If You Leave Me Now: European Jazz Band
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Para a Hora do Chá
- Fernando Pessoa (Álvaro de Campos, 15-10-1929)
- Aniversário
- No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
A palavra é de... Carlos Brickmann
Frases
Do jornalista e blogueiro Ricardo Noblat:
Se a imprensa não existisse os governos seriam mais felizes.
Do repórter e escritor Cláudio Tognolli:
Na Arábia Saudita, bandido é amputado: no Brasil, é deputado.
Do jornalista e dramaturgo
Oswaldo Mendes:
O jogador chega ao clube e diz
que veio para ajudar. Chega à seleção e diz que veio para ajudar. E até o
Neymar diz que chega ao Barcelona para ajudar. Ninguém chega pra jogar,
caramba? O politicamente correto é um porre!
Do compositor Júnior Bueno:
Jornalistas, vamos parar de usar
a palavra "companheiro/a" pra casais do mesmo sexo? Somos gays, não
somos da CUT.
Arca do Tesouro
*Acreditem, se quiserem. Estou há alguns dias para publicar o publicado abaixo. Há pouco, resolvi publicar hoje. São 02:33 da manhã e só agora, ao agendar a hora da publicação, dei-me conta de que hoje é 13 de junho, aniversário de Pessoa, que completaria 125 anos. O que isso quer dizer? Não sei. Mas alguma coisa quer dizer...
Casa Fernando Pessoa
Toda a biblioteca particular de Fernando Pessoa online e gratuitamente.
Até agora, só uma visita à Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, permitia consultar este acervo, que é riquíssimo.
O site, bilíngue (português e inglês) está disponível online e gratuitamente.
É possível consultar, página a página, os cerca de 1140 volumes da biblioteca, mais as anotações - incluindo poemas - que Fernando Pessoa foi fazendo nas páginas dos livros.
Recebi esse tesouro de uma grande e querida amiga, uma das minhas sobrinhas do coração, neta, filha, mulher e mãe de amigos adoráveis.
E escolhi, para dar água na boca de vocês, notas de Fernando Pessoa sobre si mesmo:
Cópia do original dactiloscrito por Fernando Pessoa, gentilmente cedido pelo Professor José Barreto.
[NOTA BIOGRÁFICA] DE 30 DE MARÇO DE 1935
“Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.
“Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.
“Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi Director-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus.
“Estado: Solteiro.
“Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.
“Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dt.º, Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa).
“Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.
“Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III» (em inglês também), 1922, e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria «Poema». O folheto «O Interregno», publicado em 1928, e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.
“Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.
“Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberdade dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário.
“Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.
“Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.
“Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».
“Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.
“Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania”.
Lisboa, 30 de Março de 1935
Fernando Pessoa
In Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, ed. Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2003, pp. 203 - 206.
Transcrição do site pertencente à
Rua Coelho da Rocha, 16
Campo de Ourique
1250-088 Lisboa
Tel.: +351 213 913 270
Gilberto Scofield Jr
Um Rio de serviços
ruins
É certo que a qualidade dos
serviços nunca foi exatamente uma maravilha. Mas, diante dos preços cobrados
aos cariocas hoje, esta deficiência se transformou num deboche e numa
irritação. Os serviços no Rio são caríssimos e inexplicavelmente ordinários.
Restaurantes cujos garçons não conseguem descrever um prato, bares onde é
preciso ser Denise Stoklos para se fazer notar, casas de show incapazes de
começar um espetáculo na hora, táxis com motoristas que perguntam antes para
onde vai o cliente, balcões de informações com gente que não sabe nada,
ônibus que são máquinas de matar, caixas de banco pouco solícitos, caixas de
supermercado que jogam suas compras, vendedores de lojas que discriminam,
hospitais com técnicos em enfermagem rabugentos.
No Rio, tudo parece tocado pela incompetência ou pela falta de qualidade. Ou
os dois juntos. Dia desses, peguei um táxi com o motorista ouvindo um
programa religioso. Aos berros. Peço gentilmente ao sujeito que abaixe um
pouco o som. E ele: "Mais um sem Jesus no coração". E eu :
"Ele não está no meu coração porque está preso no meu tímpano. O senhor
pode baixar o som, por favor?". Ele abaixou uma coisa ínfima e foi
resmungando até chegar ao destino.gils@oglobo.com.br
Artigo publicado originalmente
em O GLOBO, edição de 9/6/2013
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