segunda-feira, 29 de julho de 2013

Arca do Tesouro


O mundo de cabeça para baixo  (c.1666), 
de Jan Steen, pintor flamenco

Tudo fora do lugar... a desorganização parece ser o lema dessas pessoas. Não sei por que, mas esse quadro lembra o Rio de Janeiro de nossos dias...

Palavrinha

Ufa! como eu previa, era o que eu ia dizer após a partida do Papa Francisco.

Não por ele que foi o visitante ideal.




Não deu trabalho, só trouxe alegria e carinho para uma cidade que anda precisando voltar a se sentir querida e acolhedora. O Rio sempre se orgulhou de ser a cidade que o Cristo abençoa e cuja estátua nos representava muito bem: de braços abertos para o mundo.

Espero que o Cristo volte a nos representar!

Mas o alívio ao ver que nada aconteceu com o Papa, o pregador destemido, nem com sua comitiva, compensa a tristeza ao vê-lo partir.

E, que a gente saiba, nada de mais grave aconteceu com a meninada que veio dos quatro cantos do mundo.

Foi mesmo, como dizem os jesuítas, A.M.D.G.

Aproveito para agradecer à Globo News. Foi o chamado esforço de reportagem.

Mas, da próxima, por favor, dispensem o monsenhor que mais atrapalha do que ajuda e a tradução que, em vez de ser simultânea, é sobreposta, e aí não se ouve nem o orador, nem o tradutor.

Aquém da imaginação, por Dora Kramer

O Estado de S. Paulo

O papa Francisco e os jovens - os hóspedes - saíram-se muito bem. Já o poder público - o hospedeiro - saiu-se muitíssimo mal da Jornada Mundial da Juventude que, durante uma semana, expôs em detalhes as deficiências que marcam uma grande distância entre a fantasia de querer e a capacidade do País de fazer grandes eventos.

Como ficou demonstrado, "imagina na Copa" não é apenas um bordão travesso ou mera abstração do contra. É produto da confrontação diária de que a má qualidade dos serviços prestados aos brasileiros não corresponde à pretensão de ofertá-los em larga escala a multidões de visitantes.

Engarrafamento, falha de planejamento, falta de transporte, filas imensas nos pontos de ônibus sempre insuficientes, caos nas estações do metrô, nada a que os locais não estejam acostumados.

Da mesma forma estamos familiarizados com a desculpa de que "nessa época do ano choveu além do previsto", apresentada pela prefeitura do Rio ante a impossibilidade de se realizar a vigília de oração e a missa de despedida do papa no lodaçal em que se transformou o campo preparado (?) em Guaratiba, na zona oeste da cidade.

Os moradores dessa e de outras regiões - não só do Rio, aqui uma espécie de maquete dos enguiços existentes Brasil afora - estão habituados a sofrer os efeitos das chuvas tidas por nossas autoridades como ocorrências imprevisíveis. As pessoas morrem, perdem suas casas, ficam desamparadas e é sempre a mesma coisa: culpa da abundância inesperada de São Pedro.

Os transtornos da Jornada funcionaram como um resumo de repercussão amplificada do grito dos cidadãos que foram às ruas. Também daqueles que, nas pesquisas, registram concordância com as manifestações deflagradas pela saudável ousadia da juventude imune aos efeitos da anestesia de um falso Brasil reinventado na imaginação (para não dizer manipulação) do ex-presidente Luiz Inácio da Silva.

No embalo dessa fabulação, deixou-se de lado o ensinamento do velho dito: "Quem não tem competência não se estabelece". Várias das reclamações que se viram nas placas de junho estavam retratadas nos desacertos da Jornada de julho, em logística e duração incomparável com a Copa do Mundo e a Olimpíada.

O enredo criado por Lula quando dos espetáculos promovidos para celebrar a escolha do Brasil como sede dos dois certames não combina com os fatos. Não resistiu ao primeiro teste da realidade de falta de estrutura, disciplina, seriedade, realismo e responsabilidade para fazer frente ao tamanho do compromisso assumido.

O ensaio na primeira viagem internacional de Francisco cobre de descrédito o País, que saiu da Jornada menor do que entrou. O papa, generosamente bem humorado, pediu desculpas ao prefeito pela "bagunça" que estava fazendo na cidade, quando eram os anfitriões os responsáveis pela série de confusões.

No início, temia-se que a repetição dos protestos e atos de vandalismo tumultuasse o ambiente. No fim, o que tumultuou foi justamente a inépcia do poder público, alvo das manifestações cuja motivação ficou patente. Ao mesmo tempo, comprovou-se a razão pela qual as autoridades não souberam dar aos manifestantes uma resposta à altura.

A despeito da improvisação, a festa que hoje se encerra foi bonita. Pelo conteúdo de espiritualidade que estimula positivamente e cria uma atmosfera de boa vontade, bem entendido. A mesma condescendência, porém, não haverá quando do campeonato de futebol e dos Jogos Olímpicos.

Se o mundo deu agora um mau (e merecido) testemunho a respeito da ineficácia da organização, não é nem de se imaginar, mas de se constatar previamente, a dimensão do vexame que se avizinha no horizonte.

Dora Kramer é jornalista

Transcrito do Estadão de 28/7/2013

Nem todos os santos, por Mary Zaidan

Descortês, impróprio e deselegante, o discurso da presidente Dilma Rousseff na recepção ao Papa Francisco parece ter tido o dedo do diabo, que, é bom lembrar, ela confessou que usará para se reeleger. Ensaiada, repetiu a ladainha de que nos últimos 10 anos o governo do PT revolucionou a qualidade de vida do povo e que tudo vai de bem a melhor. Não imaginava que o Brasil mostraria a sua cara. E não por castigo divino. Mas por desorganização, falta de preparo, confiança demais na sorte ou na nacionalidade de Deus.

A Jornada Mundial da Juventude deu certo graças à simpatia, simplicidade e grandeza do Papa Francisco e à paciência dos milhares de peregrinos. No mais, errou-se. E muito.

Do bate-cabeça de autoridades frente a um papa engarrafado e vulnerável na Av. Presidente Vargas, no centro do Rio, à pancadaria entre polícia e manifestantes nas proximidades do Palácio Guanabara. Do metrô parado por horas ao lamaçal e interdição de Guaratiba, área que todos sabiam ser alagadiça. Um vexame.




Alguns dirão que não se podia prever tanta chuva em julho, época, em geral, de seca no Sul-Sudeste. Tampouco que multidões tomariam as ruas em junho, justamente quando o País recebia a Copa das Confederações, avant-première da Copa do Mundo de 2014, que também começa em julho. Com ou sem as benções de São Pedro.

O fato é que a vinda do Papa e dos milhares de fiéis à JMJ expuseram as chagas que o governo prefere encobrir a tratar. A desordem operacional, a falta de comando e a carência estrutural, e em especial os problemas de transportes públicos, escancararam as deficiências do País para a realização de eventos de grande porte. Nem mesmo no Rio, terra do carnaval, um dos maiores espetáculos do mundo.

“Imagina na Copa” deixa de ser apenas um bordão usado por aqueles que o governo acusa serem torcedores do contra. Pena que não se bradou “imagina no Papa”.

E ainda tem a corrupção, o superfaturamento. Os mega-eventos consomem bilhões do contribuinte. Daí ser um dos eixos da grita nas ruas. Os gastos com a Copa da Fifa já passam de R$ 30 bilhões – dinheiro suficiente para construir mais de 95 mil postos de saúde. Os da JMJ ninguém confessa.

E ainda tem os jogos olímpicos de 2016. Orçados em R$ 1,8 bilhão, não devem aproveitar nada dos mais de R$ 5 bilhões usados no Pan-Americano de 2007, que, ao invés de deixar o precioso legado prometido, nem mesmo conseguiu manter o Engenhão de pé.

Santa Clara ouviu as preces e o sol voltou a brilhar na cidade maravilhosa na sexta-feira. Mas obras de infraestrutura e organização não caem dos céus. Nem que se apele para todos os santos.

Mary Zaidan é jornalista 

Transcrito do Blog do Noblat de 28/7/2013

domingo, 28 de julho de 2013

Palavra da Coruja


(...) bote fé e a vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a direção; bote esperança e todos os seus dias serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas luminoso; bote amor e a sua existência será como uma casa construída sobre a rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos amigos que caminham com você. Bote fé, bote esperança, bote amor!
Papa Francisco

Memento




Fim de Tarde


De Michel Legrand, An Oscar for Oscar:  Oscar Peterson & Claude Bolling -