Deus me livre
Uma coisa é certa: o que se viu na televisão acontecendo em Ipanema e Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, não foram atos de vandalismo paralelos a uma manifestação popular. Foi coisa de bandido mesmo.
Verdade seja dita que o crime em geral, organizado ou não, tem muito a se queixar do governo Cabral. Fez-se muito, muito mesmo, no combate ao crime.
Reconhecer isso não implica apoiar seu governo, aprovar tudo que foi feito, esquecer o que foi prometido e não aconteceu, concordar com tudo que o Governador fez ou disse, aceitar tudo que ele fez, disseram que fez ou foi fotografado fazendo.
Mas não há quem tenha mais motivos, mais experiência, mais pessoas disponíveis e mais equipamentos para promover uma arruaça daquele tamanho do que criminosos expulsos de seus domínios nos morros, milícias desmontadas, todos que de alguma forma tiveram a Lei e a Ordem em seus calcanhares graças à atuação do Governo do Estado na área da Segurança Pública.
O crime só é “organizado” em pequena escala. Em certos contextos, pode servir também a outros interesses. Reconheçamos: a política é atividade que frequentemente procura ou é procurada para certos tipos de coisas – afinal, também na política, dá de tudo...
Impõe-se uma pergunta: “qui prodest”? A quem aproveitaria atingir o Governo do Estado com alguma coisa que pudesse passar como manifestação pública?
Afinal, ficou óbvio para muita gente que “manifestar-se” era bom demais. Quem queria se passar pelo que não é montou greves e passeatas – digamos que meio forçadas - até com transporte para participantes remunerados agitar bandeiras.
As eleições estão próximas. É importante não perder tempo, e não desperdiçar oportunidades.
O crime no Rio só quer uma coisa: que seja estancado o trabalho da polícia carioca. Tem óbvio interesse na derrota de Cabral. Fará tudo que puder para retomar a liberdade de ação que perdeu. E quem se prepara para as eleições quer mais é ganhar votos, recursos, apoios.
Se um bando de garotos acampa na porta do Governador, no Rio, é meia porta aberta: a partir daí organiza-se uma “passeata” que sai de controle e se transforma em desvairado banditismo e violência.
As coincidências assustam: a baderna foi acabar aonde? Em Ipanema, na porta da residência do Secretário de Segurança José Mariano Beltrame.
E não se ouviu uma única voz da oposição ao governo Cabral, nem dos possíveis candidatos à sua sucessão, que reprovasse o comportamento dos bandidos à solta – só censura ao comportamento da polícia.
Esperar deles compromisso de manutenção da luta contra o crime, reconhecer o que todo mundo está vendo que foi feito, isso não.
Não reprovar publicamente o que se passou no Leblon e em Ipanema, não denunciar como crime a destruição que causaram criminosos à solta, não repudiar a coisa toda já dá uma ideia do que pode ser no fundo um programa de governo.
Que Deus nos livre...
Edgar Flexa Ribeiro é professor.
Transcrito do Blog do Noblat de 22/07/2013
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