terça-feira, 25 de junho de 2013

A palavra é de... Elton Simões



R$ 0,20 não compra um café. Não mata a sede. Não mata a fome. Não compra nada. R$ 0,20 não serve para muita coisa. Na maioria dos casos, R$0,20 é aquele troco inconveniente que fica no fundo de bolsos e bolsas, esperando para ser descoberto pelo detector de metal do aeroporto.

Não dá para fazer coisa alguma com R$ 0,20. Realmente não dá. Mas, aparentemente, R$ 0,20 pode fazer muita coisa. Pode ser a fagulha que começa o fogo, que vira incêndio. Depois que o incêndio começa a fagulha já não tem importância. Não se combate incêndio procurando a fagulha. Esta se extinguiu faz tempo.

O mar de gente que inunda a rua não está interessado em trocar cidadania por centavos. Devolver R$ 0,20 não traz cidadania. Não devolve a dignidade. Não resolve a desilusão. Não traz a esperança.

Não é a situação ruim que embala o protesto. É a constatação que o sofrimento não levará a dias melhores que motiva a ação. É a falta de esperança. É a certeza de que o futuro não será melhor se tudo continuar como está. É a falta de fé nos representantes ou em sua capacidade de estar à altura dos desafios. É a descrença nos representantes pelos representados. Tudo isso leva a população às ruas. E isso não é pouco.

Só a volta da esperança traz a paz. Somente aqueles que são ouvidos podem ter o luxo de parar de gritar. A crise é de esperança. A crise é de representação. Sem que o eleitor se sinta representado pelo eleito, não existe democracia. E, sem democracia, o protesto é o que resta para ser ouvido.


Leia a íntegra no Blog do Noblat de 24.6.2013 


Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). E-mail: esimoes@uvic.ca 

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