Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
Como nesta obra-prima de João Cabral os nossos meninos usaram a Internet para lançar seus gritos: ninguém sabe de quem foi o primeiro grito, o que sabemos é que a esse outros se juntaram e formaram uma onda tênue como a manhã do poeta, que foi se encorpando à medida que outros meninos foram chegando e unidos ergueram uma tenda de tecido aéreo, sim, outra vez lembro o poeta, mas era preciso que fosse aéreo para poder percorrer e cobrir todo o nosso Brasil.
Essa tenda, aérea, sem armação, não acolhe os que vivem de intrigas e malfeitos.
Ali só os que ainda não pisaram o chão dos palácios e os que sonham com os fios da liberdade, da justiça, da misericórdia, da esperança, da honra e do dever para tecer a manhã ensolarada de seu amanhã:
liberdade para expressar o que sentem e exigir o que lhes é devido;
justiça para que todos gozem dos mesmos direitos;
misericórdia para ajudar os incapazes e fortalecer os deficientes;
esperança para nunca deixar de enviar o grito que convoca a união cada vez que isso se torne necessário;
honra em respeitar o país e seu patrimônio, que é de todos;
dever de para sempre lembrar que como a tenda é de todos e para todos, é vital mantê-la para sempre afastada dos marginais.
por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Publicado originalmente no Blog do Noblat em 21/06/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário