Já não basta o ingresso no
assustador mês de agosto, a alta da inflação, o governo dando rodopios, fazendo
e desfazendo birutices? Agora resolveram que se mexer significa anunciar
fantasias, mentir, ludibriar, atacar e se fazer de bonzinhos, de transparentes,
de acessíveis. Um monte de Marias Madalenas arrependidas e constritas, almas
recuperadas pelo Papa Francisco
Sabe aquelas imagens de filmes
que mostram pessoas pulando brasas? Ui, ui, ui! Pois é. Assim está o governo
desta nossa a cada dia mais fantástica, surreal e divertida República. Outro
dia li que, de tanto recuar no que decide, o governo vai acabar é caindo no
abismo. Discordo, acho que não: vai para a frente, vai para trás, e não sai do
mesmo lugar, fica ali cavando um buraco, rasgando o chão, igual mula quando
empaca. O pior é que a sarna está se alastrando: governadores e prefeitos
também estão que nem doidos. Parece que além do gás lacrimogêneo e de pimenta
estão usando spray de inseticida: barata voa!
Amigos que ainda acreditam em
milagres: não venham me atacar! Só respondam: entre as medidas anunciadas
naquele saquinho, quando os caras e as caras juravam que estavam ouvindo a voz
das ruas, qual está em vigor? Oi? Hein? Fala mais alto que não estou ouvindo
direito. Nenhuma, não é?
Nem corrupção é crime hediondo,
o que também enquanto decisão é uma bobagem sem limite, nem os impostos caíram,
nem os parlamentares passaram a prestar, nem reforma política, nem redução do
número de ministérios, nem os custos do governo, enfim, neca de pitibiriba mudou.
Resolveram trazer médicos estrangeiros, e estamos vendo no que esse tal
programa "Mais Médicos" vai dar: se gastassem em Saúde o que gastam
em pesada campanha publicitária cheia de gente sorridente e equipamentos
hospitalares tinindo apresentados pelo Herson Capri, pelo menos um posto médico
completo, quiçá um hospital, nasceria. Mas é mais fácil contratar globais -
aliás, que vergonha! A lista inclui Regina Casé na Caixa, com a Caixa e suas
bolsas, esquentando nossas orelhas e paciência, Milton Gonçalves, muitos, e
ainda pagam por vozes, locuções, especialmente daquele ser, o tal Zé de Abreu.
A ostensiva campanha da Friboi, acreditem, também tem forte viés político, além
do privado. Aguardem, que a carne é fraca.
Outro dia, verdade seja dita,
até que a presidente mandou bem ao sancionar a lei que garante apoio às vítimas
de estupro, obrigando os hospitais a atender e fornecer assistência completa e
a pílula do dia seguinte para as mulheres que sofreram abusos sexuais. O bando
de crápulas reacionários que dizia que isso era o "caminho para a
liberação do aborto", e que ainda volitam e integram as esferas do poder
tiveram de engolir essa. Mas continuam aí, com a cruzada pelo obscurantismo em
outros temas, e todos aliados na base do governo, vale lembrar.
O momento está muito difícil
para quem tem um mínimo de raciocínio lógico e independência. Não há onde se
agarrar, e a gente fica meio que solto no espaço. Todo mundo acha lindo quando
detectamos e escrevemos sobre as falcatruas de uns e outros; ora atacados por
ser de direita, ora por ser de esquerda, essas duas definições bem bobas, em
geral vindas de quem está bem escorado, inclusive financeiramente, em algum
desses muros. Não imaginam as correspondências que recebemos, nem como as
nossas orelhas ardem, ou como nossos bolsos nada contêm. Nem têm ideia de como
são operadas internamente as decisões, o que inclui pressões, cortes de
trabalho, investigações especiais, grampinhos, etc., etc. Não tem refresco. Só
pimenta.
Por essas e outras que cada vez
que vejo esses verdadeiros anjos de candura se movimentando, declarando estar
convencidos da justeza das reivindicações, falando em reforma política e
economia, sinto terríveis câimbras. Quando vejo um indigitado como o Sergio
Cabral falando que agora percebeu que não era humilde, mas que o Papa fez esse
milagre, e logo depois pedindo trégua aos manifestantes pelos seus filhos
pequenos - os vizinhos que explodam, não?- tenho vergonha. Aproveitando: cadê o
Amarildo?
Assim, modestamente,
orgulhosamente, venho a público pedir caridosamente que cessem as tentativas
vãs de nos engabelar a todos com medidas revogadas horas depois, ou apenas de
papel. Aproveito e peço, sem máscaras no rosto - e atirando para todos os lados
- que busquemos um caminho para superar este momento. Chega de teses
mirabolantes, de conspirações malfeitas, de efeitos de marketing que não levam
em conta a comunicação límpida, pura e simples, como a do Papa em sua histórica
passagem pelo país.
Escute. Não é o imperialismo internacional que está promovendo os movimentos para desestabilizar o país. Os jovens que estão transmitindo ao vivo as manifestações com os seus celulares são de todos os matizes, incluindo petistas, comunistas, qualquer coisa, porque - coitadinhos - pouco informados que são, acreditam que a revolução que pretendem passa por aí. São idealistas. Apenas aproveite, assistindo, como se estivesse lá onde só eles têm coragem de estar. Os bobocas, BBs, black bobocas, que cobrem os rostos com máscaras, fabricam molotovs e saem quebrando coisas são apenas bobinhos perigosos porque pensam que o jogo de videogame e a realidade são a mesma coisa; estão brincando de ser gente grande, de guerra, de guerrilha - quando chegam em casa dizem sim, senhor e devem mesmo levar umas boas palmadas.
Mas, finalmente, por favor, não façam nem permitam o que estão fazendo com a imprensa, com o jornalismo, com a minha querida profissão. Parem com essa bobagem de agredir repórteres, fazer com que os das tevês apenas sobrevoem as manifestações. Somos nós que as divulgamos e ampliamos, e que podemos fazer com que mais pessoas participem.
Somos nós, jornalistas, que
estamos órfãos de quem nos defenda.
São Paulo, daqui a pouco até
sem bancas de jornais, 2013
Marli Gonçalves é jornalista -
Cordialidade tem limites.
E-mails:
Minha querida, obrigada!
ResponderExcluirObrigada? Eu é que agradeço a confiança! bj, MH
ResponderExcluir