segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Arca do Tesouro

Hoje, 5 de agosto, é uma data especial para mim. Foi em 5 de agosto de 2005 que, atendendo a um convite de Ricardo Noblat, enviei um artigo para seu Blog. Desde então, escrevo semanalmente para o Blog do Noblat.  Do que me orgulho muito.

Só falhei duas vezes em 2010 e três vezes em 2013. Façam as contas e vejam quantos artigos já escrevi...
Para comemorar,  resolvi publicar aqui a apresentação que Noblat escreveu e copiar o artigo:

"O trecho acima é do artigo de estréia como colaboradora deste blog de Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, que acabei de postar sob o título "O piquenique" na seção aí ao lado chamada Artigos.

A autora nasceu na cidade de São Paulo, mais precisamente no bairro do Tatuapé, em 1937. Aos dois anos foi para o Rio de Janeiro e, por isso, plagiando um amigo na mesma situação, declara-se portadora de dupla nacionalidade.

Já morou em Genebra, em Londres e no Recife, onde nasceu seu único filho. Orgulha-se de ser mãe e dona de casa, carreira que considera a mais importante de todas. Durante muito tempo foi professora particular de inglês e francês; hoje se dedica a traduzir, de preferência ficção, ofício que considera apaixonante.

Maria Helena escreverá aqui sempre às quintas-feiras. Esse artigo não foi publicado ontem por falha minha.

Em tempo: ela votou em Lula".


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Enviado por Ricardo Noblat - 5.8.2005 | 10h30m

O piquenique

Fico envergonhada de ter escolhido para dirigir os destinos do meu País um homem tão patético, despreparado, e que faz questão absoluta de continuar despreparado. Que chega a se vangloriar de não ter estudado, bradando que para governar o Brasil não é necessário diploma e sim coração. Que, ao iniciar um discurso numa solenidade oficial, mostra aos presentes os papéis que vai ler e diz :? Não se assustem com o volume. É um parágrafo por página?

Na década de 50, a professora de português de uma turma da 1ª série ginasial passou como dever de casa, para ser entregue na  segunda-feira seguinte, uma redação com o título: “Um piquenique no domingo”. Na segunda, lá estava Fernando entregando seu caderno, onde se lia:

“No domingo choveu, por isso não teve piquenique”.

Desde o dia da malfadada entrevista do Presidente Lula sentadinho naquela cadeira estilo Império, nos jardins da Résidence Marigny, essa frase ficou ecoando na minha cabeça: Choveu no PT e por isso não houve piquenique.

Mas choveu o quê? Não foi uma água limpa, daquelas chuvas que fazem o cheiro bom da terra nos entusiasmar, pois lembra a infância, dias melhores, férias no campo, sei lá o quê, mas sei que são sempre lembranças positivas. Dessa vez, não. Foi chuva fétida, misturada com lama, violenta. Chuva que varreu a esperança, a fé e a caridade de nossos corações.  A esperança de dias melhores com esse governo que aí está, sumiu.  A fé em encontrar políticos com força suficiente para reerguer o país, desapareceu. A caridade, essa foi pro espaço, ou você tem compaixão pelos Delúbios?

Mas será possível que nós, cidadãos, só conseguíssemos perceber isso agora? Que tenha sido necessário ver um sujeito embolsar R$3000,00 reais numa rapidez de prestidigitador e um tipo como o Roberto Jefferson abrir o bico? Não, claro que não. Os sinais estavam aí, claros, nítidos, mas nós não queríamos ver, nem nós, nem a imprensa, nem a oposição ao governo do PT.

De vez em quando alguém reclamava, é verdade. Por exemplo, no próprio PT houve desentendimentos, mas o que aconteceu: a expulsão da Senadora Heloísa Helena e de 3 deputados do partido. Problema deles, disseram alguns, eles que são brancos que se entendam. Mas é que o problema era e é nosso...

Um artigo altamente elogioso ao PT e à sua política econômica, publicado se não me engano na “Folha de São Paulo”, assinado pelo senhor Olavo Setúbal, ou seja, pelo próprio Banco Itaú. Verdade que fez a pulga começar a se mexer atrás da orelha!

Pouco a pouco o Congresso Nacional sob o domínio das Medidas Provisórias; afastando-se cada vez mais da sociedade que elegeu seus representantes, facilitando crises, maracutaias, coalizões espúrias; partidos nanicos se agigantando, a base do Governo se tornando maior a cada dia, assim, sem mais nem menos.

A blindagem do presidente do Banco Central, os juros na estratosfera, os investidores estrangeiros encantados com o Brasil, a “ herança maldita” se perpetuando, o Aerolula, os cento e tantos ternos, as camisas sob medida sendo confeccionadas em Salvador,  “quero dizer a vocês, que nunca, na História deste país, se viu nada igual! “. Nunca mesmo!...

Não sei se tudo isso dói em todos da mesma maneira ou se dói mais nos eleitores do Lula, como é o meu caso. Fico envergonhada de ter escolhido para dirigir os destinos do meu País um homem tão patético, despreparado, e que faz questão absoluta de continuar despreparado. Que chega a se vangloriar de não ter estudado, bradando que para governar o Brasil não é necessário diploma e sim coração. Que, ao iniciar um discurso numa solenidade oficial, mostra aos presentes os papéis que vai ler e diz :” Não se assustem com o volume. É um parágrafo por página”.

A desculpa por viajar tanto era sempre justificada pelo já célebre chavão “Nunca na História deste pais...” e aí nos falava de como era amado no exterior, de como o nome do Brasil hoje era respeitado lá fora, de como todos estavam estarrecidos com o excelente trabalho realizado por ele, enquanto nós, ingratos, achávamos que ele estava apenas fazendo turismo. Pois é: nestes últimos dias perdemos a eleição para a OIC e para o BID.  Será que ainda vão insistir no Conselho de Segurança da ONU?  E por quanto tempo ainda vamos substituir os EUA no papel de invasor e polícia no Haiti?

Foi para isso, para esse redescobrimento do Brasil apud Lula, que nosso Governo foi entregue ao camarada José Dirceu? Depois de seu depoimento na Comissão de Ética, custo a crer que esse homem que ali estava, era o mesmo arrogante detentor de muitos poderes, inclusive de uma ascendência natural e, sejamos justos, intelectualmente merecida, sobre os demais membros do governo que elegeu. Mas ele recusou qualquer insinuação de que o plano de captação de fundos não contabilizados fosse de sua autoria, como se pudéssemos acreditar que o Delúbio e o Silvio Pereira tivessem capacidade de conjecturar esse esquema. Ou foi ele o autor ou foi quem?

Comedido, desempoado, sem qualquer sombra de sua costumeira arrogância (cuja negação foi, aliás, recebida por risos em uníssono no plenário da Comissão), José Dirceu me deu a impressão de ter esgotado seu estoque de criptonita. Só nos resta, portanto, aguardar pelos novos capítulos, bem como torcer para que um ominoso ‘acordão’ não esteja sendo tramado nas sombras.

Rio, 4 de agosto de 2005

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa


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Obs - hoje, 8 anos depois, duas explicações:

* passei a ser publicada às sextas, no meio da tarde, logo após a Hora do Recreio;

* aprendi, com meu mestre, a ser menos prolixa, a enxugar o texto. Foi tarefa árdua para esta rebelde que teimava em ser palrante, mas hoje vejo que o texto menor, desde que diga tudo que se quer dizer, beneficia o leitor. Esse piquenique podia ter sido bem menor, e o leitor certamente agradeceria...MH

6 comentários:

  1. Faltou outra observação: que votou no Lula mas que não votaria mais... :)

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    1. Mas isso não cabia ao Noblat dizer... Quem tinha que dizer era eu... E eu digo. Um abraço, MH.

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  2. Parabéns pelos seus oito anos de Noblat,Maria Helena.

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    1. Outro para você, Zerramos. Mas continuo esperando um desenho... MH

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  3. Parabéns pela data de hoje, Maria Helena. Gostei muito desta oportunidade de ler este seu primeiro texto no blog do Noblat, com a lucidez que lhe é peculiar nesta sua penitência de ter dado um voto de confiança a quem não nunca fizera jus a isso. Bj

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  4. A palavra certa: penitência. Que até hoje me persegue... quando penso que já votei na figura... bj, Harumi. Como sempre, bom te ver por aqui, MH

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