Artigo de Fundo
Ahi vae a nossa Careta
Lançando a publicidade este semanario, é preciso confessar, e contrariamente o fazemos, que a Careta é feita para o Publico, o grande e respeitavel Publico com P. grande!
Se tomamos essa liberdade foi porque sabiamos perfeitamente que elle não morre de caretas.
Longe vae o tempo em que isso acontecia.
Todavia, a nossa esperança é justamente que o publico morra pela Careta, afim de que ella viva.
E feita cynicamente, essa confissão egoistica (nós estamos no seculo XX) digamos logo que o nosso programma cifra-se unicamente em fazer caretas.
Careta como toda gente sabe, e se não sabe, devia saber, é assim uma espécie de cara pequena, conforme a abalisada opinião do Candido de Figueiredo, e se não for, é a mesma cousa.
Ora por ahi existe muita gente de quem se diz ter duas e mais caras; não é demais, por consequencia, que nós tenhamos uma porção de caretas que iremos mostrando todos os sabbados, á razão de uma tuta e meia (tuta em latim corresponde a 200 réis, segundo o Dr. João Ribeiro).
As nossas caretas são sérias como as sessões do Instituto Histórico e a sua perfeição e semelhança garantidas.
Mas nunca fiando... Quem vê caretas, não vê corações.
Faremos tudo para que ás nossas, não correspondam caretas de máo humor; preferimos francamente, sorrisos, mesmo daquelles que mais parecem caretas.
Se ao vêr a Careta, gentil senhorita, apreciadora enthusiasta das secções galantes do jornalismo smart, franzir graciosamente as graciosas sobrancelhas, na boquita rubra estalando um desprezador muxoxo, nós já temos meia vingança: o muxoxo é meia careta, pelo menos.
Se porém algum representante desse sexo que se diz barbado e vive a depilar-se agora, seguindo as novas correntes estheticas do pan-americanismo (!?), enfurecer-se ao mirar a Careta, não haverá duvida tambem: deitamo-lhe convictamente um palmo de lingua de fóra.
Com um programma tão vasto, tão seductor, tão (como diremos?) careteristico, esperamos da sympathia do publico o franco acolhimento que lhe não merecem tantas caretas por ahi, bem conhecidas.
A Careta é honesta e não é feia; é uma careta de lei.
Rio de Janeiro, 6 de junho de 1908
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Quem tiver curiosidade, e quiser saber mais sobre a revista, clique em seu título que entrará no site Memória Viva. Essa revista, que era muito lida e marcou gerações, foi lançada em 1908 e durou até 1960: A Careta
Não cheguei a conhecer a revista. Quando ela acabou eu tinha 10 anos.
ResponderExcluirNo entanto, lembro-me que o jornalista Berilo Neves escrevia para a revista. Estudei com a filha dele no Andrews. Pelo que me lembro, ele já não era muito novo quando ela nasceu.
Infelizmente, essa ficou sendo minha única referência à revista, apesar de saber que marcou gerações.