sábado, 22 de junho de 2013

Aliens, zumbis, manifestantes e vândalos

por Eugênio Bucci 

Se discos voadores tivessem aterrissado nas cidades brasileiras, despejando centenas de milhares de ETs que ficassem marchando, correndo ou simplesmente vagando sem rumo pelas avenidas, o espanto dos governantes não seria maior. O staff da Presidência da República, além de ministros, governadores e prefeitos, todos sucumbiram à perplexidade, um tanto atarantados. Alguns admitem: seria pretensão dizer que entendem os protestos urbanos desta semana. As cenas os estarrecem. A imagem que estampou o alto das primeiras páginas na terça-feira (18/6), mostrando uma multidão erguendo os braços no teto do Congresso Nacional, lembrava um fotograma de Resident Evil, em que zumbis tomam a cidade de assalto. E, se aqueles sujeitos ali em cima do Congresso fossem de fato zumbis, as autoridades talvez estivessem menos intranquilas.

Do filme O Dia Em Que A Terra Parou (1951)

Muito ainda será dito sobre a natureza das novas passeatas. Agora, os preços das tarifas serão reduzidos – os aumentos serão revogados, melhor dizendo, ao menos temporariamente – e a administração pública tentará ganhar tempo e abrir negociações com o interlocutor desconhecido. Mais uns dias e as ruas deverão sossegar um pouco. Só depois é que a política assimilará aos poucos o sentido do que se passa.

Entre as muitas explicações que virão, há uma que decorre dos estudos da comunicação. Num país em que todo acadêmico é obrigado a ler um pouco de Jürgen Habermas, chega a ser surpreendente como essa via teórica tenha demorado tanto a se insinuar nos debates que já estão em curso. Pelo que temos lido até aqui, é mais comum que os analistas procurem relacionar os protestos aos domínios da chamada esfera pública. Ganhariam mais se procurassem esses nexos em outros domínios.


Leia a íntegra no Observatório da Imprensa de 22/6/2013
Reproduzido da edição para iPads Estadão Noite, 19/6/2013

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