Ernest Hemingway
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Fim de Tarde
Orchestre de Balalaïka St-Georges Les Colporteurs - Korobeiniki
Concerto na Sainte Chapelle, Paris
Para a Hora do Chá
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luiz de Camões
O cisco e a trave, por Maria Helena RR de Sousa
Leio na VEJA edição nº 2333 de 7 de agosto de 2013, um artigo de J.R. Guzzo que muito me impressionou. Não sei quais foram as suas fontes para um texto com tantas informações pouco exatas sobre a Igreja Católica.
Quantos são os padres no mundo? Alguém sabe? Eu não tenho a menor ideia do número, mas quanto à diversidade, posso afirmar com certeza: há padres burros, inteligentes, cultos, ignorantes, mal humorados, bem humorados, provincianos, sofisticados, simpáticos, antipáticos, de tudo um pouco. Os padres não são ETs, saem do meio da sociedade, assim como os políticos, assim como todos nós.
A doutrina é uma só, do Ártico ao Antártico, mas ela é interpretada e ensinada por padres, por seres humanos de batina. E também cairá em ouvidos de todo tipo. Um padre que cursou a Pontifícia Universidade Lateranense, na Cidade do Vaticano, ou a Pontifícia Universidade Salesiana, em Roma, sairá, naturalmente, com um modo peculiar de se dirigir ao fiel que lhe vai pedir conselhos ou ensinamentos.
É fácil acreditar que um advogado formado nos melhores cursos de Direito do Brasil será mais capaz de destrinchar graves problemas jurídicos do que um que se formou numa Faculdade de Direito dessas que brotam pelo país. E, no entanto, nossas leis são as mesmas... Por que não acreditar o mesmo de um padre?
Mas vamos aos fatos: o senhor Guzzo diz que os divorciados estão excluídos da Igreja Católica. Não sei de onde ele tirou isso. O que a Igreja não aceita é o segundo casamento. Mas o divorciado que não se casou de novo e que cumpre a obrigação de se confessar pode receber o sacramento da comunhão, como qualquer outro católico. Assim como poderá receber os demais sacramentos, desde que não se case novamente.
Diz ele que o católico não pode acreditar na teoria de Darwin. Será? Mas já pode acreditar que a Terra é redonda, pois não? Pode acreditar que eppur se muove? Ou ainda não?
Não sei se o senhor Guzzo é católico e se costuma se confessar e ir à missa. Se é cristão praticante, desconfio que seu pároco está mais para Camillo do que para Francesco. E enquanto essas coisas são ditas, os Onorevoli Peppone vão ganhando força. E é aí que mora o perigo.
Mas nem tudo em seu texto é leviano. Por exemplo, ele afirma que o Sermão da Montanha e os 10 Mandamentos são os primeiros guias de conduta apresentados à Humanidade. E eu concordo: que guias perfeitos, hein, senhor Guzzo? Mais de dois mil anos e continuam atuais! Ele acrescenta outra verdade: é muito difícil seguir as palavras do Sermão da Montanha. Outra vez concordo. Muito.
Mas ao dizer que a Igreja Católica jamais seguiu o Sermão da Montanha, aí ele peca por julgar precipitadamente.
Será que ele nunca leu este trecho? Acho que vem a calhar:
Não julgueis, para que não sejais julgados.
Pois com o critério com que julgardes; e com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.
Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão porém não repara na trave que está no teu próprio? (Mateus, 7, 1-3).
Transcrito do site Brickmann & Associados
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