischô mnôguo mnôguo raz

Para Claudine et Tonton

Para a hora do chá


Testamento do Homem Sensato

Quando eu morrer, não faças disparates 
nem fiques a pensar: “Ele era assim...”
Mas senta-te num banco de jardim, 
calmamente comendo chocolates. 

Aceita o que te deixo, o quase nada 
destas palavras que te digo aqui: 
Foi mais que longa a vida que eu vivi, 
para ser em lembranças prolongada. 

Porém, se um dia, só, na tarde em queda, 
surgir uma lembrança desgarrada, 
ave que nasce e em vôo se arremeda, 

deixa-a pousar em teu silêncio, leve 
como se apenas fosse imaginada, 
como uma luz, mais que distante, breve. 


Carlos Pena Filho

Chutes no nosso Brasil, por Marli Gonçalves

Foram vários seguidos. Ela, com aquele jeito todo gracioso de andar, no meio do gramado, cercada de homens, pega a coitada da bola e chuta, inaugurando os estádios incompletos, para a foto, para acalmar aquele povo que queria chutar nossos traseiros e já funga no pescoço. Descobri um de nossos grandes problemas: os chutes. As coisas e obras e mudanças estruturais sendo chutadas o tempo todo para a frente ou para escanteio. Ou empurradas com a barriga. O chute, assim como o jeitinho, é coisa bem brasileira




Ora com a direita, ora com a esquerda. Sempre de rasteirinha. A presidente Dilma faz uma metáfora e tanto quando anda por aí chutando bola, inaugurando estádios, jogando para a torcida, correndo para a galera, e tentando nos convencer de que o país está preparado para o que der e vier. Para a Copa do ano que vem. Para essa Copa agora. Para as Olimpíadas. Para o papa, para o petróleo, para escoar a safra de grãos e desentupir os portos, para as crises econômicas do mundo todo, entre outras hecatombes, inclusive ambientais, que não devemos temer. Nada. A coisa está tão boa, mas tão boa, que dá para financiar hospital na Palestina, oferecer dinheiro na Etiópia, empregar médicos de Cuba, Espanha e Portugal. 

Simples assim. Chuta.


Aliás, o chute está bem na moda e espero que vocês tenham reparado. Finalmente ele ultrapassa o limite barato do chute a gol do futebol e avança corajoso entre nós. Não foi com um chute só que o Vitor Belfort derrubou o opositor, Luke Rockhold, outro dia? Um só. No queixo. Nocaute.


É tanto chute que os aeroportos e outros pontos do país estão sendo forrados de cartazes verde e amarelo bem ufanistas, e mais um slogan federal criado em selo e prosa: "Brasil 2014 - A Pátria de chuteiras". Chutaram até isso. Nelson Rodrigues, citado como inspiração para tal lampejo criativo, escreveu outra coisa. O título de sua coletânea de crônicas sobre o futebol é A Pátria em Chuteiras. Mas quem há de reparar? 


Só nós, chatos de plantão, que não vemos as coisas boas, o progresso da nação, a entrada de milhões num sei aonde, saídos de uma linha da miséria, patati, patatá, blábláblá. Deve ser só na nossa casa, nas imediações de nossas casas ou onde escolhemos para fazer compras, que a inflação está corroendo tudo, onde, inclusive, todos os produtos da cesta básica que anunciaram que iam baixar, subiram. Que a gente não precisa mais nem usar saquinho de plástico e não é para não poluir - compramos tão pouco que carregamos nas mãos.


Chutam índices, chutam previsões, chutam projetos e decretos goela adentro da sociedade e de sua base aliada que agora nem mais lê! Prá quê? Chutam indicações, chutam mais que cartomante bandida na frente de rico. Chutam nossa paciência e o pouco de orgulho que ainda nos resta.


Aí a coisa pega, igual dominó, e quando você vê, se dá conta, percebe quanta coisa é chutada. O pastor chuta a santa; anos depois, infelicianamente, vem outro pastor e chuta nossa inteligência sem dó. Chutam a previsão do tempo, os resultados do jogo, os números de tudo, das passeatas, marchas e inclusive os da violência que está nos chutando mais para dentro de casa que para fora, no campo adversário. Ficamos recuados, na defesa, em nossas áreas, rezando para ninguém entrar chutando e matando. 


Chutam as mulheres enquanto as estupram, vencidas.


Chutam as pessoas para intimidá-las, roubá-las nas ruas.


Estudantes chutam nas provas, e de repente acertam para continuar chutando em seus ofícios, ensinados aos chutes por professores que chutam o pau da barraca por causa de baixos salários. Chutam uns para os outros, como se a bola queimasse os pés, e ninguém quer estar com ela na hora do apito final, apontando-se uns aos outros, céleres, como dedos-duros, X-9: foi ele, não fui eu. Foi o outro governo, não o meu.


Chutam o pau da barraca, o cachorro morto e o cachorro vivo, que agora anda sobrando até para os coitadinhos, jogados de janelas, amarrados em linhas de trem, enterrados vivos por quem chuta qualquer coisa que apareça. Chutam latas, chutam macumba.


Chutam em inglês, espanhol, chinês, japonês. Chutam nosso português.


Chutam até que sabem o que estão fazendo. O problema real é nosso: nós é que não sabemos mais o que fazer para chutá-los para fora desse campo.


São Paulo, São Paulo, chutes e coices, 2013


Marli Gonçalves é jornalista - Não chuta, tropeça. Sempre tem um balde ou obstáculo à frente.


Aviso aos Navegantes

Amigos escrevem que estão com dificuldade para comentar. Mas a Eagle Mind, que recebeu esse apelido não foi à toa, matou a charada.

Quando quiser comentar, ao abrir a janela dos comentários, selecione Nome/URL ou Anônimo.  Claro que dessas opções Nome/URL é a melhor, para sabermos quem passou por aqui. E não se preocupem com a URL. Se você não tiver um site, tudo bem. Não há problema.

Qualquer coisa, tornem a reclamar. Um dia eles aprendem a tratar melhor os "clientes".

Da Arca do Tesouro

Conversa vai, conversa vem...


Notícias políticas não são, nunca foram, bom tema para conversa em reuniões ou festas.
A não ser entre amigos do peito, ou entre parentes que se amem... O carinho e o afeto amortecem os trancos.

Entre conhecidos ou companhias eventuais em um jantar ou numa sala de espera, o melhor é falar do tempo ou de flores.

Assim aprendi desde moça.

Mas a Internet mudou isso tudo, assim como transformou tantas outras coisas.

Aqui, graças a vocês, temos tido um ambiente saudável, falamos de tudo um pouco, e de política também, claro, já que é, em certo sentido, a nossa vida que está em jogo.

Sou destemida, a ponto de ser criticada por isso pelos que me querem bem. Mas há momentos em que tenho medo de certos comentaristas. Parece que estão com um pitbull prestes a lhes morder a bochecha!

Leio certos comentários lá na Nave-Mãe que me impressionam e fico espantada não só com a virulência dos ataques, como com a certeza que têm do que se passa na cabeça e na alma das pessoas. Sabe esse tipo que passa dois dias numa cidade estrangeira e volta fazendo análises não só da cidade como do pais onde esteve? É o que me lembro ao ver essas certezas...

Minha primeira reação é entrar de sola e responder enraivecida. Como podem se enfurecer com quem faz seu trabalho e dá as notícias do dia? Ou se queimar com o (ou a) articulista que emite sua opinião?

Afinal, como naquele célebre anúncio, nós vamos lá para que? Pra saber das novidades ou para brigar?

Vamos parar e pensar: quem quer ler somente o que lhe agrada, que vá procurar sua turma! Assim ficariam todos satisfeitos.

Para mim isso não serve.

Hoje é dia de confusão... teremos novas análises. É natural. Dia de debate... Ninguém quer se conformar com os resultados que aparecem no horizonte.

Apesar da campanha estar recém começando, não creio em grandes mudanças. Há muito acho que os fados estavam apontando para um lado...

Para quem pensa como eu, a campanha foi muito mal conduzida. Uma lástima.

Mas não vou me desesperar por isso. Como dizia um primo que já se foi, esse tipo de desespero é coisa de gente mal amada. Que não resolveu sua vida pessoal.

Um bom chocolate quente talvez ajude. E boa música, claro.


Palavra: se não fosse por determinadas frases (só duas... adivinharam quais?) ou pela  necessidade de dizer que esse texto vem da Navetta* ( 'Blog da MH que morava na Nave-Mãe'), duvido que fosse preciso dizer a data em que foi publicado: 18 de agosto de 2010. 

*explicação post das 09:30

A comissão de frente da mentira: quem teme a verdade sobre a ditadura?

O ministro, o general, o comissário?, por Luiz Cláudio Cunha
Especial para o Sul21




O Brasil descobriu nos últimos dias que a tropa de elite dos altos escalões da República que combate a verdade é mais forte e abusada do que se imaginava. Cerram fileiras ali, entre outros, o Ministro da Defesa, comandantes do Exército e da Marinha e até mesmo um dos sete ilustres membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que deve ser a primeira trincheira de seu resgate perante o país.

As fantasias foram rasgadas, de vez, com a apresentação em Brasília, na terça-feira (21), do balanço do primeiro ano de atividades da CNV. Ali, com gráficos e documentos inquestionáveis, a historiadora Heloísa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora da pesquisa da CNV, apresentou dados perturbadores sobre a repressão que marcou a ditadura de 1964-85. Entre eles, a grave acusação de que, em plena democracia, a Marinha mentiu para o Palácio do Planalto. Em 1993, o presidente Itamar Franco pediu dados sobre desaparecidos. A Marinha informou que os presos citados tinham fugido ou estavam sumidos. Baseada no cruzamento de 12.072 páginas do CENIMAR, o serviço secreto da Marinha, a equipe de pesquisa da CNV apurou que 11 pessoas daquela lista estavam mortas até dezembro de 1972 — e a Marinha sabia disso. Um dos mortos, cujo nome a Marinha sonegou a Itamar Franco, era o ex-deputado Rubens Paiva, preso e desaparecido em janeiro de 1971.

“É o primeiro documento oficial que diz que Rubens Paiva está morto. A Marinha brasileira ocultou deliberadamente documentos já no período democrático”, declarou Starling. A Marinha reagiu no mesmo dia, burocraticamente, sem desmentir a acusação e sem rebater o que revelam seus arquivos secretos: “Não há qualquer outro registro nos arquivos desta Força, diferente daqueles encaminhamos ao Ministério da Justiça em 1993”, gaguejou a Marinha, em sua inconvincente nota oficial.

Dias antes, quem tropeçou foi o Exército. No sábado, 11 de maio, o tenente-coronel André Alves, comandante do 2º Regimento de Cavalaria Mecanizada de São Borja (600 km a oeste de Porto Alegre) informou ao prefeito Farelo Almeida que o Exército não atenderia seu pedido para fazer a segurança do túmulo do ex-presidente João Goulart (1919-1976), filho ilustre da cidade e enterrado há 36 anos no cemitério local, o Jardim da Paz. A pedido da família Goulart, a CNV aprovou a exumação dos restos de Jango para esclarecer, com a ajuda de peritos internacionais, a suspeita de que o ex-presidente foi envenenado, no exílio, no marco da Operação Condor, a conexão repressiva que unia as ditaduras do Cone Sul na década de 1970.

O oficial de São Borja disse ao prefeito que o pedido fora avaliado e negado por seu chefe imediato, o general Geraldo Antônio Miotto, comandante da 3ºª Divisão de Exército, baseada em Santa Maria.




A alegação do general para a recusa soou sobrenatural: “A área não é jurisdição das Forças Armadas”. Estranho seria se fosse. Exércitos não existem para patrulhar cemitérios, embora a História mostre que eles costumem povoá-los com os mortos de guerras ou de golpes de Estado que eles patrocinam. O general definiu que a missão de vigilância cabia à Brigada Militar (a força pública estadual) ou à Guarda Municipal, esquecido que a questão central aqui não é a ‘área’, mas a missão que lhe incumbe neste caso dos restos mortais de Jango.

Leia a íntegra do artigo em Sul21


Luiz Cláudio Cunha é jornalista
cunha.luizclaudio@gmail.com

Palavrinha

*
Ontem, o Blog do Noblat, como acontece semanalmente desde agosto de 2005, publicou meu artigo.
Falava nos seis mil médicos que dona Dilma anunciou que pretende importar.

Não fiquei dolorida porque depois de tanto tempo já aprendi a não ligar para os coices e relinchos, na inteligente sacada de Nelsinho Motta.

Mas ainda me espanta a pachorra da maioria das pessoas em só agredir a pessoa que escreve. Não analisam ou criticam o conteúdo do texto. Olham o nome e a foto de quem assina o relambório e pronto: saem dizendo tudo que lhes vem à cabeça. E olha que nem me refiro ao pateta-mor, o Adolfinho que agora só usa ou nomes em inglês macarrônico, ou letrinhas a esmo. Coitado.


Nós, os que viemos do Blog da MH que morava na Nave-Mãe, como sempre estamos muito bem na fita. A Lilyane deu uma resposta que, em breves palavras, analisa perfeitamente meu texto e ainda diz o que pensa da ideia de dona Dilma. Copiei para os que não puderam ler ontem:

"Nome: Lilyane - 24/5/2013 - 19:57

"Dona, seu filho está com uma infecção pulmonar, porém sinto dizer que não temos remédios disponíveis no momento."

"Dona, seu filho está com lombriga. Não deixe de lavar os alimentos e, principalmente, não deixe de lavar as mãos depois de usar o banheiro".

- Dotô, nós não temo banheiro e a água é de balde lá do camião." 

"Então não posso fazer nada. Mas que eu diagnostiquei certinho, diagnostiquei."
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Surreal? Não, pra lá de real".

Que diferença do nobre que durante algum tempo pensei que era gente fina. Esse, indignado porque segundo ele não recebeu nem um aumento em 8 anos, teve a cara dura de dizer que FHC foi o pior presidente do MUNDO! Ele não faz por menos. Do Mundo! Como exagero, é um caso raro. Dá vontade de fazer campanha pela volta de FHC!!!


*
Tenho um pedido a fazer. Não posso passar o resto do tempo a dizer Blog da MH que morava na Nave-Mãe. Tive que batizar o pobrezinho. Passa a ser o Navetta. Assim, quando eu pescar um texto daquele blog, direi: publicado no Navetta em tanto do tanto. Valeu?

Olá! Bom Dia!



Too Close For Comfort
com Dianne Reeves e a Big Phat Band