sábado, 13 de julho de 2013

Palavra da Coruja


Não concordo obrigatoriamente com tudo que digo.
Marshall McLuhan

Memento

                                                           
  Coro de crianças cossacas. 

Se serve de consolo...

                 Parece que é o mundo todo!

Fim de Tarde


La Bicyclette: canta Yves Montand
Arte de Antonio Romane

Limitações do sindicalismo oficialista

Editorial, O Globo

Depois do abalo sísmico causado na política nacional pela erupção de manifestações de rua articuladas em junho por meio de redes sociais, à margem de partidos e outras organizações políticas estabelecidas, o agendamento para quinta-feira do “Dia Nacional de Luta”, por sindicatos e partidos como PT, ganhou um caráter de confronto.

Quem mais mobilizaria: sindicatos com ligações governamentais — uns mais próximos do Planalto como a CUT, outros, como a Força, em fase de ensaio de voo solo partidário — ou grupos interconectados na internet? Frustrou-se quem esperava uma resposta à altura do esquema incrustado no poder há mais de dez anos. Até o PT, o outrora rei das ruas, se manteve recolhido, depois de escorraçado de algumas passeatas no mês passado. Justificou que preferiu deixar os espaços para os sindicatos. Pode haver quem acredite.




Foram visíveis as diferenças. Primeiro, de tamanho: 1 milhão de pessoas, estimadas para as capitais no dia 20 de junho, contra algo em torno de 100 mil na quinta-feira. Mais importante que isso, porém, foi a diferença das pautas de reivindicação. Enquanto as manifestações de junho, com muito mais jovens, trataram de questões amplas, capazes de sensibilizar todos — combate à corrupção, ética na política, baixos investimentos em transporte, educação e saúde —, os sindicatos oficialistas colocaram a tropa nas ruas com a velha agenda trabalhista, corporativista: redução da jornada de trabalho com manutenção dos salários, fim do fator previdenciário, aumentos salariais etc. 

Alguns dos pedidos são inexequíveis, sob o risco de explodir de vez as contas públicas. É o caso do fator previdenciário, um “jeitinho” de compensar o efeito negativo no caixa da Previdência da possibilidade de aposentadoria independentemente da idade até que se faça a necessária reforma a fim de instituir o limite etário mínimo para a obtenção do benefício. Houve um ensaio de críticas ao governo. 

A Força, cujo, líder, Paulo Pereira da Silva, trabalha para lançar um partido, pediu o afastamento do ministro Guido Mantega, algo que imagina ser popular. Mas nada de mirar na corrupção, pois o oficialismo de cada um os impede disto. Até porque há sempre a possibilidade de alguma pedra atingir o próprio telhado de vidro de quem se já se refestelou no condomínio criado no orçamento do Ministério do Trabalho. Restou ao movimento a abusiva e criminosa paralisação de rodovias, algo que começa perigosamente a se transformar em rotina.

O artificialismo das manifestações organizadas por máquinas profissionais de protesto ficou visível na confecção industrial de faixas — em contraposição às cartolinas escritas à mão, de junho —, carros de som e na comprovação do pagamento a “manifestantes”. 

Resta provado que é árduo não criticar a fundo um governo quando a economia vai mal, com inflação renitente, crescimento anêmico e perspectivas da volta do desemprego. O que leva à falta de palavras de ordem convincentes para encher as ruas.

Transcrito de O Globo, 13/07/2013

Para a Hora do Chá


Soneto à Fotografia 

Libertar-se ligeiro da moldura 
é o desejo da face, onde, o desgosto 
emigrado do poço de água impura, 
vai se aninhar na hora do sol posto.

Do lugar da prisão vem a tortura, 
pois vê, do seu retângulo, teu rosto 
e acorrentado na parede escura, 
não pode engravidar-te para agosto. 

Guarda ainda no olhar instante e viagem: 
o instante em que foi presa pela imagem 
e o roteiro que fez em mundo alheio. 

E eterna inveja do seu sósia ausente 
que, embora prisioneiro da corrente, 
habita num subúrbio do teu seio. 

Carlos Pena Filho

A palavra é de... Dora Kramer

Atrás do fio elétrico

O Estado de S.Paulo

Não houve greve geral nem comoção nacional. Na comparação, o "Dia Nacional de Lutas" ficou a léguas de distância do impacto provocado pelas três semanas de protestos que deixaram o País em transe e o poder público em pânico.

Contou a ausência do fator surpresa, é verdade, mas evidenciou-se também uma mudança de paradigma: a sociedade prefere conduzir a ser conduzida e dá conta do recado com muito mais competência.

Fala-se de falta de foco nos protestos de junho, na ausência de lideranças, na desorganização e no caráter apolítico visto com receio de que signifique repúdio à atividade inerente ao sistema democrático.

Mas, ao que se viu nos embates das centrais sindicais durante os preparativos para as manifestações de ontem, a garotada mobilizada pela internet tinha mais apelo, se fazia entender muito melhor com sua variedade de bandeiras que os sindicalistas organizados em suas centrais bem estruturadas, sustentadas com verbas públicas e ligadas a esse ou àquele partido.




A massa junina saiu de casa para dizer que queria ser mais bem atendida pelo Estado, respeitada por integrantes dos Poderes constituídos e representada pelos eleitos. Já as centrais, a partir da pauta de reivindicações tradicionais, digladiaram entre dois objetivos: de um lado marcar posição contra o governo, de outro abrir espaço para a defesa de interesses do governo, entre eles a ressurreição do plebiscito da reforma política.

Todo mundo entendeu o sentido do movimento iniciado pela juventude: "Não é só pelos R$ 0,20"; era e continua sendo pelo conjunto da obra. Causou espanto a forma, mas o conteúdo estava explícito.


Leia a íntegra no Estadão de 12/07/2013

O Médico Cubano

                           
Do que... toc,toc,toc... escapamos...

Arca do Tesouro

Com a ajuda da Mafalda

Mafalda, a grande pequena Mafalda, diz coisas que muitos grandes ainda não aprenderam...

E olha que ela sabe dessas coisas há séculos, antes mesmo do Quino pensar em nascer.

No entanto, foi preciso esse Argentino com A maiúsculo nascer, crescer e criar a querida Mafalda para que ficasse gravado, preto no branco, o seguinte:

“Decidi enfrentar a realidade, por isso, quando ela se apresentar de modo decente, por favor me avisem”.

“O pior, é quando o pior começa a piorar”.


“Quem sabe os grandes homens sejam coisas que venham em ondas, um século a cada dois?”.




                                        Mafalda e Quino


Transcrito da Navetta* em 27/03/2010

Pai Nosso


Gloria Gadelha e Marilena Soneghet são as autoras dessa emocionante homenagem à vinda do papa Francisco ao Rio.

Fusa, semifusa e confusa, por Maria Helena RR de Sousa

Noutro dia escrevi um artigo no qual falava em William Waack e seu programa na Globo News, Painel. Hoje, abro este texto comentando sobre sua firme mediação em um debate que houve nesta última Flip.
Waack repetiu uma frase que ouvi muitas vezes de meu mestre jornalista- blogueiro: “Jamais brigo com a notícia”. Goste dela ou não, afirma.

Antes que me acusem de “cismar” com William Waack, coisa natural dado ele ser homem inteligente e charmoso, digo que no vídeo sobre o debate ele se refere à lição que aprendeu ao longo de sua carreira de repórter político e que transmitiu à plateia: “movimentos sociais sem uma clara definição e rumo político, em geral, provocam menos mudanças do que as esperanças que esses movimentos despertam”.

Nem querendo eu duvidaria da lição de jornalista tão experiente, pois, nos últimos dias, tive provas que as esperanças despertadas estão indo para o recanto das quimeras.

Creio que a maioria dos leitores do Blog do Noblat sabe que sou filha de um compositor da MPB. Acompanhei, estarrecida, a tramitação do projeto de lei sobre a mudança das regras para arrecadação e distribuição dos direitos autorais.

Depois da morte de meu pai escolhi a associação que bem entendi para me representar junto ao ECAD, como cidadã livre e dona do meu nariz e daquilo que é meu.

É de meu interesse examinar a prestação de contas que recebo mensalmente. Se não estiver satisfeita ou se quiser trocar de associação, sou livre para fazê-lo.

Ora, de repente, porque um grupo de compositores foi ao Congresso, estão mexendo em tudo e com rapidez impressionante.

Em apenas 8 dias o projeto passou pelo Senado, foi para a Câmara, voltou ao Senado e já foi enviado à Presidência da República.

Com as ruas em polvorosa, é espantosa a importância federal que deram a um assunto que só diz respeito a detentores de direito autoral.

Foi uma esperança desfeita: agora, o ECAD, instituição privada, será gerido pelo Estado!



       Thomaz Srougi, criador do Dr. Consulta, e Cesar Camara, diretor-geral
                                   Foto: Daniel Teixeira/AE


Confusa, fico cabisbaixa e quem me ampara?  O Dr. Consulta. Que não é uma quimera, mas uma clínica médica privada onde não vale convênio, nem cartão do SUS! Com médicos que trabalham ali e no Sírio e Libanês e no Einstein: consultas a R$40,00 com um clínico-geral e a R$60,00 com médicos de dez especialidades.

Na boca de uma favela em São Paulo, uma dúzia de médicos, oriundos de boas universidades e do corpo clínico dos dois hospitais de ponta, atende em uma clínica sem luxo algum na decoração, mas com todo o luxo tecnológico necessário para um atendimento de qualidade.

Por favor, leiam a matéria. Depois, fechem os olhos e imaginem: não seria a perfeição o Governo Federal, em vez de um Ato Médico que só vai servir para diminuir o número de estudantes dispostos a se dedicar à medicina, espalhar clínicas semelhantes por este Brasil afora? (Estadão, 22/06/2012)


Publicado originalmente no Blog do Noblat, 12/07/2013

Os bisbilhotados e os bisbilhoteiros, por Marli Gonçalves

Fico imaginando que logo receberemos em casa um buquê de flores, podem até ser vermelhas, com um cartão perfumado e meloso e do qual brotará uma foto de nossa presidente sorrindo, perdoando nossas rebeldias, anunciando muitas medidas instantâneas, e até nos convidando para um cafezinho coado no Palácio

Cruz Credo? Melhor do que antes quando imaginava o Zé Dirceu dando palpite em tudo, aparecendo em todos os lugares e temia que, um dia, quando eu abrisse o box do chuveiro para tomar banho, ele já estaria lá dentro e sairia bradando alguma ordem, metendo o bedelho, sabendo de tudo. Agora deram para invocar com a espionagem e bisbilhotagem norte americana! Ó, surpresa! Ó, dó! Ninguém sabia disso. Nem imaginávamos, não é mesmo? Daqui a pouco vamos nos surpreender ao saber que os russos também nos ouvem, e nem combinaram com a gente, esses malvados.


                                                                     Arte: Alex Falco


E, como bons descendentes de portugueses que somos (eu sou, posso falar), vamos aproveitar e fazer uma CPI para futucar bem, investigar, gastar um pouquinho mais, afagar deputados e senadores, mudar o rumo da conversa que estava muito em cima de uma tal Petrobras, da Copa (e Olimpíadas). Aproveitamos para pisar e espalhar mais um pouco a coisa: divulgamos aos quatro cantos que nosso governo trabalha descoberto, que nem a presidente usa telefones especiais, que chanceler não fala com chanceler; nem escreve e-mail.

Pelo menos uns cinco empresários que conheço andam totalmente blindados - de carros a telefones, muitos celulares, constantemente checados, criptografados, cromados. Já a presidente do país, não. Também! Já pensaram o custo de cuidar de 39 ministros e assemelhados? Comprar roupas que não sejam ternos xadrezes com gravatas tortas para os nossos disfarçados arapongas?

Como gosto de dar bolas à imaginação, imagino os ouvidos americanos tentando entender umas coisinhas que ouvem ou leem. Um homem do marketing governando, criando bondades embaladas e maldades engarrafadas para vender no horário nobre, tocar na Hora do Brasil.

O ministro da Educação e o seu vasto bigode Mercadante falando só de política, de como vai ser promovido qualquer hora a papagaio de pirata chefe, como vai ferrar de vez os adversários ali ao lado. Gilberto Carvalho choramingando para o Lula (que só ele acha onde está) contando que está sendo maltratado, sem amor, ninguém para rezar com ele. O tal Cardozo Ardiloso da Justiça, mais perdido que bola de gude em dia de passeata, tentando saber se alguém sabe de alguma coisa porque ele precisa fazer cara feia e dizer que está tomando providências.

Fora o coitado do americano que patrulha o Afif, meio confuso. Ué, ele não é vice-governador de São Paulo? Porque está ligando do Ministério?

O gringo só vai poder rir quando ouvir a conversa da Dona Marta, marcando algum cabeleireiro, voo, manicure, prova de roupa, plástica, para se disfarçar de pedra. Quem, eu? Governo? Eu? Protestos. Ah! Quando eu assumir, junto com o prefeito de São Paulo, vou mandar verificar, rigorosamente.

Eu ficaria horas imaginando. Mantega, Padilha, Narizinho, Ideli... Alguém de vocês aí consegue imaginar como têm sido os dias de Dona Dilma, depois de descobrir que montou um governo de trapalhões? Um horror. Com um monte de gente na porta pedindo coisas, aproveitando as fraquezas e querendo pisar no pé dela e arrancar unha encravada a sangue frio. E a coitada tendo de ser simpática! Tomar decisões! E quando ela vai em algum lugar assim, digamos, mais cheio de gente, e que ouve aquele zumzumzum, com um som de Ú, constante? Ainda por cima, obrigada a andar arrumada, maquiada,penteada. Óculos, ela não precisa. As plaquinhas das ruas têm sido escritas com letras bem graúdas, caprichadas na clareza.

Essa semana, dizem, Lula desceu lá da África e baixou na casa dela. Será que ela viu que era ele, antes, pelo olho mágico? Porque o que ele deve ter dado de conselho, o chato, porque esse é outro que acha que é sobrenatural, sabe de tudo. Bate no peito: entende de um tudo, com uma percepção anormal, sensibilidade de peão, porque subiu na vida. Bom, precisaremos perguntar ao Obama sobre o que ambos conversaram, já que como dizem ele estaria especialmente interessado no Brasil.

Sempre achei o Obama um cara bem humorado mesmo. O que deve receber de informação engraçada! Rosimeire? Who? BNDES money, free? Renan Air? What? What?What?

Mas tem uma coisa que a gente não pode negar. O apego de Dilma a Lula só pode ser um sentimento lindo, aquele, e que podemos até aproveitar para festejar bastante agora, dia 20 de julho, o dia desta maravilha que é a amizade. Dia 20 é o Dia do Amigo. Daquele junto aos quais às vezes nos calamos para não perdê-los; relevamos, perdoamos. Amigo que deixa a gente muito aflito se não está bem. Amigo amigo, que é mais do que os milhares de amigos que temos feito por aí, nas redes e na nuvem, que adicionamos ou aceitamos. Embora saiba que às vezes muitos de nós temos amigos virtuais mais próximos do que os de carne e osso, porque de longe esses são sempre mais maleáveis como confidentes, dispondo só das informações que nós próprios lhes fornecemos.

Como eu sou boa, muito boa, pessoa boazinha, vou dar uma força para manter essa amizade que nos tem governado em dueto, o problema agudo é que com muitos graves. Dilma, não briga com o Obama, que não é hora. Fala com O Cara, não aumenta muito a pressão porque, sabe como são esses espiões americanos, gente ruim, podem começar a espalhar algumas das coisas que ficaram sabendo, ou que falam um do outro. E aí, amiga, quem vai ter que se explicar e rebolar é você.

Lembre que não era a voz rouca das ruas que estava sendo espionada. Tanto que surgiu e pegou todo mundo, literalmente, de surpresa. Vocês, com a boca na botija.

São Paulo, bom dia a todos os ouvintes, 2013


Marli Gonçalves é jornalista - - Amiga. Mas anda perdendo uns amigos por aí quando tenta mostrar que humor e bom senso é igual caldo de galinha: sempre faz bem e ajuda a pensar. Ficam com raiva. Eu sou da paz.


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