quinta-feira, 13 de junho de 2013

Isso é lá com Santo Antonio!


Caçulinha interpreta Lamartine Babo 

Arca do Tesouro

*Acreditem, se quiserem. Estou há alguns dias para publicar o publicado abaixo. Há pouco, resolvi publicar hoje. São 02:33 da manhã e só agora, ao agendar a hora da publicação, dei-me conta de que hoje é 13 de junho, aniversário de Pessoa, que completaria 125 anos. O que isso quer dizer? Não sei. Mas alguma coisa quer dizer...

Casa Fernando Pessoa

Toda a biblioteca particular de Fernando Pessoa online e gratuitamente.
Até agora, só uma visita à Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, permitia consultar este acervo, que é riquíssimo.
O site, bilíngue (português e inglês) está disponível  online e gratuitamente.
É possível consultar, página a página, os cerca de 1140 volumes da biblioteca, mais as anotações - incluindo poemas - que Fernando Pessoa foi fazendo nas páginas dos livros.

Recebi esse tesouro de uma grande e querida amiga, uma das minhas sobrinhas do coração, neta, filha, mulher e mãe de amigos adoráveis.  

E escolhi, para dar água na boca de vocês, notas de Fernando Pessoa sobre si mesmo:

Cópia do original dactiloscrito por Fernando Pessoa, gentilmente cedido pelo Professor José Barreto.

[NOTA BIOGRÁFICA] DE 30 DE MARÇO DE 1935

“Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.

“Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888. 

“Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi Director-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus. 

“Estado: Solteiro. 

“Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação. 

“Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dt.º, Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa). 

“Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas. 

“Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III» (em inglês também), 1922, e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria «Poema». O folheto «O Interregno», publicado em 1928, e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.

“Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos. 

“Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberdade dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário. 

“Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria. 

“Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal. 

“Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação». 

“Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima. 

“Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania”.


Lisboa, 30 de Março de 1935 
Fernando Pessoa

In Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, ed. Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2003, pp. 203 - 206.


Transcrição do site pertencente à 
Rua Coelho da Rocha, 16
Campo de Ourique
1250-088 Lisboa
Tel.: +351 213 913 270

Gilberto Scofield Jr

 Um Rio de serviços ruins
É certo que a qualidade dos serviços nunca foi exatamente uma maravilha. Mas, diante dos preços cobrados aos cariocas hoje, esta deficiência se transformou num deboche e numa irritação. Os serviços no Rio são caríssimos e inexplicavelmente ordinários.




Restaurantes cujos garçons não conseguem descrever um prato, bares onde é preciso ser Denise Stoklos para se fazer notar, casas de show incapazes de começar um espetáculo na hora, táxis com motoristas que perguntam antes para onde vai o cliente, balcões de informações com gente que não sabe nada, ônibus que são máquinas de matar, caixas de banco pouco solícitos, caixas de supermercado que jogam suas compras, vendedores de lojas que discriminam, hospitais com técnicos em enfermagem rabugentos.

No Rio, tudo parece tocado pela incompetência ou pela falta de qualidade. Ou os dois juntos. Dia desses, peguei um táxi com o motorista ouvindo um programa religioso. Aos berros. Peço gentilmente ao sujeito que abaixe um pouco o som. E ele: "Mais um sem Jesus no coração". E eu : "Ele não está no meu coração porque está preso no meu tímpano. O senhor pode baixar o som, por favor?". Ele abaixou uma coisa ínfima e foi resmungando até chegar ao destino.

No Jobi, o garçom pede uma cadeira vazia na mesa ao lado, ocupada por uma solitária mulher. A ocupante disse que esperava uma amiga, que já estava chegando, mas o garçom garantiu que não tinha problemas, que ele arrumaria outra cadeira. Quando a amiga chegou, a mulher chamou o garçom, mas ele disse que não podia fazer nada. Diante de reclamações indignadas, o garçom apontou a fila na porta: "Se você quiser ir embora, não tem problema. Tem um monte de gente querendo entrar".

Um amigo vem sofrendo para agendar a entrega de uma estante nova e o conserto da TV a cabo porque as empresas marcam o dia, mas não se comprometem com horário, como se o sujeito tivesse um dia inteiro à disposição.

E há a falta de gentileza. Há coisa de duas semanas, fui à Chocolates Katz do Rio Sul, de que gosto muito, e enquanto bebericava um expresso (R$ 3,80) pedi para provar um cubinho de chocolate extra amargo. Uma delícia. Pedi cem gramas, um potinho de biscoito wafer coberto e a conta. E a atendente: "Vou cobrar seis gramas para incluir o chocolate que o senhor comeu". Como assim? A prova? Mas se não fosse ela eu não gastaria R$ 35,34 em chocolate!

Um amigo foi ao Cafeína e precisou usar o laptop. Descobriu que a bateria estava acabando e chamou a garçonete: "Você teria uma tomada para eu ligar o meu computador?" E a menina: "Temos, mas o gerente diz que cliente não pode usar".

Há quem explique essa vagabundagem nos serviços apelando para a História. O Rio sempre padeceu de bons serviços para a população porque sempre foi uma cidade dividida desde a Colônia. Para a elite — os senhores de engenho, a corte, os nobres, os governantes da capital, o topo do funcionalismo, os ricos —, tudo. Para os outros, a resignação. Quem mandou não ser "alguém"? Quem mandou não ter "conexões"? Ou seja: se você frequenta o lugar, é um rei. Se não frequenta, que se vire.

Eu prefiro acreditar nos mais pragmáticos: falta investir em treinamento. O que parece é que uma economia turbinada pelo consumo e por programas de redistribuição de renda saiu contratando quem estivesse disponível para trabalhar. E essa mão de obra simplesmente não foi (não é) treinada adequadamente. Só isso explica um cidadão ir a uma região administrativa da prefeitura e ouvir ali que "é mais fácil ligar para o 1746".

Uma terceira corrente vê passividade nos cariocas. Para essa gente, o carioca não reivindica e não reclama. Uma cidade cheia de belezas naturais parece ser o suficiente e desculpar todas as falhas. Desde que a cerveja esteja gelada, tudo bem que a mesa é bamba e a cadeira, de plástico.

Está mais do que na hora de mudar isso, não?



Gilberto Scofield Jr. - É jornalista de O GLOBO
gils@oglobo.com.br


Artigo publicado originalmente em O GLOBO, edição de 9/6/2013



Olá! Bom Dia!



Carlinhos Vergueiro interpreta Samba Abstrato, de Paulo Vanzolini

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Palavra da Coruja


Quando a derrota é inevitável, é mais sábio ceder.
Quintiliano

Fim de Tarde


Charles Aznavour em
J'en déduis que je t'aime

Par la peur de te perdre et de ne plus te voir
Par ce monde insensé qui grouille dans ma tête
Par ces nuits sans sommeil où la folie me guette
Quand le doute m'effleure et tend mon coeur de noir
J'en déduis que je t'aime
J'en déduis que je t'aime

Par le temps que je prends pour ne penser qu'à toi
Par mes rêves de jour où tu règnes en idole
Par ton corps désiré de mon corps qui s'affole
Et l'angoisse à l'idée que tu te joues de moi
J'en déduis que je t'aime
J'en déduis que je t'aime

Par le froid qui m'étreint lorsque je t'aperçois
Par mon souffle coupé et mon sang qui se glace
Par la désolation qui réduit mon espace
Et le mal que souvent tu me fais malgré toi

Par la contradiction de ma tête et mon coeur
Par mes vingt ans perdus qu'en toi je réalise
Par tes regards lointains qui parfois me suffisent
Et me font espérer en quelques jours meilleurs
J'en déduis que je t'aime
J'en déduis que je t'aime

Par l'idée que la fin pourrait être un début
Par mes joies éventrées par ton indifférence
Par tous les mots d'amour qui restent en souffrance
Puisque de te les dire est pour moi défendu
J'en déduis que je t'aime
J'en déduis mon amour.

Para a Hora do Chá


Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!

Luiz de Camões