quarta-feira, 12 de junho de 2013

A palavra é de... Ateneia Feijó

Vidas em conflito

Em pleno século 21, o Brasil virou notícia global por conflitos de terra entre indígenas e produtores rurais no Mato Grosso do Sul. Com a morte dramática de um índio e vários feridos!

Como esse tipo de guerra ainda acontece por aqui?

Não, ainda não sabemos negociar questões históricas de disputa de território entre etnias culturalmente diferentes. Mesmo que sejamos ou tenhamos sido conhecidos por um jeito pacífico de atuar no mundo.
Se não há competência dos governos em identificar e gerir problemas regionais com tensões acumuladas, passa-se a lidar com bombas-relógio.

O foco desta vez são os terenas. Vivem no Mato Grosso do Sul, o segundo estado com a maior concentração de índios no país: 8,6% (o Amazonas é o primeiro com 20,5%). Mas, ao contrário do que acontece na região amazônica, estão confinados em pequenas áreas próximas de centros urbanos.

Na década de 1970, eram apontados por militares que administravam na época a Funai como os indígenas mais “desenvolvidos” do país. Isso significava o seguinte: eles seriam “assimilados” ou “aculturados” em breve. Poderiam se emancipar para deixar de ser “índios”.




Obviamente isso jamais aconteceria. Continuaram etnicamente terenas; com centenas deles formados em universidades, com mestrado, doutorado... Outros passariam a trabalhar nas fazendas produtivas que surgiriam por todos os lados, asfixiando suas reservas de dois mil hectares (constituídas em 1926).

Superpovoadas, as aldeias acabaram situadas nas periferias de cidades que também incharam. Enquanto seus territórios de ocupação tradicional foram demarcados e adquiridos por produtores rurais que receberam incentivos e títulos de propriedade.

Na ocasião, aquela terra pouco ou nada valia financeiramente. Agora, seus proprietários exigem indenização para entregá-las, já que nela investiram suas vidas e de suas famílias. Não tiram a razão dos índios, reconhecem que as terras lhes pertenciam; porém, se consideram tão enganados quanto eles.

É bom saber que o advogado Luiz Henrique Eloy, que vem acompanhando o processo judicial em Buriti, é índio terena nascido numa das aldeias da região.

Às lideranças indígenas autênticas e aos fazendeiros de boa fé só interessa uma solução negociada. Ao contrário dos que desejam radicalizar, sem se importar com as vidas humanas que podem ser destruídas no conflito.

É legítimo pressionar estrategicamente, buscar visibilidade para a causa. Inadmissível é a irresponsabilidade cruel de querer produzir mártires.


Ateneia Feijó
é jornalista.
Transcrito do Blog do Noblat de 11/06/2013

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