quarta-feira, 17 de julho de 2013

Palavra da Coruja


A arte é uma colaboração entre Deus e o artista; quanto menos o artista fizer, melhor.
André Gide

Memento

Fim de Tarde


You were meant for me: Gene Kelly canta para Debbie Reynolds 
em cena do filme Cantando na Chuva 

Para a Hora do Chá




Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, 
não falaria em Deus nem no Pecado 
— muito menos no Anjo Rebelado 
e os encantos das suas seduções, 

não citaria santos e profetas: 
nada das suas celestiais promessas 
ou das suas terríveis maldições... 
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, 

Rezaria seus versos, os mais belos, 
desses que desde a infância me embalaram 
e quem me dera que alguns fossem meus! 

Porque a poesia purifica a alma 
...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — 
um belo poema sempre leva a Deus! 

Mário Quintana

A palavra é de... Maria Helena RR de Sousa

Eles me representam, sim!

De uns tempos para cá tenho lido, nas redes sociais, com bastante frequência quando se está falando de políticos, uma frase chavão com a opinião de leitores, cidadãos brasileiros: “ele (a) não me representa”.

Das primeiras vezes fui reler o texto. Quem sabe entrara, no meio da matéria, por um motivo qualquer, um deputado sueco ou um ministro iraniano e eu, a eterna distraída, não me dera conta? Mas não, era mesmo o que eu começara a ler: uma nota sobre um político brasileiro.

Como assim “ele não me representa”?

Pois a mim qualquer deputado ou senador, junto com seus colegas de legislatura, me representa, sim. Porque o Congresso Nacional foi eleito pelo povo e como tal, nos representa. Para o bem, ou para o mal.

O que é ás vezes muito difícil de aguentar... Nisso eu concordo. Mas dizer que "ele (a) não me representa" é rematada tolice.

Porém mais doloroso é o fato de Dilma Rousseff e seu Gabinete, certamente recordista em número de participantes, me representarem também. E graças a Deus que é assim. Não gostei quando não éramos representados por escolha popular. Nem um bocadinho.

Aceito esse fato do qual não quero e não posso fugir, mas isso não impede que eu reclame e até chore ao ler certas decisões que esses representantes, esquecidos do detalhe importantíssimo e voltados apenas para seus umbigos, tomam.







Por exemplo: dona Dilma, ofendida e revoltada com a humilhação sofrida pelo amigo Evo Morales, deitar falação contra as cruéis potências estrangeiras que puseram a vida do boliviano em risco ao lhe negar o direito de sobrevoar seus territórios.

Se não fosse por um pequeno incidente, ela estaria coberta de razão: no final de 2012 o ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, foi destratado de forma ultrajante pelo governo boliviano, em um episódio que foi mantido em segredo até agora pelo governo brasileiro.

“Amorim visitara La Paz e se preparava para decolar quando seu avião foi cercado e revistado, inclusive com cães farejadores, a mando do cocaleiro, desconfiado que o ex-chanceler do governo Lula levava um senador de oposição asilado na embaixada do Brasil.

A informação é de diplomatas e funcionários que não podem ser identificados, em razão de represálias.

A humilhação ao Brasil foi ainda maior, considerando que o ministro era transportado por um avião da FAB (Do blog Diário do Poder, do jornalista Cláudio Humberto)”.

Realmente, não há nada como um dia atrás do outro e uma noite no meio. O ministro da Defesa do Gabinete Dilma Rousseff, que foi ministro das Relações Exteriores do Gabinete Lula, criava marolas gigantescas, sobretudo para o seu tamanho, quando alguém mencionava o Itamaraty de Celso Lafer. Lembrava logo que ele, O Amorim, nunca tirara os sapatos para nenhum oficial da Imigração dos EUA. Passava direto e com toda a deferência que merecia...

Pois é, descalço não ficou nos States, mas teve uns bons cachorros bolivianos farejando o interior do avião onde estava e quiçá, se Deus andava atento nesse dia, também os sapatos que lhe protegiam os pés.

Mas eu não posso ter o gosto de dizer que ele não me representa. É o ministro da Defesa de meu país e por isso, ao humilhá-lo, o Morales estava me humilhando. Só o que posso fazer é discordar das palavras sentidas que dona Dilma disse em meu nome também. Só isso.

Como era bom...

tomar um chica-bom em dia de muito calor 


varig, varig, varig!


o metro e seu clima de montanha


o Rio mais humano e mais vazio...

Arca do Tesouro

Aleksander Rodchenko

Fotografia:  Retrato de sua mãe (1924) e Escadaria (1930)

Aleksandr Rodchenko, pintor, escultor, designer e fotógrafo, era neto de um servo e filho de uma lavadeira. Quando ele nasceu, em 1891, seu pai era funcionário num teatro em São Petersburgo. Mas muito menino ainda sua família mudou-se para Kazan, onde Aleksandr foi matriculado na Escola de Belas Artes. Fez o curso completo, de 1910 a 1914, e depois se mudou para Moscou, com o propósito de aprimorar seus estudos na Escola Stroganov.

Foi quando seu traço, inspirado no Art Nouveau, sofreu enorme transformação, resultado da pesquisa que empreendeu nos aspectos formais e materiais da arte, primeiro estudando as leis do cubismo e depois se entregando às inovações radicais de duas figuras que passou a admirar, Malevitch e Tatlin.

Rodchenko conheceu os dois logo que chegou a Moscou, quando já parecia que os dois artistas seguiriam caminhos opostos. (...) Assim mesmo foi grande a influência de Malevitch e Tatlin na obra e no espírito de Rodchenko. (...) Rodchenko seguiria os caminhos desbravados por esses dois grandes artistas até abandonar e rejeitar a pintura, em 1921.


                                                                           A mãe (detalhe)


(...) Em 1928 Rodchenko comprou uma Leica por julgar que essa máquina tinha um formato cômodo e um modo de operar simples e rápido. A Leica passou a ser sua ferramenta de trabalho preferida.

Pouco a pouco, a fotografia de Rodchenko foi dominada pela linha como elemento artístico. Gostava de integrar grelhas, escadas, ou fios de metal em suas composições fotográficas convertendo as linhas formadas por esses objetos em estruturas abstratas construtivistas. “Escadaria”, de 1930, e “Garota com Leica”, de 1934, estão entre as mais célebres fotografias dessa linha construtivista.


                                                                      Escadaria


Em 1930, Rodchenko se uniu ao grupo “Outubro”, sem dúvida nenhuma a mais importante organização de arte fotográfica e cinematográfica dessa época. Entre 1933 e 1941 ele trabalhou para o jornal “SSSR na stroike” (URSS em construção), que fundara junto com Varvara Stepanova, sua mulher, artista como ele.

Em 1941, ao que se saiba, ele largou a fotografia. Em seus últimos anos volta a se dedicar à pintura de cavalete. Abandonou os temas ligados à atividade ideológica e passou a se dedicar a temas não figurativos. Faleceu em Moscou, no ano de 1956.


Acervo Família Rodchenko


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Em parte transcrito da seção Obra-Prima do Dia do Blog do Noblat (22 e 24 de fevereiro de 2010)

Cadê a chapa branca?, por Edgar Flexa Ribeiro

Houve um tempo em que os carros, automóveis, todo e qualquer veículo que pertencesse ao serviço público tinha a placa de licenciamento de cor branca. Carro com chapa branca era carro oficial, do serviço público, e se identificava como tal.

Nossos carros tinham placas amarelas. Automóvel nosso tinha a “chapa cidadã", de cor amarela, que era a chapa dos carros particulares. Quem ainda se lembra disso?




O mau uso do carro oficial ficava explícito, e podia dar encrenca. Carro de chapa branca – um bem público - usado em uma atividade de caráter nitidamente privado, era imediatamente identificado.

Transferida a capital para Brasília, no recém-criado estado da Guanabara, uma vez empossado Governador, Carlos Lacerda não hesitou: deu ordem para que os carros oficiais do novo estado, além da chapa branca, tivessem uma faixa amarela pintada na carroceria. Acabaram os abusos.

Mas agora, como que coroando a confusão entre o que é público e o que é privado, impuseram a todos nós o que era só deles, dos poderosos, e os identificava: veio chapa branca geral, universal, para todo mundo. Acabaram com a nossa placa, a placa cidadã, a placa amarela.

Uma medida simples e safada, nunca explicada. Sua origem nunca se soube, nem foi justificada. Foi simples e eficientemente corruptora: acabaram com a chapa amarela que identificava os nossos automóveis, particulares, pagos e sustentados por nós, para nós, com o nosso dinheiro.

E a confusão hoje se estende a aviões e helicópteros, além dos automóveis.

Prancha de surfe em helicópteros públicos, avião público para passeios privados, para ver jogo de futebol, para curtir vida boa com o imposto que pagamos. Uma imensa patifaria.

Está mais do que na hora de voltar a nossa chapa, a “chapa cidadã”, a chapa amarela. E era bom pintar uma enorme faixa amarela em todo e qualquer veículo público: carro, helicóptero, avião, trator, navio, o que fosse. Seria uma grande medida moralizadora: obrigaria todo mundo a mostrar a cara.

Edgar Flexa de Ribeiro é educador.


Transcrito do Blog do Noblat de 16/07/2013

Ladroeira nova é coisa velha, por Carlos Brickmann

Todos surpresos com a denúncia da multinacional alemã Siemens a respeito de acertos para fraudar licitações no Brasil. A imprensa se surpreendeu tanto que deu manchete de primeira página. As notícias merecem primeira página: revelam como superfaturar obras, roubando dinheiro público. Mas não são novidade, não.

Esta coluna desde 2008 vem publicando notícias sobre investigações internacionais, na França e na Suíça, a respeito da multinacional francesa Alstom e suas relações com obras públicas em São Paulo, entre 1995 e 2003, período em que o Estado foi governado por Mário Covas e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.

Dúvidas? Veja no Google, "Carlos Brickmann" "Alstom". As propinas citadas atingem US$ 7 milhões. Se alguém prefere não acreditar em jornalistas brasileiros, as notícias também saíram no Wall Street Journal, americano, e na revista alemã Der Spiegel.

O ótimo repórter Luiz Cláudio Cunha publicou, no Congresso em Foco, em 2012, informações estarrecedoras sobre licitações na CEEE, estatal gaúcha de eletricidade, envolvendo empreiteiras brasileiras de grande porte e empresas multinacionais como Alstom e Brown-Boveri.

A denúncia da Siemens (que admite ter participado dos acertos) só pode surpreender por um motivo: a inação dos responsáveis pela investigação dos fatos que já eram de conhecimento público. Por que as investigações por aqui não andaram, embora as houvesse em outros países? Excelente pergunta.

Segue-se outra pergunta: quem é que ficou cego, surdo e mudo diante do grande escândalo?

O grande mudo...

O ex-presidente Lula continua em silêncio, quase 240 dias depois da operação Porto Seguro, que envolveu a funcionária federal Rosemary Noronha. Não falou sobre o caso, não falou sobre as manifestações de rua, não fala sobre as articulações de setores do PT que pretendem lançá-lo candidato à sucessão de Dilma.

...continua mudo

Não são só assuntos públicos que emudecem o ex-presidente. Neste domingo, o sexto neto de Lula foi batizado em Santo André, SP. A história é muito bem narrada pela repórter Bruna Gonçalves, do Diário do Grande ABC: Lula não quis falar com jornalistas. Sentou-se longe dos parentes, conversou apenas com um amigo.

Em silêncio entrou, em silêncio saiu, pela porta dos fundos da paróquia.

Onde está o dinheiro?

A Assembléia Legislativa de São Paulo pagava auxílio-moradia para todos os 94 nobres parlamentares - inclusive os que moram na Capital. O Tribunal de Justiça extinguiu o auxílio-moradia, em 9 de maio; oito dias depois, a Assembléia criou o auxílio-hospedagem, que é a mesma coisa, só que pago apenas a quem não mora na Capital, no valor de até R$ 2.850 mensais. E, como ninguém é de ferro, aproveitou para aumentar, discretamente, o valor da Gratificação Especial de Desempenho, que Suas Excelências podem distribuir entre os servidores de seu gabinete.

Claro, é mais do que se gastava com auxílio-moradia; e amplia as despesas em R$ 4,3 milhões por ano. Não é uma quantia que desequilibre o orçamento do Estado, nem que, se economizada, resolveria outros problemas; mas é um problema de falta total de sensibilidade. É o levar vantagem em tudo.

Notícia boa - 1

Dentro de poucos dias, o papa Francisco deve chegar ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude. Este colunista não é católico, nem religioso praticante; é totalmente favorável ao Estado laico; e apoia sem restrições qualquer esforço para garantir ao papa as melhores condições possíveis para pregar, orientar e conduzir seus fieis. Não é na estrutura do grande evento que se deve fazer economia. A jornada do papa é um fato internacional, positivo, uma vitrine do Brasil no mundo.

Se é para economizar, há muitos lugares em que isso deve ser feito.

Notícia boa - 2

Um dos melhores amigos do papa Francisco é um judeu, o rabino Abraham Skorka; ambos dedicaram muito tempo de seus encontros a conversas sobre religião, a partir da origem comum de Judaísmo e Catolicismo, e escreveram juntos um livro notável, Sobre o céu e a terra, em que o tema é abordado com rara profundidade e texto de primeira linha, que prende o leitor e o leva a pensar.

O livro do cardeal Jorge Mario Bergoglio, papa Francisco, e do rabino Abraham Skorka deve ser lançado amanhã, no Salão Nobre da ARI, Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro, a partir das 19h (Rua General Severiano, 170). A partir das 20h, sob o título Concordo contigo, ainda que discorde - razões para o diálogo inter-religioso, o rabino Skorka conversa com o padre jesuíta Jesus Hortal, com mediação da jornalista Leila Sterenberg. Oportunidade única.

Chega de boas notícias

O Governo nega, o ministro Mantega explica, o ministro Gilberto Carvalho diz que não é bem assim, a ministra do Planejamento está mais quieta do que Lula desde o caso Rose, mas desde a manifestação das centrais sindicais não dá para negar o fenômeno. Não faz muito tempo, conforme o local, colocava-se um manifestante nas ruas por R$ 30,00, lanche incluído.

Agora, os manifestantes cobraram R$ 70,00, fora a condução. Quem pode dizer que não há inflação?


Boa viagem, Juquinha!, por Ricardo Noblat

O PT faltou ao Dia Nacional de Luta promovido pelas centrais sindicais.

Pensando bem, era só o que faltava: o partido que governa o país sair às ruas para cobrar do governo o que ele prometeu e não fez. Ou o que não prometeu, mas poderia fazer se quisesse.

As centrais apoiam o governo. Estão de prontidão para socorrê-lo em qualquer aperto. Mas elas devem o mínimo de satisfação aos seus associados.

O Dia Nacional de Luta foi um fracasso. Tanto maior porque pode ser comparado com o recente movimento liderado por jovens que cobram passe livre nos ônibus.

Um brotou espontaneamente. Aderiu quem quis. E os que aderiram poderão dizer: "Eu participei das maiores manifestações populares da história do Brasil em pouco mais de 500 anos".

O outro movimento nada teve de espontâneo. Parecia a projeção em preto e branco de um filme antigo, como observou o jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de Lula.

Com uma diferença: no passado, o vermelho que coloria as ruas era monopólio do PT. Hoje, o vermelho que se vê aqui e acolá foi providenciado por outros partidos.

A militância do PT tem mais o que fazer. Está empregada. Parte dela muito bem empregada.

Há pelo menos duas frases exemplares cometidas nos últimos 10 dias por figurinhas carimbadas da República. Reunidas e explicadas, ilustram o estado de coisas que uma quantidade crescente de brasileiros gostaria de empurrar para sempre esgoto a dentro.

"Eu sou de carne e osso e preciso, vez por outra, de um descanso", afirmou Cid Gomes, governador do Ceará, a propósito de uma viagem à Ásia.

Em junho último, quando multidões irrompiam por toda parte, Cid embarcou para uma viagem de 14 dias com destino a Coreia do Sul. Tinha compromissos oficiais por lá.

Uma vez na Europa, esqueceu a Coreia, divertiu-se o quanto pode na companhia de amigos e até encarou um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Na ausência de Cid, o vice dele voou à Israel e Arábia Saudita. A trabalho. E também para repousar.


A segunda frase: "Não sou o primeiro a fazer isso no Brasil. Outros fazem também", defendeu-se Sérgio Cabral, governador do Rio e alvo de uma reportagem publicada pela VEJA.

A revista descobriu que Cabral usava helicóptero do governo, comprado por quase R$ 20 milhões, para fazer diariamente um trajeto de não mais do que 10 minutos entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o palácio onde despacha.

Às sextas-feiras, o helicóptero chegava a voar cinco ou seis vezes entre o Rio e o município de Mangaratiba, onde Cabral tem uma casa de praia.

Cabral seguia no último voo. Nos anteriores, sua mulher, filhos e amigos deles, babás e o cão Juquinha.

O mesmo número de voos se repetia no domingo, de volta de Mangaratiba. Aumentava quando se esquecia algo. Como um vestido da primeira-dama resgatado por uma babá em voo extra.

“O governador Sérgio Cabral encara como uma perseguição ao seu mandato informações que soem como ‘denúncias’ quanto ao uso de helicópteros do Estado”, advertiu nota distribuída pela assessoria dele.

Ninguém ligou. O tempo não anda bom para os lados de Cabral.

Então outra nota anunciou que doravante Cabral irá trabalhar de carro. Os voos para Mangaratiba foram mantidos. Às nossas custas, naturalmente.

Cabral só se preocupa com valores do tipo moral, ética e decência quando flagrado atropelando algum deles. Ou todos ao mesmo tempo.

Aí finge que mudará seu comportamento. E até inventa código de ética que não sai do papel.

Mas não muda de comportamento, como se vê.

Porque ele sempre foi assim desde que escolheu a política como meio de sobrevivência. E nada sugere que deixará de ser assim.


Publicado originalmente no Blog do Noblat em 15/07/2013 

Olá! Bom Dia!