terça-feira, 2 de julho de 2013

Para a Hora do Chá


Luiz Vaz de Camões

 Não sou um tempo
 ou uma cidade extinta.
 Civilizei a língua
 e foi resposta em cada verso.
 E à fome, condenaram-me
 os perversos e alguns
 dos poderosos. Amei 
 a pátria injustamente
 cega, como eu, num 
 dos olhos. E não pôde 
 ver-me enquanto vivo.
 Regressarei a ela
 com os ossos de meu sonho
 precavido? E o idioma
 não passa de um poema
 salvo da espuma
 e igual a mim, bebido
 pelo sol de um país
 que me desterra. E agora
 me ergue no Convento
 dos Jerônimos o túmulo,
 que não morri.
 Não morrerei, não
 quero mais morrer.
 Nem sou cativo ou mendigo
 de uma pátria. Mas da língua
 que me conhece e espera.
 E a razão que não me dais,
 eu crio. Jamais pensei 
 ser pai de santos filhos.

 Carlos Nejar

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