domingo, 23 de junho de 2013

Palavra da Coruja


No momento, quem me representa é meu neto de 17 anos.
Nelson Motta
 (ao comentar o momento atual que vivemos em seu artigo "Mocidade Independente", publicado em O Globo, 21/06/2013)

Fim de Tarde


Basie Straight Ahead: Boris Big Band

Para a Hora do Chá


Pátria

 Por um país de pedra e vento duro
 Por um país de luz perfeita e clara
 Pelo negro da terra e pelo branco do muro
 Pelos rostos de silêncio e de paciência
 Que a miséria longamente desenhou
 Rente aos ossos com toda a exatidão
 Dum longo relatório irrecusável

 E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

 E pela limpidez das tão amadas
 Palavras sempre ditas com paixão
 Pela cor e pelo peso das palavras
 Pelo concreto silêncio limpo das palavras
 Donde se erguem as coisas nomeadas
 Pela nudez das palavras deslumbradas

— Pedra rio vento casa 
 Pranto dia canto alento 
 Espaço raiz e água 
 Ó minha pátria e meu centro

 Eu minha vida daria
 E vivo neste tormento

 Sophia de Mello Breyner Andresen

A palavra é de... Carlos Brickmann

Cartola na cabeça
(...)  Já a mulher mais poderosa do Brasil está silenciosa por outro motivo: nas palavras do grande Cartola, amigo de Carlos Cachaça, as rosas não falam.




O silêncio de ouro
O chanceler Antônio Patriota disse que o povo está ganhando mais e por isso se manifestou. Seu pensamento não revelou nada que já não se soubesse sobre ele, mas não precisava tornar tão explícito o vácuo que existe entre suas orelhas.


Constatação
A presidente e seus ministros reuniram-se no Palácio do Planalto, na sexta, para discutir a crise que já durava duas semanas.

Saíram e a sala continuou vazia.


O especialista
O governador do Rio, Sérgio Cabral, aquele que foi fotografado numa festança privada em Paris com amigos empreiteiros, todos com guardanapos na cabeça, suas esposas exibindo para as fotos caríssimos sapatos Louboutin, foi à TV dissertar sobre corrupção.

As emissoras de TV só procuram quem conhece o tema.


Bolsa-Copa
Na véspera de Dilma ser vaiada no Estádio Mané Garrincha, já com manifestações pipocando pelo país, foi publicado em edição extra do Diário Oficial a União, dia 14, o decreto 8.028/13, autorizando o pagamento de diárias a autoridades federais que queiram assistir aos jogos da Copa das Confederações.

A diária de hotel é de R$ 581,00 para ministros (mais verba para viajar a qualquer cidade-sede das partidas); para os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, é de R$ 406,70. Outros funcionários também têm direito a esse tipo de diária, embora menos substancial. Pelo decreto, a diária ainda pode ser duplicada.


O acusado
Aquilo que se conseguiu evitar durante duas semanas de confrontos entre manifestantes e policiais, a morte de alguém, acabou acontecendo em Ribeirão Preto, SP. Alexsandro Ichisato de Azevedo teve a prisão solicitada pela Polícia sob a acusação de avançar com seu carro, um SUV Range Rover, contra 13 manifestantes que ocupavam uma esquina, atropelando-os. Houve três vítimas: duas moças feridas, uma delas gravemente, e um rapaz morto, Marcos Delefrate, 18 anos. Ao que se saiba, não houve atrito anterior: os manifestantes pediram a Azevedo que retornasse; ele ameaçou avançar duas vezes e, na terceira, avançou e matou.




Leiam a íntegra do artigo "É a volta do cipó aroeira", na seção de artigos do site Brickmann & Associados

Viva Judah Ben-Hur!


A empolgante cena da corrida de quadrigas no filme de William Wyler, Ben-Hur (1959): Charlton Heston no papel de Ben-Hur e Stephen Boyd no de Messala.  É um grande filme. Inesquecível!

Não sei de ninguém que não tenha vibrado com a vitória de Ben- Hur. Deve existir, pois há de tudo neste mundo, mas eu, graças a Deus, não topei com tal figura. 

Arca do Tesouro

Engenharia - Castelo de la Mota (1080)

Castelos, fortes, cidades muradas, torres de vigia… Na Península Ibérica vira e mexe nos deparamos com belos exemplos da engenharia militar na Idade Média.

A queda do Império Romano seguida por séculos de hostilidades, invasões de visigodos e suevos; mouros ocupando a península; invasão de fundamentalistas vindos do Norte da África; litígios, roubos de rebanhos, tomada e apropriação de terras entre os senhores da guerra cristãos que lutavam contra os mouros mas também entre si – mais ou menos uns mil anos de conflitos que deixaram sua marca nas terras de Espanha e Portugal.




Um dos mais expressivos exemplos dessa época está na cidade de Medina del Campo, Valladolid, Espanha. É o Castelo de La Mota, ou a Alcazaba de la Mota (foto acima), que recebeu esse nome por estar no alto da colina, a mota, de onde dominava toda a região que o cerca.

Sua construção foi iniciada em 1080, mas o que restou dessa estrutura é o miolo do castelo. Os reis de Castela e Aragão, muito tempo envolvidos em disputas, se alternaram como proprietários e às vezes a cidade de Medina del Campo e seu castelo estiveram em campos opostos.

Foi só depois da batalha de Olmedo, em 1445, que La Mota passou a pertencer definitivamente aos reis de Castela. Data desse período a reconstrução do castelo e de suas muralhas externas.

Em 1460, Henrique IV de Castela construiu a torre central (foto à esquerda). Em 1464, ele doou o castelo ao Arcebispo de Toledo, Afonso Carrillo, que logo em seguida traiu o rei, apoiando as pretensões de Afonso V de Portugal. Quando o rei de Castela morreu, a luta foi entre sua meia irmã e sucessora, Isabel, e a filha ilegítima do rei português.

Após anos de disputas e traições, finalmente a Coroa de Castela retomou o castelo e em 1483 o transformou em um bastião de artilharia, cavando o fosso que o tornaria inexpugnável. Em cima do portão de entrada os símbolos heráldicos dos Reis Católicos, Isabel e Fernando. La Mota de Medina del Campo foi uma das residências favoritas da Rainha Isabel, que ali faleceu.

Todo em tijolos feitos com o barro da região onde se ergue, La Mota só utiliza poucas pedras, apenas para reforçar alguns detalhes. É construção impressionante pelo tamanho e pela imponência.

La Mota também foi prisão importante e abrigou em suas dependências prisioneiros dos reis tais como Hernando Pizarro, Rodrigo Calderón, e Cesar Borgia, entre outros. Desse último conta-se que escapou de uma altura de quase 40 metros descendo com a ajuda de uma corda.




Medina del Campo, Valladolid, Espanha


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Da seção Obra-Prima do Dia publicada originalmente no Blog do Noblat (07/12/2011)

Palavrinha

"No início da campanha das diretas, quando não se sabia ainda as proporções que alcançaria, Tancredo Neves optou pela cautela. E respondeu o que então pensava: “Não embarco em onda; espero que ela quebre para examinar a espuma”. A espuma o levou à Presidência da República.

A onda está quebrando e alguns políticos se precipitam em nela surfar, sem paciência ou sabedoria para aguardar o exame da espuma. Uma coisa é certa: se os partidos tentarem tirar partido do que ocorre vão quebrar a cara. São eles os vilões do processo.

É hora de pensarem nas reformas que há anos evitam, na tentativa de preservar suas zonas de conforto. Acabou o conforto".

De Olha o bicho pegando, por Ruy Fabiano
Transcrito do Blog do Noblat de 22/6. Leia o artigo clicando Aqui

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Obs - Assim termina o artigo de Ruy Fabiano publicado ontem no Blog do Noblat.
Sempre admirei Ruy Fabiano, texto e mensagem excelentes. Mas este, cujo título é 'Olha o bicho pegando', estou aplaudindo desde que o li.
Nesta mistura de sentimentos em que estou, entusiasmada com a disposição dos meninos em fazer valer o que querem para o nosso Brasil; muito preocupada com a falta de uma diretriz que os oriente para que não se percam na volta*; e extremamente assustada com a chegada dos bárbaros ao movimento, foi muito esclarecedor ler Ruy Fabiano.
Deus queira que os políticos brasileiros, de dona Dilma ao vereador de Timbuctu-sur-Mer, concluam da mesma forma: não dá mais para continuar no mesmo doce embalo.

*"Ninguém se perde na volta", frase de José Américo de Almeida em seu A Bagaceira (1928). Talvez não se perdessem então, naquele Brasil de poucas vias... mas hoje, se José Américo estivesse por aqui, sei lá se ele acharia Tambaú na volta do Rio para lá... MH

Marli Gonçalves

Qual é o seu cartaz?

Semana tensa, pesada, estranha. Aliás, mês, porque não é de hoje que o fogo está pegando bem perto de nós que, atônitos, ainda não sabemos bem o que está acontecendo realmente, quem destampou o ralo, quem abriu a torneira, quem pisou no pé de quem. O certo é que está acontecendo, pulem fora ou não os meninos do Movimento Passe Livre que agora dá para trás. Patrocinados por estatais e oficiais, teriam recebido um puxão de orelha ou uma ameaça? A história dirá. 

Estou muito impressionada com tudo isso, mas destaco - porque estive bem presente na batalha das redes sociais - que, realmente, que, realmente (bis obrigatório) a Educação está mesmo indo de mal a pior nesse país, com gerúndio e tudo, e vai estar rolando. Não só pelos erros básicos e crassos de escrita dos posts. Mas porque nunca ouvi tanta bobagem junta dita sobre movimentos sociais, história, marxismo, fatos nacionais. A perigosa incompreensão política do grave momento que estamos vivendo, as briguinhas como se fossemos todos torcidas rivais entre si, resumidas às tais esquerda e direita que sacodem mais do que barquinho em alto mar em dias de tempestade. Para mim é fato preocupante na hora de dar o rumo.

Mas foi mesmo muita coisa junta acontecendo. É passeata, manifestação, concentração, marcha, ocupação, passeio ou "promenade"? É tudo isso junto o que dá a ideia de zumbis de um lado para outro? É modinha? Vi muita gente boa, famosa e etc. indo, dando um pulinho lá, ao ato de segunda -feira só para fazer uma foto Rock in Rio, tipo "eu fui". Quando tem problema, na hora de protestar mesmo, "pufff!".

Também me diverti, especialmente acompanhando os relatos do Marcelo Rezende no Cidade Alerta, da Record, além das outras emissoras que botaram as imagens no ar também de forma surpreendente . Se puder, se tiver mais, não deixe de assistir - é muito engraçado o embate dele, o tempo inteiro, com os comandantes dos helicópteros sobrevoantes ( já que desfilar no chão não está nem um pouco bom e saudável para a imprensa) e o coitado que ele, Marcelo, chama de "Lente Nervosa". Depois ele inventou também o "Lente Lenta", outro câmera da equipe do Rio de Janeiro, que pegou para Cristo. Assédio moral é pouco.

Das coisas que destaco, além da criatividade inimaginável dos cartazes, as dicas de moda da Glorinha Kalil para os manifestantes serem chiques nos protestos, realmente a percepção exata de que há um novo tipo de jornalismo surgindo - só não sei como ele vai se sustentar financeiramente, e me preocupa a excessiva participação das estatais e oficiais que já citei no início. Durante dois dias acompanhei online uma equipe, que se auto-intitula Ninja, e que é de um "coletivo" ( estão anotando todas essas palavras, não? Elas entraram pesadamente no nosso vocabulário: coletivos, independentes, anarquistas, livres, vândalos, baderneiros, colaborativo, conteúdo,compartilhados, dispositivos não-letais, entre outras). Enfim, chega a ser emocionante ver o material sendo passado de dentro da passeata, cambaleante, eles correndo ofegantes, com poucas condições, inclusive de baterias para carregar as câmeras, e enfrentando, até com certo topete, os policiais.

É um fato a tirar desses dias, tanto que até a Globo News entrou nessa e pede insistentemente que os internautas mandem seus materiais "colaborativos", e que vêm sendo postos no ar. Aí a gente pode ver bem de perto, por exemplo, que apareceram trombadinhas (o nome usual dos pequenos saqueadores, e que andava meio esquecido), a turma do PCC e outras organizações criminosas aproveitando para dar um teco nos policiais, e os bombados - um capítulo à parte. São os fortinhos que ajudam nos quebra-quebra, cheios de testosterona para gastar, além dos seus vastos conhecimentos de artes marciais, usados contra pobres portas de lojas, imóveis oficiais e vidros de bancos. O que foi preso em São Paulo ganhou um apelido legal: o vândalo do sapatênis.

Na cidade de São Paulo, o som constante dos helicópteros, as sirenes, as viaturas e policiais da Tropa de Choque paradas em lugares, digamos, não-habituais, com cara de muitos poucos amigos têm tornado ainda mais difícil e tenso nosso dia-a-dia, que já era o horror.

E, antes que você me pergunte porque ainda não fui a nenhum ato desses, respondo: porque tomei horror a aglomerações e sou mais "perigosa" escrevendo. Porque sou biônica no quadril direito porque foi justamente numa manifestação dessas, há 23 anos, 23 anos - só para vocês perceberem que no fundo estamos bem atrasados - lá em Paris, por onde eu andava, que me machuquei. Hoje não posso me dar mais a esses luxos, embora a ativista dentro de mim seja bem animada.

Você chegou até aqui? E aí, já pensou no que escreveria no seu cartaz? Não está conseguindo saber onde vão dar essas manifestações contra tudo e todos?

Que tal um plebiscito?
São Paulo, vinagre e chamas, 2013

Marli Gonçalves é jornalista. Como hoje quase todo mundo tem uma impressora, e essas manifestações continuarão, é legal poder variar. Cada dia um cartaz. Não precisa nem repetir. Porque antes aqui no Brasil não tinha nada disso, como dizem. Agora tem. Não é o cavalo que está passando arreado. É o ônibus. 

Olá! Bom Dia!

O Bom Dia que dou a vocês hoje não é musical. Mas tem os acordes do bom senso, o que nos é mais necessário, só neste instante, do que cantar... 

Para não perder o pique, por Antero Greco*

O povo andava desacostumado de ir pra rua para protestar. E, ao sair da letargia, começou com um objetivo específico (reclamar do aumento da tarifa do transporte público), tomou gosto e, nos últimos dias, passou a atirar pra todo lado. Despejou bronca sobre políticos, corrupção, abandono da saúde e da educação, PEC37, reforma agrária, até chegar à Copa das Confederações, ao Mundial e aos Jogos de 2016. A farra da gastança na área esportiva só agora ganhou repercussão, apesar dos alertas de vozes isoladas nos últimos seis anos.

Os desdobramentos das passeatas têm merecido análises sérias, nos meios de comunicação, e se percebe que deixam perplexos sociólogos, cientistas políticos e governantes. Eu não iria me meter a dar opinião em área alheia. Certamente, cometeria pênalti. Por isso, fico no meu canto a observar.

Mas já que o futebol entrou na mira dos manifestantes de variadas tendências e classes sociais, me atrevo a fazer algumas considerações. Porque frequento essa seara há décadas – primeiro, como torcedor fanático, daqueles de tomar chuva e bordoadas por causa do time. Depois, e principalmente, como profissional, de jornal e televisão.

A turma que pretende deitar tudo abaixo, na base da persuasão ou da pancada, despejou ira sobre a Fifa (que desembarcou aqui botando banca), a CBF e figuras emblemáticas do imaginário popular, como Ronaldo e Pelé, por entender que pertencem ao mesmo meio. O mundo deles é o da bola, e posturas são tomadas por interesses ou por maior ou menor grau de discernimento. O Rei do Futebol é embaixador do Mundial de 14, enquanto o Fenômeno assumiu cargo no Comitê Organizador Local e dele não abre mão. Poderia, se quisesse, se livrar do mico.

A gente que bradou slogans contra a Copa fez com que Blatter se escafedesse antes do tempo (com a promessa de voltar para a final), levou Marin a encolher-se e ouviu da presidente Dilma Rousseff promessa de que o governo vai até o fim na realização das duas competições e que o dinheiro público usado nos estádios retornará aos cofres, pois se trata de empréstimos.

Fica a dúvida. Verbas destinadas a clubes, como Inter, Atlético-PR, Corinthians, terão de ser amortizadas. E, espera-se, sem calotes. Mas e aquelas levadas para municípios e estados responsáveis pelas praças esportivas? Eram necessárias? Aliás, elefantes brancos, como o de Brasília, foram erguidos por quê? Com o consentimento de quem? E quem vai mantê-los? E como explicar, por exemplo, o bilhão de reais torrado no Maracanã, para em seguida repassá-lo para iniciativa privada? Por que não se fez parceria antes da reforma?


                                                            Foto: Estadão.com.br


As cobranças são pertinentes, apesar de virem tarde, no que se refere a esses eventos. A onda moralista pode ter consequências benéficas no futebol, se o manifestante/torcedor fizer a parte dele. Como? Ao não apoiar dirigente corrupto, nem se deixar iludir pelo conformismo do “rouba, mas faz” (igualzinho ao da política). Se não achar que vale tudo por vitória de sua equipe (até o malfadado “gol de mão” ou vitória com ajuda do juiz). Se continuar calado diante dos abusos e violência de bandos organizados. Se defender liberdade de expressão dos fãs adversários nos estádios.

Mas o torcedor/consumidor também pode ajudar ao exigir preços justos nos ingressos e nos serviços das tais arenas, se ajudar a conservar banheiros e áreas comuns, se não se submeter à chantagem dos flanelinhas e cambistas, se não furar fila, se respeitar o assento dos outros. (Vaiar o time e xingar juiz pode, vai.)

Ajuda, no futebol e no cotidiano, se as pessoas reaprenderem a usar expressões simples como bom dia, boa tarde, por favor, obrigado; se não oferecerem propina para livrar-se de multa; se não falsificarem carteirinha para entrar no cinema, no teatro, no estádio; se não arranjarem atestados fajutos; se devolverem o troco dado a mais, etc. Enfim, se abrirem mão das pequenas transgressões que legitimam as grandes e contra as quais agora dizem combater.

*(Minha coluna publicada na primeira edição do Estado de hoje, dia 23/6/2013.)

Transcrito do Estadão.com.br