domingo, 30 de junho de 2013

Carlos Brickmann

Amanhã vai ser o mesmo dia

Na primeira metade do século 19, a Inglaterra, maior potência militar da época, exigiu que o Brasil elaborasse leis que impedissem o tráfico de escravos. O Brasil fez todas as leis que os ingleses pediram e continuou a traficar escravos. As leis, sabiam todos, não eram para valer. Eram apenas para inglês ver. A expressão ficou até hoje em nossa língua, como sinônimo de enganação.

Transparência? O jornal O Globo , com base na Lei de Acesso à Informação, pediu o extrato dos gastos da servidora federal Rosemary Noronha, que se dizia amiga de Lula, denunciada pelo Ministério Público por tráfico de influência, corrupção passiva e falsidade ideológica. O Governo se negou a dar a informação. Motivo: poderia colocar em risco "a segurança do presidente e do vice-presidente da República e respectivos cônjuges e filhos". Então, tá.

Menos gastos? Cada vez que vai à TV, Dilma faz penteado e maquiagem, o que é normal. Mas penteado e maquiagem custam R$ 3.125 - número oficial. No salão de Celso Kamura, o cabeleireiro de Dilma, penteado e maquiagem saem por R$ 680. Nas primeiras vezes em que Dilma foi à TV, o custo foi de R$ 400.

Planejamento? Histórias para inglês ver não são exclusivas do Governo Federal, nem do PT. Em Goiás, governado pelo tucano Marconi Perillo, o mesmo cartaz, da mesma obra, sofreu pequena modificação: onde se lia que o custo seria de R$ 54 milhões, surgiu outro número, R$ 111 milhões. Segundo o Governo goiano, foi erro da empresa que fez a placa e colocou o custo de um só trecho. Pois é.

Cortar custos, só dos outros

O Congresso aprovou em alta velocidade projetos que, embora estivessem há anos nas gavetas, nem tinham sido discutidos. Mas a Proposta de Emenda Constitucional que reduz o número de deputado de 513 para 380 (PEC 170), que provocaria uma economia de quase R$ 13,5 milhões por mês, apresentada em 1999, esta ficou no caminho. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deu esta semana, após 14 anos, seu parecer contrário.

Mexer no deles, nem pensar.

Crime e castigo

Só Câmara? Não seja injusto. O Senado transformou delitos de servidores públicos em crimes hediondos, com aumento de pena. Ótimo - desde que alguém identifique e julgue os hediondos criminosos. O pessoal do Mensalão, acusado desse tipo de crime, levou sete anos para ser julgado. E a pena não foi aplicada.

O tempo passa

Pode ser para inglês ver, mas o brasileiro ainda vai demorar a ver o endurecimento das penas. O projeto tem ainda de ser aprovado pela Câmara e sancionado pela presidente. O parecer favorável à aprovação já tinha um ano de gaveta.

Atenção... 

Senado, Câmara, Governo Federal, Governo goiano - e, claro, Governo paulista. O governador tucano Geraldo Alckmin anunciou com pompa e muito barulho que o pedágio nas estradas estaduais não será reajustado neste ano. E, discretamente, determinou que os caminhões passem a pagar pedágio calculado sobre todos os eixos, acabando com a norma pela qual os eixos suspensos estariam fora do cálculo. Traduzindo: um caminhão pode rodar com algumas rodas fora do chão, quando estiver descarregado, economizando pneus. No caso pagava o pedágio sobre o número de eixos que efetivamente estivessem em uso. Agora pagará sobre todos - o que pode aumentar o custo de uma viagem entre 30 e 50%.

Ou seja, beneficia-se o dono do automóvel e cobra-se a diferença do caminhão cuja carga fica mais cara. O carro Mercedes paga menos, o caminhão Mercedes paga mais. E quem não tem carro nenhum paga a conta do mesmo jeito.

... perigo! 

O governador Alckmin deve achar que sua jogada de marketing é excelente, mas talvez os caminhoneiros tenham opinião diferente. Há debates na categoria sobre a paralisação das estradas estaduais paulistas, com estacionamento de caminhões na entrada dos pedágios, bloqueando totalmente o tráfego. Se acontece algo como isso, o Estado mais rico da Federação fica paralisado e o país inteiro sofre.

O risco de problemas institucionais começa a tornar-se visível.

Ninguém sabe nada

O homem-forte da Economia brasileira durante a maior parte do regime militar, o ex-ministro Delfim Netto, teve a coragem de dizer à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo que não sabia que houve tortura no país na época da ditadura. É incrível: este jornalista, editor do Jornal da Tarde, cargo de quarto escalão (acima havia o secretário de Redação, o editor-chefe e o diretor do jornal), sabia. Repórteres recém-chegados a seu primeiro emprego sabiam. O Estado de S.Paulo , jornal essencial para que um ministro se informe, publicou até editorial sobre tortura. Veja colocou a tortura na capa.

E Delfim, que era ministro, que assinou o Ato nº 5, não sabia. Sua assessoria deve ter falhado, não é mesmo?

Em Brasília, como os romanos

O papa Francisco criou uma comissão para analisar a situação do Banco do Vaticano e propor reformas. Veja que coincidência: no Brasil, antes mesmo da iniciativa do papa, muitas reformas foram decididas por uma comissão.


carlos@brickmann.com.br 
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3 comentários:

  1. No blog de Augusto Nunes há este texto do C. B. com um comentário absolutamente extraordinário de uma ''Helena'' que, ouso afirmar, creio ser de uma certa Maria Helena RR de Souza!

    Se não for - mas tem idêntica consistência - favor reproduzi-lo aqui, com todo a obsequiodade que a situação exige. Gratíssima!

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    1. Idêntica consistência? Santo Cristo da Abadia!

      Esse comentário não é meu. Assino como meu nome completo tudo que envio para publicação. E tem mais: a pessoa que assina Helena e não se identifica por completo não conhece Carlos Brickmann. Se o conhecesse não diria o que disse.

      É o tal negócio, por trás do biombo todos dizem o que bem entendem.

      É por essas e outras que escolho muito bem os blogs a frequentar. MHRRS

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    2. Correção: "Assino com meu nome completo...". MHRRS

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