quinta-feira, 20 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Poucos homens estão dispostos a enfrentar a crítica de seus iguais, a censura de seus colegas, a ira da sociedade. A coragem moral é um atributo mais raro que a bravura numa batalha ou que uma grande inteligência. No entanto, é a única qualidade vital, essencial naqueles que pretendem mudar um mundo que só dolorosamente cede às mudanças.
Ernest Hemingway

Fim de Tarde


Earl Hines em The Very Thought Of You

Para a Hora do Chá


Pátria Minha


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para 
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra 
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha 
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

A palavra é de... Carlos Brickmann

Rigorosa hostilidade

O governador Alckmin, o prefeito Haddad, o secretário da Segurança Grella, todo mundo pode garantir à vontade que os excessos cometidos pela Polícia na repressão aos manifestantes paulistanos serão investigados em rigorosos inquéritos, que os jornalistas agredidos, presos ou feridos foram vítimas das circunstâncias, não de hostilidade deliberada, que os culpados serão exemplarmente punidos na forma da lei, essas coisas que autoridade adora dizer para ganhar tempo até que todos esqueçam o que aconteceu.

Mas o fato é que os ataques a jornalistas podem ter sido fortuitos em um caso ou outro; na maioria, não o foram. A prisão do rapaz que carregava vinagre na mochila é grotesca. Vinagre serve para fazer bombas? OK, este colunista, absolutamente ignorante, aceita a palavra oficial. Mas fabricar explosivos a partir de vinagre no meio da rua, durante confrontos com a Polícia, tendo de fugir de balas de borracha e de bombas de efeito moral? Aí fica difícil acreditar, secretário Grella! Não dá para levar a sério uma informação dessas, governador Alckmin! Não se pode sequer pensar que uma besteira dessas possa passar pela cabeça de alguma pessoa racional, prefeito - puxa, como é mesmo que ele se chama?


Hostilidade rigorosa
O problema, para esse pessoal da política, é que não perceberam uma pequena mudança no mundo que faz uma grande diferença para as histórias da carochinha que estavam acostumados a impingir aos cidadãos. A mudança é o avanço da eletrônica. Os fatos são fotografados, filmados, gravados. Aí vem o engravatado (e manicurado, e esmeradamente penteado) e conta uma versão que não bate com as imagens nem com a gravação. Não pega, não gruda, não cola.

Há fotos e vídeos de agressão a jornalistas que demonstram que, sem dúvida, foram escolhidos deliberadamente para o espancamento. Um fotógrafo, com imensa máquina fotográfica, com aquele colete especial de fotógrafo cheio de bolsos e com tiras refletoras, não terá sido identificado como fotógrafo pelo policial que lhe jogou spray de pimenta no rosto, a um metro de distância? Foi de propósito, claro. Dá para entender que, após tanto tempo de tensão, no meio do enfrentamento, o policial tenha perdido a cabeça e feito besteira (embora seu treinamento devesse prepará-lo exatamente para esse tipo de pressão); mas não dá para acreditar que não soubesse que estava atacando um jornalista que não fazia parte da manifestação, apenas a registrava para cumprir seu papel de informar.

                                                                        *******



                        Pobrezinho do policial... E se o fotógrafo fosse uma barata?  Já pensou o susto?

Do Mundo Nada Se Leva


Hoje não podia deixar de mostrar aqui um pedacinho que seja de meu filme favorito:  You Can't Take It With You  (1938), de Frank Capra, com Lionel Barrymore (o avô da mocinha, de cabeça branca, à esquerda) e Edward G. Arnold (o pai do rapaz, o ranzinza à direita). Os apaixonados são James Stewart e Jean Arthur.

Não é só uma história de amor. O avô, viúvo, mora na mesma casa desde que se casou e não pretende vendê-la. Com ele moram sua filha que escreve peças só porque entregaram em casa deles, por engano,  uma máquina de escrever; o genro que fabrica fogos de artifício no porão; um sujeito que foi fazer uma entrega e nunca mais saiu de lá; as duas netas, a que quer ser bailarina e seu marido, xilofonista, e a que se emprega como secretária na empresa do senhor Kirby e desperta a atenção do jovem Kirby. Além de outros personagens magníficos que frequentam a casa dos Vanderhof.

Acontece que o milionário Kirby quer comprar o quarteirão para erguer mais uma de suas  fábricas de munição e tudo irá por água abaixo se Vanderhof não concordar em vender seu terreno.

Mas o destino, esse intrometido, faz que o filho do milionário se apaixone pela neta do avô turrão e aí...

Já contei muito. Não conto mais nada. Mas podem ficar certos que não estraguei o filme: os diálogos, as cenas que se sucedem, os diversos personagens, são extraordinários. Você vai rir e se emocionar e desejar que o mundo pudesse ser assim...

Espero que todos vejam o filme. Quem ainda não viu não sabe o que perde...

Palavrinha 3

Atenção, atenção, deputado Miro Teixeira

Olha aí uma boa cartolina para você desfilar nas manifestações em nome de seus eleitores aqui do Rio:

Cadê os DEA (desfibriladores externos automáticos) que diminuem muito o risco de uma pessoa morrer por parada cardíaca?

Desde 2001 tartarugueia na Câmara Federal um projeto de lei que torna obrigatória a presença de DEAs em lugares por onde circulam diariamente mais de 1000 pessoas, como trens, aeroportos, metrôs, shoppings e semelhantes. 

Pense na gente, deputado. Nem todos temos jatinhos para nos levar para São Paulo à toda e, provavelmente, com DEAs fazendo parte da decoração da aeronave...

(Baseada em nota que li na VEJA Rio de 19 de junho, página 20)

Palavrinha 2

Protesto em Niterói: polícia fecha a Ponte Rio-Niterói, e violência toma conta das ruas

Extra
Um grupo de manifestantes, que participava do protesto contra o aumento da passagem de ônibus, os altos custos da realização da Copa do Mundo e a corrupção tentou avançar da Avenida Amaral Peixoto em direção à Praça de Pedágio, na Ponte Rio-Niterói. A ação, fez com que a Polícia Rodoviária Federal fechasse o acesso à Ponte, por medida de precaução.
A manifestação em Niterói começou por volta das 17h desta quarta-feira, pacificamente, chegando a reunir mais de cinco mil pessoas. Os atos de vandalismo - como a depredação de uma agência bancária, a tentativa de botar fogo em um ônibus e a invasão da estação das barcas - aconteceram depois que o grupo de cerca de 200 pessoas foi impedido de prosseguir em direção à Ponte e entrou em confronto com policiais. O Batalhão de Choque da Polícia Militar foi acionado. Pedras foram atiradas e barricadas feitas com tapumes, estendidas na rua, por esses manifestantes, enquanto a polícia reagiu atirando bombas de gás lacrimogêneo.

                                                               *******
Obs - O que é que você acha?

Em todo o noticiário sobre as manifestações vemos a mesma coisa: um grupo enorme se reúne pacificamente. De repente, um grupelho de interessados em levar o Brasil para o abismo aparece do nada e começam as ações criminosas. 
Desde o primeiro dia tem sido assim.
Será que não dá para as nossas polícias estudarem um modo de impedir a ação desses bandidos? Sei lá, proteger os manifestantes e não deixar os bandidos nem se aproximarem? Deve haver um meio. 
O horror de ontem em Niterói, por exemplo, a tentativa de queimar um ônibus com o motorista lá dentro. só pode interessar a quem quer calar a meninada que protesta legitimamente e em ordem.
Será que a ABIN ainda não sabe quem controla esse grupelho nefasto? MH

Marcelo Rubens Paiva

marchar faz bem




Cuidado agora com os oportunistas. Nada de culto à personalidade, herança da velha política.

Esqueça a musa, a menina da UNE, ou o menino do MPL.

A nova forma de se organizar tem por característica a negação de liderança.

Acorda: o movimento é político. Mas o discurso que permeia é o de um movimento não-partidário.

A grande novidade do movimento que parou o Brasil, surpreende o mundo, e que tem gerado espanto na também velha imprensa, é que não há uma clara liderança política, nem objetivos específicos e plausíveis.
A bandeira não é uma só.

A ideia do movimento é não haver uma liderança que direcione para uma rota só.

Está todo mundo descontente, e essa é a razão que trouxe todos às passeatas.

Mais do que sair com a conquista de uma pauta precisa, a grande vitória política do movimento é que cada um vai às ruas representar a si mesmo, com diferentes anseios e demandas.

Sem se sentir representado por um outro, como na atual e questionável democracia, o que o movimento está fazendo é o exercício do ideal da democracia deliberativa.

Cada um vai à praça pública colocar as suas demandas pessoais em público. E essa é a beleza do movimento.

É como se a gente tivesse vendo acontecer a tal razão comunicativa habermasiana.

É toda a ideia do OCCUPY, que só agora se populariza no Brasil.

O gigante acordou?

Depois de toda a promessa brasileira, sexta ou sétima maior economia do mundo, de ampla diminuição da desigualdade social, todo mundo percebeu que a vida não mudou tanto assim, que a riqueza escoa pelos ralos da corrupção e ineficácia, que o poder de compra está muito aquém do valor das coisas, e consequentemente a qualidade de vida não correspondeu às expectativas de um gigante adormecido.

É uma onda se formando, um novo formato de se ver/ter consciência como agente politico. Não sabemos ainda aonde isso vai dar, e nem se são possíveis conquistas políticas e sociais verdadeiras sem liderança.

O que não faz com que o movimento seja menos legítimo, ou que tenha seu mérito diminuído. O fato comum é que está ocorrendo em muitos países do mundo contemporâneo e deve assim ser apreciado.

Turquia e Brasil: movimentos diferentes, com muitas coisa em comum.

As demandas são outras, mas o formato de organização (e do protesto) é o mesmo.

Não tente entender pela (i)lógica do jogo político partidário.

Nem pelos manuais da velha esquerda.

Ninguém mais quer ser liderado.

Esqueça o pragmatismo. Marchar faz bem.

Transcrito do Estadão de 18 junho de 2013 

Palavrinha 1



Hoje este blog e sua fanpage comemoram um mês. Foi um mês e tanto! Apanhei muito e ainda estou apanhando, a linguagem dos FB e Twitters é indecifrável para mim.

Sou blogueira, isso já posso dizer que sou. Aprendi muito no Blog do Noblat. Muito? É pouco: aprendi tudo que sei sobre blogs.

Mas o Facebook, e sua fanpage, ainda são meio misteriosos. E olha que tive ajuda e ajuda de primeira linha!

Agradeço aos que tiveram paciência comigo.

Agradeço aos que além de passarem pela fanpage, comentem também. Preciso da opinião de vocês!

Mas o mais importante deste mês, a meninada que deu uma boa sacudida no Brasil, isso eu não vou perder. Vou ajudá-los no que puder. Este "aniversário" será dedicado a eles. A quem dou meus parabéns e a quem agradeço pelo que estão fazendo.

E a quem peço: continuem nesse ritmo e afastem os maus, os que só querem destruir.

Vocês, se Deus quiser, e Ele há de querer, estão nas ruas para

CONSTRUIR UM BRASIL MELHOR PARA VOCÊS E SEUS FILHOTES.

Que Deus os abençoe! E que o Governo Federal tenha a inteligência de perceber que deve proteger e ouvir seus jovens!

Olá! Bom Dia!


There Will Never Be Another You, com Oscar Peterson Trio

Atenção, Brasil!

                                                                    
                                                            #ChangeBrasil