quinta-feira, 18 de julho de 2013

Palavra da Coruja


Se não houvesse Deus, não haveria ateus.
G.K.Chesterton

Para a Hora do Chá


O filho do século

Murilo Mendes

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão 
Com meninas de cabelos cacheados 
Adeus valsa "Danúbio Azul" 
Adeus tardes preguiçosas 
Adeus cheiros do mundo sambas 
Adeus puro amor 
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem 
Não tenho forças para gritar um grande grito 
Cairei no chão do século vinte 
Aguardem-me lá fora 
As multidões famintas justiceiras 
Sujeitos com gases venenosos 
É a hora das barricadas 
É a hora da fuzilamento, da raiva maior 
Os vivos pedem vingança 
Os mortos minerais vegetais pedem vingança 
É a hora do protesto geral 
É a hora dos vôos destruidores 
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos 
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos 
Misérias de todos os países uni-vos 
Fogem a galope os anjos-aviões 
Carregando o cálice da esperança 
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.

Murilo Mendes

A palavra é de... Dora Kramer

Sobreviver é a questão 

(...) Bonde perdido. O ex-presidente Lula defende uma "profunda reformulação" no PT a reboque das manifestações que, na sua proposital e habitualmente arrevesada versão dos fatos, teriam sido consequência do sucesso dos governos do partido.

A realidade diz ao contrário: o descontentamento é decorrência de uma situação que o próprio Lula levou ao agravamento quando deixou falando sozinhos os petistas que logo após o escândalo do mensalão defendiam justamente uma profunda reformulação no PT.

Depois da queda. Se o governo pensa que seus problemas de erosão de apoio se restringem ao Congresso e a movimentos liderados pelo PMDB, deveria ouvir o que dizia Emílio Odebrecht em recepção na Bahia no último fim de semana. Na roda, um ex-ministro e um ex-governador.

O empresário defendia de maneira contundente a candidatura de Lula em 2014. Com o governador Eduardo Campos de vice. Sobre Dilma Rousseff, a quem o empresariado conferia atributos de grande gestora antes da queda nas pesquisas, a avaliação seguia o mesmo diapasão do "senso de oportunidade" dos ditos aliados: sem chance de reeleição.

Interessante será observar a firmeza de opiniões caso a presidente venha a recuperar terreno.


Leia a íntegra no Estadão

Já passou mas vai passar de novo

Rocinha, manifestantes diante do Túnel Zuzu Angel, que leva ao Leblon


O Baixo Leblon em polvorosa...


O estandarte do sanatório geral a caminho

Arca do Tesouro


Os trouxas lá do alto do poleiro sempre se esquecem que podem cair...

Enviado pela leitora Regina Alencar

Transcrito da Navetta* (24/10/2010)

Ou eramos pacíficos?

Confronto deixa rastro de destruição no Leblon e em Ipanema

Vândalos fazem barricadas de fogo, destroem e saqueiam lojas; grupo seguiu também para a Lagoa

Governador convoca reunião de emergência para discutir violência

Na Rocinha, trânsito foi fechado nos dois sentidos da Autoestrada Lagoa-Barra

Letícia Fernandes, Carol Rocha, Bruno Amorim, Gustavo Goulart e Leonardo Barros, O Globo

Atualizado:18/07/13 - 4h26 

A ação de vândalos deixou um rastro de destruição nos bairros do Leblon e Ipanema após confronto entre manifestantes e policiais na noite desta quarta-feira, perto da residência do governador Sérgio Cabral. No início da madrugada, uma reunião de emergência foi convocada por Cabral para discutir ações a fim de conter os protestos violentos nas ruas da cidade. O encontro deve ocorrer às 8h no Palácio Guanabara.

Pelo menos cinco agências bancárias, bancas de jornal, pontos de ônibus, vitrines e alguns painéis elétricos foram vandalizados durante a confusão. Uma loja de roupas também foi saqueada na Ataulfo de Paiva. Lojas também foram saqueadas em Ipanema. O cheiro de gás ficou muito forte na região. Bombeiros também atuaram no combate às chamas.


           Barricadas de fogo ao longo da Ataulfo de Paiva, Leblon / Marcelo Carnaval / O Globo 


O clima nesses bairros da Zona Sul foi de apreensão por parte de moradores e clientes de bares e restaurantes. Vários estabelecimentos comerciais fecharam suas portas e os frequentadores saíram às pressas.

Segundo a Polícia Militar, sete PMs ficaram feridos com pedradas. Uma quinta policial se feriu ao ser atingida nas costas por uma bomba de fabricação caseira. O número de manifestantes feridos não foi confirmado.

Leia mais no Jornal O Globo

Afinal, somos pacíficos?

Principal segurança do papa é a 'tradição de paz do povo brasileiro', diz ministro

Para Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, pontífice verá protestos como 'saúde democrática'

Rafael Moraes - Agência Estado

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse nesta quarta-feira, 17, que o papa Francisco vai entender, quando chegar ao Brasil, que os protestos nas ruas fazem parte da "saúde democrática" nacional. A uma semana da Jornada Mundial da Juventude, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) vê as manifestações nas ruas como a maior "fonte de ameaça" à visita do papa Francisco, tanto no Rio de Janeiro quanto em Aparecida (SP).

 "A principal segurança do papa é o entusiasmo, a tradição de paz e de fraternidade do povo brasileiro. Nós não estamos efetivamente preocupados, a não ser claro com aquilo que é a nossa obrigação de oferecer: apoio logístico, e de segurança a um chefe de Estado que é o que o papa representa e é", disse o ministro a jornalistas, após participar de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Leia mais no Estadão, 17/7/2013

O mistério de Eike, por Osmar Freitas Jr.

Com a idade avançando, não consigo entender, como antigamente, certos eventos. Eu leio vários jornais, revistas e livros. Acompanho noticiários via internet, rádio e televisão. Mas, mesmo assim, fico boiando em muitos assuntos. As manifestações no Brasil são exemplo dessa recente confusão mental. É claro que morando a quase 8 mil quilômetros de distância das ruas de São Paulo, estou em local impróprio para dar palpites. Mesmo porque, registrado como eleitor nos Estados Unidos, não voto em deputados, senadores, governadores, prefeitos e, por puro desleixo cívico, acabo também não votando para presidente. Mesmo assim, gostaria ter minha visão um pouco mais ampliada.

Quando as multidões saíram às ruas corri para ler as análises sobre o fenômeno. Por vários dias garimpei explicações. E… nada! Parecia que ninguém encontrava razões amplamente convincentes. Com o tempo, porém, alguns comentaristas foram colocando o bafafa em pratos limpos. Não que tenham me convencido. Ainda hoje estou tentando digerir tudo o que está acontecendo.

Mas o grande mistério mesmo é o do Eike Batista. Como é que um cara perde 70% de sua enorme fortuna em tão pouco tempo? E olha que ele tem a benção de vários governos – o federal, o estadual, o municipal, e até da liderança de escoteiros do Brasil. O cara é meio dono do Maracanã! Mesmo assim, está com dívida de curto prazo de R$ 7,9 bilhões. Não é, nem de perto, a única.


                                                                              Pois é...


É claro que os jornais estão cheios de explicações para isso, mas para a minha mente esclerosada não há análise que convença. Eu tenho um velho amigo que acumulou uma fortuna de US$ 20 milhões, aqui nos Estados Unidos, nos anos 1990. Coisa da bolha chamada de “dot.com.”, quando as ações de empresas de tecnologia estavam bombando muito. Antes do estouro da bolha esse sujeito pulou fora do negócio e investiu a bufunfa em várias alternativas. Ou seja: distribuiu sua cesta de ovos de modo cuidadoso.

Passaram-se cinco anos e o cara estava mais duro do que bunda de estátua. Pode?

Lembro-me que quando ele me contou sobre seus infortúnios pensei: “tem de ser muito burro para perder 20 milhões de dólares em tão pouco tempo”. Ele me explicou que não investiu tudo em ações – o que, no caso, teria explicado a bancarrota – e também que não gastou como um marajá. De acordo com sua teoria, foi uma maré de falta de sorte que levou como tsunami seu ervário. Eu acredito em sorte, acho que sem ela o sujeito está micado. Mas com 20 milhas não me parece possível que um cristão (no caso do meu amigo: um judeu) possa contemplar a mendicância.

Já o Eike, com toda a costa quente que tem, não será visto pedindo esmolas em Copacabana.  Diz-se que vai vender seus ativos – no momento em que escrevo ele anuncia sua renúncia ao cargo de presidente do conselho deliberativo da companhia energética MPX. E vai vender para quem? Só falta ser para algumas multinacionais.

Aí, o que estava em mãos brasileiras – petróleo, minério, o Hotel Glória, ou o que quer que seja, vai parar no bolso de estrangeiros. Existem países onde um cabra seria fuzilado por isso. Mas já se fala que o governo pode ajudar ao pobre Eike. Daí me veio a luz sobre as manifestações nas ruas brasileiras: finalmente entendi tudo.

Transcrito da revista Brasileiros  (11/7/2013)

Imagem do Brasil é ‘piada’ no exterior, por Antonio Brasil

Em meio à crise política e protestos de ruas persistentes, milhões continuam sendo gastos na construção de grandes estádios em nosso país. O principal objetivo desse investimento é garantir a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos para o Brasil. Mas um efeito colateral igualmente importante e desejável é melhorar a nossa imagem no exterior.

Quando esses megaeventos foram anunciados pelo governo brasileiro, a ideia parecia muito boa, lucrativa e popular. Na História, outros governos – como a Alemanha nazista – também apostaram muito na paixão do povo pelos esportes e na possível mudança da imagem internacional.

Depois de derrota humilhante em uma guerra mundial e em crise econômica profunda, o então novo governo alemão tentou convencer o mundo de que o país tinha mudado. Foram investidos milhões na promoção de uma grande celebração internacional, os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim.

O tiro saiu pela culatra

A Alemanha teve que amargar a humilhação de grandes derrotas e o herói da competição foi o atleta negro norte-americano Jesse Owens. Ele contradisse todas as teorias políticas e raciais da Alemanha de Hitler. O grande investimento alemão não rendeu os lucros políticos desejados. Hitler e sua Olimpíada tornaram-se motivo de piada internacional. Dentre muitas, a melhor deve ser esta e creio que dispensa tradução:

­– What was Hitler’s reaction when Jesse Owens won 4 gold medals?

– He was fuhrer-ious! [Ver aqui]

Preconceitos

Hoje, o Brasil também investe milhões em uma Olimpíada e na mudança de sua imagem no exterior.

Estamos diante de um novo projeto político, social e econômico do governo brasileiro. Mas pensamos sempre grande e ainda maior do que outros tempos e países. Ao invés de se limitar a realizar jogos olímpicos, o Brasil decidiu sediar a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas.

Poucas vezes na História um país sequer imaginou ou tentou realizar esses dois megaeventos internacionais quase ao mesmo tempo. O risco do fracasso é enorme. E a possibilidade do Brasil se tornar motivo de piada, como no caso da Alemanha de Hitler em 1936, também é considerável.

E talvez essa ameaça já esteja se concretizando na mídia internacional.

Nos últimos dias, em meio a notícias de ainda mais violentos protestos de rua, duas matérias sobre o Brasil parecem confirmar as piores previsões sobre a nossa imagem no exterior.

A primeira foi a reportagem produzida pelo Colbert Report, um programa de sátiras muito popular da emissora de TV norte-americana Comedy Central, sobre as manifestações no Brasil [ver aqui]. De forma debochada, tendenciosa e humilhante, o apresentador do telejornal cômico, Stephen Colbert, ridiculariza os nossos megainvestimentos em estádios de futebol. Mas temos que reconhecer que a matéria é hilária e talvez até pertinente.

A imagem do Brasil no exterior, aquela coisa não muito clara, definível ou identificável que governos gastam milhões para manipular ou pelo menos influenciar, continua confirmando os piores estereótipos. Talvez seja inevitável ou talvez nós brasileiros façamos o possível e o impossível para confirmar essas imagens preconceituosas.

Leia a íntegra no Observatório da Imprensa de 16/7/2013


Antonio Brasil é jornalista, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisador do Grupo Interinstitucional de Pesquisas em Telejornalismo (GIPTELE) e autor do livro Telejornalismo Imaginário (Editora Insular).