Pão com pão, e pão velho.
Dilma Rousseff poderia ter iniciado o controle de gastos públicos pelo
corte da reunião com governadores e prefeitos: eles foram a Brasília só para
ouvir. Poderiam ter recebido um vídeo por e-mail, seria a mesma coisa. Ou
apenas o texto daquilo a que Dilma chamou de "pacto". Que pacto, se
ninguém pactuou nada? Pacto é acordo. Não é um novo tipo de PAC, embora
também não funcione.
Diria um cínico que há propostas boas e novas, sendo que as boas não
são novas e as novas não são boas. Mas estaria errado: as propostas não são
nem novas nem boas. A começar pela Constituinte exclusiva para a reforma
política. O vice Michel Temer, jurista consagrado, professor de Direito
Constitucional, já a considerou inconstitucional. As
demais:
1 - controle de gastos públicos. Seriam reduzidos o
número de ministérios, de funcionários contratados sem concurso? Seria
abolido o segredo do custo dos cartões corporativos, a redução de comitivas?
Dilma não anunciou nada disso.
2 - royalties do petróleo para a Educação. Já
combinou com os governadores? Como se gastaria esse dinheiro? Qual o projeto
nacional de avanço da Educação?
3 - tipificar a corrupção como crime hediondo. Quem
porá o guiso nos mensaleiros? Quem apoia a presença de condenados no
Congresso irá prendê-los?
Anunciar bons propósitos é pouco; e fica ainda pior sem combinar
primeiro com governadores e prefeitos que pagarão a conta. O pacto é apenas a
opinião de Dilma.
É como um sanduíche de pão com pão, sem recheio. Não dá liga.
Os médicos e o PT
Dilma prometeu contratar médicos estrangeiros (já é um avanço: ao
menos publicamente, ela considera que cubanos também são estrangeiros) para
suprir a falta de profissionais brasileiros. Pois é: o líder do Governo na
Câmara, Arlindo Chinaglia, do PT paulista, em 2003 apresentou projeto de lei
que proíbe o aumento do número de vagas nas faculdades de Medicina e a
criação de novos cursos, sob a justificativa de que a quantidade de médicos
no Brasil é superior à recomendada por entidades internacionais.
Que é que Chinaglia vai dizer a Dilma?
Questão de articulação
O pacto de Dilma com Dilma, que governadores e prefeitos tiveram de
ouvir, tem chance de ser aprovado? Talvez - mas os líderes de seu Governo no
Congresso, que precisarão coordenar as bancadas dilmistas nos debates e
votações, não foram informados de nada, nem consultados antes da reunião.
Frase de Eduardo Braga: "No Congresso, acho que ninguém foi
avisado. Eu não sabia". Frase de Arlindo Chinaglia: "Acabei de
chegar, estou tomando pé da situação agora".
Anda, transporte!
A última ordem da presidente a governadores e prefeitos se refere a
investimentos em transporte- segundo Dilma, R$ 50 bilhões. Ótimo. Mas em
2012, só 33% da verba anunciada pelo Governo Federal para Transportes foram
liberados.
Quem sabe mais?
Uma declaração de Mayara Vivien, 23 anos, estudante, foi o grande
destaque do encontro da presidente Dilma com os líderes do Movimento Passe
Livre, no Palácio do Planalto, em Brasília: ela disse que Dilma está
despreparada para entender de transporte público. A frase é notável por dois motivos:
primeiro, porque Mayara acha que ela e seus colegas estudantes entendem de
Transportes; segundo, porque Dilma Rousseff, além de ter mestrado, de ter
longos anos de experiência em administração pública, está convencida de que é
especialista não apenas em Transporte Público, mas em todas as demais áreas
de conhecimento humano. Deve estar furiosa. Mayara criou um fosso entre ela e
a presidente.
Igreja alerta
Fala-se em Copa do Mundo, Copa das Confederações, mas não se pode
esquecer algo muito próximo: a Jornada Mundial da Juventude católica, no Rio,
com a presença do papa Francisco. Falta um mês - e o Rio é exatamente a
cidade em que a casa do governador ficou dias cercada por manifestantes, onde
acaba de haver um combate entre Polícia e traficantes com nove mortos, onde o
tráfico ainda comanda amplas áreas. O cardeal Stanislaw Rylko, presidente do
Pontifício Conselho para os Leigos, organizador da Jornada Mundial da
Juventude, já encaminhou à Embaixada brasileira no Vaticano sua preocupação
com a visita. O cardeal não está apenas preocupado com o papa: teme também a
repercussão do noticiário entre os peregrinos que planejam participar do
evento.
Definitivo
Do sempre articulado Hélio Schwartsman, na Folha, sobre o plebiscito: "Se democracia direta
fosse bom, assembleias de condomínio seriam um sucesso".
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