Votando com o bolso
Quando Clinton decidiu
candidatar-se à Presidência americana contra George Bush, os analistas lhe
davam poucas chances: vinha de um Estado pequeno, o Arkansas, e seu adversário
tinha o prestígio da vitória na Guerra do Golfo, que expulsou os iraquianos do Kuwait.
Mas viu uma fraqueza em Bush: a economia crescia pouco, gerando desemprego. Seu
assessor James Carville cunhou a frase usada sempre que a campanha se desviava
do rumo: "É a economia, estúpido".
E é a economia que explica como
Dilma, favorita para 2014, caiu a ponto de tornar o segundo turno quase
inevitável. Preços em alta corroem o prestígio dos governantes (o presidente
Sarney, o político mais popular do país em 1986, não conseguiu sequer um
candidato que aceitasse seu apoio em 1989). Com preços estáveis, tudo é
aceitável - até o tumulto da Bolsa Família. Com preços em alta, até demarcação
de terras indígenas gera problemas. Com preços estáveis, a presidente é
enérgica e mantém os subordinados sob controle; com preços em alta, a
presidente é grosseira, interfere em tudo e seu estilo centralizador é
ineficiente.
Dá para mudar. Mas Dilma parece
presa a dogmas da juventude, como as virtudes do intervencionismo
governamental. Cortar despesas públicas? Não depois de proclamar que cabia ao
Governo manter a economia em movimento, não depois de classificar de
"rudimentar" a proposta do então ministro Palocci de permitir gastos
só até o limite da arrecadação. Reduzir a máquina de Governo e cortar o número
de ministérios? Depende dela. E este é o problema: depende dela.
O buraco do dólar
Inflação é grave; mas há outra
questão talvez ainda mais grave, que é a degradação de nosso comércio
internacional. A conta-corrente (resultado de todas as transações do Brasil com
o mundo, em mercadorias, serviços e despesas diversas) estava negativa em US$
54 bilhões, em dezembro. Nos doze meses que se encerraram em maio, o déficit
estava em US$ 70 bilhões.
O Brasil tem reservas
suficientes para aguentar muito mais do que isso, mas a tendência é negativa.
Até um dia, até talvez...
O ministro Dias Toffoli acredita
que o julgamento do Mensalão ainda vai demorar muito - um ano ou dois. Só
depois disso os réus teriam de cumprir pena. Os mensaleiros condenados que
exercem cargos eletivos ganhariam tempo, até que seus mandatos expirassem (e
aquela discussão sobre quem declara a vacância do cargo, se o Supremo ou a
Câmara, perderia sentido, já que ninguém precisaria declarar o cargo vago).
Toffoli diz que o prazo depende muito do relator do caso, ministro Joaquim
Barbosa; mas acredita que o julgamento dos embargos de declaração começa no
segundo semestre e vai até a metade de 2014.
Depois, caso o Supremo os
aceite, viriam os embargos infringentes. E o tempo passa.
...até quem sabe
Amanhã, dizia Chico Buarque, vai
ser outro dia. Se não houver imprevistos, o ministro Celso de Mello deve se
aposentar em 2015, e Marco Aurélio em 2016. Se der para chegar a essas datas,
dois ministros que votaram pela condenação dos mensaleiros terão deixado o
Supremo. Duas nomeações bem feitinhas trarão a certeza de que a formação de
quadrilha ocorreu apenas nas festas juninas
Cultura inútil
Está completando o primeiro
aniversário a pesquisa que o Senado encomendou para saber se o eleitor é
favorável ou contrário ao projeto (PLS 181 - 2010) que determina a venda de
remédios a preço de custo para aposentados. O resultado foi de 95,4% a favor do
benefício. Para que? Para nada: como informa o colunista Aziz Ahmed, de O Povo,
do Rio, o projeto continua mofando nas gavetas.
De pai para filho
O Brasil ainda mantém alguns
toques de monarquia. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, é filha do
ex-governador José Sarney; o senador Lobão Filho, suplente do senador, hoje
ministro, antes governador, Édison Lobão, quer disputar em 2018 o Governo maranhense.
Renan Filho, filho de Renan Calheiros, foi escolhido pelo PMDB para disputar o
Governo de Alagoas; Hélder Barbalho, filho do ex-governador Jáder Barbalho,
disputa, também pelo PMDB, o Governo do Pará. O governador do Paraná, o tucano
Beto Richa, é filho do ex-governador José Richa. E isso só em cargos
executivos; no Legislativo há ainda mais parentes.
Quem disse que as capitanias
hereditárias são coisa do passado?
Juntos, mas separados
O PSD, como disse seu dirigente
supremo Gilberto Kassab, não é de esquerda, nem de centro, nem de direita.
Também não é oposição nem situação, nem muito pelo contrário. E apoia a
reeleição de Dilma, mas nem tanto: em Minas, o PSD marcha com Aécio, do PSDB,
contra Dilma; em Santa Catarina, o PSD (que ocupa o Governo do Estado, e é
comandado pelo poderoso clã Bornhausen) já anunciou que está com Eduardo
Campos, do PSB. Com Dilma, nem pensar.
Ainda não se sabe qual ala do
PSD irá apoiar Marina, mas alguma surgirá.
Agenda providencial
Passeatas e vandalismo paralisam
São Paulo. O prefeito Haddad, PT, e o governador Alckmin, PSDB, estão em Paris,
discutindo uma exposição para 2020.
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